Raynara 25/09/2017
Qualquer amor já um pouquinho de saúde.
Foi necessário, após a leitura de Grande Sertão, mais de um mês para digerir o impacto que essa leitura causou na minha mente. João Guimarães, causou euforia com a publicação de Sagarana em 1946, sendo alvo de críticos importantes da época como Álvaro Lins, que o definiu como "mestre da ficção" e se dirigindo ao público disse sobre Sagarana "um novo grande livro para a Literatura Brasileira". Mal sabiam Álvaro Lins e Antônio Cândido que muito ainda estava a vir pelos anos que se seguiriam. Em 1956, Guimarães causa alvoroço na sociedade com a publicação de duas grandes obras, hoje já consagradas: Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. Sendo que Corpo de Baile ficou às sombras de Grande Sertão, por muito tempo.
João Guimarães Rosa, foi de uma genialidade e infindável fidelidade a Literatura com a publicação de Grande Sertão: Veredas. Essa obra que alcançou milhares de leitores por todo o mundo, e que desperta o gosto pela literatura brasileira, sendo até hoje discutido como um romance regionalista ou não, com tons bucólicos.
Em minha opinião, o romance é completamente universal. Por quê? (aqui começarei realmente falar sobre a obra)
Grande Sertão: Veredas, é narrado por Riobaldo, de acordo com sua memória que em muitas das vezes pode falhar, e isso a gente percebe ao fim da leitura. A narrativa, praticamente toda, se passa na travessia em que jagunços estão em guerra, e é isso que motiva todo o enredo e dá o desfecho: o fim do livro.
Mas o que mais me chamou atenção durante toda a travessia, foi o amor. Riobaldo e seu amor incondicional por Diadorim.
"Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."
Gosto de pensar em Riobaldo, como a representação real do ser humano, e é por isso que acredito que seja um romance universal. Riobaldo, sente-se em muitos momentos inferior a Diadorim, incapaz de ter o amor de Otacília quando se tem Diadorim, que em muitos momentos ele diz ser muito bonito, com olhos verdes e mãos delicadas. Riobaldo, sente medo, e é esse um fato importante, pois é o que dará motivos ao pacto (aliás, o mito do pacto).
O amor de Riobaldo sente, em muitos momentos, senti como algo representativo, quase vivo, quase real. E, de uma intensidade grandiosa, já que durante as passagens senti na pele a dor de Riobaldo, e senti uma necessidade absurda de fazer pausas nesses momentos angustiantes.
E por fim, deixarei uma das partes mais lindas em minha opinião:
“Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei insensatamente - tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo renegava. Muitos momentos. Conforme, por exemplo, quando eu me lembrava daquelas mãos, do jeito como se encostavam em meu rosto, quando ele cortou meu cabelo. Sempre. Do demo: Digo? Com que entendimento eu entendia, com que olhos era que eu olhava?”