Hey_Guga 16/11/2023
Não o que eu esperava. Mas também é preciso saber esperar.
O leitor desta resenha se faria surpreso se, ao iniciá-la, declamasse eu, uma série de júbilos e louros para esta escrita descritiva pulsante e vivaz de Anton Tchekov? Aqueles que leram não o fariam, decerto. Aos que não leram, possivelmente, encontrarão os mesmos louvores em outros comentários quaisquers, para fins de comprovação.
O que é destacado neste conto poderia ser mais vezes pitoresco, não fosse pela potência narrativa de uma prosa capaz de conceber a mais alta coloração e a mais vertiginosa vivacidade de uma Estepe que carrega a aridez de uma monotonia nauseabunda. Uma dualidade muito gostosa de se admirar, apesar de também exaustiva.
Há também o que se possa falar da narrativa em si, sua essência, a evolução constante de Iegoruchka, em que a estrada, a estepe, toma lugar de vida, e cada passo, cada avanço e desventura tornam Iégo mais forte, capaz, destemido e inclusive apático, porque o mundo apesar de forçá-lo a amadurecer, tende a fazê-lo com sacrifícios. Destes que fazem deixarmos uma parte de nós para trás, largados à beira da estrada, repousando como cruzes e sepulturas sem que haja nem alma, nem corpo para lembrar, apenas histórias.
Iegoruchka vive e morre naquela estrada. E, portanto, Iegoruchka nunca pôde ver o final dela. Quando no destino, já não há mais nada para salvar, tudo começa de novo, num mundo novo.
E enfim, com qualquer cousa de raro e rico e preciso e decoroso, é um bom conto, pois sempre há de se olhar o bom, agora, não o melhor conto. Darei, ao menos, uma vez mais de chances.