O Pintor de Letreiros

O Pintor de Letreiros R. K. Narayan




Resenhas - O Pintor de Letreiros


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Fabio Shiva 21/07/2021

Talentoso pintor
Ao terminar essa leitura tive uma gratificante sensação, que muito curiosamente foi bastante parecida com a que experimentei ao permanecer por alguns instantes na absorta contemplação de uma pintura em algum museu ou salão de arte. Foi essa a impressão que me causou a literatura de R. K. Narayan: a de um quadro pintado com maestria e leveza, expressando através de tonalidades sutis e ágeis pinceladas uma série complexa de emoções indistintas. Trata-se de uma cena completa e acabada, onde nada falta, mas de alguma forma persiste o sentimento de que existe todo um universo mais amplo, de onde a pintura foi recortada, e que apenas pressentimos ao admirá-la.

Rasipuram Krishnaswami Iyer Narayanaswami, mais conhecido como R. K. Narayan, nasceu em Madras, Índia, no ano de 1906 e viveu até os 94 anos. “O Pintor de Letreiros” foi publicado em 1977, quando o autor estava com 71 anos e mais de 10 livros de sucesso, que lhe renderam prêmios e adaptações cinematográficas. A trama gira em torno de Raman, cuja profissão é pintar letreiros para os comerciantes de Malgudi, a cidade fictícia no sul da Índia, onde se passam todas as histórias de Narayan. A determinação de Raman em permanecer solteiro é abalada quando ele conhece a intempestiva Daisy, que trabalha como missionária na ingrata missão de conscientizar as populações carentes sobre a necessidade do controle de natalidade.

Esse pano de fundo possibilita cenas muito interessantes, como as reflexões de Raman sobre as “crianças sujas e maltrapilhas” que pululavam nas calçadas ao redor do mercado de Malgudi:

“Nesse ritmo, invadiriam o planeta inteiro – mas não havia de ser nada: embora parecessem esfomeadas, suas peles, achocolatadas ou quase negras, reluziam saudáveis e seus olhos brilhantes irradiavam vitalidade. De onde vinham? Alguém compareceu à cerimônia de casamento de seus pais? Ou, ainda, quem eram esses pais? Talvez não houvesse nada de errado com a vinda delas ao mundo. Tinham tanto direito de estar aqui como qualquer outra pessoa; mais bocas para alimentar – tudo bem, é só achar mais comida para essas bocas e pronto.”

Quando li esse trecho, achei a princípio que o autor estava retratando a ingenuidade de Raman, que enxerga de forma tão simplista um problema tão complexo. Contudo, ao transcrever essa citação acima, me dei conta de que talvez exista uma profunda sabedoria nessa suposta ingenuidade. Afinal, a fome no mundo é um problema insolúvel, ou só parece insolúvel porque estamos todos empenhados em competir uns com os outros?

Esse outro trecho, onde o autor descreve a beleza de Daisy, também me fez pensar:

“Adequava-se às feições dela, que eram de um marrom translúcido – a melhor textura que a pele humana podia ter.”

Uma pele marrom é a marca da mestiçagem, o que me fez concordar que realmente é a cor mais bonita para a pele humana. Cada vez mais penso, como Jorge Amado, que a miscigenação é a única solução para o racismo, o preconceito e a intolerância. E encontrar isso expresso de forma tão sutil – e audaciosa para um autor indiano que escreve em inglês! – no texto de Narayan foi um presente inesperado.

Tal como a sabedoria, o senso de humor e a ironia desses outros trechos:

“Posso persuadir os animais silvestres a seguir meus conselhos, mas já não tenho a mesma certeza quanto a poder influenciar os seres humanos. (...) Posso enxotar as cobras do meu caminho. É preciso falar com elas. Elas nunca discutem. Mas basta falar alguma coisa para um ser humano, para que isso vire polêmica.”

“Um método certeiro para arranjar-se uma esposa parecia ser quebrar-lhe a clavícula com delicadeza.”

“A maior parte da conversa social é só uma falação sem sentido, que de alguma forma conforta a humanidade com uma ilusão de comunicabilidade.”

Finalizando essa resenha, quero registrar minha crescente admiração por Graham Greene, que além de um grande escritor parece ter sido também um admirável ser humano. Foi graças a ele que Narayan publicou seu primeiro romance, e não é a primeira vez que vejo um louvor de Graham Greene a outros escritores adornando a contracapa de seus livros:

“Narayan é o escritor de língua inglesa que mais admiro.” (Graham Greene)

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2021/07/o-pintor-de-letreiros-r-k-narayan.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Stella F.. 22/07/2021minha estante
Tenho na estante e ainda não li. ???


Fabio Shiva 23/07/2021minha estante
Oi, Stelinha! Valeu pelo comentário!
Eu achei uma leitura deliciosa! Leia e depois comente o que achou!




Edna 05/12/2020

Identifique-se
Sul da India, Malguldi e outras cidadezinhas no interior,  regiões secas, montanhosas, escassas, mas muita escasses mesmo, algumas familias nao tem sequer o chá.

Malgudi é uma cidade indiana que busca, ao mesmo tempo, respeitar e seguir tradições e ser considerada um lugar moderno. Raman é um dos inúmeros moradores de lá. Seu trabalho é andar por aí de bicicleta em busca de alguém que precise de um letreiro.?
?
Raman, um Pintor de letreiros, homem simples, pacato, únicos prazeres é o encontro com amigos em um restaurante onde fazia suas simples refeições e iax pendurando no "SENLETREIRO", batizado por ele pois era o único comércio que não tinha interesse em nomear.
Outro passatempo era as visitas ao Sebo que confiava no estoque do Livreiro poderia ser  Império Romano, Poesia clássica do século X,  Gótigo ou Filosofia. O interessante era como se dava essa escolha _Ele colocava a mão dentro do armário e escolhia a ermo qualquer volume, levava para sua única preciosidade  as suas ediçoes raras; dentro daquela casa sem móveis, um colchonete o destoava dos demais como a Tia ainda bem conservadora da cultura e religiões  preferiam uma esteira.

A chegada de uma Assistente Social à cidade Daisy, que o contrata para  um Letreiro diferente "CENTRO DE PLANEJAMENTO FAMILIAR"?

O objetivo de Daisy é  dar continuidade ao trabalho pelas regioes mais remotas, com determinação, e coragem para enfrentar os conceitos religioes dármicas, hinduismo, jainismo, que acreditam que a procriação é um símbolo de fertilidade e dom divino.

E a aventura se inicia quando Ranan é contratado para viajar junto, com muito humor, vao enfrentar muitos dissabores, as contradiçoes e muitos conflitos quando Raman se apaixona por ela uma mulher independente e que coloca sua missão de concientização para familias inteiras que nunca ouviram falar em controle de natalidade nem mesmo que a media populacional cresce 20% contra 3% anuais da produçao agrícola. E as moradias são as mesmas de décadas.

Uma leitura leve que te faz rir muito, com  aprofundamendo na cultura indiana.

#Bagagemliterária
#Opintordeletreiros
#RKNarayan
#Bookstagram
#Literaturaindiana
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Vic 18/09/2020

não fez muito sentido para mim
Foi um livro que não me acrescentou nada, honestamente, não vou lembrar nem do nome do personagem principal daqui uns anos e mal vou me lembrar da história. Não me trouxe nada de novo além de ser um cenário que eu nunca tinha lido antes, na Índia. De resto, foi só uma leitura para passar o tempo.
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Annie - @queriaseralice 03/08/2017

Esperava mais!
“E se for? Ou se não for? As pessoas têm que ser etiquetadas? Usar uma coleira dizendo se são isso ou aquilo?”⠀

Malgudi é uma cidade indiana que busca, ao mesmo tempo, respeitar e seguir tradições e ser considerada um lugar moderno. Raman é um dos inúmeros moradores de lá. Seu trabalho é andar por aí de bicicleta em busca de alguém que precise de um letreiro.⠀

Raman é um homem bastante conservador e cheio de princípios. Tais princípios passam a ser deixados de lado quando ele conhece Daisy, uma jovem que busca, acima de tudo, acabar com o aumento da taxa de natalidade do local.⠀

Daisy é uma mulher forte, que acredita em si e na sua capacidade e que não se deixa humilhar por suas escolhas: não querer filhos ou um marido que a prenda e a proíba de trabalhar, por exemplo. Raman, ao ser contratado por Daisy, se vê lutando por algo praticamente impossível: o coração dela.⠀

O pintor de letreiros não é uma história de amor, apesar de, em alguns momentos, aparentar ser. É sobre religião (hinduísmo), política, democracia e luta por igualdade. Ou seja, uma forma de conhecermos melhor a Índia e, assim, equipará-la com a nossa própria sociedade.⠀

Apesar de ter gostado do livro, algumas coisas me incomodaram, principalmente a forma como a mulher é apresentada pelo autor. A escrita de Narayan é boa – sendo ele um dos maiores romancistas indianos do século XX – mas não me prendeu da forma que eu esperava.⠀

A edição da Guarda-Chuva é linda e, por mais que eu não tenha favoritado a obra, recomendo a leitura àqueles que buscam sair da zona de conforto e se aprofundar na vasta cultura indiana! ☺⠀

site: https://www.instagram.com/p/BXEYlyYF0R3/
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eglair 22/09/2012

O livro é bem humorado, repleto de críticas sociais com tom irônico. Ambientada na India por volta de 1972, a narrativa traz consigo todas as cores, aromas e características socio-culturais de seus habitantes.

Raman, o protagonista, é um jovem calígrafo que pinta letreiros, ele acredita no pensamento racional como forma de progresso individual e social. Perfeccionista e obstinado com o universo das letras e de comunicar bem, Raman critica a sociedade em que vivemos, relatando acontecimentos e problemas que continuam atuais.

Sua rotina é a pintura de letreiros por encomenda, discussões políticas e conversa fiada no Café-Hotel “Senletreiro” com seus amigos. Para ele, um estabelecimento com letreiro mostra respeito, estabilidade e permanência. São analogias bem interessantes.

Um solteirão convicto, obstinado a manter seu estado civil intacto, Raman se vê perdido quando apaixona-se por Daisy, uma assistente de planejamento familiar obcecada pelo controle de natalidade em seu país.

O desenrolar da paixão arrebatadora, e praticamente platônica, é muito bom de início mas depois vai perdendo um pouco o sentido, a meu ver. Além desse tema central, outros assuntos são abordados, como o choque de gerações, o conflito entre razão e religião, e assuntos relativos ao machismo e feminismo.

O livro é dividido em quatro partes, na minha opinião o começo é muito melhor do que o final. A terceira e quarta partes parecem ter perdido o ritmo da narrativa, com muitos trechos pedantes, diálogos vazios e os personagens principais acabam tomando um caminho diferente do perfil psicológico esboçado no início.

Eu estava aninada com o livro, pois li algumas resenhas positivas, mas sinceramente perdi o entusiasmo já no meio da história. Simplesmente não me cativou até o fim.
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Ladyce 14/01/2012

O conflito entre o novo e o velho
Foi com grande prazer que descobri, no final do ano passado, o lançamento do romance O PINTOR DE LETREIROS, de R. K. Narayan (Índia, 1906-2001), publicado pela Editora Guarda-Chuva:2011. A apresentação de Narayan ao público brasileiro era devida e necessária. Sua obra já está alinhada entre os clássicos da literatura indiana assim como da literatura de língua inglesa. [Para ilustrar, a minha edição desse romance, em inglês – The Painter of Signs-- foi publicada pela Penguin, coleção Clássicos do século XX, em 1982], tal é sua importância.

Muito de sua obra me atrai, mas principalmente o fato de não haver respostas aos problemas apresentados, não haver soluções fáceis. Os romances de Narayan têm a característica de apresentarem no cotidiano, enfrentados por pessoas comuns, moradoras da fictícia Malgudi — um vilarejo que cresce, cresce até formar uma pequena cidade, isso através de volumes de sua obra – e terminarem sem respostas fáceis. Narayan é um daqueles escritores indianos formados na época em que a Índia ainda fazia parte da Comunidade de Nações Britânicas. Sente-se em sua narrativa o contato íntimo com o melhor da literatura inglesa. Entre essas características está o descrever de um todo, de um problema complexo, às vezes até político-social, pelos conflitos e resoluções de personagens menores, mas que no final são quem realmente irão resolver, no dia a dia de suas fainas, as mudanças necessárias para uma solução aceitável. É o indivíduo, o homem comum, com todas as suas idiossincrasias que aparece agindo pelo todo. É como se os romances fossem a respeito de nada, porque não há eventos, ações, momentos grandiosos. Não há heróis, nem grandes conquistas. Tudo parece muito corriqueiro e diário, mesmo quando se trata de uma mudança de grandeza social. É com o homem comum, com a pessoa de pequeno porte, a formiguinha trabalhadora e mantenedora dos princípios sociais, religiosos e morais, é através desses personagens, tomando pequenas decisões, que o romance e os leitores se transformam.

E é o humor de Narayan que serve de porta de entrada ao nosso mundo e nos transforma. Com uma narrativa irônica e bem-humorada vemos, em O pintor de cartazes, as dificuldades de Raman. Participamos de suas dúvidas, de seus anseios e principalmente de sua incompreensão a respeito da mulher amada. Isso porque solteiro inveterado, na terceira década de vida, esse pintor de cartazes, educado na universidade, vê sua existência como exemplo de um ser pensante de uma racionalidade quase cartesiana. Mas em seu destino aparece Daisy, a moderna, independente jovem trabalhadora, que com zelo missionário, tenta educar, persuadir e revolucionar os habitantes de pequenas cidades e vilarejos a usarem de planejamento familiar para controlar com sucesso os números do crescimento populacional da Índia. Esta é a vida moderna. A Índia de hoje. Raman, não tem dificuldade nenhuma em aceitá-la. Apaixona-se por ela… Moderna, instigante, livre, dedicada e inescrutável. Mas será que ela se apaixonaria também por alguém tão pouco fervoroso sobre o futuro?

Em casa, Raman tem o exemplo de outra nação. Lá está diariamente sua tia, que dedicou toda sua vida à educação e ao crescimento de Raman emocional e intelectual, que se sacrificou pela família, pelos valores e pela memória dos antepassados. Com suas idas diárias ao templo, sua comida em forno de barro, com suas histórias do passado, ela é o mundo de onde ele veio, a Índia com toda a tradição cultural milenar. Preso entre dois amores, seu mundo desaba, não sem antes termos deliciosos momentos de humor e ironia na trama.

Narayan nos dá a dimensão precisa das mudanças que ocorrem na Índia da década de 1970, quando por esforço governamental de grande magnitude, a necessidade de controle da natalidade foi colocada em destaque. Ele nos mostra como a tradicional cultura indiana recebe essas mudanças. São abordados assuntos complexos tratado numa linguagem clara, límpida, sem rebuscados artifícios. Justamente por isso conseguimos pensar na complexidade de pequenas decisões diárias que afetam ou são afetadas pelo todo. O charme de O PINTOR DE LETREIROS é característico do autor: não está na trama – que é de uma simplicidade quase ingênua – mas nos retratos dos personagens, nas descrições que nos levam de início ao fim, às vezes com um tênue sorriso nos lábios, ocasionalmente um riso comedido e espontâneo, até o fim da leitura.

A publicação em português está excelente. Vale a pena enriquecer as suas férias, os seus dias de verão, com essa leitura leve e significativa de um clássico autor indiano.
Letícia 15/01/2012minha estante
Como disse lá no seu blog, eu me identifiquei com a personagem principal. Será que sou uma pintora de letreiros? rs...




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