Saber envelhecer e A amizade

Saber envelhecer e A amizade Cícero




Resenhas - Saber envelhecer


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Aletheia (@almaletrada) 17/01/2024

Cícero nos convida a pensar sobre a velhice de uma forma leve e sem sofrimentos. Da mesma forma analisa algumas questões sobre a amizade e sua constância e benefícios!
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Fábio Yeshua 18/07/2023

Envelhecer com Sabedoria e Cultivar a Amizade: É possível?
Os livros "Saber Envelhecer" e "Da Amizade", ambos escritos pelo filósofo estoico Cícero, oferecem reflexões profundas sobre dois aspectos essenciais da vida humana: o envelhecimento e a amizade. Essas obras atemporais continuam a fornecer insights valiosos para a compreensão da natureza humana e da busca por uma vida plena e significativa.

Em "Saber Envelhecer", Cícero explora a experiência do envelhecimento, apresentando uma visão positiva dessa fase da vida. Ele argumenta que, embora o corpo possa enfraquecer com o tempo, a mente pode amadurecer e se tornar mais sábia. Cícero enfatiza a importância de aproveitar as oportunidades oferecidas pela idade avançada, como o desenvolvimento da sabedoria, a transmissão de conhecimento às gerações mais jovens e o cultivo da tranquilidade interior. O autor nos convida a refletir sobre a finitude da vida e a adotar uma perspectiva serena e enriquecedora diante do envelhecimento.

Já em "Da Amizade", Cícero discorre sobre a importância e os benefícios da amizade verdadeira. Ele argumenta que a amizade é uma das fontes mais preciosas de felicidade e virtude na vida humana. Cícero explora os diferentes tipos de amizade e ressalta a necessidade de cultivar relacionamentos baseados na confiança, na lealdade e no apoio mútuo. Ele enfatiza que a verdadeira amizade é um laço profundo que transcende a utilidade e o prazer, enriquecendo nossas vidas e nos permitindo alcançar um estado de plenitude emocional e moral.

Apesar de abordarem temas aparentemente distintos, as obras de Cícero se complementam de maneira notável. "Saber Envelhecer" e "Da Amizade" compartilham uma visão de vida centrada na sabedoria, no autodomínio e na busca pela virtude. Ambos os livros destacam a importância de uma vida bem vivida, baseada em valores como a serenidade, a generosidade, a justiça e a amizade.

A sabedoria adquirida com a idade e a busca por amizades verdadeiras são apresentadas como elementos fundamentais para uma existência plena e significativa. Através da leitura dessas obras, somos convidados a refletir sobre a importância de cultivar relacionamentos saudáveis e duradouros, ao mesmo tempo em que desenvolvemos uma perspectiva enriquecedora em relação ao processo de envelhecimento.

Em síntese, as obras "Saber Envelhecer" e "Da Amizade" de Cícero nos convidam a refletir sobre dois aspectos essenciais da vida humana: o envelhecimento e a amizade. Complementares entre si, esses livros nos oferecem sabedoria atemporal, guiando-nos em direção a uma compreensão mais profunda da natureza humana e apontando caminhos para uma vida plena e significativa. Ao combinar a sabedoria do envelhecimento com a valorização das relações humanas, as obras de Cícero nos inspiram a buscar uma existência mais autêntica e enriquecedora.
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Pedro.Goncalves 02/05/2023

Saber envelhecer seguido de A amizade
Este livro tem para mim um significado especial. Ganhei-o de uma amigo em meu aniversário, por isso por tratar do envelhecer e da amizade o presente não poderia vir em melhor hora e mãos.
  Ao lê-lo o leitor encontrar-se-á diante de uma obra eminente que por meio de diálogos busca: apresentar o caminho para uma velhice serena e virtuosa e definir amizade. Nesse sentido, essa obra ao meu ver é imprescindível a todos que aspiram a aprender com esse sábio homem que foi Cícero.
  Ao ler a primeira, "Saber envelhecer", porque são duas obras, nota-se a condição de Cícero como escritor velho para escrever sobre a velhice. E, ele vai além, descrevendo não só como envelhecer, mas também sobre como aproveitar o melhor de cada idade, sintetizado nesta frase: Deve-se saber aproveitar a fraqueza da infância, o ímpeto da juventude, a seriedade da vida adulta e a sabedoria dos velhos".
  Na segunda obra, "Amizade", em uma conversa entre amigos, discute-se sobre amizade, definindo sua natureza e características, assim a definem ligada à virtude e à honestidade, fato que não poderia ser mais verossímil.Contudo, a fim de uma compreensão mais clara da obra vejo que é necessário ter uma base na filosofia grega e romana, saber pelo menos a tríade socrática. Pois, percebe-se os fundamentos da moralidade grega, principalmente do transcendentalismo platônico, e sua profunda influência sobre autor e obra.
Além disso, um leitor crítico, perceberá a influência que da busca pela verdade e valorização da razão sobre o corpo exercem sobre Cícero. Deixando claro o alvo da crítica de Nietzsche no que tange aos valores gregos fundadores da sociedade ocidental.
Enfim, desejo uma boa leitura àqueles que irão ler essas obras e espero ter incitado vontade àqueles que não se decidiram.
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Pedro 19/08/2022

Saber envelhecer e A amizade
Este livro tem para mim um significado especial. Ganhei-o de uma amigo em meu aniversário, por isso por tratar do envelhecer e da amizade o presente não poderia vir em melhor hora e mãos.
  Ao lê-lo o leitor encontrar-se-á diante de uma obra eminente que por meio de diálogos busca: apresentar o caminho para uma velhice serena e virtuosa e definir amizade. Nesse sentido, essa obra ao meu ver é imprescindível a todos que aspiram a aprender com esse sábio homem que foi Cícero.
  Ao ler a primeira, "Saber envelhecer", porque são duas obras, nota-se a condição de Cícero como escritor velho para escrever sobre a velhice. E, ele vai além, descrevendo não só como envelhecer, mas também sobre como aproveitar o melhor de cada idade, sintetizado nesta frase: Deve-se saber aproveitar a fraqueza da infância, o ímpeto da juventude, a seriedade da vida adulta e a sabedoria dos velhos".
  Na segunda obra, "Amizade", em uma conversa entre amigos, discute-se sobre amizade, definindo sua natureza e características, assim a definem ligada à virtude e à honestidade, fato que não poderia ser mais verossímil.
   Contudo, a fim de uma compreensão mais clara da obra vejo que é necessário ter uma base na filosofia grega e romana, saber pelo menos a tríade socrática. Pois, percebe-se os fundamentos da moralidade grega, principalmente do transcendentalismo platônico, e sua profunda influência sobre autor e obra.
Além disso,  um leitor crítico, perceberá a influência  que da busca pela verdade e valorização da razão sobre o corpo exercem sobre Cícero. Deixando claro o alvo da crítica de Nietzsche no que tange aos valores gregos fundadores da sociedade ocidental.
  Enfim, desejo uma boa leitura àqueles que irão ler essas obras e espero ter incitado vontade àqueles que não se decidiram.
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Daniel 29/05/2022

Saber envelhecer Amizade
Cícero desenvolve a tese de que a arte de envelhecer é encontrar o prazer que todas as idades proporcionam, pois todas têm as suas virtudes. Em A Amizade, temos o tratado definitivo sobre a fraternidade e as relações sociais.
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Côrtes 24/05/2022

Ótimos ensinamentos
O livro começa com sobre envelhecer que não me pegou muito, porém reconheço que possui ensinamentos ótimos, talvez eu não tenha gostado pq ainda sou novo kkkkk.
Já a amizade, eu adorei tem muitos ensinamentos de como fazer novas amizades boas e como fazer as tais durarem, sem contar q são ensinamentos ótimos para reconhecer amizades q não prestam.
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Alane.Sthefany 17/05/2022

Saber Envelhecer e A Amizade - Cícero
Saber Envelhecer

Pareceu-me útil escrever-te sobre a velhice.
Com efeito, gostaria que fôssemos aliviados, tu e eu, desse fardo que já nos pesa ou ? fatalmente ? nos pesará. Um fardo que suportas e suportarás, como sabes tudo suportar, com paciência e razão.

Por certo, os que não obtêm dentro de si os recursos necessários para viver na felicidade acharão execráveis todas as idades da vida. Mas todo aquele que sabe tirar de si próprio o essencial não poderia julgar ruins as necessidades da natureza. E a velhice, seguramente, faz parte delas!

Todos os homens desejam alcançá-la, mas, ao ficarem velhos, se lamentam. Eis aí a inconsequência da estupidez! Queixam-se de que ela chegue mais furtivamente do que a esperavam. Quem então os forçou a se enganar assim? E por qual prodígio a velhice sucederia mais depressa à adolescência do que esta última sucede à infância? Enfim, por que diabos a velhice seria menos penosa para quem vive oitocentos anos do que para quem se contenta com oitenta? Uma vez transcorrido o tempo, por longo que seja, nada mais consolará uma velhice idiota...

Aliás, não seria verossímil que, tendo disposto tão bem os outros períodos da vida, ela se precipitasse no último ato como o faria um poeta sem talento. Simplesmente, era preciso que houvesse um fim; que, à imagem das bagas e dos frutos, a vida, espontaneamente, chegada sua hora, murchasse e caísse por terra. A tudo isso o sábio deve consentir pacificamente. Pretender resistir à natureza não teria mais sentido do que querer ? como os gigantes ? guerrear contra os deuses.

[...]

? Como suportar da melhor maneira os assaltos progressivos da idade

Com frequência escutei os lamentos das pessoas de minha idade (...) Assim ouvi Gaio Salinator e Espúrio Albino, dois antigos cônsules de minha geração, queixarem-se amargamente de estarem privados dos prazeres sem os quais, supunham, a vida nada mais vale; ou, ainda, de serem agora negligenciados pelos mesmos que os honravam outrora.
Escutando-os, eu tinha a impressão de que se enganavam de culpado. Será de fato a idade que devemos incriminar? Nesse caso, eu também deveria padecer dos mesmos inconvenientes, e, comigo, todas as pessoas idosas.

É portanto ao caráter de cada um, e não à velhice propriamente, que devemos imputar todas essas lamentações. Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a velhice, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade.

As melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes. Cultivados em qualquer idade, eles dão frutos soberbos no término de uma existência bem vivida. Eles não somente jamais nos abandonam, mesmo no último momento da vida ? o que já é muito importante ?, como também a simples consciência de ter vivido sabiamente, associada à lembrança de seus próprios benefícios, é uma sensação das mais agradáveis.

?Nada tenho a reprovar à velhice?.

São suas próprias faltas, suas insuficiências, que os imbecis imputam à velhice.

Ênio, aos setenta ? pois ele chegou a essa idade ?, suportava tão bem a pobreza e a velhice, esses dois fardos reputados os mais pesados, que quase dava a impressão de se alegrar com elas.

O que reprovam à velhice?
Pensando bem, vejo quatro razões possíveis para acharem a velhice detestável. 1) Ela nos afastaria da vida ativa. 2) Ela enfraqueceria nosso corpo. 3) Ela nos privaria dos melhores prazeres. 4) Ela nos aproximaria da morte.

Se estais de acordo, examinemos essas razões e vejamos um pouco a justeza desses argumentos.
A velhice afasta da vida ativa e subtrai dos assuntos públicos? De quais?
Daqueles que, sozinho, um homem jovem e vigoroso pode enfrentar? Não há assuntos públicos que, mesmo sem força física, os velhos podem perfeitamente conduzir graças à sua inteligência? (...)
E os outros velhos, os Fabrício, Cúrio ou Coruncânio, quando punham sua sabedoria e sua autoridade a serviço do Estado, não faziam nada?

Em Esparta, os magistrados mais importantes são ?velhos? que obtêm inclusive sua glória desse nome. E se vos derdes o trabalho de aprender um pouco de História estrangeira, vereis que numerosos Estados desmoronaram por culpa de homens jovens, e que outros foram mantidos e restabelecidos por velhos.
Vejamos! Como pudestes deixar vosso país deteriorar-se tão rapidamente?
A essa questão colocada pelo poeta Névio, em O Jogo, a primeira das respostas é sempre:
Sob a influência de novos oradores, de jovens loucos!
Sem dúvida alguma, a irreflexão é própria da idade em flor, e a sabedoria, da maturidade.

Eu poderia igualmente vos citar camponeses romanos do país sabino, vizinhos e amigos meus que, por nada deste mundo, quereriam se abster dos principais trabalhos agrícolas: semear, colher ou enceleirar as colheitas. Também entre eles isso não é muito espantoso: ninguém é bastante velho para não esperar viver um ano mais. E é sem esperança precisa de se beneficiarem que eles se entregam a esses trabalhos:
Ele planta árvores que crescerão para outros, como diz nosso caro Cecílio Estácio em Os Sinefebos.

Mesmo se não trouxesses nenhuma outra calamidade, velhice, já é muito, quando se vive muito tempo, nos obrigares a sofrer tantos desagrados.

Se os velhos veem encanto nos adolescentes de boa natureza, se a velhice é aliviada pela deferência da juventude, os adolescentes, por seu lado, apreciam os preceitos dos velhos que sabem lhes dar o gosto das virtudes morais.

As forças da idade
A falta de vigor. É o segundo inconveniente suposto da velhice. Confesso não sentir essa falta; tampouco quando adolescente eu lamentava não possuir a força do touro ou do elefante. É preciso servir-se daquilo que se tem e, não importa o que se faça, fazê-lo em função de seus meios. Que frase mais pungente a de Mílon de Crotona! Envelhecido, e observando no estádio atletas em treinamento, eis que ele olha seus próprios bíceps e exclama num lamento: ?Ai, os meus estão agora arruinados!?. Não são apenas teus bíceps que estão arruinados, imbecil, mas tu mesmo! Pois não é a ti mas a teus bíceps e abdominais que devias teu renome.

É verdade que, não sei por qual processo, o timbre da voz, quando envelhecemos, adquire um certo brilho. De minha parte, e vós sabeis minha idade, não perdi minha voz. Todavia, é bom que um homem idoso se exprima pausada e suavemente. Aliás, o discurso tranquilo de um velho eloquente basta às vezes para reter sua audiência.

Que há de mais agradável que uma velhice cercada de jovens estudiosos?
Reconhecer-se-á à velhice suficiente vigor para instruir os adolescentes, para formá-los e prepará-los aos deveres de seu futuro encargo? E que outra tarefa mais bela do que esta?

Jamais deveríamos lamentar os que ensinam os bons princípios, mesmo quando suas forças declinam ou enfraquecem. Aliás, esses enfraquecimentos físicos são com frequência mais imputáveis aos excessos da juventude que aos da idade madura.
A herança de uma juventude voluptuosa ou libertina é um corpo extenuado.

Não sou mais o homem vigoroso que foi o simples soldado (...) No entanto, como podeis constatá-lo, a velhice não me exauriu nem me abateu completamente.

O essencial é usar suas forças com parcimônia e adaptar seus esforços a seus próprios meios. Então não sentimos mais frustração nem fraqueza.
Conta-se que Mílon fez sua entrada no estádio de Olímpia carregando um boi sobre os ombros. O que vale mais? Ter esse vigor físico ou aquele, inteiramente intelectual, de Pitágoras? Em suma, usemos tal vantagem quando a tivermos e não a lamentemos quando ela desapareceu.
Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.

A velhice seria sem forças?
Mas ninguém exige dela ser forte! As leis e os costumes são feitos de modo a dispensarem nossa idade dos encargos que exigem um mínimo de vigor. Assim jamais nos exigem ir além de nossas forças, permitem-nos mesmo permanecer aquém.
Objetar-me-ão que muitos velhos são tão fracos que não podem mais sequer assumir qualquer dos encargos ligados a uma função ou simplesmente à vida. Mas esse defeito não é próprio da velhice; é uma questão de saúde.

Por que espantar-se de que certos velhos sejam fracos quando os próprios adolescentes nem sempre escapam a essa fatalidade?
(...) é preciso resistir à velhice e combater seus inconvenientes à força de cuidados; é preciso lutar contra ela como se luta contra a doença; conservar a saúde, praticar exercícios apropriados, comer e beber para recompor as forças sem arruiná-las.
Mas não basta estar atento ao corpo; é preciso ainda mais ocupar-se do espírito e da alma.

O atrevimento e a libertinagem, se são mais frequentes entre os adolescentes que entre os velhos, nem por isso são próprios de todos os adolescentes; somente dos menos virtuosos

Gosto de descobrir o verdor num velho e sinais de velhice num adolescente. Aquele que compreender isso envelhecerá talvez em seu corpo, jamais em seu espírito.

Ocupo-me do direito augural, pontifical e civil. Estudo assiduamente a literatura grega e, para exercitar minha memória, aplico o método caro aos pitagóricos: toda noite, procuro lembrar-me de tudo o que fiz, disse e ouvi na jornada. Eis como mantenho meu espírito, eis a ginástica a que submeto minha inteligência.
Suando e me esfalfando dessa maneira, não me ocorreria pensar em me lamentar sobre o declínio de minhas forças físicas.

Dedicando nossa vida ao estudo, empenhando-nos em trabalhar sem descanso, não sentimos a aproximação sub-reptícia da velhice. Envelhecemos insensivelmente, sem ter consciência disso, e, em vez de sermos brutalmente atacados pela idade, é aos poucos que nos extinguimos.

Do bom uso da volúpia
Chegamos agora ao terceiro agravo feito com frequência à velhice: ela seria privada de prazeres. Mas que maravilhosa dádiva nos proporciona a idade se ela nos poupa do que a adolescência tem de pior!

Se a inteligência constitui a mais bela dádiva feita ao homem pela natureza ? ou pelos deuses ?, o instinto sexual é seu pior inimigo. Onde reina a devassidão, obviamente não há lugar para a temperança; lá onde o prazer triunfa, a virtude não poderia sobreviver.

(...) se o bom senso e a sabedoria não são suficientes para nos manter afastados da devassidão, cumpre agradecer também à velhice por nos livrar dessa deplorável paixão.

Se a velhice deve evitar banquetes excessivos, ela pode muito bem desfrutar o prazer das refeições equilibradas.

Admitindo que há prazer em comer ? e não pretendo colocar-me como adversário encarniçado do prazer, muito natural dentro de certos limites ?, quero também reconhecer que a velhice não é insensível a ele.

Os devassos sentem mais duramente, por certo, e mais cruelmente, a privação da volúpia; mas as pessoas saciadas, apaziguadas, acham preferível ser liberadas do prazer.
Sem desejo, não há frustração: logo, é preferível não desejar. E se a juventude permanece a idade dos prazeres, esses são apenas gozos fúteis

Uma vez liberada a alma, se posso dizer, das obrigações da volúpia, da ambição, das rivalidades e das paixões de toda espécie, as pessoas têm o direito de se isolarem para viverem enfim, como se diz, ?consigo mesmas?!

O saber se vale das competências acumuladas e se enriquece à medida que envelhecemos.
Assim, é digno de seu autor aquele verso de Sólon em que ele afirma que aproveita cada dia de sua velhice para adquirir novos conhecimentos. Sim, nenhum prazer é superior ao do espírito.

Eis a vida que Mânio Cúrio escolheu para terminar seus dias após triunfar dos samnitas, dos sabinos e de Pirro. Quando contemplo sua casa, não distante da minha, só posso admirar ? e, mesmo assim, insuficientemente ? sua modéstia e a virtude de sua época. Ele se achava sentado junto à lareira quando os samnitas vieram propor-lhe uma grande quantidade de ouro. Ele os repeliu sem hesitar, dizendo que à riqueza preferia a autoridade sobre os ricos. Como tal grandeza de alma não tornaria agradável a velhice?

Os cabelos brancos e as rugas não conferem, por si sós, uma súbita respeitabilidade. Esta é sempre a recompensa de um passado exemplar.

Eis alguns sinais de respeito que podem parecer frívolos mas que têm para nós seu valor: vêm nos visitar, buscam nossa companhia, afastam-se à nossa passagem, cedem-nos o lugar, levantam-se em nossa presença, escoltam-nos, consultam-nos e nos acompanham de volta a casa...

Os rabugentos e os outros
Ouve-se ainda dizer que os velhos são mal-humorados, atormentados, irascíveis e rabugentos ? e mesmo avarentos, examinando bem. Mas esses são defeitos inerentes a cada indivíduo, não à velhice.

Tais pessoas se julgam desprezadas, depreciadas, caídas no ridículo. Além disso, um corpo debilitado nos torna ainda mais vulneráveis a esses ataques. O que não impede que um caráter sólido e bons hábitos permitam atenuar tais inconvenientes.

Assim como o vinho, o caráter não azeda necessariamente com a idade. Agrada-me que a velhice seja grave, mas com moderação, como em relação a tudo.

Diante da morte
Resta a quarta razão de temer a velhice, a que desola e acabrunha particularmente as pessoas de minha idade: a aproximação da morte. Ela é incontestável.

Por que eu temeria a morte se, depois dela, não sou mais infeliz, quem sabe até mais feliz? Aliás, quem pode estar seguro, mesmo jovem, de estar ainda vivo até o anoitecer?

(...) a inteligência, o julgamento e a sabedoria são próprios dos velhos, sem os quais jamais teria havido cidades.

Mas retorno à morte que nos espreita. Por que fazer disso motivo de queixa à velhice, se é um risco que a juventude compartilha? De minha parte, foi após o desaparecimento de meu excelente filho que me dei conta de que a morte sobrevém a qualquer idade.

Alimentaria o jovem, apesar de tudo, a esperança de viver ainda muito tempo, enquanto isso é interdito ao velho? Mas vejam, é uma esperança insensata: que pode haver de mais insano que ter por certo o que não o é e por verdadeiro o que é falso?

E o velho, por sua vez, nada mais teria a esperar?
Então sua posição é melhor que a do adolescente. Aquilo com que este sonha, ele já o obteve. O adolescente quer viver muito tempo, o velho já viveu muito tempo!

Certo Argantônio reinou oitenta e viveu cento e vinte anos.) Mesmo nesse caso, não me decido a considerar ?longo? o que de todo modo tem um fim. Quando esse fim chega, o passado desapareceu.
Dele vos resta apenas o que vos puderam trazer a prática das virtudes e as ações bem conduzidas. Quanto às horas, elas se evadem, assim como os dias, os meses, os anos. O tempo perdido jamais retorna e ninguém conhece o futuro. Contentemo-nos com o tempo que nos é dado a viver, seja qual for!

Para ser aplaudido, o ator não tem necessidade de desempenhar a peça inteira. Basta que seja bom nas cenas em que aparece. Do mesmo modo, o sábio não é obrigado a ir até o aplauso final. Uma existência, mesmo curta, é sempre suficientemente longa para que se possa viver na sabedoria e na honra.

Que há de mais natural para um velho que a perspectiva de morrer? Quando a morte golpeia a juventude, a natureza resiste e se rebela. Assim como a morte de um adolescente me faz pensar numa chama viva apagada sob um jato d?água, a de um velho se assemelha a um fogo que suavemente se extingue. Os frutos verdes devem ser arrancados à força da árvore que os carrega; quando estão maduros, ao contrário, eles caem naturalmente. Do mesmo modo, a vida é arrancada à força aos adolescentes, enquanto deixa aos poucos os velhos quando chega sua hora.
Consinto de tão boa vontade tudo isso que, quanto mais me aproximo da morte, parece que vou me aproximando da terra como quem chega ao porto após uma longa travessia.

Os velhos não devem nem se apegar desesperadamente nem renunciar sem razão ao pouco de vida que lhes resta.

O sábio Sólon declara, por sua vez, que não deseja morrer sem ser saudado pela dor e pelas lágrimas de seus amigos. Em suma, ele deseja, parece-me, ser amado pelos seus. Mas prefiro muito mais o que disse Ênio:
Que ninguém me homenageie com suas lágrimas, que ninguém chore sobre meu túmulo!
A seu ver, não devíamos nos afligir com a morte, já que ela dava acesso à eternidade. Pode acontecer que se sinta uma certa apreensão no momento de morrer, mas isso dura pouco. Após a morte, ou não há nada, ou essa apreensão se transforma em beatitude.

Cada um de nós deve morrer, com efeito; hoje mesmo, talvez.

Em geral, parece-me, perdemos o apetite de viver quando nossas paixões são saciadas. Devem os adolescentes lamentar a perda do que adoravam quando crianças? E poderiam os homens maduros ter saudade do que amavam quando adolescentes? Também eles têm seus gostos, que não são os dos velhos. A velhice, enfim, tem suas inclinações próprias. E estas por sua vez se desvanecem como desapareceram as das idades precedentes.
Quando esse momento chega, a saciedade que sentimos nos prepara naturalmente para a proximidade da morte.
Por que eu hesitaria em vos dizer tudo o que penso da morte? Estou tanto melhor situado para compreendê-la à medida que me aproximo dela.

Os grandes homens, após sua morte, não seriam tão duradouramente venerados se não emanasse de sua alma algo que conserva sua lembrança. Jamais pude acreditar que a alma, viva enquanto habitava o corpo, morresse ao deixá-lo; nem que, ao se evadir do corpo de um insensato, ela permanecesse insensata.

Vós constatais, além disso, que nada se assemelha tanto à morte quanto o sono. E a alma do adormecido manifesta claramente sua natureza divina: em repouso, relaxada, esta prevê com frequência o futuro. Isso nos dá uma ideia do que ela será no dia em que estiver totalmente livre de sua prisão corporal.
(Tais foram as palavras pronunciadas por Ciro no momento de sua morte.)

Acaso crês ? eu me envio flores, é um reflexo de velho ? que teria passado meus dias e minhas noites atarefado, em tempo de guerra como em tempo de paz, se julgasse que minha glória se deteria com minha vida? Não teria sido melhor, nesse caso, deixar-me docemente viver, sem esforço nem trabalho? Ignoro a razão, mas minha alma desperta sempre pressagiou o futuro, como se tivesse adivinhado que, uma vez deixada a vida, ela finalmente viveria. Não, se fosse verdade que as almas não são imortais, os grandes homens não desdobrariam tantos esforços para alcançar a glória e a imortalidade.
E se o sábio morre com tanta serenidade enquanto um imbecil morre com tão grande pavor, não será porque a alma do primeiro, lúcida e clarividente, percebe que voa assim em direção ao melhor, enquanto a do segundo, obtusa, é incapaz disso? No que me concerne, grande é minha impaciência de reencontrar vossos pais que estimei e respeitei; de rever todos aqueles que pessoalmente conheci, de conhecer aqueles de quem me falaram, de quem li as façanhas e sobre os quais eu mesmo escrevi.

E, mesmo se um deus me oferecesse generosamente voltar a ser um bebê dando vagidos em seu berço, eu recusaria ser levado de volta ao ponto de partida após ter percorrido, por assim dizer, toda a arena.

Que há portanto de positivo na vida? Não oferece ela sobretudo provações? Seguramente, ela comporta muitas vantagens, mas, seja como for, no final restam apenas a saciedade e o término.

Oh, como será bela a jornada quando eu partir para juntar-me, no além, à assembleia divina formada pelas almas, quando eu deixar o tumulto e o lamacento caos deste mundo! Então reencontrarei não apenas todos os homens de quem falei aqui, mas sobretudo meu querido Catão, o melhor de todos, o filho mais amável e o mais respeitoso. Fui eu que queimei seu corpo quando ele é que deveria ter queimado o meu. Mas sua alma não me abandonou; ela vela sobre mim desde aquele lugar aonde ela sabe que devo ir. Viram-me aceitar corajosamente meu luto; não era resignação de minha parte. Eu apenas reconfortava-me à ideia de que a separação e o afastamento seriam de curta duração.

(...) considero a velhice tão fácil de suportar.

Ela me parece bastante leve, até mesmo agradável. E, se me engano sobre a imortalidade da alma, é com muito gosto. Enquanto eu viver, recusarei sempre que me privem desse ?erro? que me é tão doce. Se, como pensam certos pequenos filósofos, não há nada após a morte, então não preciso temer as zombarias dos filósofos desaparecidos.

Quanto à velhice, em suma, ela é a cena final dessa peça que constitui a existência. Se estamos fatigados dela, então partamos, sobretudo se estamos saciados.

Eis aí tudo o que vos tinha a dizer sobre a velhice. Desejo-vos que a alcanceis para verificar, por vós mesmos, a justeza de minhas palavras.

[...]

A Amizade

A lembrança de nossa amizade me dá tanto prazer que tenho o sentimento de ter vivido feliz, pois vivi na companhia de Cipião, pois juntos nos preocupamos ao mesmo tempo com assuntos públicos e privados; juntos compartilhamos a vida familiar e a vida militar, e reside aí toda a força da amizade, a mais nobre cumplicidade no plano das escolhas, dos interesses, das ideias.

De minha parte, tudo o que posso fazer é vos incitar a preferir a amizade a todos os bens desta terra; com efeito, nada se harmoniza melhor com a natureza, nada esposa melhor os momentos, positivos ou negativos, da existência.

Antes de mais nada, a amizade, estou convencido, só pode existir nos homens de bem.

Todas as pessoas que, em sua conduta, em sua vida, deram prova de lealdade, de integridade, de equidade, de generosidade, que não trazem dentro de si cupidez, nem paixões, nem inconstância, e são dotadas de uma grande força de alma, como o foram os homens que eu há pouco nomeava, podem todas, penso, ser contadas entre as pessoas de bem: isso as caracteriza, já que elas seguem, tanto quanto um ser humano é capaz, a natureza, que é o melhor dos guias para viver de maneira correta.

Entre parentes, a natureza dispôs com efeito uma espécie de amizade; mas ela não é de uma resistência a toda prova. Assim a amizade vale mais que o parentesco, em razão de o parentesco poder se esvaziar de toda afeição, a amizade não: retire-se a afeição, não haverá mais amizade digna desse nome, mas o parentesco subsiste.

Alguns amam mais as riquezas, outros a saúde, outros o poder, outros as honrarias, muitos preferem ainda os prazeres. Essa última escolha é a dos brutos, mas as escolhas precedentes são precárias e incertas, repousam menos sobre nossas resoluções que sobre os caprichos da fortuna.

Quanto aos que colocam na virtude o soberano bem, sua escolha é certamente luminosa, já que é essa mesma virtude que faz nascer a amizade e a conserva, pois, sem virtude, não há amizade possível!

Os outros privilégios a que as pessoas aspiram só existem em função de uma única forma de utilização: as riquezas, para serem gastas; o poder, para ser cortejado; as honrarias, para suscitarem os elogios; os prazeres, para deles se obter satisfação; a saúde, para não termos de padecer a dor e podermos contar com os recursos de nosso corpo. Quanto à amizade, ela contém uma série de possibilidades. Em qualquer direção que a gente se volte, ela está lá, prestativa, jamais excluída de alguma situação, jamais importuna, jamais embaraçosa. Por isso, nem água nem fogo, como se diz, nos são mais prestimosos que a amizade. E aqui não se trata da amizade comum ou medíocre, que no entanto proporciona igualmente satisfação e utilidade, mas da verdadeira, da perfeita (...)
Pois a amizade torna mais maravilhosos os favores da vida, e mais leves, porque comunicados e partilhados, seus golpes duros.

Observar um verdadeiro amigo equivale a observar uma versão exemplar de si mesmo: os ausentes são então presentes, os indigentes são ricos, os fracos, cheios de força e, o que é mais difícil de explicar, os mortos são vivos, na medida em que o respeito, a lembrança, o pesar de seus amigos continuam ligados a eles.

Todas as coisas na natureza e em todo o universo se estruturam graças à amizade, e se desconjuntam por causa da discórdia.

Se sucede de alguém ajudar um amigo em perigo, seja intervindo, seja prestando-lhe socorro, quem lhe regateará felicitações entusiastas? Que clamores em todo o teatro, recentemente, durante a nova peça de meu hóspede e amigo Marco Pacúvio: era no momento em que, diante do rei que ignorava qual dos dois era Orestes, Pílades dizia que Orestes era ele, para ser executado no lugar de seu amigo, enquanto Orestes, em conformidade à verdade, continuava a afirmar que ele era Orestes! Todos os espectadores se levantaram para aplaudir uma ficção: que não teriam feito, em vossa opinião, diante de uma realidade? A própria natureza demonstrava claramente sua força, naquele instante em que homens aprovavam em outrem um ato de lealdade do qual eles próprios eram incapazes.

Será por fraqueza e indigência que se busca a amizade, cada um visando por sua vez, através de uma reciprocidade dos serviços, receber do outro e devolver-lhe esta ou aquela coisa que não pode obter por seus próprios meios, ou seria isto apenas uma de suas manifestações, a amizade tendo principalmente uma outra origem, mais interessante e mais bela, escondida na própria natureza?

Ora, na amizade nada é fingido, nada é simulado, tudo é verdadeiro e espontâneo.

A amizade se origina da natureza, parece-me, e não da indigência; que ela é uma inclinação da alma associada a um certo sentimento de amor, e não uma especulação sobre a amplitude dos benefícios que dela resultarão.

Nada é mais amável que a virtude, nada favorece tanto o afeiçoar-se, já que virtude e probidade, de certo modo, nos fazem sentir afeição mesmo por pessoas que jamais vimos.

Há tanta força no valor moral para que o amemos, seja nas pessoas que jamais vimos, seja, o que é mais impressionante, inclusive num inimigo.

Aquele que tem mais confiança em si, aquele que está tão bem armado de virtude e de sabedoria que não tem necessidade de ninguém e sabe que traz tudo dentro de si, este sobressai sempre na arte de ganhar amizades e de conservá-las.

O hábito de nos vermos fez crescer nossa simpatia recíproca. Mas ainda que muitas vantagens importantes tenham resultado disso, certamente não foi a ambição de obtê-las que provocou nossa afeição.

Com efeito, quando somos generosos e bondosos, quando não exigimos reconhecimento ? não contando com nenhum proveito próprio, tendo apenas uma vontade espontânea de ser generoso ?, é então, penso, que convém, não movidos por uma esperança mercantil, mas convencidos de que o amor traz em si seu fruto, querer atar amizade.

Mostram-se então mais inclinados a prestar serviço que a exigir retorno.

Assim como a natureza não poderia mudar, as verdadeiras amizades são eternas.

Nada é mais difícil apesar de tudo, dizia ele, que conservar intacta uma amizade até o último dia da vida. Pois seguidamente acontece que ora os interesses, ora as sensibilidades políticas divergem; com frequência também o caráter dos homens se altera, ele dizia, por causa de alguns reveses, ou por causa do fardo crescente da idade. E, a título de exemplo, traçava um paralelo com o início da vida, quando nossas mais vivas amizades da infância são seguidamente abandonadas com a toga pretexta.

Veremos primeiramente, se o permitis, até onde a afeição tem o direito de ir, em amizade.

Como Tibério Graco havia feito grandes coisas, Caio estava convencido de que devia segui-lo quaisquer que fossem seus empreendimentos. Eu disse:
?Mesmo se ele quisesse que fosses atear fogo no templo do Capitólio?
? Ele jamais teria desejado isso, respondeu, mas, se o quisesse, eu o teria feito??
Imaginai a impiedade dessa voz criminosa! E ele havia de fato feito coisas do gênero, e mesmo outras que não confessava: não apenas subscreveu as intrigas temerárias de Tibério Graco, mas as inspirou: não encontrou um simples companheiro, mas um instigador para suas loucuras.

Não há nenhuma desculpa para as más ações, mesmo se é por amizade que agimos mal. Com efeito, como a convicção de virtude é a alcoviteira da amizade, é difícil conservar essa amizade se faltamos à virtude.

Suponhamos que adotássemos como regra conceder aos amigos tudo o que eles querem, ou obter deles tudo o que queremos: seria preciso que fôssemos de uma perfeita sabedoria para que isso não ocasionasse falta de nossa parte.
(...) cumpre tirar nossos exemplos, e escolher aqueles que mais se aproximam da sabedoria.

Em amizade, será portanto uma lei nada pedir de vergonhoso e não ceder.

Uma associação de pessoas sem fé nem lei não poderia portanto se abrigar sob a escusa da amizade: devemos antes nos vingar dela por todos os suplícios possíveis, a fim de que ninguém se julgue autorizado a seguir cegamente um amigo.

Que há de mais absurdo do que ser atraído por vaidades como a honraria, a glória, a edificação de monumentos, a vestimenta e o culto do corpo, e não sê-lo por uma alma ornada de virtude, que saberia amar ou, melhor dizendo, dar amor por amor?

Os que atribuem às amizades motivações baixamente utilitárias escamoteiam, assim fazendo, o mais amável núcleo da amizade. Pois não é tanto os serviços prestados por um amigo, mas a afeição desse amigo, em si, que dá prazer: o que um amigo nos oferece só nos faz felizes na medida em que é oferecido com afeição.

Quem, de fato, sustentaria, diante dos deuses e dos homens, que sonha não amar ninguém e não ser amado por ninguém, apenas para se ver submerso em todas as riquezas e para viver na opulência absoluta?

Que há de mais estúpido, quando se dispõe de riquezas, facilidades, consideração, que oferecer-se tudo o que o dinheiro pode proporcionar, cavalos, domésticos, roupas luxuosas, baixela preciosa, e não fazer amigos, que são, como eu disse, o melhor e mais belo ornamento da vida?

A amizade verdadeira parece-me ser mais rica e mais desinteressada: ela não fica, severa, a controlar se está dando mais do que recebeu.
Em amizade, jamais se carrega em excesso o prato da balança.

Cada um sabe dizer quantas cabras e carneiros possui, mas não quantos amigos; quando as pessoas adquirem esses animais, fazem-no com o maior cuidado, enquanto na escolha de seus amigos são negligentes.

É próprio do homem de bem, que nos é lícito chamar então um sábio, ater-se, em amizade, a estas duas regras de conduta:
primeiro, nunca admitir o que é fingido ou simulado; pois é mais honesto odiar abertamente que dissimular, sob uma face hipócrita, seu sentimento.
A seguir, não se contentar em rechaçar as acusações feitas por alguém, mas preservar-se a si mesmo de uma suspeita que leve a imaginar constantemente que o amigo teria algo de reprovável.

Não se deveria, em alguns casos, dar prioridade a amigos recentes, dignos dessa amizade, sobre os antigos, como temos o costume de dar prioridade aos cavalos novos sobre os velhos? Hesitação indigna de um homem! Pois não se pode admitir, como o fazemos noutros domínios, saciedade na amizade: a mais antiga, como os vinhos que suportam o envelhecimento, deve ser a melhor, e se diz a verdade quando se diz que é preciso ter comido muito sal juntos antes de cumprir nossos deveres de amizade (...)
Evidentemente não devem ser rejeitados, há todavia que conservar à antiguidade seu lugar.

É portanto um erro pernicioso de certas pessoas imaginar que em amizade a porta está aberta a todos os abusos e a todos os atos indignos: a amizade nos foi dada pela natureza como auxiliar de nossas virtudes, não como cúmplice de nossos vícios, a fim de que a virtude, não podendo alcançar sozinha o soberano bem, o alcançasse ligada e apoiada à virtude de outrem.

Aqueles que, tendo negligenciado a virtude, imaginam ter amigos, percebem que se enganaram tão logo uma grave dificuldade os obriga a colocar seus supostos amigos à prova.

Sem amizade a vida não é nada, pelo menos se quisermos, de um jeito ou de outro, viver como homens.

Se porventura um deus nos tirasse da multidão dos homens, nos pusesse num lugar solitário e lá, embora nos fornecendo com fartura tudo o que a natureza pode desejar, nos privasse de toda possibilidade de rever humanos. Quem teria a alma suficientemente temperada para suportar esse gênero de vida, e para evitar que a solidão retirasse de seus prazeres todo o seu sabor?

?Suponhamos que alguém suba ao céu e lá penetre com o olhar a natureza do mundo e o esplendor dos astros: ele achará desagradável esse maravilhamento com o qual se encantaria se não tivesse alguém a quem contá-lo? (Filósofo grego Arquitas de Tarento)

Na mais profunda amizade se acha também a mais profunda doçura.

Há uma forma de suscetibilidade a corrigir, em amizade, para conservar-lhe ao mesmo tempo sua utilidade e sua confiabilidade: com frequência somos obrigados a fazer aos amigos advertências, e até mesmo repreensões, e cumpre que o amigo em questão as aceite, quando forem feitas numa boa intenção.

Funesta verdade, pois faz nascer o ódio que é o veneno da amizade: mas complacência mais funesta ainda, porque, ao tolerar as faltas, deixa o amigo deslizar em direção ao abismo; todavia, mais culpado é aquele que, não contente de desdenhar a verdade, deixa a complacência levá-lo a atos indignos.

Quanto àqueles cujos ouvidos se fecharam tanto à verdade que são incapazes de ouvi-la pela boca de um amigo, pode-se desesperar de sua salvação.

Fazer e receber advertências é portanto o critério da amizade verdadeira, contanto seja feito com isenção de espírito, sem maldade, e que o outro aceite pacientemente, sem irritar-se: assim devemos nos persuadir de que não há flagelo maior na amizade que a adulação, a bajulação, a baixa complacência. Pois, chame-se com os nomes que se quiser, é preciso estigmatizar esse vício das pessoas frívolas e hipócritas, cuja palavra busca sempre agradar, jamais exprimir a verdade.

Identificar o adulador ou o amigo verdadeiro, e distingui-los, é tão fácil, com um pouco de aplicação, quanto discernir tudo o que é falsidade e imitação em geral do que é autêntico e verdadeiro.

O adulador que manobra abertamente não pode passar despercebido, a não ser de um perfeito idiota; mas para evitar que o adulador hábil, oculto, consiga se insinuar, é preciso ser muito crítico.

O humano é frágil e perecível, teremos sempre de buscar ao redor de nós pessoas que amaremos e por quem seremos amados: privada de afeição e de simpatia, a vida não tem qualquer alegria.

Para mim, afirmo, Cipião, embora subitamente arrebatado, vive e viverá sempre: amei a virtude desse homem brilhante, e essa virtude não se extinguiu. Não sou o único a ver seu brilho passar diante de meus olhos, eu que sempre a tive a meu alcance, firme como uma lanterna: ela brilhará e será um farol para nossos descendentes. Ninguém jamais conceberá ambições ou esperanças um pouco elevadas sem pensar que deve tomar por modelo a memória e a imagem de Cipião.
Em suma, não há nada, em tudo o que recebi da fortuna ou da natureza, que eu possa comparar à sua amizade: nela eu encontrava uma comunidade de concepções políticas, conselhos para meus assuntos privados, um descanso cheio de satisfação. Jamais o ofendi no menor detalhe, tanto quanto pude perceber; nada ouvi dele que eu não quisesse ter ouvido. Tínhamos uma única e mesma casa, o mesmo estilo de vida, e isso nos aproximava; e não apenas o tempo passado no exército, mas também nossos passeios no campo nos reuniam.
Que dizer também de nossos esforços para saber sempre mais e para aprender coisas novas, estudos que nos mantiveram afastados do olhar das multidões e ocuparam nossas horas de lazer? Se a recordação dessas imagens, a emoção que a elas permanece ligada, morresse juntamente com Cipião, eu seria totalmente incapaz de suportar a falta de um homem que foi o mais próximo de mim, e que eu mais amava. Mas essas imagens não se extinguiram, minha meditação e minha memória tendem antes a conservá-las e aumentá-las, e, mesmo que eu fosse radicalmente despojado delas, a própria idade me traria um poderoso consolo. Pois, de todo modo, doravante não terei mais de passar muito tempo no meio dessas saudades; todo sofrimento breve é obrigatoriamente suportável, mesmo que intenso.

Eis o que eu tinha a dizer sobre a amizade. E como não há amizade sem virtude, exorto-vos a reservar à virtude tal importância que, exceto ela, em vosso pensamento nada seja preferível à amizade.
Maygeek7 18/05/2022minha estante
Misericórdia que resenha enorme kkk. Mesmo assim parabéns, pela resenha e pelo Guinness


Alane.Sthefany 18/05/2022minha estante
Esses livros de filosofia, eu faço é um resumo das melhores partes. Caso eu queira ler ou recordar de algo importante no livro ?


Raimundo.Sales 23/05/2022minha estante
Estou lendo o livro dos discursos


Raimundo.Sales 23/05/2022minha estante
Estou lendo o livro dos discursos dele. Nunca tinha ouvido falar em "Saber envelhecer"


Alane.Sthefany 23/05/2022minha estante
Raimundo,

E eu não ouvi falar desse livro. ??

Estou gostando bastante de ver o ponto de vista dos filósofos sobre vários assuntos importantes, eles realmente eram bons nisso. Sempre eu faço um resumo das partes mais importantes e dos trechos que eu mais gostei, me ajuda bastante para relembrar o que foi lido.

Se você se interessar, pode ler, é muito bom, ele vem junto com o da Amizade ?


Raimundo.Sales 23/05/2022minha estante
Obrigado pela dica Lanneh! Você faz belas analises das obras que lê!




Isabelle248 19/04/2022

Leitura interessante
Essa é a primeira vez que eu leio Cícero, achei muito interessante o fato de que as questões básicas do relacionamento humano continuam as mesmas, apesar de todo progresso e tecnologia que temos. Não concordo com tudo, mas recomendo a leitura!
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Raylinne 04/03/2022

Amo esses livros
Filosofia, acho maravilhoso. O texto é muito bom, com palavras bem rebuscadas e é daquele geito, tem de ser lido com um a aba de pesquisa aberta pra saber quem é quem e o quê é oquê nas citações pois é citado muitos outros filósofos em referência e se vc não tiver a base, não vai entender. Merecia mais notas de rodapé, mas nada que o próprio leitor não possa se esforcar para pesquisar sobre. Páginas brancas e edição poket para algum desavisado que compre sem ler ?. Gostei muito do Cícero, nem sábia que existisse e foi uma leitura agradável!
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Julio.Argibay 19/01/2022

Estoico
Cícero, mais um filósofo estoico, na obra o tema abordado é a velhice, normalmente de maneira positiva, bem interessante.
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Carlos Rangel 18/11/2021

Cícero...
Um clássico!
Que leitura envolvente!
Quanta sabedoria em uma obra tão simples e objetiva!
Falar da velhice e da amizade com tamanha propriedade...
Não é tão simples como parece
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Julio.Argibay 04/08/2021

Estoico
Se eu não me engando Cícero eh membro da Escola Estóica, pelo menos nesse livro ele comenta sobre alguns temas abordados por essa escola. Nessa obra, ele pontua alguns ensinamentos que a velhice e a experiência nos traz. Assim, ele encara esse fato da vida como algo positivo, portanto sem traumas. Cícero comenta sobre a perda da libido, como algum libertador. Sobre a fragilidade física, a qual pode ser compensada pelo acúmulo de sabedoria. Ele ameniza o problema do esquecimento, consequente da idade, pela faculdade do idoso priorizar a lembrança de fatos mais importantes, que outros de menor relevância. Além de outros fatores, ele responsabiliza as guerras pela falta de sabedoria e experiência dos jovens governantes. A segunda parte trata-se da amizade, cintando grandes nomes gregos.
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Lys Coimbra 25/07/2021

Pílula de sabedoria
Especialmente no que se refere à primeira obra, trata-se de uma herdeira pílula de sabedoria. Uma perspectiva leve e bonita de processo de amadurecimento, pelo qual devemos sentir muito mais alívio e gratidão do que medo e tristeza.
A perspectiva linda do autor demonstra que aqueles que não temem o autoconhecimento não precisam temer o envelhecimento.
Um livro breve e delicioso, para ler de ?um gole só? é que recomendaria a todos.
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Matt 11/06/2021

Eu achei uma leitura interessante demais, mostrando outras visões de algo que achávamos que já entendíamos bem, mostrando o quão melhores podemos ser ao saber envelhecer, vale demais a leitura.
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