Grande Sertão: Veredas

Grande Sertão: Veredas João Guimarães Rosa
Eloar Guazzelli




Resenhas - Grande Sertão: Veredas


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Isadora1232 09/08/2020

Travessia
Saio dessas páginas com a sensação de que não há uma vírgula desnecessária em Grande Sertão Veredas. A linguagem, que sempre me pareceu um obstáculo intransponível, foi na verdade um elemento essencial pra criar uma atmosfera meio brutal, meio poética, e nos conduzir a um final arrebatador. As reflexões sobre o bem e o mal, Deus e o Diabo, amor e ódio, sempre narradas com uma sensibilidade única, por meio de um narrador cheio de dúvidas e conflitos internos.
Saio dessas páginas e só me resta reforçar a unânime máxima de que Guimarães Rosa foi um gênio, e Grande Sertão Veredas uma verdadeira joia da nossa literatura.
Andre.28 09/08/2020minha estante
Vc falando tão bem do livro me deu vontade de ler. ???


Isadora1232 09/08/2020minha estante
É incrivel, André! Uma experiência bem única mesmo, vale a pena a leitura!


Pedro3945 11/08/2020minha estante
Que lindo. Suas resenhas despertam na gente a vontade de ler e reler. É um tanto poético como o amor proibido e não consumado de Riobaldo e Diadorim se sobressai no solo árido do sertão e no ambiente brutal da guerra travada entre os jagunços. No entanto, Grande Sertão é mais do que uma história de amor, é um ensaio sobre a vida - em toda a sua vastidão.


Isadora1232 11/08/2020minha estante
Muito obrigada, Petros!
Vc falou tudo! É pura poesia no ambiente cru e brutal da jagunçagem. O livro é bem mais que uma história de amor, mas tem uma das histórias de amor mais bonitas que já li!




samuca 19/08/2022

Um livro pra toda vida
Comecei a ler perdido entre as palavras e a linguagem da obra, quis compreender de primeira invés de sentir. Fiz errado. É preciso ir aos poucos, deixar que a grandeza da história tome conta, só assim as estranhezas dessa narrativa vão diminuindo e o enredo vai tomando conta da gente que chega em um ponto que é difícil parar de ler.
Um marco na vida, sinto que nunca vou ler algo tão grandioso, que mesmo sem compreender a totalidade da obra, sigo fascinado pelos caminhos narrados, nessa mistura de sentimentos em que o percorrem a vida dos personagens. O amor, ódio, paixão e medo se misturam, vão e vem durante as veredas que os jagunços passam.
Um livro que tem tanto a ensinar, que irei revisitar e reler para matar a sede nesse mar de água doce doce de sabedoria. São tantos momentos marcantes ao longo dessa jornada em que parei e fui pensar nas palavras posta, em seu significado, fascinado pela grandiosidade.
DANILÃO1505 20/08/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!


Carolina.Gomes 20/08/2022minha estante
Amei! Isso mesmo! Um livro p sentir e levar p vida.


BiolaBlues 23/08/2022minha estante
Isso. Sinto que nunca vou ler algo tão grandioso!


samuca 24/08/2022minha estante
Com certeza, Carolina!


samuca 24/08/2022minha estante
Nossa, sim cara. Esse é único em todos os sentidos. Foi profundo


samuca 24/08/2022minha estante
Obrigado, Danilo




Danilo Parente 03/09/2022

Travessia
O livro Grande Sertão: Veredas é uma obra-prima que retrata muito bem como a literatura é inerente à arte, à cultura e às raízes brasileiras.

Nesse livro vamos acompanhando a história de Riobaldo, o qual vai narrando os acontecimentos dos tempos em que ele era jagunço no sertão brasileiro.

Primeiro, cumpre destacar a escrita de Guimarães Rosa, pois a mesma é feita de forma poética e extremamente singular. O começo do livro é bastante confuso, mas ao longo das páginas a história de Riobaldo vai ganhando contornos lineares, colocando o leitor em um lugar cronologicamente definido.

Outra análise é sobre a dimensão que o livro incrementa no aprendizado sobre a vida, pois como diz o próprio Riobaldo: “Viver é muito perigoso...”. Guimarães nos leva a refletir acerca do medo de desafiar as intempéries da vida. O ser que age passivamente a todo o momento, estaria de fato vivendo? O que o viver requer nós? Para esses questionamentos, Riobaldo leva em consideração a coragem, pois a vida é uma oscilação constante de mudanças e que precisamos ter coragem para enfrentar todos os momentos, principalmente os de turbulência. Assim como a vida oscila, as pessoas também se modificam, já que ninguém está definido para sempre com o mesmo modo de ser, pois vivenciamos constantes transições durante a nossa travessia.

No que diz respeito à travessia, Riobaldo reflete que o real não está na saída e nem na chegada, ele se dispõe para gente é na própria travessia. Assim o é na vida, por vezes visualizamos apenas a saída e a chegada, mas nunca o percurso. Contudo, é no percurso que está o verdadeiro resultado das nossas ações. É sobre o que fazemos cotidianamente para alcançar nossos objetivos. A travessia é por vezes longa, árdua e perigosa, mas o que nos torna únicos é a forma com que lidamos com os nossos desafios e enfrentamos os nossos caminhos, mesmo que seja por veredas mortas. Isso é o que dá realidade à vida.

Grande Sertão: Veredas é muito mais do que um simples livro, ele é um extraordinário compilado de sentimentos humanos em que cada frase tem um significado único e que transforma a cultura brasileira em algo imensurável.

“O sertão está em toda parte”.
Julia Mendes 12/09/2022minha estante
?




DIRCE 24/05/2011

Tão, tão, tão..., tão etecetera
Outro dia , aqui no Skoob, me deparei ( não me lembro o nome do skoober e do livro) os seguintes dizeres: " troco minha resenha por 6 estrelas" ( se não for isso é algo parecido).
Bem, sobre Grande Sertão: Veredas, eu gostaria de dizer: troco minha resenha pela Via Láctea todinha, mas não posso me furtar de falar sobre esse livro - falar do obstáculo que tive que enfrentar e do impacto que ele causou em mim.
O interesse pela retomada da leitura surgiu quando ao trocar idéia com o Ricardo sobre o livro Nenhum Olhar ele citou G. Rosa ( G. de GRANDE, ou de Guimarães Rosa , como aprouver , afinal como disse Robaldo: pão ou pães é questão de opiniães...)
Digo retomada porque há muito, muito tempo eu fiz uma tentativa de ler esse livro, mas não fui além das primeiras páginas. Com citação do Ricardo, investi novamente na leitura, mas meu exemplar era um verdadeiro reservatório de ácaro e, de quebra, me deparei com uma linguagem totalmente estranha, mais que isso: me pareceu estrangeira. Hã, Hãn...será que a leitura desse livro só será possível se eu encontrar na net um tradutor do G. Rosa? Será que G. Rosa escrevia de trás para frente? Uma leitura com o livro frente ao espelho me ajudaria? Claro estou brincando, mas apenas para ilustrar minha dificuldade diante dessa obra. Porém, quando cheguei na página 23, diante de: "O senhor...Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando(...)"pensei: quero mais G. Rosa. Providências a serem tomadas: substituir meu velho e amarelado exemplar por outro e aguardar um momento que minha concentração não tivesse tão em baixa.
Assim, com um novo exemplar e diante do forte incentivo da minha amiga Vivi ( 5 estrelinhas), retomei a leitura e o que me esperava me proporcionou puro deleite.
Riobaldo é um ótimo contador de história é a história da sua vida que ele fala. Fala sobre seus medos, sobre suas dúvidas, sobre suas dores, sobre suas aventuras e desventuras , sobre suas lutas quando era jagunço e sobre o seu amor impossível e trágico tão impossível e trágico que causaria inveja aos 2 amantes de Verona.
Se Riobaldo pudesse ler o que estou escrevendo diria que estou falando as flautas, por isso, vou me limitar a dizer que de estrangeiro GRANDE SERTÃO: VEREDAS não tem nada, muito pelo contrário, ele é muito nativo, e isso naõ se deve ao fato da história se desenrolar nos Estados de Minas, Goiás e Bahia, mas porque o GRANDE SERTÃO somos nós e Veredas são os caminhos, os atalhos que vamos delineando e percorrendo no decorrer de nossa existência.
Tenho muito receio de recomendar um livro, mas quem quiser ler um livro tão, tão, tão..., tão etecetera, leia GRANDE SERTÃO: VEREDAS, mesmo que para isso várias tentativas tenham que ser feitas. A recompensa será indescritível - a sensação é que a cada frase somos envolvidos por uma espécie de sinfonia ( foi o que aconteceu comigo).
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RicardoDM 30/05/2011minha estante
A resenha ficou ótima, Dirce. Estou planejando ler GS:V no final do ano (junto com outros livros do Rosa). Depois podemos trocar algumas figurinhas a respeito.

(Ah... Obrigado pela citação.)


Manuella_3 18/08/2012minha estante
que delícia de resenha! eu quero sentar com Riobaldo e ouvir suas histórias.


Manuella_3 10/12/2012minha estante
Dirce, querida, não li esse clássico, mas estou em vias de, por conta de mais uma resenha sua. Espero que minha negociação por ele dê certo.
Preciso contar que preenchi praticamente metade da minha estante de desejados com livros a partir de suas avaliações. Tenho que agradecer por isso!




Luis 01/11/2009

Viver é muito perigoso.
Dizem que nâo há livros difíceis, mas sim, leitores despreparados. Diante disso, Guimarães Rosa expôs todo o meu despreparo como leitor, que frente ao discurso hermético, mas valioso e carregado de subjetividade sertaneja de Riobaldo, se assustou com a profundidade da obra e de suas múltiplas leituras.De fato, "Grande Sertão" não é para principiantes, mas isso não tira o brilho dessa obra, que ano após ano, desde 1956, instiga e encanta o público e a Crítica. Um livro que merece releituras e profundas reflexões.
Fernanda Zimmer 30/12/2009minha estante
Não apenas profundas reflexões. Merece ser cultuado.


Marta Skoober 11/12/2012minha estante
Dizem que não há livros difíceis, mas sim, leitores despreparados. Diante disso, Guimarães Rosa expôs todo o meu despreparo como leitor, é exatamente assim que sinto ao iniciar a leitura de Manuelzão e Miguilim, do mesmo Rosa.




Ricardo 30/07/2020

"Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo"
Um quebra-cabeça literário. Vai haver muito momentos de desafio na leitura. Um teste de foco. Ainda assim, faça esse favor a sua pessoa, ofereça um tempo para o Sertão. Você vai querer voltar lá depois.
Há muito queria lê-lo, mesmo não sabendo nada sobre o autor (ainda pouco sei) ou da obra. Por ser "um clássico". Por participar do projeto de leitura coletiva do canal ler antes de morrer no YouTube, consegui dar-me esse presente.
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Luan 12/09/2020

Esse livro me marcou muito! A relação entre Riobaldo e Diadorim é linda, complicada, ambígua, é do demo, é de Deus, me faltam adjetivos.
Essa é minha terceira leitura, mas a primeira na qual leio tudo, pois eu havia desistido nas duas primeiras. Cheguei a conclusão de que para ler essa obra é preciso ter maturidade literária, e só uma leitura não é suficiente para todas as nuances ditas por Riobaldo.
Todos deveriam ler!
Ler Grande Sertão: Veredas é como atravessar o Liso do Sussuarão, em analogia a uma parte da narrativa de Riobaldo.
Leonhard 12/09/2020minha estante
Que bom que você gostooou!! Nossa, o final é um soco no estômago, não é?! Vale cada momento de incerteza durante a leitura, cada parada para absorver alguma informação ou tempo passado tentando entender se uma palavra é neologismo ou não, rs.


monalise.ferreira 23/09/2020minha estante
Perfeito!!!




Charly.nunes 06/07/2023

Não tenho palavras para explicar toda essa obra de arte. Esse é o tipo de livro para se reler para entender suas nuances e etc; logicamente é bem provável que tenha deixado passar alguns pontos, por ser a primeira vez que a leio. Mas achei o livro muito bem narrado, demostra todo o sentimento e pensamento do personagem, tudo isso misturado com o tempo que parece tão real que você quase acha que é um diário de um cangaceiro, da para entender todas as questões do sertão e os cangaceiros, de como eles se meteram ali e como continuam com aquilo; e ainda tem a questão da mudança de perspectiva do personagem, de como ele via as coisas e foi mudando, não chegando a ser um dito cujo "herói", mas uma pessoa que acúmulou experiência e conseguiu mudar com o pouco que tinha, de um jovem inocente com suas arruaceirisse, ao homem com peso da consciência a procura de um bálsamo para sua angústia. Realmente incrível, devo nem dizer de Diadorim, que nos surpreende a cada momento. Lógico também que não deixo de frizar que apesar de tudo, o livro ainda sim traz um toque de homoerotismo, os amores à Diadorim e etc, são muito bem colocados no contexto do tempo do cangaceiros, de como um homem tão viril podia amar outro "homem"; uma perpectiva homoafetiva bem diferente da que temos visto.
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Carolina.Gomes 26/01/2021

Um livro que desperta o humano em nós.
Concluir a leitura dessa obra me deixou imensamente feliz e orgulhosa!
Quantas maravilhosas lições aprendi com o jagunço Riobaldo e seu amigo Diadorim.
Um livro para a vida, sem dúvida!
Aos que têm receio de ler essa obra, eu digo o seguinte: permitam-se desbravar as veredas do Sertão, guiados pela narrativa linda e singular de Guimarães Rosa. Durante as cem primeiras páginas é como se o leitor estivesse tateando às cegas... Aos poucos, tudo vai clareando, a gente vai se encontrando, pegando o ritmo e ficando fluente no ?jaguncês?. Leiam em voz alta, imaginem que Riobaldo está diante de vocês. Será uma experiência incrível!
Esse livro desperta profundas reflexões sobre a dualidade da vida, o amor, a amizade, Deus e o Diabo... Bem e mal. Emocionante! Maravilhoso! Inesquecível!
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Marcela Mosqueti 12/07/2020

O sertão é o mundo e Riobaldo nos revela isso logo nas primeiras páginas, mas só vamos começando a compreender tal relação quando a leitura avança.
A vida é uma travessia muito perigosa, porque não sabemos o que nos aguarda pelo caminho e o diabo vem dentro do redemoinho. Que saibamos então reconhecer os diabos que nos habitam, mas não dar ouvidos a eles.
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Humberto 02/09/2009

Não é texto pra ser lido, mas uma fala pra ser escutada...
O livro é fantástico. A questão é saber ultrapassar o primeiro estranhamento com o estilo da linguagem, e a dica que dou é: não se prenda às palavras, deixe a fala do personagem fluir, transformando-se em fluxo. Mesmo Guimarães Rosa, na época do lançamento do livro, disse que as pessoas não compreendiam seu livro pq se preendiam às palavras, e que elas deveriam lê-lo como se ler textos em uma língua estrangeira: pode até ser que não entendamos uma palavra ou outra, mas reconhecemos a situação narrada. Enfim, em "Grande Sertão", não podemos nos ver enquanto leitores, mas ouvintes!

Gosto de ver como o sertão vai deixando de ser um território - geograficamente delimitado, para se tornar um estado de espírito, ou melhor, se transformando em vida - assim, do particular, o autor atinge o universal. Observe a quantidade de definições que ele oferece para o sertão, tipo: " 'O sertão é bom. Tudo aqui é perdido, tudo aqui é achado...'[...] 'O sertão é confusão em grande demasiado sossego'" (p. 454).

Vai lá, sempre tive pra mim que Guimarães Rosa é da corrente sertanista, no sentido de valorizá-lo e idenficá-lo como referência da identidade brasileira (algo que vários outros autores da primeira metade do século XX já tinha feito). Tb é verdade que ele narra através de um ótica de "frequentador" do sertão, pois tinha afinidade com o ambiente e suas gentes. Mas, o que acho bacana, é que eles nos mostra a vida de jagunços, suas morais e suas relações de grupo - não são homogêneos, são plurais! Daí, penso que, assim como os bandeirantes paulistas já foram definidos como viajantes tipicamente brasileiros, Guimarães coloca os jagunços e suas andanças pelo sertão como outros nomâdes brasileiros.

Para mim, no mais, "Grande Sertão" é um texto mediaval - mas o próprio sertão guarda em si diversas questões de uma Europa Medieval, como já referiu Ariano Suassuna em sua "A Pedra do Reino": histórias de cavalaria, conquistas, vinganças, amor, ódio, pacto com o diabo, poder das palavras ditas, morte e religiosidade...

Aliás, sugiro que antes ou após a leitura de "Grande Sertão", leiam também "A Pedra do Reino" e "Dom Quixote".

Para mim, concluo que: o Bem e o Mau, Deus e o Diabo, são discursos, logo, construções humanas, somente existem através do Homem e suas falas...
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Alan360 01/08/2020

Uma obra-prima.
Um enorme desafio no começo da leitura. Depois melhora um pouco. Vamos nos acostumando com a linguagem. Ainda assim incompreensível em diversos trechos. Mas a história é fantástica. Riobaldo é um personagem
riquíssimo. Guimarães Rosa um gênio. E grande sertao veredas uma obra-prima para ser lida muitas vezes.
*sugestao: após terminar o livro, releia as primeiras páginas, nesta edição até página 77, que considero a parte mais confusa. Ao reler tudo se encaixa, tudo faz sentido e flui bem melhor.
Debora.Andrade 01/08/2020minha estante
Quero ler demais! Sua resenha incentivou ainda mais!


Alan360 01/08/2020minha estante
Leia, depois me conte!


Debora.Andrade 01/08/2020minha estante
Conto sim.
Ah! E caso ainda não tenha lido, existe um livro de Llosa sobre o mesmo tema, se chama a Guerra do Fim do Mundo!


Alan360 01/08/2020minha estante
Olha só, vou procurar


Debora.Andrade 12/12/2020minha estante
Lendo, amei a dica
Quando passei das 80 páginas foi isso mesmo: ficando menos pior kkkk


Alan360 12/12/2020minha estante
Que legal! Depois me conta




raafaserra 13/07/2021

OS MIL SERTÕES
"Naqueles olhos e tanto de Diadorim, o verde mudava sempre, como a água de todos os rios em seus lugares ensombrados. Aquele verde, arenoso, mas tão moço, tinha muita velhice, muita velhice, querendo me contar coisas que a idéia da gente não dá para se entender - e acho que é por isso que a gente morre."

É com trechos assim que Guimarães Rosa nos capta em seu universo. Com um toque sinestésico e sensibilidade singular, Guimarães mistura tudo: paixão, secura, o bruto e a delicadeza em meio ao selvagem, nos lançando em um mundo que possui uma nova linguagem (a questão da linguagem é tão forte que, nas primeira páginas, cheguei a me perguntar se fui realmente alfabetizada, kkkkkkkkkk). Mas vale a pena insistir, pois, em um piscar de olhos, nos deparamos fluentes, incessantemente curiosos pelo protagonista Riobaldo e seu bando de jagunços além de, é claro, pela sua conturbada relação com Diadorim.

Um livro que te faz viajar, ler e reler frases não por não entedê-las, mas somente para senti-las novamente. Com Riobaldo, compartilhamos a descoberta dos sentidos (físicos e espirituais) da vida, o que leva cada leitor a ter uma experiência única com a obra. 10/10.
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Paulo 19/01/2020

"Viver é muito perigoso"
Lembro quando escrevi aqui uma resenha do livro S. Bernardo, de Graciliano Ramos, dizendo que aquele livro era uma prova de que a leitura deve acontecer no momento certo de nossas vidas, e que se uma leitura no passado foi entediante ou improdutiva, ela pode muito bem ser excelente nos dias de hoje. Pois eu senti a mesma coisa com esta obra-prima de Guimarães Rosa; essa foi a minha segunda tentativa de ler Grande Sertão: Veredas. A primeira foi mal sucedida porque eu tive imensa dificuldade em ler o livro da forma como ele foi escrito. Já nesta segunda tentativa eu tive as mesmas dificuldades iniciais, mas continuei lendo, e quando necessário voltando alguns parágrafos com calma, até chegar uma hora em que o estilo da escrita não fosse mais uma dificuldade, mas sim uma particularidade. Quando peguei o jeito de ler este livro, a linguagem se tornou para mim tão natural e a leitura andou leve até a última página. Ou como Paulo Rónai escreveu em Três Motivos em Grande Sertão: Veredas: "Como prêmio do esforço exigido pela leitura, saímos dela com a impressão de termos participado um pouco da obra de ficção, de termos compartilhado não só as vicissitudes das personagens, mas também a alegria criadora do autor." E isso é bem verdade.

O livro é escrito em primeira pessoa. O personagem principal, Riobaldo, vai contando a alguém suas memórias de antigamente, com certo saudosismo às vezes, de quando ele era jagunço pelo sertão brasileiro. Essa outra pessoa que ouve a narração nunca fala durante o livro, mas pelas falas do Riobaldo sabemos que ele está conversando com alguém culto e "instruído".

No decorrer da obra vamos viajando com Riobaldo neste terreno tão vasto que é o sertão, os gerais, ali no norte de Minas Gerais, Goiás e sul da Bahia. E no trajeto de suas memórias vamos nos deparando com histórias de ver como o ambiente molda as pessoas que ali estão. "O sertão está em toda parte."

Ele conta histórias fora do tempo cronológico, então acontece de ele narrar um episódio de sua vida e voltar no tempo para narrar como esse fato chegou a ser. Por exemplo, ele conta como fazia parte do grupo de jagunços de Medeiro Vaz que estavam à caça dos Judas, e só depois descobrimos como bem antes disso Riobaldo entra no mundo da jagunçagem, e como esse judas mataram o antigo chefe dos jagunços.

As indagações psicológicas e metafísicas de Riobaldo me deixavam às vezes surpreso, e me surpreendia também o contraste do ex-jagunço que ele era, narrando a história para um, segundo ele, ouvinte letrado e culto. Ora, mas qual inteligência é melhor do que aquela chamada de Experiência de Vida? E Riobaldo, relatando suas memórias, aquilo que ele viveu e viu, se mostrou alguém inteligente e esperto de igual forma, moldado conforme às circunstâncias de sua vida.

No decorrer da narração vemos dois mistérios no ar: um é a relação de Riobaldo com Diadorim, relação tão próxima e afetuosa, mas com segredos dentro de ambos; e o outro mistério, mais sutil, é a insistência de Riobaldo em saber da existência do Diabo (o Tinhoso, o Sujo, o Cramulhão, o Que-não-ri, etc), um assunto que ele parece evitar durante toda obra, até saber que aquele que o ouve tem total mente aberta para ouvir a estranheza do fato que ele vai detalhar: "O diabo na rua, no meio do redemoinho..." O que seria mais uma genialidade de narrar o estilo daquele sertanejo, do jagunço, suscetível às superstições (ou à realidade do desconhecido).

Enfim... é um belo livro. Foram mais de seiscentas páginas de uma história rica em termos regionais, em ambientação, descrição do mundo e das pessoas, aventuras, mistérios e memórias. Sem linha cronológica, a história é um vai-e-vem de acontecimentos que ao longo da obra vai se encaixando e formando o cenário completo daquilo que foi. Até porque, por se tratar de um relato de memórias, a história está sujeita às falhas humanas inevitáveis, como qualquer um de nós contando algum relato de nossas vidas.

É certamente um dos melhores livros brasileiros que eu já tive a chance de ler.
Luíza | ig: @odisseiadelivros 19/01/2020minha estante
Depois de ler a sua resenha me deu vontade de reler essa obra-prima! Esse livro é incrível.




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