Julhaodobem 22/07/2023
Leitura das Férias
Viajar é uma tarefa que todo ser humano nasce registrado em seu DNA, de uma forma misteriosa alguns de nós desde criança temos uma vontade inexplicável de viajar o mundo em busca de experiências novas, ver pessoas que nunca viram, lugares que nunca sentiram e respirar um ar que nunca imaginaram em inspirar de suas narinas. Atualmente a maioria de nós está preso em uma rotina causada pelo capitalismo, estamos isolados em nosso home office achando que estamos ganhando muito, alguns estão trancados em salas de escritórios pensando que estão produzindo a diferença em suas vidas ou outros estão enfurnados em livros achando que o mundo da fantasia pode ajudar a ter novas experiências. Somos hoje uma sociedade do cansaço que adoramos rotinas, muitos não conseguem sair disso. Mas outros, os chamados loucos, às vezes simples, largam todas as amarras da economia e o senso de moralidade criado por um estado e saem para o mundo.
Foi o que Amyr Klink resolveu fazer, sair pelo mar com o seu barco, Paratii: entre dois pólos é uma das histórias deste homem louco que resolveu se aventurar nos anos de 1980 onde poucos brasileiros tinham ido até aquele momento, a Antártida. Mais especificamente para passar quase um ano no inverno deste continente gelado e inexplorado pela humanidade em sua totalidade. O livro conta esta aventura de acordo com as suas próprias palavras e diários que ele escreveu durante a sua viagem a bordo do paratii, um belo veleiro de casca vermelha feito por ele e por outras várias empresas e pessoas que se juntaram para construir o barco desta expedição. Este livro chegou em minhas mãos de uma forma inesperada, onde um belo dia estava andando pela universidade e resolvi de repente abrir a geladeira que existe perto do restaurante universitário da faculdade. No meio de apostilas velhas para doação e papéis de engenharia elétrica acabei achando este livro, acabei pegando para mim e lavando para casa. Esta foi uma das minhas campanhas durante as férias no começo desse ano, onde acabei terminando no final das minhas férias.
Assim, acabei a acompanhar Amy em sua viagem pelos mares do Rio de Janeiro ao oceano , passando por países nórdicos e ilha escondidas pelo clima, onde era possível apenas achar com as cartas náuticas, que são mapas escritos e passados de navegadores para navegadores como uma forma de ajuda e humildade ao alto mar. Esta foi uma das características que mais me chamou a atenção durante a leitura, a solidariedade que é encontrada ao alto mar é impressionante, onde a linguagem não é uma barreira, cada barco que é encontrado no meio desta viagem se encontra um amigo ou amiga que lhe dê providências, alimento ou boas palavras para pontuar a viagem. É quase como um acordo invisível entre essas pessoas que resolvem navegar por esses mares, de alguma forma todos sabem o que o outro está passando então assim se cria uma comunidade em alto mar, um ajudando ao outro. Algo que não existe em terra firme, nas cidades grandes pelo mundo, onde somos forçados a seguir a nossa rotina todos os dias em torno de multidões e mesmo assim se sentir sozinhos sem nem ter recebido um bom dia, mesmo que esteja ao lado de mais de 50 pessoas por dia.
Ao perceber isso, este livro se tornou para mim uma grande viagem social pela vida, uma forma de perceber o quanto somos pequenos e insignificantes para um sistema econômico e social que deseja que apenas trabalhemos trancados em um quadrado todos os dias, seguindo modalidades de consumo. Sendo que às vezes para se ter paz de espírito é necessário apenas fazer certas loucuras pela vida. Não é preciso fazer um barco e viajar pelo atlântico até a antártida, se puder fazer isso faça, mas também podemos ter uma experiência interessante ao largar tudo de vez em quando e ir ao parque, ir ao cinema ou chamar uma pessoa que lhe dê conforto para ir almoçar ou ver algo diferente. Experiência, sentir o mundo além de salas de concreto e horário no despertador.
Paratii: entre dois polos é um livro que me causou muitos pensamentos sobre a minha própria existência, não teria coragem de velejar sozinho pelo mar, mas me fez perceber as pequenas coisas da vida e às vezes as loucuras também, que devem ser feitas antes que meus ossos se atrofiam e minhas costas fiquem fracas, pois é isso que todos nós devemos ficar em algum momento, assim cada um de nós devemos pegar nossos veleiros vermelhos e viajar pelo grande mar da via antes que seja tarde, ignorando as mãos de dados e os dedos da burocracia chata.
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