Diário e cartas

Diário e cartas Katherine Mansfield




Resenhas - Diário e cartas de Katherine Mansfield


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Tamires 25/09/2020

Diário e cartas, de Katherine Mansfield
Nos últimos dias eu estive falando muito sobre Katherine Mansfield por causa do Clube de Leitura Online em que fui mediadora, mas também porque estive lendo o volume “Diário e Cartas” da autora, publicado aqui no Brasil pela Editora Revan (1996). Li pausadamente e com toda a atenção que um livro merece, mas que nem sempre essa correria da vida (e das redes sociais) permite. E que bom que foi ter passado as últimas semanas em companhia de Katherine Mansfield e sua mente “implacavelmente sensível”, como disse Virginia Woolf!

Sempre ouvimos que “a escrita de Katherine Mansfield é bastante autobiográfica”, mas com este livro é possível perceber isso com maior clareza e naturalidade. Mansfield registrava tudo, a escrita era uma necessidade diária em sua vida. Suas impressões e modo de ver os lugares, as pessoas, as relações, que ela registra em seus diários e cartas, são facilmente comparáveis aos seus textos de ficção, mesmo aqueles que não pareçam tão autobiográficos.

“Estar viva e ser escritora é o bastante. Sentada à minha mesa, acabo de ver uma pessoa se virando para outra, sorrindo, estendendo a mão, falando. E, de repente, cerrei os punhos, bati na mesa e gritei: não há nada como isso.” (p. 79)

Fiquei bastante contente de "vê-la falando" sobre suas leituras, algumas de autoras que eu amo, como as irmãs Brönte, Jane Austen, Elizabeth Gaskell. Há aqui muito sobre Shakespeare (paixão da autora), e também trechos sobre Dostoiévski, E. M. Forster, Tchekhov… Impossível sair deste livro sem ficar com uma vontade louca de ler Tchekhov! Os contos do autor russo foram grande inspiração para K. Mansfield na escrita de seus próprios contos.

Obviamente também há bastante coisa sobre Virginia Woolf, mas de forma ainda mais íntima, já que as escritoras foram contemporâneas e o casal Woolf publicou o livro Prelude, de Katherine Mansfield, em sua editora Hogarth Press. Além disso, tem aquela inveja mútua que as duas tinham, e a situação constrangedora de uma resenha negativa que Katherine fez de um livro de Virginia. Sim, esse livro mescla situações que são pura prosa poética do cotidiano com fofocas picantes (D. H. Lawrence, responsável pelas mais interessantes)!

“Aqui está um pequeno sumário do que eu necessito — poder, saúde e liberdade. É a doutrina desesperadamente insípida, segundo a qual o amor é a única coisa no mundo que é ensinada e posta dentro das mulheres, de geração em geração, e que nos detém de um modo tão cruel. Devemos nos livrar desse demônio — e então virá a oportunidade de felicidade e libertação.” (p. 31)

Para mim foi uma viagem não só no tempo e lugar, mas por uma mente realmente sensível à vida, mesmo tendo gozado tão pouco de sua plenitude: ela viveu 34 anos, os últimos 5 seriamente doente. Reforçou o que eu sempre vi nos contos dela: um forte desejo de viver; viver com plenitude, com paixão. De “ser tudo o que for capaz de ser”. Sua despedida, nesta edição, encheu-me de melancolia: “Adeus, minha querida prima. Jamais conhecerei ninguém como você; sempre me lembrarei de cada pequena coisa sobre você (31/12/1922)”. Eu também, Katherine. Eu também.

***

O diário e as cartas presentes neste livro abrangem os anos de 1907 até 1922, pouco antes da morte da autora (09/01/1923). A tradução é de Juliana Cupertino, com introdução de Esdras Nascimento e o livro contém, ainda, algumas fotografias de Katherine Mansfield, seus familiares e amigos, incluindo D. H. Lawrence e o casal Woolf. Um tesouro publicado pela Editora Revan (1996, 288 p.).

site: https://www.tamiresdecarvalho.com/resenha-diario-e-cartas-de-katherine-mansfield/
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Francine 06/02/2011

Uma vida feliz
O livro “Diário e Cartas”, como o próprio nome sugere, é composto pelo diário e correspondências da escritora neozelandesa Katherine Mansfield (1888—1923). Ele foi organizado por Julieta Cupertino com base em três publicações inglesas e publicado no Brasil pela Editora Revan em 1996. A princípio o livro já me ganhou, pois a organizadora (e tradutora) do livro não tentou biografar Katherine Mansfield, diferente do que foi feito com o livro “A Casa de Carlyle e Outros Esboços” que é vendido como um livro de Virginia Woolf, porém, seu miolo é composto 80% de textos do organizador. Ponto para Julieta Cupertino!

Katherine Mansfield começou sua vida literária no colégio onde publicou alguns contos no jornal da escola. Desde pequena ela possuía uma curiosidade excessiva para a escrita, causando boa impressão aos professores. Assim que terminou seus estudos, pediu aos pais que a deixassem viver de literatura em Londres, mesmo com pouco dinheiro, pois ela queria se dedicar exclusivamente à escrita. Nesse período ela já escrevia um diário, mas o livro “Diário e Cartas” registra que toda a sua produção despretensiosa de adolescente foi jogada no lixo por ela mesma por considerar tudo “enormes diários lamentosos”.

O diário e as cartas são datados desde 1907 até 1922. Ali fica registrado o seu mundo e a convivência com os amigos e os intelectuais da época: Murry (o marido), Ida Baker, Lady Ottoline Morrel, Beatrice Campbell, Dorothy Brett, Virginia Woolf, Estelle Rice, Condessa Russel entre outros.

Katherine Mansfield é poderosa no quesito conto. Em seu diário ela diz que um bom conto é aquele onde palavras não sobram. E, realmente, os contos de Katherine são assim: palavras e palavras formando uma bela história – nada falta, nada sobra. Ela é de uma precisão absurda! E isso, talvez, seja um dom natural, pois seus diários também são assim: precisos, apesar de simples e despretensiosos. O mesmo posso dizer das cartas: são todas bonitas, alegres, espirituosas e engraçadas, mas também há tristeza, devido à sua doença.

Katherine Mansfield morreu de tuberculose aos 34 anos e conseguiu apenas produzir contos. Se não fosse a morte ela escreveria também romances que seriam, sem dúvida, excelentes. Em seu diário ela registra essa vontade: “me voltar de fato para o meu romance Karori“. Dizem que Virginia Woolf tinha inveja da qualidade de seus contos, mas era uma inveja recíproca, pois Katherine também a invejava, principalmente a vida de Virginia Woolf ao lado de Leonard Woolf, pois ela, pela doença, ficava muito tempo longe de seu marido, o editor John Middleton Murry, porque o inverno inglês era terrível para os seus sensíveis pulmões.

Ao final do livro a sensação é de ter conhecido uma escritora que amava a vida, que foi feliz dentro de suas limitações, e que construiu uma muralha para se concentrar e produzir a boa literatura perante o convívio com a sua terrível doença. Pouco tempo antes de morrer, ela deixou um testamento e uma carta ao marido onde informava que todos os seus escritos pertenciam ao marido e que ele poderia escolher o que deveria ser publicado ou não. A carta é bonita, singela, como ela. E vale a pena terminar a resenha assim:

Para J. M. Murry
7 de agosto de 1922


Há dias tenho estado a ponto de escrever esta carta. Meu coração tem se comportado de maneira tão estranha, que não posso imaginar que esteja valendo alguma coisa. Assim, como eu odiaria deixá-lo sem saber o que fazer, escreverei o que me vier à cabeça. Todos os meus originais – eu deixo para que você faça com eles o que quiser. Um dia qualquer, leia-os, e destrua tudo o que não for usar. Por favor, destrua as cartas que não quiser conservar, e todos os diários. Você sabe o quanto eu gosto de ordem. Faça uma boa faxina, Bogie, e deixe tudo limpo – viu?

Os livros são seus, naturalmente. O dinheiro, também. Na verdade, meu querido, mais querido, deixo tudo para você, para aquele ser secreto cujos lábios beijo esta manhã. A despeito de tudo, como fomos felizes! Sinto que nenhum casal de amantes pisou a terra com felicidade maior – apesar de tudo.

Adeus – meu inestimável amor.
Para todo o sempre, sou sua
Wig


http://www.livroecafe.com
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