skuser02844 01/10/2023Conflito geracional da melhor qualidade Para quem tinha experiência quase nula com literatura russa li dois grandes nomes no mesmo mês. E devo dizer que, apesar de Crime e Castigo ser muito mais consagrado que este, gostei bem mais de Pais e Filhos do que dele, não diminuindo, de forma alguma, o livro do Dostoiévski.
Aqui vamos conhecer Arkádi, que é um protagonista tipo o Nick, de O Grande Gatsby, um protagonista que é mais coadjuvante do que protagonista. Ele tem um amigo/mentor chamado Bazárov, um Niilista do pior tipo, é o personagem que vai representar a geração mais jovem, no caso, dos anos 1860... é o personagem criado para fazer raiva no leitor, ele é desrespeitoso, metido e inconveniente.
Arkádi vai visitar sua família e leva Bazárov com ele, que fica hospedado com toda a sua folga na casa do amigo, lá conhecemos, além dos pais de Arkádi, o tio do protagonista, Pavel, que será a personificação da geração de 1840, e o melhor personagem do livro.
Livros que tratam sobre conflitos geracionais sempre me chamam a atenção... e eu raramente fico do lado da geração mais nova, aqui, como já ficou claro, não foi uma exceção. Mais uma vez vemos jovens se experiência de vida achando que as vozes da cabeça deles ou o que ouviram falar os tornam mais inteligentes e superiores aos seus antecessores, em especial o Bazárov, mas o Arkádi vai muit na onda dele.
Para resumir bem o Arkádi, vou pegar emprestadas as palavras da Michelly Santos, mentora do Clube MSL, onde ela destrinchou essa obra: "Arkádi parece aquele jovem idealista que acha que vai mudar o mundo, aí ele cresce, começa a pagar uns boletos e acorda pra vida." esse é, definitivamente, a melhor síntese possível para o personagem.
Além da família do Arkádi conhecemos também os pais do Bazárov, que vai nos encher depena, pois o filho é, bem, o Bazárov... e é muito comum colocarmos a culpa da personalidade do filho nos ombros dos pais, e é obvio que eles têm muita influência na formação dos filhos, mas às vezes a fruta rola a colina e vai parar bem longe da árvore. Às vezes isso é bom, às vezes não.
O autor conduz a história com muita responsabilidade, sem deixar transparecer sua opinião sobre os personagens, faz isso tão bem que foi hostilizado por tudo e todos na época da publicação do livro porque achavam que estava defendendo um comportamento em detrimento ao outro que, na opinião deles, deveria ser o comportamento exaltado.
Em suma, é um livro fenomenal, de leitura deliciosa e extremamente fluida. Vai te fazer dar sorrisos, passar raiva e refletir sobre a vida, sua família e seus atos. Um daqueles livros que você indica para todo mundo.
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