Camille.Pezzino 12/03/2018
EM QUE LUGAR ESTÁ CHRISTINA?
Eu sou um tipo de leitora muito crítica, não somente com a obra, mas comigo mesma. Antes de começar essa resenha, eu quero deixar claro que nem sempre nós, os leitores famintos, temos capacidade de entender uma história, seja parcial ou completamente. Eu, particularmente, não me senti capaz de compreender toda a profundidade abordada por Mircea Eliade em Senhorita Christina.
Ao contrário de muitos leitores que, quando leem uma história que não compreendem, passam a falar mal da obra e do autor, eu sou uma pessoa que para muitíssimo para refletir as minhas leituras, sempre me questionando de quem é a culpa pela experiência não ser a melhor ou a mais agradável. Obviamente, depende muito: há escritores que pecam em estrutura, enredo, personagens; há aqueles, no entanto, como é o caso de Mircea, que se aprofundam tanto em planos narrativos e existenciais de sua trama, inclusive intrínsecos e entrelaçados na estrutura narrativa, que fica muito difícil captar completamente a essência.
Eu me perdi dentro de Senhorita Christina e isso foi muito bom e muito ruim ao mesmo tempo. O fato de eu me perder me lembra de como é boa a sensação de não enxergar a resposta à frente imediatamente e como eu ainda preciso crescer. A parte ruim é que fica muito difícil falar sobre; porém, ainda é prazeroso, porque, caminhando lado a lado com esse texto, eu vou falar das minhas impressões - corretas ou não - sobre o que eu consegui adquirir e experienciar com Christina e os outros personagens.
Comecemos citando que a obra está escalada entre o gótico e o erótico. A trama foi considerada pornográfica por muito tempo, o que trouxe um apagamento e uma opressão muito forte, contribuindo para que essa trama não fosse muito conhecida; embora sua datação (1936) seja próxima a obras famosas do gênero, como é o caso de Drácula (1897) e Carmilla (1872).
Além de beber como uma inspiração de certa forma dessas narrativas, Mircea trouxe uma paixão avassaladora e também uma perigosa relação entre os personagens presentes em diversos planos distintos entre si. Senhorita Christina, na tradução, ficou conhecida como vampira, mas, em verdade, ela é um strigoi.
Essa criatura, o strigoi, faz parte do folclore romeno e é, de certa maneira, considerada uma variação de vampiro para muitos pesquisadores e até mesmo amantes da área. Contudo, para entender bem a criatura que é Christina, acredito eu, traduzir como "vampiro" faz perder e muito a conotação pretendida pelo autor; e limitá-la a um vampiro, em uma concepção moderna como a nossa, também.
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