Letícia 29/05/2017Uma viagem pelo interior da VenezuelaO livro é um romance maravilhoso ambientado no interior da Venezuela, na planície do Arauca, lugar de criação extensiva de gado, onde um certo Evaristo Luzardo, caminhante errante por aquelas bandas, fundou sua fazenda: Altamira. Suas terras se extendiam por muitos quilômetros, era extremamente rica.
Naquela região, imperava o ditado de que o mais forte sobrevive. Os conflitos eram resolvidos na base da violência e pouca diferença fazia a lei.
Devido à uma briga de família após a morte de um dos Luzardo, Altamira foi dividida na herança em Altamira e Barcarenha, dando início a uma briga acirrada que teria continuidade através dos anos. Daí conhecemos o personagem principal: doutor Santos Luzardo. Santos se mudou com sua mãe, que tentava fugir das lembraças ruins da fazenda, para Caracas, a capital do país, quando era adolescente. Na cidade, Santos estudou e se formou advogado, tornando-se um homem “civilizado” e muito correto na aplicação das leis. Nesse meio tempo, a fazenda esteve abandonada nas mãos de administradores de reputação duvidosa.
Esse descuido permitiu a ascenção da personagem que dá título ao livro, dona Bárbara. Ela é uma mulher de origem indígena abençoada com a beleza, despertando a inveja das mulheres e a luxúria dos homens. Ela cresceu no meio da violência da região, o que a fez suprimir certos sentimentos e agir com poucos escrúpulos, tornando-a uma criatura perigosa.
“No mais profundo de suas tenebrosas recordações, nos primórdios da consciência, via-se uma embarcação sulcando os grandes rios da selva do Orenoco. Eram seis homens a bordo e ao capitão ela chamava o ‘taita’, o paizinho, mas todos eles – à exceção de Eustáquio – brutalizavam-na com idênticas carícias: rudes apalpadelas, beijos que sabiam a aguardente e a chimó, a mistura de fumo com sal que a gente do povo masca.”
Com sua beleza, seduziu o dono da Barcarenha, Lorenzo, e por acaso conheceu Apolinário, um homem que propôs um golpe para passar à Bárbara a propriedade do fazendeiro. É claro que no plano original a mulher não teria posse de nada, mas as coisas não correram exatamente assim. Após dispensar Lorenzo, dona Bárbara tomou Apolinário como seu amante e deu cabo dele assim que este começou a lhe trazer ameaça. Depois dele vieram vários outros amantes, homens que eram usados em seus propósitos de conquistar o vale, em especial a Altamira.
Ela era uma mulher tão capaz de laçar e capturar um touro quanto qualquer outro homem da região, não faz o tipo de mulher indefesa. Sua influência era tão grande que ela escreveu leis, roubava gado e avançava os limites de sua fazenda a seu bel-prazer. Ela era muito temida na região e propagava a violência a que for a submetida durante toda a sua vida. Apesar da falha de caráter, dona Bárbara é um exemplo de mulher forte na literatura, ela não é apenas uma mulher, é uma força da natureza.
Quando Santos Luzardo decide vender a fazenda para se mudar para o exterior, é obrigado à voltar para se informar do estado da propriedade abandonada há anos. Aqui começa a história de verdade, o conflito entre o certo e o errado, a descoberta do ser primitivo que habita o interior do homem e outros conflitos com personagens secundários.
A chegada de Luzardo abala Bárbara, certos sentimentos começam a surgir e ela reflete sobre si, sobre toda a sua vida, sobre tudo o que já fez e como será dali em diante.
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