NutNut 11/10/2023
Aflito, conjunturalmente impecável e extremamente russo.
A trama envolve quase que um mistério, existem muitas coisas de que não temos certeza e são esclarecidas muito à frente, mas estar na mente do protagonista em todo esse processo é muito cativante.
Aleksei é o famoso escravoceta, e muitas vezes suas atitudes de extrema submissão causam desconforto, mas não deixam de ser interessantes. Um homem de emoções complexas, e abdica de sua própria dignidade em diversos momentos. O livro é de fato mais psicológico do que narrativo.
Também podemos identificar traços do vício em jogos do próprio Dostoiévski na escrita, as descrições dos processos dos cassinos, do que acontecia nas mesas são extremamente detalhadas, o que também é traço intrínseco à literatura russa.
Pela sinopse, que admito ter lido já num estágio bem avançado do livro, achei que o vício de Aleksei e sua ruína iniciariam mais cedo, mas o detrimento de seu estado se manifestou nos últimos momentos do livro.
Todos os personagens em foco são muito bem construídos, carregam suas particularidades e um comportamento característico, o que mostra muito talento descritivo e conjuntural.
Sobre os finais russos...
Eu os detesto. Entendo esse como um traço bem marcante da literatura em questão, mas não consigo me conformar e aceitá-los sem fazer careta.
O final de "O Jogador" é aberto. Mostra a situação em que Aleksei se colocou após cometer tantas vezes o mesmo erro, perdeu tudo o que tinha e até mesmo o que conhecia.
Quando sua jornada ao fracasso teve seu estopim, eu esperava uma grande catástrofe avalassadora, mas foi tão gradativo quanto o restante do livro.
Esse pequeno fator me impediu de dar 5 estrelas completas.
O grande espetáculo acontece no decorrer da obra, todos os desbravamentos, medos e breves realizações, portanto o final foi digno como mais uma etapa. Porém, não deixo de esperar por desfechos fortes e encaminhados, depois de toda a refeição eu gostaria de um cafézinho.
É um livro muito bom, bem ambientado e construído.