As Origens do Pensamento Grego

As Origens do Pensamento Grego Jean-Pierre Vernant




Resenhas - As Origens do Pensamento Grego


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Dinoélia 03/11/2010

As Origens do Pensamento grego (Jean Pierre Vernant)
No primeiro capítulo “O quadro histórico”, o autor fala do início do II milênio. Das semelhanças existentes entre Ocidente e Oriente e da invasão dos povos mínios e hititas, mais ou menos no período entre 2000 e 1900 a.C, invasões estas que se marcariam ruptura do mundo grego, tal como o conhecemos, com as antigas civilizações da idade anterior. Neste capítulo ficamos conhecendo algumas características das primeiras civilizações gregas e a importância atribuída aos cavalos e ao seu uso na idade antiga.

No segundo capítulo “A Realeza Micênica”, o autor cita os problemas de decifração e interpretação referentes aos documentos encontrados, que muitas vezes são reduzidos a inventários anuais e redigidos em tijolos crus, mostrando o quão difícil será estabelecer um panorama da organização social micênica através desses meios. Contudo, algumas interpretações se encontram em determinados pontos. Com isso o autor nos fala sobre a vida social e os papeis desenvolvidos pela mesma, citando os escribas, a Realeza burocrática e o domínio da agricultura. Vernant ainda nos fala sobre as características da Realeza micênica e sobre as diferenças existentes entre esta civilização e a de Creta, destacando a arquitetura dos palácios, seu papel militar e a corte.

No terceiro capítulo “A crise da soberania”, percebemos o surgimento de uma nova era na civilização grega, pois é quando vai se solidificar algumas transformações sociais nas artes e, sobretudo na língua. O autor nos diz que em meio ao caos do desmoronamento do sistema palaciano micênico, é que surgirão reflexões e especulações políticas que definirão uma primeira forma de sabedoria. Vemos surgir uma nova arquitetura, onde construções urbanas, ou seja, as cidades, não se agrupam mais em torno de um palácio real, e sim centralizadas em um espaço comum.

No quarto capítulo “O universo espiritual da polis” o autor nos apresenta a consolidação e organização da cidade no século VII e VI, através dela os gregos notarão uma invenção na vida social e na relação entre os homens. Vernant fala da importância atribuída à palavra, a arte da oratória, que agora servirá, além de tudo, para o debate, a discussão e argumentação; a importância da escrita e da razão. Neste capítulo percebemos o surgimento da filosofia e sua ambigüidade e a criação de leis.

No quinto capítulo “A crise da cidade. Os primeiros sábios”, Vernant aborda vertentes sobre confusões e conflitos internos que vão desencadear em uma crise de fatores basicamente econômicos no final do século VII e que deram lugar a novas reflexões morais e políticas. Informa-nos também que o Direito estava intimamente ligado a aspectos religiosos.

No sexto capítulo “A organização do cosmos humano”, Vernant fala sobre as diversas correntes de pensamento moral do século VI, onde de um lado os valores aristocráticos se apresentam, sobretudo sobre a riqueza e de outro um espírito democrático. Aborda os diversos elementos que compõem a cidade, e nos fala sobre a função dos sábios que seria explicitar os valores que devem ser adquiridos pelos cidadãos para manter a ordem na cidade.

No sétimo capítulo “Cosmogonias e mitos de soberania”, o autor fala da revolução intelectual e o surgimento da razão, que vem dar lugar ao pensamento mitológico. O mundo agora passa a ser explicado de uma forma lógica. Porém, apesar de o mito não servir mais para explicar o mundo, Vernant não deixa de esboçar qual papel esse desempenhava na sociedade.

No oitavo e último capítulo “A nova imagem do mundo”, Vernant ressalta a importância dos escritos de Anaximandro; difere a astronomia grega da astronomia babilônica e de outros povos do oriente, porém, não deixa de salientar a importância desta, que teve papel relevante na construção do conhecimento grego. O autor ainda fala que agora existe uma nova geometrização do universo físico, uma nova construção de mapas e uma nova forma de pensamento sem analogia ao mito.


Matheus656 14/05/2022minha estante
Meu Deus eu TE AMO




Eduardo Vilalon 28/02/2011

Li algumas vezes e a cada vez ele vai ficando mais claro, o que não significa que seja um livro fácil! Mas é primordial para qualquer estudante de Filosofia, História, Ciências Sociais e afins.
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Marcella 14/03/2021

Origens do Pensamento grego é um livro para pesquisadores de área e para pessoas que já estão acostumadas a ler sobre Filosofia e Grécia Antiga. Ou seja, não é idealmente um livro introdutório sobre o tema.
Em diversas passagens, inclusive, o autor se utiliza de termos específicos de historiadores, deixando o texto um pouco mais difícil para leigos.
No geral, traz uma análise ampla da sociedade grega antes o nascimento da Polis, e quais os principais fatores que levaram a este tipo de organização de sociedade. Essa formação é essencial para o surgimento da filosofia, e para os primeiros passos em direção a ciência que conhecemos hoje.
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Keltos 09/09/2010

As Origens do Pensamento Grego – J.P. Vernant.
Para o antropólogo Marcel Detienne, parceiro de Jean Pierre Vernant no centro de estudos Louis Gernet, os antigos gregos são ótimos enquanto fonte de estudo para compreendermos aspectos do nosso pensamento atual. A inovação proposta por Vernant alinhado a escola dos annales é interessante não apenas para se compreender melhor os antigos gregos e sua forma de pensar, mas para entendermos um pouco melhor nossas questões atuais sendo nós mesmos historiadores de nosso tempo.

Jean Pierre Vernant, enquanto renomado helenista que era, inovou a forma de se estudar não apenas os antigos gregos, mas a história como um todo ao aplicar abordagens interdisciplinares e diferenciadas ao estudo da Grécia antiga. O centro de estudos Louis Gernet produziu novas formas de se trabalhar temas clássicos ao envolver antropólogos, historiadores e especialistas de diversas áreas. Sobretudo, alterou a maneira como pensávamos o discurso e o modus vivendi grego.

Pensar o mundo grego. Nesta frase encontra-se , em nossa opinião, o ponto chave de onde desdobram-se as principais contribuições de Jean Pierre Vernant. Ao inserir aspectos piscológicos a formação do pensar grego, Vernant expande o leque de possibilidades analíticas a uma galáxia nunca antes sonhada. A Mentalidade é acima de tudo o ponto de articulação entre as temáticas próprias do mundo grego e a conceitualização estruturada de uma história problema.

Em As Origens do Pensamento Grego, encontramos um Vernant ainda esboçando as principais vertentes daquilo que o tornaria brilhante e notório na historiografia. Sua abordagem da Grécia arcaica e clássica segue momentos distintos. Em um primeiro momento sua preocupação é situar cronologicamente o mundo grego, buscando por meio das condições sociais entender a linearidade do pensamento que com o tempo vai se complexificando até chegar no desenvolvimento filosófico poliade clássico.

A formação do pensamento racional entre os gregos é a tônica deste livro e Vernant o faz com maestria. O Capítulo IV em especial, intitulado o universo espiritual da Polis é muito bem pontuado e em nossa opinião é o capítulo que melhor define a proposta de Vernant ao inserir-nos em um universo políade onde a articulação existente entre o logos grego e a racionalidade ligada a atividade política é notória.

O pensar grego neste período de formação da polis é sempre contextualizado e a referência da associação continua deste pensamento com as concepções de longa duração se fazem presentes, principalmente quando notamos as referências existentes entre a mentalidade abordada e a dinâmica social grega em perspectiva cronológica.

Se pensarmos o capítulo IV deste livro dentro dessa lógica, encontramos elementos necessários para uma possível articulação entre o público, o privado e a dinâmica política do logos grego onde por esta época demandava uma prestação de contas que “já não se impõem pela força de um prestígio pessoal ou religioso” , mas que “devem mostrar sua retidão por processos de ordem dialética.

A palavra e o uso publico transformam profundamente as formas de pensar e de agir dentro do mundo grego. O universo espiritual da polis que Vernant evoca enquanto título deste capítulo são basicamente estes aspectos referentes ao prestígio da palavra, o desenvolvimento das práticas públicas e suas relações dentro da esfera pública entre aqueles que por meio da isonomia se reconhecerá enquanto igual e partilhando desta forma de pensar em comum.

Se pensarmos no quanto isso define e transforma as práticas humanas políticas, comerciais e religiosas dentro do mundo grego podemos compreender como certas racionalizações únicas da esfera grega puderam expandir-se de tal forma que puderam redefinir totalmente as práticas e discursos não apenas dentro do mundo antigo, mas se pensarmos antropologicamente com as nossas próprias formas de pensar enquanto individuo social, ou no caso dos gregos antigos poliade e Hómoioi.

A ação humana crescente e buscando sempre sanar suas necessidades formulou o pensamento racional grego. Vernant desde sempre pregou contra o chamado “milagre grego” e este trabalho nos coloca face a face com o que busca definir que esse mundo racional grego é antes de tudo feito por meio de uma construção lógica ligada intimamente com a evoluções das práticas humanas e da organização social.

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Este livro se mostra de indispensável leitura para qualquer um que procure no pensamento racional as respostas para a as práticas que nascidas na Grécia se tornaram basilares para o mundo contemporâneo, como a própria formação da polis e a sua complexidade enquanto estrutural social. Jean Pierre Vernant não apenas inova nesta abordagem como também define a linha de trabalho que o tornaria não apenas um grande helenista, mas um historiador notável até os dias de hoje.
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Rafael 02/04/2016

O embrião ocidental
Vernant discorre sobre fundamentos para a formação da cultura grega. Uma região que nos legou a partir da pólis a base da civilização ocidental.

O grande florescimento da idéias filosóficas, da formação da pólis de uma forma mais ordenada e racional deu-se no século VI a.c.. Aos poucos, a formação da cidade estava ganhando espaço na transição entre o período arcaíco e o período clássico.

A pólis iniciava-se a partir de conceitos de um ordenamento social mais apurado. Um modelo de cidade que tinha uma praça pública para debates públicos (Ágora), os templos (Acrópole), os comércios, os teatros, o senado. Assim, esses eram alguns dos elementos da formação da cidade grega.

O cosmos da pólis foi pensado que ela precisaria comportar um papel diversificado de pessoas, de instituições de modo que as pessoas pudessem viver de forma harmômica, respeitando a lei, e alicerçada através de uma hierarquia. Esse era o meio pelo qual as divirgências poderiam se estabelecer.

O caminho da formação da pólis sinalizava para a igualdade de direitos: de amplitude da cidadania, o direito de participação política e etc. Não era como a democracia de hoje, mas ela foi o embrião do quê conhecemos hoje. Eis o fundamento.

O livro, portanto, nos traz as características da formação grega que moldaram posteriormente a civilização ocidental deixando um legado cultural singular para o desenvolvimento das instituições, da filosofia, das artes.
Claire Scorzi 02/04/2016minha estante
Eu gostei desse livro, mas faz parte da extensa lista "tenho de reler". rs


Rafael 02/04/2016minha estante
Sim, claro. Esse livro é uma referência.
Claire estou estudando História Antiga.


Claire Scorzi 02/04/2016minha estante
Eba! :)




Carlos531 20/05/2023

Introdutório e didático
Com o livro terminado, posso dizer que é um livro bastante interessante para se entender algumas coisas do pensamento grego. O livro aborda desde os micênicos e sua forma avançada de governo (principado) e suas relações de poderes, até o surgimento da pólis e sua influência nos outros campos de pensamento grego (filosofia, politica e ciência).
Para mim, os dois últimos capítulos foram os mais interessante. No penúltimo cap. (VIII) marca o fim de uma transição da Teogonia para a Cosmologia, em que, na imagem de Anaximandro, nós acompanhamos. Também, é exposto a influência da formação de uma pólis para o início de um pensamento político, i.e, um pensamento de organização dos seres humanos. E por ultimo, como esse pensamento político influenciou outros campos do pensamento.
No último cap. (Conclusão), a discussão de uma criação não de uma razão, mas de formas de razões gregas. Foram os gregos que pelos seus métodos deram um ponta pé nessa forma de pensar que hoje nós ainda possuímos em alguma escala. A Filosofia, que já em Parmênides toma rumos bastantes diferentes dos filósofos da physis anteriores, tem um começo preocupado em um tipo de organização do mundo onde, se afastando da teogonia, se aproxima de uma forma organizada do cosmo explicado pela razão e pela observação do mundo.
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Maria1691 06/04/2024

As origens do pensamento grego
O livro não teria como não ser complexo, ao se tratar do surgimento da filosofia e de toda a transformação, ou melhor de todo processo de racionalização, da forma de pensar. Na minha concepção o livro é excelente e deve ser lido mais de uma vez, como a maioria dos textos filósofos. Indico-o, para quem aprecia filosofia e a estuda, como um meio de introdução aos estudos filosóficos.
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Fabio Shiva 18/11/2013

rica fonte
Taí uma boa dica para se motivar a terminar rapidamente aquele livro que você estava com preguiça de ler: é só oferecer o livro no PULA – Passe Um Livro Adiante (http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br/p/pula-passe-um-livro-adiante.html). Daí quando alguém aceita o livro, ou você lê rapidinho ou passa adiante sem ler. É claro que esse truque só funciona com livros fininhos, que possam ser lidos em poucos dias!

Funcionou comigo, ao menos com “Origens do Pensamento Grego”. Estou feliz por ter usado esse subterfúgio, pois de outra forma dificilmente teria lido o livro, que agora segue (com apenas alguns dias de atraso) para minha querida amiga Ivoni Anselmo!

O livro é mesmo uma rica fonte para os que se interessam pelo surgimento da civilização grega, um texto clássico que talvez esteja ainda hoje sendo utilizado em muitas faculdades. Chama a atenção a extrema concisão do autor, que condensa muitas informações e conceitos em poucas linhas, sem desperdiçar palavras com explicações secundárias. Isso exige uma leitura atenta e participativa, mas os esforços do leitor serão recompensados por uma bela viagem imaginativa através do pensamento grego, esse que é o berço eleito da civilização ocidental. O livro traz ao final um útil glossário das palavras em grego elaborado pela tradutora, que no meu caso teria sido mais útil se fosse descoberto no início, e não no fim da leitura!

Quanto a mim, confesso que li o livro com uma intenção específica em mente, que era buscar em meio a essas erudições sobre a Grécia antiga algum vestígio dos Alienígenas do Passado... Pena que o livro não fala quase nada sobre a época de Homero, que é a que mais me interessa, mas justamente do que veio depois! Mas mesmo assim ainda obtive algum sucesso (para minha própria surpresa!) em minha empreitada:

“Num diálogo hoje desaparecido, Sobre a filosofia, Aristóteles evocava os grandes cataclismos que periodicamente destroem a humanidade. Descrevia as etapas que os raros sobreviventes e as gerações seguintes tinham de percorrer para restabelecer a civilização: os que escaparam ao dilúvio de Deucalião tiveram, antes de mais, que redescobrir os meios elementares de subsistência e em seguida reencontrar as artes que embelezam a vida; numa terceira fase, prosseguia Aristóteles, “voltaram-se para a organização da Polis, inventaram as leis e todos os laços que unificam os elementos de uma cidade; e a esse invenção chamaram Sabedoria. Era essa sabedoria (anterior à ciência física, a physike theoria, e à Sabedoria suprema que tem como objeto as realidades divinas) que possuíam os Sete Sábios, que inventaram precisamente as virtudes próprias do cidadão”.

Curti!!!


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Conheça O SINCRONICÍDIO:
http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA
http://www.caligoeditora.com.br/osincronicidio/


LEIA AGORA (porque não existe outro momento):
http://www.mensageirosdovento.com.br/Manifesto.html


Venha conhecer também a comunidade Resenhas Literárias, um espaço agradável para troca de ideias e experiências sobre livros:
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http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br/
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http://www.facebook.com/groups/210356992365271/
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http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=36063717
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site: http://www.caligoeditora.com.br/osincronicidio/
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Ricardo Silas 23/02/2017

II - A realeza micênica; III - A crise da soberania
Embora eu tenha lido o livro inteiro, publico abaixo apenas uma resenha crítica dos capítulos II e III, que escrevi para um trabalho acadêmico:

No livro As origens do pensamento grego, o autor Jean-Pierre Vernant se baseia em evidências disponíveis para explicar os ícones que engendraram a cultura grega, tanto nos aspectos marcados pela tradição mitológica quanto no processo que favoreceu o surgimento da Filosofia clássica. A princípio, Vernant sintetiza os precedentes da expansão micênica, ocorrida entre o período de 1500 a 1100 a.C., cuja frente era formada por “invasores” que viviam na Idade do Bronze e falavam o idioma indo-europeu. O segundo capítulo do livro aborda o momento posterior à chegada dos micenos em território grego, por volta de 1900 a.C., onde eles consolidaram uma concepção de governo palaciano no qual toda a vida social, religiosa e militar dos súditos orbitava a autoridade do rei e seu palácio. De acordo com Vernant, a figura real, ou o ánax, “concentra todos os elementos de poder e todos os aspectos de soberania”. Entretanto, a organização hierárquica dessa sociedade incluía outros símbolos de “poder”, ainda que inferiores ao soberano, tais como os inspetores e escribas, que tinham por função auxiliar o rei no controle das instituições sociais. Um caso peculiar sobre os escribas é que eles detinham o monopólio da escrita local e, por meio dela, executavam tarefas relacionadas a arquivos de contabilidade comercial, militar e até mesmo o que envolvesse rituais religiosos.

Na época, a economia grega tinha traços majoritariamente rurais, e qualquer tipo de negociação envolvendo cabeças de gado, medidas de trigo, produção de bens ou distribuição de armas para os soldados era supervisionada e contabilizada pelo escriba –a mando do rei. A crise do regime micênico, no entanto, começa a surgir a partir de 1200 a.C., quando os dórios, ou “gregos do norte”, se expandem no Peloponeso, em Creta e em Rodes. Não se sabe com precisão se a expansão dórica foi responsável pelo declínio de Micenas. Seja como for, sabe-se que, com o colapso do regime palaciano, algumas tradições mudaram radicalmente o mundo grego da época. No terceiro e breve capítulo de seu livro, Vernant destaca, por exemplo, a passagem da Idade do Bronze, anteriormente atrelada aos micenos, para a Idade do Ferro manipulada pelos dórios. Mas a queda da realeza micênica não resultou somente em mudanças de aspecto belicoso, já que as armas metalúrgicas eram mais resistentes do que as de bronze. A noção de arte, inclusive, também foi modificada. Basta observar que as ilustrações de elementos naturais em objetos de cerâmica, tidas quase como um padrão, deram lugar a novos desenhos e formas geométricas. Foi nesse contexto que a obra Ilíada começou a se desenvolver, revelando que a presença dos deuses em suas relações com os humanos não mais estariam encobertas em mistério.

Outro aspecto digno de nota é a rejeição da figura do ánax pela nova cultura grega. A realeza micênica abre alas para uma forma rudimentar de aristocracia. A ordem política, econômica, social e religiosa não mais estaria concentrada na figura de um rei, mas sim dividida conforme suas “funções sociais especializadas”. Ou seja, enquanto que na sociedade micênica a soberania era monopólio de um indivíduo, na Grécia pós-micênica ela se fragmenta nas mãos de líderes sacerdotais, generais militares e agricultores. É claro que essa divisão trouxe problemas. Sem a centralidade do ánax, o autor questiona como os conflitos envolvendo os “novos poderes” seriam resolvidos. Não é em vão que, ao longo desse período, se inicia a tradição política de resolver os conflitos de interesses por meio da oratória, ou seja, um “combate de argumentos cujo teatro é a ágora, praça pública”, que certamente culmina no tão estimado fenômeno da democracia ateniense. O que se segue após o terceiro capítulo complementa a proposta inicial do autor: explanar, do ponto de vista histórico, quais acontecimentos se relacionaram de perto com a origem e o desenvolvimento do pensamento grego.

Não são poucos os historiadores e pesquisadores que tentam reconstruir a história vivida pelas civilizações da Antiguidade. Nesse ramo de estudo, as inúmeras expedições arqueológicas já realizadas contribuíram com descobertas de plaquetas de barro, vasos de cerâmica, pinturas e outros artefatos antigos que, de certo modo, contêm alguns fragmentos sobre a organização política, religiosa e cultural dos povos antigos. Mesmo que os indícios às vezes aparentem ser abundantes, é preciso ter em mente que as lacunas em nosso conhecimento atual são ainda mais numerosas. Os indícios, na maioria dos casos, representam não mais do que uma ínfima parte de uma grandiosa e complexa sociedade que, embora tenha influenciado as gerações futuras, não mais pode ser inteiramente descoberta sobre seu passado. Ler a obra “As origens do pensamento grego”, de Jean-Pierre Vernant, foi uma ligeira e modesta demonstração de como os historiadores experimentes lidam com tais problemas, sobretudo na área da História Antiga. É um trabalho árduo, difícil, mas enobrecedor.
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Hugo Leite 29/12/2009

Este livro assemelha-se a um acorde harmonioso, o autor, Jean-Pierre Vernant, conduz-nos com extrema clareza e coerência ao longo da história grega até às origens do pensamento filosófico!
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Bruno 31/07/2012

O texto de Vernant é de uma dualidade incrível: consegue costurar, com uma incrível habilidade, didática e erudição. Busca nas relações políticas, da era micênica à clássica, a gênese e desenvolvimento do espírito grego. Seu debate é claro e perfeitamente acessível, mas não para iniciantes. O autor parte do princípio que o leitor conheça já, ao menos levemente, a cultura grega. Lembro-me, como estudante de filosofia, de ter lido um capítulo do livro no primeiro semestre: sem sucesso de compreensão. Ao retomar a leitura, no sexto semestre, o texto torna-se tão claro que chega a ser didático! - ainda assim, erudito! Com termos em grego durante a oração que não são acompanhados de tradução, e conceitos como nome de etnias que não levam apresentação. O que não impede o entendimento em sua totalidade. Um livro incrível, que TEM que ser lido e relido por quem se interessa por história/filosofia.
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Samantha 19/03/2013

Não há muito o que falar sobre ele, é bastante conciso e relativamente fácil de entender. A forma como ele aborda a evolução da sociedade é bem interessante.
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Matheus656 21/01/2018

Rico e bem denso
A obra trás muitas informações sobre as influências dos povos contemporâneos dos antigos gregos, a estruturação de algumas de suas sociedades, o modo como se viviam os mitos, o desenvolvimento do que veio a ser a filosofia, relatando a importância da pólis para que houvesse o seu advento.

Enfim, é uma obra bem densa e será necessário reler para tirar mais informações. Mas é sem dúvida alguma uma excelente referência para o estudo da Grécia Antiga, mitologia grega, filosofia etc.
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