She 14/05/2013
Espere mais do que comoção
Este é um daqueles livros de vai te surpreender de diferentes formas, como o próprio título da obra incita, ela vai tratar de um tema muito delicado, o Holocausto, e é impossível não se emocionar com os relatos dos judeus e os acontecimentos que permearam a Segunda Guerra Mundial. O homem que venceu Hitler tem como foco a história de Chaim, um menino judeu que conseguiu driblar o destino que aguardava a ele e a todos os judeus de sua época – a perseguição e massacre das populações judaicas. Chaim venceu Hitler, pois conseguiu sobreviver ao Holocausto e cumpriu a promessa feita ao pai pouco antes de separarem.
A narrativa é dividida em dois tempos: passado (1939-1942) e presente (2004), a maior parte da trama contada pelo autor se passa na cidade de Cracóvia, Polônia, entre os anos que sucederam a invasão do país pelas tropas nazistas, é nesse contexto que somos apresentados a família Kramer, uma típica família judaica polonesa composta pelo pai (Mendel), a mãe (Clara), e dois filhos – a pequena Ruth e Chaim com apenas 13 anos. No decorrer da narrativa nós acompanhamos a deterioração dessa família, junto a Chaim nós sentimos a angústia e o medo que atinge a cada judeu após a ocupação nazista, o desvanecimento da esperança de que algo ou alguém intervisse, nos indignamos com acontecimentos que se seguem, as perseguições sem sentidos, as humilhações constantes, nos revoltamos com o antissemitismo a tanto tempo encoberto dos poloneses cristãos e a passividade da maioria diante da perseguição e morte barbárie de mais de seis milhões de judeus.
Ao mesmo tempo em que a história de Chaim se desenrola, o autor nos apresenta Anna, uma polonesa cristã de aproximadamente 30 anos, cujo marido foi morto em combate durante a guerra, e é bastante interessante a visão deste personagem acerca de toda aquela situação, das mudanças tão repentinas não apenas em seu país, mas nas pessoas que lhe são próximas. Passados dois anos, os caminhos de Anna e Chaim se cruzam, um encontro inusitado, do qual surgirá um tipo de relacionamento, e devo confessar que esse envolvimento me causou muita estranheza. A tensão é palpável, e fica claro que esconder ou ajudar um judeu naquela época podia significar a morte de ambos.
Paralela a estas histórias, o autor ainda nos transporta para o ano de 2004, na cidade São Paulo, local para o qual Chaim migrou após a guerra, e onde mora David, seu único filho. Com a morte do pai, David decide voltar a Cracóvia em busca de respostas que possam esclarecer parte da história de sua família que ainda permanece obscura. David apesar de ter um papel secundário durante todo o livro é total importância para o desfecho da obra.
Merece destaque o modo como o autor consegue construir toda a trama, misturando ficção e realidade, costurando as histórias dos diferentes personagens a relatos reais de sobreviventes da segunda guerra, como em uma colcha de retalhos, é absolutamente incrível!!
Li este livro por indicação da Ana Schermak, do blog “Pausa para um café”, e concordo com ela ao dizer que é inacreditável como um livro com tão poucas páginas possa ter tanto conteúdo, e que ele nos mostra a importância de sempre relembrar o que aconteceu, para que jamais se repita.
Enfim é um livro forte que passa verdade, e te deixa um grande sentimento de impotência, e estranheza para com o ser humano, afinal até que ponto somos capazes de chegar?
Leitura altamente recomendável para todos!!