SimoneSMM 25/12/2023A narração é toda feita numa linguagem que dá a impressão de ser usada para estar contida numa versão moderada da história, sem excessos, toda dentro de um padrão "aceitável". Ela narra como quem não pode errar. Quem nos fala é a personagem principal que, ao contrário de outros, homens e mulheres, não é nomeada. Ela mesma fala de si sob a ótica alheia e quando o faz sob a própria ótica, se contém. Com exceção do final, quando fala de si mais abertamente porque já está transformada em outra.
É uma mulher, aparentemente com uma doença psicológica, que é agravada pelo modo como é tratada. O marido a mantém vigiada e a doença é mais uma forma de mantê- la assim. Todo o contexto em que está inserida, alimenta essa doença. Ela não se sente livre para dizer o que quer ou pensa. É proibida de escrever, mas o faz escondido. Não pode manter atividades e contatos que estimulem a "transgressora" imaginação.
Quando passa a viver num quarto com grades nas janelas e um pavoroso papel de parede amarelo, passa a sentir-se cada vez mais acuada e introspectiva.
A narração acontece num crescendo angustiante até o momento em que ela sucumbe e se entrega. Fracassa. Se torna outra ou o que já havia dentro dela.