Cesinha 22/06/2016
Vou abordar dois assuntos aqui: uma chave de entendimento para a Fenomenologia do Espírito e irei falar da construção da conhecidíssima (e pouco compreendida) Dialética do Senhor e do Escravo.
1. CHAVE DE ENTENDIMENTO PARA FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE CONSCIÊNCIA
Antes de Hegel:
No Iluminismo, Kant doutrinava que o sujeito está de um lado e o objeto do outro, se apresentando ao sujeito só em sua aparência, assim, ele é um objeto-para-o-sujeito, ele nunca é o objeto em si, pois a coisa em si se mantem incognoscível, nunca se vê o Absoluto, apenas o fenômeno.
Se a filosofia é a busca do Absoluto, e se Kant diz que não se pode alcançar nada em si, então a filosofia falhou.
Para Hegel:
A consciência finita do homem não é consciente enquanto ele não estiver consciente de que não é finito, de que há uma consciência maior, um espírito maior, que na verdade, é ele mesmo, porém de uma forma fragmentária. Ou seja, o mundo tem um sentido (o sentido da liberdade), e só temos consciência disso quando tomamos consciência desse Absoluto. O Absoluto não é um ponto, mas é o momento do reconhecimento das consciências finitas pela consciência infinita, assim, o Absoluto não é um ponto do cosmos, mas é o Todo.
O Absoluto não é o ponto final nem o inicial dessa filosofia, mas sim o todo, é o enredo dessa história.
Hegel trata dos processos históricos pelas quais o Absoluto passa. Tem como última instância reconhecer o que já é. Para isso a dialética requer a fragmentação e depois a união: Como você pode, sendo Deus, dar-se algo? Isso só acontece se você não é a pessoa para quem se está dando, então, o que faz o Absoluto é se fragmentar, numa espécie de jogo, onde o Absoluto simplesmente quer se reconhecer. Deus é Amor, e quer se dar, assim, se fragmenta e é dessa maneira que desce ao mundo dos homens. Todo o caminho da consciência humana é o simples reconhecimento desse fato: que queremos nos unir áquilo de que um dia fomos separados.
Interessente que essa união se dá simplesmente reconhecendo a fragmentação que aconteceu.
Você é o Absoluto apenas na medida em que reconhece isso. Daí vem que todo real é pensável (racional) e que todo pensável é real.
Se o Absoluto pode ser reconhecido pelos conceitos que dela se tiram, o que devemos fazer é elevar esse conceito cada vez mais e chegar a um Absoluto.
A meta, o Saber Absoluto ou o Espírito que se sabe a si mesmo Espírito tem como caminho a lembrança dos Espíritos como eles mesmos e como levam a cabo a organização de seu reino. A História concebida forma a lembrança e o calvário do Espírito Absoluto.
Nós conhecemos como funciona o mundo e como funciona a consciência, pois lutamos contra o mundo e somos conscientes. Mas, no momento que queremos analisar essa consciência, criamos a DIALÉTICA, o MOVIMENTO. Porque se somos o sujeito cognoscente e o que estamos buscando é conhecer esse mesmo sujeito, o livro detalha como o Em-Si se faz outro para ser estudado e assim ser Em-Si e Para-Si, quer dizer: eu ser eu para entender como funciono para assim me apropriar da minha liberdade. O Ser-Em-Si para Si como objeto da consciência que seu Ser-Em-Si é para o Outro.
O objetivo pelo qual o universo foi criado é que haja liberdade. Essa liberdade da autoconsciência se desagrega para depois se reconhecer. O homem ao buscar autoconhecimento não encontra nada substancial. Descobre que ele é apenas liberdade. Liberdade criadora. Liberdade para ele ser o que quiser ser em cada instante. Assim, a vida não precisa ser algo que tenha realmente um objetivo final a se alcançar. Mas sim um constante alcançar, o saber e o reconhecer do fato que somos liberdade criadora, a cada instante e a cada momento.
2. DIALÉTICA DO SENHOR E DO ESCRAVO
A Dialética do Senhor e do Escravo serve para explicar o MOMENTO DO RECONHECIMENTO. Como que a consciência, para ser consciência de si, precisa ser também consciência do outro; ou seja, precisa primeiro passar pelo que é oposto a ela; assim, para a consciência se conhecer precisa haver o reconhecimento da outra consciência.
Tem o senhor e o escravo.
O escravo se tornou escravo por posse ou por violência. No processo de escravização, pode-se ter havido violência suficiente para matar esse escravo, e se eu matei esse escravo, eu não tenho reconhecimento, porque desapareceu a possibilidade de alguém me reconhecer, pois quem estava antes já me reconhece, assim, eu preciso manter esse escravo vivo. Mas tem o problema de que esse escravo, que me chama de senhor, ou seja, me reconhece, esse escravo tem pouco significado para mim, tem um significado pobre, porque ele é uma coisa pobre, então, ao mesmo tempo que me dá reconhecimento, ele me dá um mundo pobre, pois meu mundo vira um mundo de coisas. Ou seja, eu ganhei mas eu perdi.
Mas isso não ocorre para o escravo, pois quando o escravo é escravizado, ele continua sendo um nada, porém, ao ter um senhor, ele passa a ter o que olhar. Então isso dá um ganho para além. E também ganha o trabalho. Pois o senhor tem como ligação com o mundo apenas o trabalho, porém quem faz isso é o escravo, e não o senhor, assim, o senhor vai se distanciar do mundo enquanto o escravo que vai se aprofundar nesse mundo. A medida que o escravo se diminui perante ao senhor tem um ganho de compreensão do mundo.
Chega um momento onde o senhor perde sua relação com o mundo, já que deixa de operar na transformação do mundo. Assim, o senhor fica dependente do escravo.