Todos os belos cavalos

Todos os belos cavalos Cormac McCarthy




Resenhas - Todos os belos cavalos


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Hannah Monise 13/04/2024

Faroeste, travessia de fronteira, cavalos, romance e prisão
Na minha primeira vez lendo Cormac McCarthy, já não posso dizer que foi uma leitura fácil, pois realmente não foi. O livro é uma mistura de faroeste, com travessia de fronteiras, trabalho com cavalos, romance, prisão...

Dois amigos, John e Lacey, decidem fugir de casa e atravessar a fronteira do Texas, E.U.A. para o México. E aí então eles passam por muitas coisas durante essa travessia feita a cavalo, como risco de vida, amadurecimento e, mais para frente, um romance entre John e Alejandra.

Ao mesmo tempo que foi uma leitura bem ok, que dava para avançar rapidamente, também me dava um pouco de preguiça de continuar por ser uma história que não me despertava tanto o interesse. Em alguns momentos, o livro é um pouco enfadonho também, mais lento. Porém, foi de 8 a 80 muito rápido! A prisão deles deu um gás e deixou mais interessante, e aí amei as partes política, histórica e romântica.

Então temos desde cenas fáceis de ler a outras extremamente descritivas, que fazem com que a leitura fique cansativa em certos momentos. Apesar disso, ainda bem que persisti e finalizei! É um livro muito interessante e bem escrito. Vale a pena a tentativa da leitura pra quem gosta de livros mais "cults" e calmos, mais puxados para clássico.

"Muito antes do amanhecer eu sabia que o que tentava descobrir era uma coisa que sempre soubera. Que toda coragem era uma forma de constância. Que era sempre a si mesmo que o covarde abandonava primeiro. Depois dessa todas as outras traições eram fáceis." (76%)
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Javalis de Chernobyl 01/02/2024

"Pensou que na beleza do mundo havia um segredo oculto. Pensou que o coração do mundo batia a um custo terrível e que a dor do mundo e sua beleza moviam-se numa relação de equidade divergente e que nesse déficit invertido o sangue das multidões podia em última análise ser cobrado pela visão de uma única flor."(pág.263)

Releitura após 5 anos. Li este livro pela primeira vez em 2019. Agora tenho mais bagagem literária, historiográfica, de escrita, de vida, e da própria obra de McCarthy, tendo já lido alguns livros mais conceituados dele antes de revisitar Todos Os Belos Cavalos.

A narrativa do livro conta a história de dois amigos desiludidos com a vida transitória entre os "bons e velhos dias" do Oeste e a veloz modernização da sociedade americana. Ambos resolvem fugir de suas casas e atravessar a fronteira do Texas com o México e ver o que os espera da vida ao sul do Rio Bravo.
As dificuldades da vida são recorrentes nas entrelinhas do livro, ao passo que elas é o que moldam os garotos à aos poucos se tornarem homens maduros. A violência e a pobreza, consequências do embate entre civilização e barbárie na fronteira mexicano-americana, é parte essencial do cenário.
A história se passa entre os anos 40 e 50, não mais sendo o cenário do "velho oeste" mas ainda assim vemos um cenário completamente estagnado na sua localização espaço-temporal. O próprio fato desse livro ser o primeiro da chamada "Trilogia da Fronteira" mostra como esse cenário é importante pra gente compreender a trama e tudo que orbita em torno das ideias do livro.
A escrita de McCarthy como sempre é muito dura e direto ao ponto, sendo uma narrativa rápida e as vezes até corrida. Porém, a beleza poética por trás de seu texto é o que da vida pro cenário desolador que ele descreve. Como em toda obra de McCarthy, chega determinado ponto onde a violência cobre todo o cenário e paira sobre a cabeça dos personagens como uma entidade quase que com vida própria. A história do menino assassino Blevins, fugido de casa pra escapar de um padrasto violento, que acaba por atravessar a fronteira, é um exemplo disso. A ingenuidade dos garotos também é representada como um mal, num mundo onde a violência é a lei que prevalece.
Os cavalos, ao meu ver, representam muitas coisas no livro. Pros garotos, os cavalos são sua conexão com o passado, com a vida que almejam ter, com as convenções que aquela sociedade atribui à "masculinidade" dos antigos colonos que conquistaram a terra na base da força. Também é a relação de poder entre homem e natureza e também o status (Hector Rocha y Villareal demonstra sua riqueza com a variedade e quantidade de seu gado). A vida das pessoas no campo não seria nada sem seus cavalos.
Ao meu ver, o protagonista John Grady Cole é a representação do excepcionalismo americano. O americano ingênuo que vai pra um país estrangeiro e se enxerga acima da violência, que quer os prêmios (a filha do fazendeiro, os cavalos) e cuja teimosia o impede de enxergar a razão, colocando a sua vida e dos outros em risco.
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Anthoni.Brunetto 18/12/2023

Todos os belos cavalos
Primeiro livro da trilogia "A fronteira".
O romance combina elementos do velho oeste tardio com uma prosa poética e uma reflexão profunda sobre a natureza humana.

A história se passa no final da década de 1940, no Texas e no México, e acompanha a jornada de John Grady, um jovem de 16 anos que decide deixar sua vida no rancho da família ao descobrir que a propriedade será vendida para se aventurar em busca de liberdade e autodescoberta.

Ao lado de seu amigo Lacey Rawlins, eles partem em uma jornada a cavalo em direção ao México, onde esperam encontrar um estilo de vida mais autêntico e emocionante.

Ao longo da narrativa, McCarthy nos apresenta uma visão crua e realista do Oeste americano, retratando a dureza da vida no campo, a violência e a brutalidade que permeiam a região. O autor descreve com maestria as paisagens áridas e desoladas, criando uma atmosfera melancólica e sombria que reflete o estado de espírito dos personagens.

E enquanto tudo se desenrola, enquanto pessoas vão presas, se matam e buscam vingança, os cavalos, que dão título ao livro, continuam sendo cavalos.
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Jão 09/12/2023

Fenomenal
A primeira experiência lendo Cormac foi com ?Onde os velhos não tem vez? por causa da adaptação maravilhosa para o cinema. De cara tive a estranheza com a escrita dele, mas com a leitura fui me adaptando e entendendo.

?Todos os belos cavalos? é meu segundo contato com o autor e agora, mais familiarizado com sua escrita a experiência foi muito mais impactante. É um deleite apreciar as descrições que ele faz, você se sente presente ali na cena. Esse livro em especial me lembrou muito as histórias contadas pelo meu avô quando mais jovem viajando pelo interior do Brasil, mais ou menos na mesma época em que o livro se passa.

Com um enredo simples e ao mesmo tempo profundo, você acompanha dois jovens frustrados com suas vidas e que decidem partir para o desconhecido montados em seus cavalos, e a descoberta deles de um mundo muito maior é muito mais cruel do que conheciam até então.
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Mathias Vinícius 30/08/2023

Um comentário sobre: Todos os Belos Cavalos
Antes de falar sobre o livro, gostaria de compartilhar como cheguei até ele. Durante minha infância, nunca tive interesse para a temática do velho oeste. Sempre achava chato e meio que sem sentido um bando de gente andando a cavalo no deserto, com o sol sob suas cabeças, tiros de revólveres para todos os lados, animais de carga indo e vindo, além de outras características comuns, como chapéus de cowboy, selas e laços, e pessoas vivendo suas vidas pacatamente, ora correndo atrás de bandidos, ora sendo os mesmos.

Existe um elemento particular que me faz esquecer que um dia eu já desgostei dessas coisas: a memória afetiva. Ela vem e me faz lembrar do meu avô Luiz.

Que melhor pessoa para personificar um pacato cidadão de um lugarejo que seu Luiz? Meu avô era esse homem. Nascido na roça, na Usina Santa Maria, com uma família grande de 7 irmãos e indo trabalhar em casa de família desde os 7 anos. Como eu poderia não gostar de algo que meu avô viveu? Talvez por conta de minha tenra idade, eu não poderia compreender aquilo. Mas hoje, com meus 26 anos e tendo sido privilegiado por ter passado dias incríveis ao lado dele, eu posso dizer que eu consigo entender porque toda a ideia de velho oeste agradava o meu avô.

Mas a história aqui não é sobre o meu avô, embora ele mereça todos os créditos por ter ao menos insistido em me fazer assistir aos filmes de bang-bang com Clint Eastwood, Marlon Brando, Viva Zapata, Por um Punhado de Dólares, ou quando, da vez em que eu estava tocando violão na varanda de casa, ele chegou e ficou todo empolgado ao me ver tentar tirar a música House of the Rising Sun, mas que eu ainda acho que ele estava confundido com alguma música do Andorinha Barbosa ou do Francisco Alves.

Ah, meu avô, como você faz falta em horas assim, para que eu pudesse curtir esses filmes, músicas e livros com você! Infelizmente, minha imaturidade não me deixava entender sobre essas coisas, mas agora corro atrás desses momentos perdidos. Quando escuto as músicas do seu tempo, meus olhos ficam marejados e recordo das boas lembranças que vivi com você.

Dito essas palavras, vamos ao livro.

No mês julho eu estava jogando Red Dead Redemption 2 (SOBRE JOGO: seguimos na pele do fora-da-lei Arthur Morgan e do bando de Van der Linde, liderado por Dutch Van der Linde. O enredo gira em torno das tentativas do bando de sobreviver em um mundo em rápida transformação, à medida que a era do banditismo dá lugar à modernização e à lei. Lealdade, família, honra e moralidade são alguns dos temas abordados em meio a um cenário de terra e assaltos, fugas e conflitos internos.) e concluindo o jogo, eu estava mais que imerso dentro daquele universo e não queria abandona-lo.

Comecei a ir em busca de livros que tivessem semelhança com a história do jogo e depois de pesquisar cheguei no autor Cormac McCarthy, um dos autores norte-americanos mais famosos do século XXI. Conhecido pelos livros Meridiano de Sangue (1985), Onde os Velhos Não Têm Vez (2005), A Estrada (2006) e a trilogia da planície, com os livros: Todos os Belos Cavalos (1992), A Travessia (1994) e Cidades da Planície (1998). Tendo muitas opções para poder conhecer esse autor, acabei decidindo ir pelo que eu achei ter o enredo mais próximo do que eu esperava, Todos os Belos Cavalos.

A narrativa acontece no ano de 1949 com John Grady Cole, um jovem de 16 anos que acabou de perder o avô e vê a eminente venda da fazenda família onde vive. Revoltado com essa situação, Lacey Rawlins, seu amigo de infância e braço direito, ambos decidem em fugir daquele local e para uma jornada a cavalo pelas planícies áridas do sul dos Estados Unidos até o México, uma forma de autodescoberta por parte dos garotos. Além de ir ao encontro com o mais perigoso e forte dos sentimentos que o ser humano pode ter, o amor, com uma jovem mexicana, Alejandra, que também não consegue compreender porque precisa seguir com rigor os dizeres da mulher daquela época. McCarthy conseguiu me fazer mergulhar naquela paisagem desértica alaranjada que imaginamos quando se trata daquela região de fronteira do Texas com o Mexico. Não sei dizer se eu me fiz um quarto cavaleiro acompanhado os garotos, vê-los fazendo as descobertas de como o mundo não é morango, me fez lembrar quando eu comecei a trabalhar aos 19 anos. Não foi fácil e eu acredito que nem era para ter sido, mas das muitas situações que passei, assim como John, Rawlins e Blevins(não quero falar muito sobre ele, mas ele é importante para trama) elas foram importantes para o amadurecimento de cada um. “As cicatrizes têm o estranho poder de nos lembrar de que nosso passado é real. Os acontecimentos que as causam jamais podem ser esquecidos, podem?”

Mas o que me chamou mais atenção no livro é como o elemento que está sempre presente em cada uma das empreitadas narradas ao longo romance tem importância, o Cavalo e a Morte. O que seria das daquelas pessoas se não tivesse esse animal? O que seria do ser humano se o cavalo nunca tivesse se tornado um animal domesticado? De nada seriamos, eles são parte vital para toda transição ao longo das grandes porções de terra, nas guerras eles foram essenciais para as vitórias, além de servirem de companheiro para o cavaleiro ao longo de uma vida. A sua ligação é única, “as almas dos cavalos refletem as almas dos homens muito mais do que supõem os homens e que os cavalos também adoram a guerra. Os homens dizem que só eles aprendem isso mas ele disse que nenhuma criatura pode aprender o que seu coração não tem capacidade de conter[...] Disse que se a pessoa entendesse a alma do cavalo entenderia todos os cavalos que já existiram.”

Ainda sobre a morte, tema que somos apresentados no primeiro paragrafo do romance e vai nos acompanhar até o final do livro é importante para ser como um combustível que move o protagonista para uma nova direção em relação a sua vida. O psicanalista Jung considerava que a vida e a morte eram como rivais, mas sim como aspectos complementares da travessia humana que se configuram na jornada, perdas e ganhos diários, nos ritos de passagem, entre outros símbolos que metaforizam a morte como símbolo de finitude e renascimento.

Uma comparação que gostaria de abordar é a semelhança entre a trajetória de John Grady e a de outro jovem da literatura, Holden Caulfield, do romance "O Apanhador no Campo de Centeio" de J. D. Salinger. Embora à primeira vista eles possam parecer opostos em relação às suas personalidades, com John sendo idealista, romântico e de ação, enquanto Holden Caulfield é sarcástico, cínico e tenta ser um homem de lábia, suas semelhanças surgem quando ambos se sentem deslocados e solitários, buscando encontrar sentido para suas vidas por meio de jornadas de autodescoberta. John Grady parte em uma jornada física pelo México, que se transforma em uma busca interior por sua identidade e propósito. Holden, por sua vez, embarca em uma jornada emocional enquanto explora suas próprias angústias e tenta compreender o mundo ao seu redor. O profundo amor de John pelos cavalos e pela vida no campo é de certa forma similar ao valor que Holden atribui à autenticidade nas relações humanas, rejeitando a falsidade e a hipocrisia que percebe na sociedade.


site: https://www.instagram.com/um_comentario_sobre/
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Luiz E.Morais 25/07/2023

Término da leitura; 25/07/2023

Post-Its

a poeira cor de sangue soprava do sol. o pôr-do-sol sangrento como um animal em tormento sacrificial.
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Leila 06/05/2023

Todos os belos cavalos de Cormac McCarthy impressiona pela escrita singular e cativante. Embora seja um livro que pode ser rotulado como "western", o autor consegue transcender o gênero e trazer uma história emocionante, que cativa o leitor do começo ao fim.

A trama do livro acompanha a jornada de dois jovens cowboys, John Grady Cole e Lacey Rawlins, que partem do Texas em busca de novas aventuras no México, após alguns percalços e sonhos frustrados em casa. Ao longo do caminho, eles encontram diversos obstáculos e perigos, incluindo bandoleiros, guerrilheiros e traições, mas também descobrem amizades, amor e um senso de propósito.

O que mais chama a atenção na obra de McCarthy é a sua escrita intensa e poética. O autor tem um domínio absoluto da linguagem e utiliza-a de forma magistral para criar imagens poderosas e emocionantes. Cada palavra parece ter sido escolhida cuidadosamente para transmitir as emoções e sentimentos dos personagens, e a atmosfera do livro é intensa e envolvente.

Além disso, McCarthy aborda temas profundos e universais, como a busca por significado e identidade, a amizade, a lealdade e o amor. Ele cria personagens complexos e reais, que parecem saltar das páginas e ganhar vida própria. John Grady Cole, em especial, é um protagonista memorável, cuja jornada é cheia de altos e baixos, mas que acaba por encontrar a redenção e a esperança no final.

Enfim, Todos os belos cavalos é uma obra literária excepciona e embora possa não ser o tipo de livro que eu normalmente "gostaria", eu amei cada página.
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Flávia Menezes 25/04/2023

??? OS BRUTOS TAMBÉM AMAM.
"Todos os Belos Cavalos" é o primeiro livro da "Trilogia da Fronteira", publicado em maio de 1992, e de autoria do escritor norte-americano Cormac McCarthy, que na juventude serviu na Força Aérea dos Estados Unidos durante quatro anos, e ainda estudou Artes na Universidade do Tennessee. O escritor é vencedor dos prêmios "National Book Award", "National Book Critics Circle Award", recebeu um "Pulitzer de Ficção" em 2007, e ainda foi premiado com o "William Faulkner Foundation Award" em 1966 pelo seu primeiro notável romance "The Orchard Keeper".

Depois de ter começado a assistir ao seriado "Yellowstone", e de ter me apaixonado (e viciado!) pela história da família Dutton, eu fiquei à caça de um livro que trouxesse um pouco desse universo do rancho e dos cowboys, e foi aí que encontrei esse, que logo pelo título já me ganhou completamente. Afinal, para mim, não existe um animal mais belo, com toda a sua força e elegância, do que um cavalo. E por mais no escuro que eu estivesse por nunca ter lido nada escrito por esse autor, não precisei ler muitas páginas para perceber que a minha paixão por essa história seria imediata.

Curioso como em todas as minhas histórias prediletas de cowboys, sempre tem um John como protagonista: John "Jock" Ewing ("Dallas", seriado 1978), John Dutton ("Yellowstone", seriado), e agora, em "Todos os Belos Cavalos", John Grady Cole. Acho que esse nome já previa o encantamento que eu teria com essa trama, e que alegria eu fico só de saber que esse é apenas o primeiro livro de uma trilogia.

O protagonista é o último sobrevivente de uma longa geração de rancheiros texanos, e ao se ver privado de uma vida que ele acreditava que teria, parte em uma viagem para o México com seu melhor amigo Lacey Rawlings, descobrindo um país muito maior do que imaginavam, devastado e belo tanto quanto é árido e cruel, onde os sonhos são pagos com sangue.

"Todos os Belos Cavalos" é uma obra-prima de Cormac McCarthy, ambientada em 1949, e que se tornou um dos pilares da literatura americana moderna, com essa sua parábola sobre responsabilidade, vingança e sobrevivência.

Utilizando uma pontuação mais espaçada, e até mesmo substituindo as vírgulas por "e" para criar polissíndetos, McCarthy nos encanta com a sua escrita tão poética, onde somos transportados para esse universo onde o trabalho é braçal, suado, e os homens são simples, quase broncos, com suas falas sem muita enrolação, ganhando tudo na força do punho, da faca, ou da bala.

Mas mesmo com essa certa dose de violência bem sangrenta, é impressionante o que McCarthy consegue fazer aqui. Porque por incrível que pareça, essa é uma história de amor, e o romance aqui é de fazer inveja a qualquer romancista das mais apaixonadas.

Eu gosto de ver essa ideia do amor, da paixão acontecendo por um olhar tão puramente masculino. As cenas entre o jovem John Grady Cole e Alejandra possuem uma delicadeza que vem do cuidado, da atenção e da proteção que transpiram energia masculina. E eu confesso que foram partes tão gostosas de se ler, e que me conquistaram tanto. O empenho dele (John) por esse amor, e sua obstinação (e muita coragem!) em convencer a família da sua amada de que ele é digno dela, é de tocar o coração.

Nada como uma boa história de amor proibido, não é mesmo? Especialmente quando o protagonista é alguém que não desiste, e vai atrás da sua amada com tamanha gana, e tão cheio da certeza do que quer. McCarthy não ficou devendo em nada no romance, porque afinal, quem disse que os cowboys não amam? Amam sim! E por mais brutos que possam parecer, esse é um amor tão sem enrolação, tão sem discussões bobas, tão sem joguinhos... É aquele jeito simples de chegar e de apenas se estar junto. E eu preciso dizer que o jovem John sabia muito bem como demonstrar estar apaixonado, porque eu confesso que fiquei caidinha por ele!

Mas é claro que não é só de amor que se faz uma boa história de cowboys, e essa é uma trama bastante complexa de um jovem em busca de uma terra para chamar de sua. De um verdadeiro lar, que ele inicialmente acreditava ter achado em Alejandra. Mas que, por impedimento da família dela, acabou por lançá-lo no mundo, nessa contínua busca de si mesmo.

Quando a história começou, eu até me lembrava um pouco dos livros do Mark Twain, porque a amizade do John com Lacey me lembrou muito do Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Claro que em uma versão mais faroeste, mas eram aventuras de garotos sendo garotos, ainda cheios de sonhos e de uma inocência que o tempo e os acontecimentos foram levando embora.

E o interessante em McCarthy, é que ele não se empenha muito em escrever grandes acontecimentos. Ele vai nos conduzindo por essa história como se estivéssemos sentados na sela de um cavalo, cavalgando sem pressa, na simplicidade do campo, onde vamos apreciando a tudo sem pensar nos ponteiros do relógio. Apenas observando o trajeto do sol, para que a noite não nos pegue de surpresa.

Um dos momentos mais perfeitos para mim foi o da conversa de John Cole com a "abuela" de Alejandra, e todo aquele conteúdo sobre a família e suas tradições, dores e anseios. Foi uma das partes mais emocionantes, até porque era um jovem perdido de si mesmo diante toda uma árvore genealógica tão complexa, a qual não há como não se curvar, e reverenciar.

Foram vários momentos tocantes nessa história, e que até me levaram às lágrimas, porque na dureza da vida, mesmo quando tudo parece tão difícil, ainda assim, são tantos os ensinamentos, e a dor que foi provocada vai dando forma à cicatrizes que faz com que seus personagens caminhem em um amadurecimento contínuo, e nos ensine muito sobre suas vidas e seus dissabores e amores.

São tantas frases impressionantes que me tocaram, tão bem construídas e que nos levam à reflexão, que a vontade é de colocar todas aqui. Mas eu vou escolher uma para terminar essa resenha, porque a genialidade da escrita de Cormac McCarthy é impressionante e precisa ser admirada.

E eu confesso que, só de terminar essa resenha, já quero mais dessa trilogia, e sei que logo embarcarei em "A Travessia", porque estou ansiosa para mergulhar novamente nesse universo simples, mas que tem um poder enorme de nos prender e encantar.

Que livro! E que achado!??

"Eu nunca fora estimada daquele jeito. Que um homem se colocasse naquela posição. Eu não sabia o que dizer. Naquela noite fiquei pensando por muito tempo e não sem desespero no que ia ser de mim. Queria muito ser uma pessoa de valor e tinha de me perguntar como aquilo seria possível se não houvesse em nossa vida alguma coisa como uma alma ou um espírito que pode suportar qualquer infortúnio ou desfiguramento e ainda assim não ser diminuída por isso. Se quiséssemos ser pessoas de valor esse valor não podia ser uma condição sujeita aos azares da sorte. Tinha de ser uma qualidade imutável. Houvesse o que houvesse. Muito antes do amanhecer eu sabia que o que tentava descobrir era uma coisa que sempre soubera. Que toda coragem era uma forma de constância. Que era sempre a si mesmo que o covarde abandonava primeiro. Depois dessa todas as outras traições eram fáceis".
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Fabio 27/04/2023minha estante
Sei que andei meio sumido, mas não podia deixar de passar aqui
Para dizer o quanto está Resenha está belíssima.
Parabéns por mostrar o quão rico é este mundo do Oeste Americano, e seus histórias apaixonantes!
Adorei!
Seu fã, sempre!


Flávia Menezes 27/04/2023minha estante
Gostou de verdade? Olha?foi meu primeiro livro de cowboys! Ainda não tenho conhecimentos desse mundo como você tem! Mas espero que eu tenha conseguido te incentivar a colocar esse na sua listinha de clássicos para seu pós-King!
Ass.: sua eterna fã!


Fabio 27/04/2023minha estante
Pode deixar que já coloquei na lista!


Marcelo Rissi 30/04/2023minha estante
Suas resenhas são excelentes! Você escreve muito bem! Parabéns!!


Flávia Menezes 30/04/2023minha estante
Muito obrigada, Marcelo!




Bruno 02/04/2023

?Na escola estudei biologia. Aprendi que ao fazerem as experiências os cientistas pegam um grupo - bactérias, camundongos, pessoas - e o submetem a certas condições. Comparam os resultados com um segundo grupo que não foi incomodado. O segundo grupo é chamado de grupo de controle. E o grupo de controle que possibilita ao cientista avaliar o efeito da experiência. Julgar o significado do que ocorreu. Na história não há grupos de controle. Não há ninguém para nos dizer o que poderia ter sido. Choramos pelo que poderia ter sido, mas não existe o poderia. Nunca houve. Supõe-se que seja verdade que os que não conhecem a história estão condenados a repeti-la. Não creio que o conhecimento nos salve. O que é constante na história é a ambição e a tolice e o amor ao sangue e isso é uma coisa que ate mesmo Deus - que sabe tudo que se pode saber - parece impotente para mudar.?
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Samuel920 06/01/2023

Vai lá na alma
Comarc macarthy é um escritor que usa o mínimo de pontuação possível em seus textos. Macarthy usa pouquíssimas vírgulas, dispensa ponto e vírgula e não usa travessões pra marcar as falas dos personagens. O resultado é uma escrita primorosa, repleta de polissíndetos, com frases e diálogos diretos e certeiros.

John Grady cole é o último descendente de uma família que possui uma fazenda no texas,em San Angelo. Seu maior sonho era poder ficar na fazenda e tocar sua vida nela ao lado dos cavalos e da natureza. Quando vê seu seu sonho tirado de si,resolve partir para a fronteira em busca de trabalho e aventuras.

A relação que nosso protagonista tem com os cavalos é de uma beleza, de uma força, de uma magnitude que faz qualquer um se sentir naquele mundo, onde as imensas pradarias domimam as paisagens, trazendo um amálgama entre o homem, cavalos e natureza.

O livro é belo e brutal ao mesmo tempo.Tudo é Belo, mas o destino é brutal.É incrível como o autor consegue transmitir todos os sentimentos dos personagens,apenas com diálogos simples e,muitas vezes,com silêncios.
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whendovescry 03/01/2023

Tinha mais expectativa
é legalzinho mas toda cena do protagonista com o interesse romântico dele era chaaaata, larguei no final pq encheu o saco
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Debora956 19/11/2022

Livro de presente
Ganhei esse livro de um amiga da época da sétima série. É dividido em apenas quatro longos capítulos sem introdução ou posfácio e é o primeiro de uma trilogia. O autor é bem detalhista nas descrições e não usa travessão ou aspas para indicar os diálogos, deixando a leitura um pouco confusa mas depois se acostuma. O livro é ambientada no final da década de 40 e conta a história de um jovem de dezesseis anos, que decide ir até o México com seu primo. O jovem se chama john e é o último da linhagem de rancheiros do Texas. A Fazenda é vendida pela mãe e o pai é desempregado, com isso, john e seu primo Rawley viajam para o México a cavalo, trabalhando nas fazendas por onde passam. Lembrei do documentário "sob rédeas soltas" no netflix (não tem mais), onde um grupo de vaqueiros saem da fronteira do México e vão até a fronteira do Canadá, atravessando os Estados Unidos a cavalo. No México, John e Rawley trabalham domando cavalos selvagens que serão usados nas fazendas, e fora dos Estados Unidos, os dois amigos tem que sobreviver para se manterem. O início do livro começa arrastado, mas depois a leitura se solta e fica rápida sem atropelamento por parte da narração, diálogos e situações dos personagens. Só parei de ler quando as paginas acabaram. A trilogia continua em "a travessia" e finaliza com "a cidade das planícies".
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Ale 03/10/2022

Um romance ao estilo faroeste, mas muito belo e profundo.
Uma busca por sentido.

Gostei muito. Muito, muito bom!!!
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Túlio 28/07/2022

Obrigado
Obrigado C.M. por escrever um livro tão belo e profundo ??! Te amo muito livrinho!! Diálogos curtos, afiados. Prosa belíssima. Incrível.

Obrigado C.M.
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Marcus.Vinicius 28/05/2021

Reverência aos EUA selvagem
Narra a história do jovem John Grady Cole, integrante de uma família de rancheiros texanos que, após a morte de seu avô e a venda do rancho da família parte sem destino, acompanhado do primo Lacey Rawlins, em busca de seu destino e identidade. No decorrer do livro, acompanhamos os jovens em diversas aventuras, onde ao mesmo tempo vamos notando o amadurecimento e formação dos mesmos, especialmente do protagonista. Por fim, entendo que o autor tinha em mente fazer uma homenagem ao homem americano do oeste, o cowboy, bem como a toda a beleza selvagem dos EUA, principalmente vista na figura dos cavalos selvagens. Os parágrafos são longos e McCarthy não usa muito as vírgulas, o que torna as frases bem compridas, além de descrever todos os cenários de forma minuciosa, o que requer atenção do leitor.
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