Renata 14/08/2014
Nosso GG em Havana
Então, depois do jantar de ontem resolvi pegar alguma coisa pra ler, tempo chuvoso, meio frio, pra animar pensei em Cuba. Tinha dois livros do Pedro Juan Gutiérrez à disposição, 'Trilogia suja de Havana' e 'Nosso GG em Havana', escolhi o segundo. Comecei a leitura por volta das 19h e só larguei às 22.45h quando virei a última página.
Assim é este pequeno livro, ele te prende, é ágil e faz você virar as páginas sem nem perceber.
Algumas coisas importantes sobre o livro:
1) Sim, a trama é ambientada em Havana - Cuba, mas o interessante é que ele se passa antes da revolução cubana (que ocorreu em 1959), o que faz um retrato, ainda que ligeiro, da vida na ilha quando sob influência dos EUA. É interessante acompanhar um dos personagens, um agente do FBI trabalhando em acordo com o serviço militar cubano. Achei relevante, já tudo que leio sobre Cuba ou trata do período da revolução, ou da decadência mais recente fruto da política.
2) O personagem principal é o GG, nada menos do que o escritor britânico Graham Greene (1904-1991), autor de 'Nosso homem em Hanava' (que eu não li), entre muitos outros livros.
Do que se trata o livro:
Bom, Graham Greene (doravante GG), escritor renomado e católico, vê seu nome envolvido em um escândalo que envolve assassinato, prostituição e um travesti em Havana.
Mas o desenrolar da história está para além de desvendar o pequeno mistério, isso ficar para trás logo no início o livro, a história se concentra em GG descobrindo Havana.
Neste ponto preciso dizer que quem conhece o Rio de Janeiro vai entender plenamente o ambiente que GG se deparou: uma cidade em que tudo pode acontecer, seus recantos sabidamente perigosos, caóticos, quentes, misturando cheiros de urina e sujeira, ao mesmo tempo uma cidade "maravilhosa", de belezas naturais, de luxo e cheiro de rosas, de uma gente simpática e abençoada pelo ar-condicionado (personagem importante é citado várias vezes no livro).
Neste sentido GG vive Havana como algo diametralmente oposto a sua tranquila (e tediosa) vida em Capri, afinal de contas a Europa era mais interessante quando tinha menos dinheiro.
A narrativa é rápida, sem rodeios, afinal de contas, tal como reflete GG: "A filosofia nos romances é como o bitter nos coquetéis. Duas gotas. Três é exagero".
E este é um dos pontos mais interessantes do livro, a reflexão acerca da condição do escritor. GG faz exatamente isso, reflete sobre o ofício de escrever em ótimas passagens como as seguintes:
“escrevo por necessidade. Um livro é como um furúnculo que se tem que apertar quando está maduro. Um livro é tão epidérmico quanto um abscesso”
“Um romance é como um edifício. Não se pode botar portas e janelas em qualquer lugar. (...) Como acontece com edifícios, alguns romances são singulares e perduram e são visitados por milhões de pessoas. Outros são anódinos e vulgares e não atraem ninguém, até que desmoronam com o passar do tempo”.
E isso em meio a acontecimentos que envolvem travestis, FBI, agentes da KGB (a agência de segurança da então União Soviética), e a máfia. É importante notar que Gutiérrez faz uso de fontes reais, como a carta cheia de amabilidade do governo americano ao ditador cubano Fulgêncio Batista, documento que testemunha a cooperação que reinava entre os dois países.
Contar mais que isso é contar demais, o livro foi feito para entreter e faz isso muito bem.