Julia G 25/09/2012"Era entardecer. Ana Luiza sentia como se fosse morrer.
- Vai ficar tudo bem Ana... tenho certeza. Ainda não chegou ao fim, lembras?
Mas ele estava indo embora! Como ele podia dizer que ia ficar tudo bem?!
Ele a abraçava, acariciando os cabelos dela:
- É por isso que eu sei que tu não és de gelo... - silêncio. - Gelo não sabe amar.
Ela aproximou seus lábios da orelha morna dele. Mesmo com medo. Precisava.
- Obrigada... Por ser o melhor amigo que eu já tive..." (p. 331)
Edu a tinha deixado, e Ana Luiza não poderia se sentir mais vazia. Mais um amor que se ia, talvez ela não soubesse amar. E suas únicas companhias, naquele momento, eram as taças de vinho e os cigarros, que se iam a uma velocidade sempre maior.
Quando as aulas do curso de Odonto da PUC retornassem, ao menos, ela veria sua amiga Nana, já que em casa a única que se importava com Ana Luiza era tia Ella; seus pais estavam mais preocupados com seus próprios problemas. Conheceria, também na faculdade, Rafa, um garoto que conseguiria amenizar as dores de Ana apenas com o olhar.
Era cada vez mais forte aquela dor em seu peito, seu "problema de coração". Tudo o que ela tinha, parecia não ser suficiente. E o caminho do álcool e das drogas, o qual Ana escolheu trilhar, parecia ser mais fácil, mas talvez não tivesse volta.
Reencontro, de Leila Kruger, trata de ir ao fundo do poço, e dos caminhos para voltar. Não é simplesmente uma história de superação, mas, como o título sugere, de reencontro, com aqueles que se ama e, principalmente, consigo mesmo.
A bela escrita de Leila, singular por se marcar em frases curtas e repetições - características próprias da obra -, não me pareceu em nada com a de uma principiante. No início estranhei um pouco esta forma de escrever, mas percebi que se torna fundamental no texto, para dar a ele simplicidade e elegância. As paisagens de Porto Alegre eram quase visíveis, e o sotaque atribuído às falas deu ainda mais veracidade ao enredo.
A leitura, contudo, se tornou um tanto arrastada para mim. A identificação com a protagonista demorou a acontecer, pois não conseguia concordar com suas atitudes. Entendo, agora, que o problema tinha como fonte principal uma doença, mas me indignava o pessimismo e a inconsequência, a dependência e o conformismo, talvez por ser tão contrário ao que acredito. Não entendo como pode alguém depositar a responsabilidade de sua vida e felicidade nas mãos de outro, e que quando esse outro se vai, simplesmente aceitar essa tristeza, deixá-la tomar conta, sem fazer qualquer coisa para mudar a situação. Posso até ter uma visão deturpada sobre o assunto, mas pareceu, nesse caso, que a causa principal disto seria a oferta de tudo o que o dinheiro pode comprar e a falta de, entre outras coisas, um objetivo de vida próprio, algo por que lutar.
Depois de superada essa diferença com a personagem, contudo, comecei a me envolver realmente na história. Me deliciei com os acontecimentos românticos, chorei com as passagens menos felizes, e me emocionei com as mensagens de superação e reconstrução sobre os antigos destroços.
Mesmo com uma narrativa em terceira pessoa, não era possível analisar psicologicamente todos os personagens, já que o foco ficava sobre os pensamentos de Ana Luiza. Alguns personagens, inclusive, se tornaram uma 'sombra' na história, já que não consegui montar um perfil completo deles, apenas algo mais superficial. Adorei Nana e sua faceta sonhadora, acho que foi a personagem que mais me encantou. Rafa também era ótimo, e talvez tenha sido ele que me ajudou a gostar mais de Ana Luiza, com sua fé e seu otimismo.
E por mais que tenha tido empecilhos pessoais na leitura da obra, recomendo o livro para todos, principalmente porque a vida não é sempre fácil e feliz, mas todos são capazes de ir atrás do que querem - se quiserem.