Eva 11/12/2021Começo pelo enredo narrado em terceira pessoa e que trata da estória de Arkádi jovem estudante que está voltando para casa, após alguns anos de estudo em São Pettersburgo e traz consigo o amigo e mentor Bazárov, personagem principal.
Arkádi é recebido amorosamente por seu pai que demonstra-se muito afetuoso, Arkádi se mostra meio constragido e daí em diante já começamos a perceber a influência de Bazárov em seu comportamento, ao chegarem na propriedade do pai encontram o tio Pável, ex militar. Ao quererem saber mais sobre o amigo de Arkádi, este o define como niilista, que seria um corrente filosófica em que a pessoa nega tudo, não reconhece qualquer tipo de autoridade, instituição, tradição, não acredita em nada que não seja útil, seja no campo da ciência, arte etc. E ao dizer isso para o pai e tio acende os conflitos de idéias principalmente entre o tio e Bazárov. O pai apesar de não concordar com os pensamentos niilista assume uma postura apaziguadora, Arkádi que parece que ainda não tem os preceitos do niilismo totalmente absorvidos se mostra neutro na maior parte do tempo.
Os dois vão para outra cidade a passeio e lá encontram amigos e conhecem Anna Odintsov, jovem viúva, bonita, inteligente, segura de si, uma personagem feminina marcante. A partir disso a narrativa se desenvolve de forma que convicções de Bazárov caem por terra e percebendo isso o jovem se vê encurralado entrando em contradição com o rótulo que ele criou para si mesmo. Arkádi também percebe seu mentor em contradição então começa a se desvincular assumindo uma postura mais autônoma.
Vários pontos que gostaria de comentar, mas vou tentar me ater só aos mais importantes. Primeiro, Bazárov é um personagem muito fácil de ser odiado, mas que após sua desilusão amorosa eu meio que o entendi em uma frase que ele fala a Arkádi:
"Veja o que eu faço; há um lugar vazio, na mala, e vou pôr aqui um punhado de feno; o mesmo acontece na nossa mala da vida; nós a enchemos com alguma coisa, só para não ficar um vazio".
Ele se pôs um rótulo e tentou mantê-lo, mas que na verdade era só mais um jovem procurando algum sentido na vida.
Arkádi é muito influenciável, personagem sem brilho nenhum.
O pai de Arkádi e os de Bazárov são pessoas doces e amorosas e que na minha opinião não se mostram pessoas muito apegadas ao tradicionalismo, pelo contrário achei Nicholai até bem progressista respeitando a liberdade dos servos, na medida do possível. Talvez o mais ligado ao tradicionalismo, aristocrata, é o tio, Pável, que foi o personagem que realmente entrou em conflito com as ideiais niilistas, os pais mesmo foram só uns amorzinhos rsrsrs.
Fui surpreendida positivamente por Turguêniev, seja pela escrita fluída, sem floreios, seja pela forma que ele construiu sua narrativa de forma direta, objetiva, sem ser simplista e trazendo reflexões importantes.
Tão importantes que trouxe discussões para a sociedade russa na época da publicação, sendo o período em que a Rússia passava por mudanças sociais, como a abolição da servidão. Assim esse romance permanece sendo relevante até hoje.
Depois de ler Turguêniev pela primeira vez já fui logo colocar todos os livros dele disponíveis na Amazon na wishlist.