Vanessa602 22/05/2021Decepcionante em comparação com os anteriores.A escrita do Colfer continua agradável e a leitura flui com a mesma facilidade de todos os outros livros dele, masss… não é apenas de boa prosa que sobrevive um livro. Como é o caso deste volume, que teve a escrita obscurecida por:
* Conveniências de trama (ex: uau, coincidentemente aquele certo apetrecho tinha uma tecnologia que servia para aquele exato problema!)
* Exposição de desenvolvimento de personagem (ex: Artemis refletindo o tempo todo sobre como ele finalmente está se tornando uma pessoa boa!). Odeio dizer isso, mas a cada bondade sem segunda intenção ele perde um pouco da charme que o tornava único.
* Antagonista sem qualquer carisma e profundidade, e que o autor, sem ironia nenhuma, colocou para fazer o clássico discurso de vilão que revela planos em detalhes excessivos e… surpresa, o mocinho teve tempo de pensar em uma saída. Sem dizer que, honestamente, qual é a necessidade de reabrir arcos fechados de personagens em livros anteriores? Poxa, deixasse os mortos enterrados e apresentasse então antagonistas que não queiram, sei lá, dominar o mundo e tal. Como que o Colfer consegue escrever um anti herói charmoso e cheio de camadas como o Arty mas todo o resto vira vilão caricato que só faz maldade?
* Holly Short é outra que, na minha opinião, podia ser cortada do cast. No começo da série até achei que ela seria uma boa personagem feminina, mas quando o negócio começou a pender para o romance e ela não saia desse estado de chata 24/7… eh, acho que mulheres não são o forte dO Colfer, e isso nem é o problema em si; prefiro ler um livro só de homens/criaturas masculinas, do que ler o mesmo livro só que ainda por cima salpicado de personagens femininas meia boca.
* Talvez seja toda a questão de viagem no tempo, mas lá pelo final a história fica bastante confusa (confuso do tipo ruim e não confuso inteligente). Por exemplo, tem um trecho crucial de conflito que é deixado de fora só para que sua resolução seja revelada como plot twist, e isso me incomodou um pouco porque, bom, se tem um buraco enorme no cronologia da história eu naturalmente suponho que algo importante aconteceu lá, mas o fato de presenciar o autor retendo informações deliberadamente de maneira tão óbvia me deixou simplesmente esperando a explicação, que só foi retida para nos surpreender mas que não surpreendeu porque imaginamos que algo grande aconteceu naquele rombo nada discreto em meio às cenas. Sem dizer que é bastante conveniente evitar explicar COMO algo tão improvável foi feito e só pular para o futuro e dizer: “foi feito porque o Artemis é um gênio”.
Pontos positivos, além da qualidade da escrita:
* A última página. O final amarradinho e circular foi muito satisfatório. Nada melhor do que ver que foi colocada atenção na criação não só dos volumes individuais da série, mas também na forma com que eles se conectam.
N° 1. Ai, como eu amo esse demônio feiticeiro. Deu vontade até de ir reler o volume em que ele foi apresentado só para apreciar sua caracterização e desenvolvimento. Tudo que esse menino fala me faz sorrir.
Myles e Beckett. Quero para ontem um spin-off só desses dois! Amei horrores as interações deles e suas personalidades opostas já prometem interações ainda mais geniais no futuro. Dupla tudo menos simplória.
Com “O Paradoxo do Tempo” eu também me questionei o quanto eu ainda amo a capacidade quase inesgotável de recursos mágicos que permitem, por exemplo, que todo machucado seja curado. Quando quase nenhum machucado é irreparável, o quanto disso tira a seriedade dos eventos trágicos e possibilidades irreversíveis, como a morte ou sequelas psicológicas e físicas? Outro ponto é a efetividade das revelações e plot twists geniais. Na hora, deixa a gente eufórico e surpreso, mas, se formos pensar bem, o que mais há de se esperar de um personagem escrito para ser genial? Claro, a genialidade dele toma formas e resultados diferentes a cada trama, mas essencialmente ela continua lá, intocada. Porém, quando o livro acaba e volta para a prateleira, parte da magia também se foi, porque, de certa forma, nós não ficamos necessariamente deslumbrados com a pessoa Artemis Fowl em sua completude, e sim com as cartas que sua manga nunca falha em nos oferecer na última hora.
Resumindo, as três estrelas são mais porque eu já conheço e confio na habilidade do Colfer de escrever bem uma boa história, mas que infelizmente não funcionou tão bem neste volume em específico. Acontece.