regifreitas 25/04/2021
SE EU OLHAR PRA TRÁS (2011), de Ademir Furtado.
Quando iniciei a leitura, achava que este livro iria abordar principalmente a relação do protagonista com o pai, um “respeitadíssimo professor universitário” (conforme a própria sinopse oficial), cujo passado estava ligado a algum segredo dos tempos da ditadura militar, quando o professor foi preso por alguns dias, no início dos anos 1970. Mas o mistério sobre o pai é apenas o pretexto que irá desencadear um processo de revisão sobre a vida de Edimar, “funcionário público às vésperas da aposentadoria”.
A história inicia em janeiro de 2003, quando Lula assume a presidência do país, alternando capítulos que vão revelando o passado do protagonista. Em grande parte da obra a trama sobre o pai parece ficar totalmente esquecida; o próprio pai aparece muito raramente. Esse fio é retomado já bem próximo do fim, contudo, nunca temos uma conclusão sobre o assunto.
Então, tentei apreciar a obra pelo que ela se propunha, e não pelo que eu esperava dela a princípio. Mas o caminho seguido pelo autor não empolga. Não se trata de um livro mal escrito; a escrita de Ademir Furtado é simples e eficiente. Apesar disso, o enredo é clichê, não apresenta novidades. Praticamente nenhum personagem, afora Edimar, merece sequer um mínimo de contexto, análise e aprofundamento.
E o protagonista é uma pessoa completamente desinteressante. Sua apatia não se justifica por seu cotidiano entediante e por uma vida e uma carreira burocráticas, sem grandes ousadias. Ele não se tornou aquela pessoa. Ele sempre foi aquela pessoa. Desde a juventude parecia ser alguém sem ambições; nunca toma realmente as rédeas do que acontece, simplesmente vai vivendo as coisas conforme elas vão surgindo. E mesmo quando ele se cansa e ameaça uma reação, vai pelo caminho mais óbvio possível.
Decepcionante, tanto pela expectativa como pela execução.