Juluzsg 20/07/2023
Jesus, o homem
Quando comecei a ler essa história, eu acabara de sair de outra história com uma narrativa bíblica (Memnoch da Anne Rice), então eu estava um pouco cansada do assunto. Mesmo assim decidi que iria seguir em frente.
Também ressalto que não tinha muita expectativa por que, em primeiro lugar, nunca li nada do Saramago, e em segundo lugar porque a história de Jesus conheço desde criança. Porém, já adianto que esse livro me surpreendeu.
Primeiro o autor nos leva a vida de José e Maria os apresentando como personagens e também outros que serão importantíssimos no futuro. Mesmo com os defeitos é difícil não se apegar aos dois, principalmente a José e então sofrer pelo fim da sua história e pelo fim inevitável que se desenha para seu filho.
Saramago, então, passa a dar muita ênfase no encerramento da história do pai e como isso corrói a relação familiar na casa de Jesus, situação que trará muitas consequências na frente. Cabe destacar que aqui já se desenha o Deus de Saramago.
Não minto que a relação entre Jesus e Maria me machucou um pouco, por eu ser uma pessoa que cresceu católica e que sempre admirou Maria. Então já imagino que o Saramago deve ter sido muito criticado aí pela igreja. Entre muitas razões por ele ter coragem de escrever essa Maria.
Quando Jesus entra na vida adulta, o autor começa a correr, mas no sentido de não dar enfase nessa parte da história que é meio que conhecida de todos e já está escrita na Bíblia. Quando comecei a ler, pensei que ele traria sua história mais para essa parte, mas ele desenvolve bem seus personagens antes de chegarmos aqui. Então quando Jesus é adulto a história já está muito bem construída.
Já perto do final, Saramago apresenta Deus mais de perto e podemos concluir que o Deus dele não é de paz e amor, e sim, está mais para adoração e guerras. Esse Deus não surpreende nada pela construção do texto, só que já começa a te deixar apreensivo pelo final que todos já sabem.
O fim chega como uma pedrada. Pai e filho, então, encontram o seu destino. Em poucas páginas todas as peças se amarram, e esse homem/personagem que você aprendeu a amar nessas páginas finalmente se despede pela crueldade divina.
Saio daqui concluindo que não é apenas mais uma história bíblica, mas um enredo que dá personalidade a esses personagens e te levando a criar outro tipo de laço com eles. Foi para mim uma surpresa bem-vinda.
Recomendo demais essa leitura, principalmente ouvindo "Chemtrails over the Country Club", álbum da Lana del Rey. Não vou mentir, é meio que uma viagem.