Heitordealmeida 29/12/2012Maretenebrae - A Queda de SieghardMaretenebrae - A queda de Sieghard é um livro de dois autores Brasileiros de nome L.P.Faustini e R.M.Pavani. A história se passa em Sieghard, que se vê em meio a invasão de um exército desconhecido e de proporções imensas e que não parece poder ser parado.
Eu cheguei até esse livro através de um post do blog ( http://dragonmountbooks.wordpress.com/ ) e me interessei de cara, primeiramente pela bela ilustração de capa, em seguida pela história, quando fui atrás de mais informações sobre o livro.
É importante comentar que eu comprei o livro direto com os autores, o que provavelmente foi a melhor coisa que fiz. Comentarei sobre isso depois, mas por hora, vamos a resenha.
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Sieghard, ano 476 pós unificação.
Sieghard é um reino que segue os preceitos da Ordem, comandado por Marcus II, o Ousado . Apesar de algumas leves suspeitas de cunho politico, tudo ia bem em Sieghard, até que uma frota invasora desponta no horizonte. Navios nunca antes vistos por nenhum Siegardo e portando o simbolo do Caos, são habilmente manejados e tomam as praias do Reino. Ao mesmo tempo, uma estranha doença começa a se espalhar pelo continente. A força invasora do Caos é comandada pelo General Linus, que demonstra ser um estrategista impar e diferente do que se podia esperar, bastante nobre.
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O livro começa com dois cavaleiros indo realizar o ultimo desejo de um prisioneiro e este resolve relevar o que sabe sobre a invasão que aconteceu a, se não me engano, 80 anos. A primeira parte do livro é bastante curta. Nela nós conhecemos a história de Sieghard e vemos o inicio da invasão dos exércitos do Caos através dos relatos do diário de Sir Nikolas de Askalor e suas impressões sobre a força invasora. A primeira parte termina com a derrota dos exércitos da Ordem e a retirada do campo de batalha.
Na segunda parte é onde a história realmente ganha seus contornos. Nela conhecemos os sete protagonistas que são Heimerich, Chikara, Victor, Roderick, Braun, Petrus e Formiga. Importante ressaltar é que cada um deles está ligado a um dos sete pecados capitais e que isso é parte marcante de suas personalidades.
Sobre os personagens eu posso dizer que eu não consegui gostar da Chikara. Ela teve um ou outro momento, as no geral achei ela meio chata. Tudo bem, ela é representação do pecado dela em pessoa e isso É a personalidade dela, ela foi feita para ser assim! Eu entendo isso, mas às vezes ela era muito pé no saco. Tampouco conseguir me afeiçoar ao Victor, pois diferente da Chikara, não houve um único momento em que eu gostasse dele. Vive lá na dele, paradão, dando lição de moral capitulo sim, capitulo não... Ás vezes parecia que ele só ia acompanhando o grupo porque não tinha nada pra fazer mesmo. Eu não senti nele nenhum atrativo quanto personagem que me chamasse a atenção e me prendesse a ele.
Por outro lado, eu gostei muito do Roderick e do Formiga.
Roderick é o cara "prafentex" do grupo. Ele está lá, você vê ele! Ela se importa com os outros e você tem uma razão para gostar dele. Formiga, pra mim, retrata mais o "cara comum". Ele não é guerreiro, mago, arqueiro nem nada. É só um ferreiro que vive a vida dele e gosta de aproveitar, risonho e divertido quase todo o tempo. Meio grande e gordo, mas quando você precisa, está lá.
Quanto ao Heimerich, ele é um nobre guerreiro mas a passagem que mais me marcou dele, e a que me fez ter respeito pelo personagem foi uma mais para o meio do livro, onde ele conversa com o sacerdote e com o mercador do que todo o resto. Ela teve um significado mais profundo e mostrou muito sobre o personagem, o que ele realmente precisava que acontecesse. Eu acho que devia dar mais atenção ao Petrus, mas não consigo encontrar o que falar dele. Ele é um simples pastor e essa acaba sendo a qualidade mais importante que ele demonstra e a maior adição dele ao grupo. A simplicidade.
Por ultimo, mas não menos importante, Braun, o Guerreiro. Confesso que tinha altas expectativas sobre esse personagem, que, acho, vem do fato de eu ler livros onde a maioria dos guerreiros são personagens centrais da trama e bons de porrada. Infelizmente ele ficou me devendo... No livro fala que ele é um guerreiro fodão carregando uma montante, cheio de cicatrizes, que Sevania é uma Terra de Guerreiros e etc e tal... E eu fiquei esperando que ele tivesse "A" cena de porradaria do livro. Em todos os combates que ele se meteu, ele acabou em segundo plano, sem fazer muita coisa. Então chega o ataque à Alódia, e apesar dele descer o sarrafo num povinho lá, ele e o Heimerich quase não te destaque porque, afinal, o foco é a queda da cidade.
Mas então pensei: "Pô, tem aquela imagem maneira dele com os Trolls!". Achei que lá ia ser a cena dele, que você tinha guardado aquela parte pra mostrar o quão foda ele é como guerreiro e tal. Ai, eles começam a ir para o Pico das Tormentas, onde tem os Trolls. E ele conta que o pai dele matou um Troll. E o pai dele é famosão. E ai, o grupo se separa. E eu já tava chamando ele de Braun-dois-Trolls, imaginando ele rolando um 20 e eu bradando "CRITICOOOO!", porque ele ia passar o rôdo e tudo o mais! E... ai o Victor salva ele...
Tanto Braun e os Trolls quanto o Formiga e o Graouli, eu esperava que fossem cenas com mais significado. Considerei o fato de queo se eles estivessem enfrentando criaturas que personificam\representam os pecados deles (Os Trolls a Ira e o Graouli a Gula) e que o confronto traria a eles um conhecimento próprio dos seus erros. Eles avaliarem o que eles são e como se comportam.
Para o Formiga ainda serviu um pouco dessa maneira, com ele fazendo um "sacrifício" verdadeiro e expiando seus erros. Mas com o Braun eu não senti isso.
Há algumas boas cenas de ação, mas, a meu ver, ainda ficou faltando aquele "quê" a mais prende na leitura. Em resumo, creio ter sentido falta de uma cena de "pura fodice" dos personagens. Algo mais exagerado onde eles mostrasses de verdade "pra quê vieram", entende? De bater no peito de dizer "Sai da frente que agora eu vou tocar o caralho nessa porra". O personagem que eu creio ter chegado mais perto de despertar esse sentimento em fim foi, curiosamente, Roderick, na luta com os wyverns no Pico das Tormentas.
Sobre a história, ela se desenvolve rápido e com um bom ritmo. Por vezes, eu senti que ela ficava dividida entre parar para respirar e dar profundidade a trama ou continuar o desenrolar da história. Tem toda a trama da invasão, e mais a frente você passa a perceber que o General Linus não parecer ser exatamente ruim. Em algumas partes, mais para o final do livro, ele me pareceu mais um tipo de "messias" que vai libertar o povo.
Eu sai com a sensação de "O que aconteceria se a Ordem fosse uma entidade opressora e controladora, e o Caos, que é sempre mal visto, a começar pelo nome, fosse um libertador?"
Há também todo o plot sobre a praga e a hipótese de quem não contrai ela é porque tem ascendência divina e foi algo que eu achei muito maneiro. Me pareceu também que quem contraia a praga passavam a ter algumas visões que, de alguma maneira, lhe despertavam causando uma espécie de iluminação interior. Quando, já no prólogo, há um texto dizendo que alguns dos que foram afetados pela praga, começaram a lutar pelos invasores, cheios de fé, eu senti que era como se o General Linus estivesse tentando "mostrar a verdade" ao povo. Dando eles uma nova visão da realidade. Mas, claro que o livro chama "A Queda de Sieghard", e você está acompanhando os Siegardos, então sua visão sobre isso não fica muito clara.
É importante ressaltar que não há "lado certo" e "lado errado" na trama. São maneiras diferentes de se encarar a vida e não necessariamente melhor ou pior que a outra.
Eu tive um sério problema ao final do livro. Foi o fato de que ainda havia muitas perguntas em aberto ao chegar no prólogo, e mesmo nesse, praticamente nada é respondido. A primeira impressão que eu tive, foi que, ao tentar fazer um final em aberto, os autores o tinham deixado aberto demais e quase sem um final. Depois, conversando com eles, descobri que o livro é a 1° parte de uma história maior. Só posso falar por mim, mas acho que se isso tivesse sido esclarecido mais cedo ou sido deixado mais implícito, talvez eu tivesse gostado mais do desfecho da história pois isso justificaria uma boa parte das minhas reclamações.
Uma das coisas que mais gostei no livro é a maneira como o povo de Sieghard trata o Maretenebrae, quase como se ele fosse uma entidade viva. Isso me lembra algo que eu li\ouvi\qualquer-coisa sobre as pessoas "louvarem" e respeitarem tanto uma coisa, endeusando ela, que ela praticamente ganha vida. Fiquei com essa sensação sobre o Maretenebrae e espero que ele "faça a diferença" no futuro. Talvez como uma representação das vontades de Destino, por exemplo?
Por fim, eu preciso ressaltar uma coisa: O contato que tive com os autores. Durante todo meu tempo de leitura, pude me manter conversando com o Luis Paulo Fasutini e pude também debater com ele minhas impressões sobre a história conforme eu ia lendo. Para mim, enquanto leitor, foi algo que fez uma diferença enorme. Poder conversar com o autor, ser respeitado enquanto leitor, ser ouvido e respondido é algo, confesso, nunca tinha visto se comparado a outros escritores nacionais. Que dirá então os estrangeiros...
Não entrei nos méritos e nas dificuldades que é para autores do gênero da Literatura Fantástica poderem publicar seus livros. Acho que todos sabem o quando é difícil, ainda mais quando o único incentivo que se tem é sua própria vontade de escrever.
Maretenebrae - A Queda de Sieghard é um bom livro. De verdade. Como todo primeiro livro de um autor (ou no caso, autores) não é perfeito e tem suas falhas. É um livro que vale a pena ser lido, não só como meio de prestigiar dois autores nacionais, mas sim pelo fato de que nele está registrado todo o talento e a devoção deles para com sua obra.
E que a Ordem nos guie!