Carol 06/07/2022
“Saramago é para leitores fortes.”
No texto, assim como nos outros livros de Saramago, é comum tropeçar em parágrafos densos que incluem diálogos separados apenas por vírgulas quando duas ou mais pessoas falam, todos amontoados em grossos blocos de páginas que se prolongam para sempre. Esse é um traço de Saramago, algo que o separa de todos os outros autores. Entretanto, com o desenrolar da trama, o leitor vai se acostumando com a escrita.
Além da dificuldade de acompanhar a escrita, este livro provavelmente será um grande desafio para quem mantém - e não quer abrir mão - uma leitura muito tradicional e ortodoxa dos evangelhos tradicionais. De fato, não é para qualquer leitor. Ateu, Saramago foi criticado, perseguido e proibido pelo governo português de concorrer ao Prêmio Europeu. Com extrema perspicácia e um profundo conhecimento acerca das escrituras, Saramago brilhantemente faz uma releitura a história mais famosa do mundo em uma outra perspectiva, em que Jesus Cristo é humano, feito de carne e osso. Assim como nós, está sujeito a falhar, “pecar”, ter relação carnal e sentir tudo o que é possível.
A reviravolta por trás da morte final de Jesus foi um gancho engenhoso que me deu arrepios por horas. Li em dois dias, não conseguia parar de ler e, quando terminei, fiquei tentando absorver tamanha complexidade durante toda a semana. É uma obra-prima excepcional, arrisco dizer que o melhor romance que já li.
Livro colossal e visceral, cheio de significados, simbolismos e inversões de arquétipos GENIAIS ao longo da obra. Na releitura de Saramago, é a desumanidade de Deus que precisa do perdão da humanidade. Metáforas e críticas camufladas ao machismo e religião.
Não é uma leitura que recomendo a todos, mas acredito ser fundamental para questionar algumas “verdades absolutas”. Duvidar, questionar, pensar por si próprio, é o primeiro passo para abrir o caminho da verdade.