anahelena.blasilemos 27/08/2023
COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE – de Laura Esquivel
Este é um livro de receitas.
De receitas culinárias, sim, com descrição de dosagem exata dos ingredientes, sejam cebolas, açucares, ovos, chorizos, nata fresca, pimentas, de um tudo. O modo de execução e truques daqueles segredos seculares guardados a sete chaves, que fazem toda a diferença no sabor final do prato servido.
De receita da obstinação de um amor proibido que por fim consegue prevalecer passadas algumas décadas.
De receita de uma saga familiar no interior do México em meio à revolução do início do século XX, com ênfase para ciúmes e disputas entre irmãs, para a libertação das garras despóticas de uma mãe autoritária e azeda, para a submissão imposta pelo medo, para leais amizades, para a insistência em conservar métodos deteriorados e obsoletos em nome da moral e dos bons costumes mesmo tendo telhado de vidro.
Mas principalmente a receita para um livro admirável:
. iniciar repartindo o livro em 12 capítulos com correspondência direta a cada um dos 12 meses de um ano, em ordem cronológica;
. colocar uma receita culinária tradicional e saborosa no início de cada capítulo e, a partir dela ir lentamente contado a história com evolução natural, ainda que com idas e vindas bastante anacrônicas;
. acrescentar uma boa dose de realismo fantástico, tão ao gosto da literatura latino-americana, de tal forma que vai se formando um caldo de maravilhosas e peculiares reações aos comensais que experimentam as iguarias que saem das panelas carregadas de sabores dos sentimentos de quem cozinha, sejam eles amor, volúpia, revolta, desdém, raiva, entre outros.
É como transmitir o calor de suas emoções para o alimento assim como a água fervente derrete o chocolate. E a cidade toda destilando suas doçuras ou suas amarguras.
Pronto!
É só abrir a primeira página e começar a se refestelar. A leitura é um prato cheio!
TRÊS PERSONAGENS: Tita e Pedro, e também Mamãe Elena.
UMA CITAÇÃO: ” ... este livro de cozinha que me deixou de herança ao morrer e que narra, em cada uma de suas receitas, esta história de amor enterrada.”