Retrato del artista adolescente

Retrato del artista adolescente James Joyce




Resenhas - Retrato do Artista Quando Jovem


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Marcia 19/09/2024

Minhas impressões sobre o livro
Uau! Que livro!
Um clássico da literatura da Irlanda que eu não conhecia: " Retrato do artista quando jovem" do escritor James Joyce.
Essa leitura foi difícil para mim, não pela escrita em si mas pela forma. Com fluxo de pensamento, o autor vai nos trazer a historia de Stephen Dedalus, desde sua infância até adulto. Vamos acompanhar o Stephen entrando no colégio jesuíta, as dificuldades em fazer amigos, em entender o método super rigoroso dos padres e os ensinos religiosos. Ele vai nos contando seus aprendizados tanto educacional como intelectual e artístico. Há um momento na escola que os óculos do Stephem se quebram e ele nao pode fazer a lição. Um padre vê e não aceita, diz que é má vontade do menino e lhe da palmatórias. Gente, essa parte é emocionante. Mas haverá uma reviravolta na história e eu gostei muito.
Outro ponto que acompanharmos é um pouco da vida familiar do Stephen, as dificuldades financeiras que o pai passa e ocasiona em mudancas de casa e depois de escola. A mudança de escola, apesar de ser inferior a primeira foi benéfica para ele.
O processo de crescimento do Stephem é muito interessante, com sua total crença na igreja católica , depois seus questionamentos, sua volta as crenças e dogmas e mais outras dúvidas.
Os pensamentos e conversas com seus amigos nos leva a muitas reflexões.
Ele quer ser poeta e encontrará dificuldades em definir seu caminho, como seguir nesse campo. Ele também recebeu convite pars ingressar no seminário. Será que ele aceitará? E a escrita, sua vontade de ser poeta? E namorar? Ha muito a ser pensado...
Não foi uma leitura fácil, precisei retornar trechos várias vezes. Há mudanças abruptas no decorrer da leitura e me perdia mas valeu a pena.
Livro publicado em 1916, meio auto biográfica é considerada uma grande obra que consagrou James Joyce num dos maiores escritores do sec XX.
Valeu!!
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afra 03/09/2024

Isso não deveria ter nota
(não acredito que se dê nota pra autobiografia, mas nesse app só da pra comentar se colocar nota)
o que eu queria falar é que esse livro é um exemplo grandioso de como a tradução é capaz de alterar a experiência do leitor.
coleciono livros da editora penguin puramente por estética, pq são raras as traduções deles que sejam realmente de qualidade. tentei 2 ou 3 vezes ler esse livro nessa versão até o dia em que tentei ler no original e me deparei com uma bela obra bem ambientada que dialoga com trauma religioso, patriotismo e família e outras coisas que nos afligem ao crescer.
procurem traduções bem feitas, descobri nesse livro uma certa riqueza a qual essa edição em particular estava me impedindo de apreciar.
matheus 14/09/2024minha estante
Gosto das traduções da Penguin




Everton Gonçalves 23/08/2024

Retrato do artista quando jovem é um romance de James Joyce, publicado em 1916, que conta a história de Stephen Dedalus, um jovem católico irlandês que rejeita a religião e os laços patrióticos para se desenvolver como artista. O livro é considerado um dos textos fundadores do Modernismo e um dos romances de formação mais importantes da literatura universal.
O livro é fortemente autobiográfico e narra as experiências de infância e adolescência de Stephen Dedalus, o alter ego do autor. O livro conta a história do processo de amadurecimento artístico e intelectual de Dedalus, que está determinado a tornar-se um poeta. O personagem aparece como um jovem em busca de identidade, seja ela artística, política ou pessoal. A experiência de Dedalus num internato jesuíta, onde conhece a teoria estética de São Tomás de Aquino, transforma-o de forma irremediável e coloca-o em contato com uma das mais belas epifanias artísticas já registadas num romance.
O livro revolucionou a literatura pelo seu estilo inventivo, uma das marcas da escrita de Joyce.

O resumo a seguir é muito bom, redigido por Luiz Guilherme no seguinte endereço eletrônico: https://www.bonslivrosparaler.com.br/livros/resenhas/um-retrato-do-artista-quando-jovem/5319. Coloco aqui, pois pode ajudar a manter na memória o enredo da obra que é excelente, mas ao mesmo tempo densa.

"Um retrato do artista quando Jovem
James Joyce foi um dos escritores mais influentes do século XX. Ele nasceu em Dublin em fevereiro de 1882. Seu pai foi aquele típico homem que havia tentado tudo na vida, profissionalmente falando. Negócios de destilaria, política e cobrança de impostos, política, mas em todas essas tentativas ele foi malsucedido. O resultado de tudo isso foi a pobreza, muito embora tentasse manter aparência de classe média.
Joyce foi educado na religião católica romana. Depois de se formar, resolveu se tornar escritor. Viajou para Paris, trabalhando como jornalista e professor. Voltou a Dublin para cuidar de sua mãe que estava muito doente. Houve um ponto de virada na vida de James Joyce que foi quando conheceu o grande amor de sua vida, Nora Barnacle. Eles se apaixonaram e seis dias depois já estavam casados. Foi no dia 16 de junho, que se tornou a data especial para ele, a data que ele usaria para a cronologia de Ulisses. O aspecto mais importante do livro “Um retrato do artista quando jovem” está no fluxo de consciência de Joyce, um estilo em que o autor transcreve diretamente os pensamentos e sensações que passam pela mente de um personagem. E esse livro é a história do desenvolvimento da mente do personagem Stephen Dedalus.
O romance começa com as primeiras memórias de Stephen Dedalus, quando ele tinha cerca de três anos de idade. As linhas fragmentadas são de uma história de infância e de uma canção infantil, e estão ligadas a associações familiares, percepções sensoriais e conversas. Na cena de abertura, Joyce nos apresenta a gênese da percepção e interpretação do futuro de um artista.
Quando passa da infância, Stephen descreve seus dias no Clongowes Wood College, um internato jesuíta para meninos. E aqui Joyce se concentra em alguns incidentes importantes que afetaram a personalidade de seu personagem. O primeiro: Stephen é empurrado para dentro de um poço aberto por um colega de classe agressivo. O segundo momento é quando ele desenvolve uma febre que o confina em uma enfermaria da escola. O terceiro é quando ele, na volta à escola, é convidado a sentar-se com os adultos à mesa do jantar. Essa é uma ocasião muito feliz em sua vida. Ele assiste a uma discussão política acalorada, o que o deixa confuso sobre as questões de religião e política no mundo adulto.
A discussão política travada na mesa da refeição prova para Stephen que o mundo adulto é tão imperfeito e cruel quanto seu próprio mundo pequeno. Ele fica ainda mais desiludido quando descobre que a comunidade clerical contém sua própria forma de crueldade hipócrita. O motivo de tamanha discussão deve-se à morte de Charles Parnell, líder do Partido Nacionalista Irlandês. Esse é um tema recorrente no livro, leia-se nacionalismo irlandês.
Quando volta à escola, Stephen acidentalmente quebra os óculos e não consegue concluir o trabalho de aula. Recebe uma punição injusta do diretor, mas depois, graças a um amigo, consegue desfazer a injustiça a que foi submetido. Graças a esse incidente, ganha uma autoconfiança saudável e acaba obtendo respeito entre os amigos de classe.
Certa vez, ao passar alguns dias em sua casa, se depara com problemas financeiros de seu pai, o que torna impossível ele voltar a Clongowes Wood, sua escola. As consequências desse problema financeiro da família fizeram-no mudar de colégio. Dessa vez um colégio também jesuíta de qualidade de ensino inferior, o Belvedere College. Nesse colégio, ele descobre a escrita e consegue se distinguir dos demais colegas, sendo inclusive premiado, isso sem contar que também se distingue como ator em sua peça de escola.
O seu crescente interesse pela literatura faz com que os seus valores religiosos entrem em xeque. As consequências se dão mediante o isolamento, intensificado por causa de uma viagem que faz com seu pai a Cork, onde descobre ainda mais coisas sobre as fraquezas do pai.
A situação financeira familiar mexe com Stephen, que sente certo enfado por Dublin. Sua fé na religião católica começa a dar sinais de colapso, e seus laços culturais começam a se perder. Certa vez, passeando pela cidade, passa por um bordel. Ele encontra um consolo momentâneo em uma prostituta de Dublin. Na época, ele tinha quatorze anos e essa foi a sua primeira experiência sexual.
Logo após ter relações sexuais com uma prostituta, Stephen Dedalus submete-se a um retiro espiritual de três dias. Durante esse tempo, a culpa e o remorso calam fundo em sua alma. Durante as homilias do retiro, Stephen acredita que o padre capuchino Arnal estava falando diretamente para ele. Acaba se confessando e como promessa resolve retomar a fé através de uma reforma moral e se dedica a uma vida de pureza e devoção. Para isso ele se dedica a serviços religiosos. Os diretores da escola, vendo o envolvimento espiritual de Stephen, propõem que ele entre no sacerdócio.
Apesar de pensar sobre essa possibilidade, Stephen ainda se sente atormentado pelos desejos carnais. Por saber que tinha uma natureza pecaminosa inerente, ele rejeita o convite da vocação religiosa. Quando entra na universidade, entende que pertencia a uma outra estirpe e decide moldar o seu destino sendo um artista. Sua decisão de abandonar uma vocação religiosa o faz perceber que agora ele é livre − livre para perseguir os prazeres da vida através da arte.
Naquele dia, Stephen descobre com sua irmã que a família se mudará − mais uma vez por razões financeiras. Ansiosamente aguardando notícias sobre sua aceitação na universidade, Stephen vai dar um passeio na praia, onde observa uma jovem caminhando à beira-mar. Ele fica impressionado com a beleza dela e percebe, em um momento de epifania, que o amor e o desejo de beleza não devem ser uma fonte de vergonha. Ele resolve viver sua vida ao máximo e promete não ser restringido pelos limites de sua família, nação e religião.
Stephen se muda para a universidade, onde desenvolve uma série de amizades fortes e é especialmente próximo de um jovem chamado Cranly. Em uma série de conversas com seus companheiros, Stephen trabalha para formular suas teorias sobre arte. Enquanto ele depende de seus amigos como ouvintes, ele também está determinado a criar uma existência independente, liberada das expectativas de amigos e familiares. Ele se torna cada vez mais determinado a se libertar de todas as pressões limitantes e, eventualmente, decide deixar a Irlanda para escapar delas. Como seu homônimo, o mítico Dédalo, Stephen espera construir asas sobre as quais ele possa voar acima de todos os obstáculos e conseguir uma vida como artista.
Na sua vida universitária, Stephen apresenta-se como uma pessoa antissocial e mais preocupado em formar um pensamento do que seguir o pensamento alheio, principalmente o pensamento político. Ele é mais introspectivo, resiste ao pensamento patriótico cego, muito embora continue respeitando a fé católica. Através de conversa com amigos e um professor, Stephen desenvolve sua própria teoria estética da arte baseada na teoria de Aristóteles e Tomás de Aquino. Stephen propõe que o bem é o que deve ser desejado, e o verdadeiro e o belo são os mais persistentemente desejados. Embora Stephen admita que o que é belo para uma pessoa pode não ser belo para outro, ele enfatiza a beleza universal. Por fim, ele explica o momento em que o indivíduo compreende e aprecia essas qualidades de um objeto de arte, o que a sua beleza proporciona ao observador uma experiência espiritual que tem sido referida como “o encantamento do coração”.
Stephen conclui que o dever do verdadeiro artista é afastar-se de sua criação completa e permanecer "indiferente" a ela, permitindo-lhe viver uma vida própria.
Em “Retrato do artista quando jovem”, o leitor aprende através das experiências particulares de Stephen Dedalus como um artista percebe o seu entorno, entendendo como suas visões sobre a fé, família e país frequentemente entram em conflito com as prescritas para ele pela sociedade. Como resultado, o artista se sente distanciado, é mal interpretado por outros como a atitude orgulhosa de um egoísta. Assim, o artista, já se sentindo isolado, está cada vez mais consciente de um certo isolamento social.
Os impulsos sexuais de Stephen o confundem. Ele é jovem, inteligente, sensível e eloquente, mas também possui sentimentos sexuais urgentes, dúvida e insegurança – todas as emoções universais que são experimentadas durante o percurso de sua adolescência. James Joyce revela esses tumultuosos sentimentos adolescentes através de uma técnica de narrativa chamada fluxo de consciência. Leva-nos para o mundo consciente e subconsciente, mostrando-nos as realidades objetivas e subjetivas de uma determinada situação. Para isso, ele usa Stephen Dedalus para nos ajudar a explorar as profundezas do coração humano.
O romance é narrado, na maior parte, no ponto de vista onisciente e obedece à forma lírica e épica de expressão e também ao modo dramático. Os pensamentos, associações, sentimentos e linguagem de Stephen (tanto cerebrais como verbais) servem como uma trilha que o leitor percorre com Stephen Dedalus sobre a dor, os prazeres da adolescência, bem como as experiências emocionantes de descobertas sexuais, intelectuais e espirituais.
As experiências estéticas de Stephen Dedalus ganham um componente próprio a partir da experiência católica de Joyce, quando Stephen de repente entende a natureza de uma coisa através de uma ideia, uma palavra, uma situação – estão associadas a uma revelação. Joyce chama esses momentos de epifanias.
Essas epifanias de Stephen aparecem através de imagens, sons, lembranças, cheiros, toques − tudo isso ganha uma ênfase. Outros temas se encontram no romance, como o nacionalismo irlandês e o catolicismo, que tentam obscurecer a sua vida literária. A escolha do sobrenome Dédalos tem a ver com o mito de Dédalo e Ícaro. Dédalo, o arquiteto que projetou um labirinto elaborado no qual o rei planejava confinar o monstruoso Minotauro. Por uma má sorte acabaram presos no labirinto do qual foram forçados a inventar. Precisam sair dali. Stephen Dédalos precisa fugir de Dublin.
Assim como o seu homônimo mítico Dédalo – “o grande artífice”, Stephen está preso em um labirinto que consiste nos caminhos feitos pelos outros, como família, religião e nação. Ele sabe que ao seguir os caminhos dos outros não haverá saídas, não haverá satisfação. Existem várias saídas falsas do labirinto, momentos que Stephen se sente exaltado e livre, mas nenhuma é a rota de fuga. No final do romance, Stephen está subindo imaginativamente – fugindo da Irlanda para um futuro de liberdade artística irrestrita.
“Um retrato do artista quando Jovem” é considerado um exemplo romance de formação, que descreve uma história da educação e crescimento intelectual de um jovem. Podemos ver que ao longo de sua vida sempre cultivou um espírito independente, sempre fiel aos seus princípios e aos seus instintos artísticos. Para isso, ele tem que romper com a família, cultura e a religião. Ele deve criar algo a partir da sua história pessoal, de sua própria experiência de vida, e estes devem estar em conformidade com a sua definição de beleza. Ele sabe que qualquer influência o afastará do verdadeiro chamado e é seu dever resistir ao que vem de fora, focar em si próprio e nos seus próprios valores. Stephen está preparado para se exilar e viver a sua experiência artística solitariamente."
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Thaiscondida 08/07/2024

Uma grande bizarrice
Ah o jovem traumatizado pela religião..... o Joyce em algumas horas é enfadonho e constrói cenas que não fazem sentido e ficam flutuando por aí, mas há as partes que ele escreve com a alma fervendo, nós podemos sentir essas partes, podemos distinguir perfeitamente quais são, as palavras começam a quase brilhar no papel, esses momentos valem pelo livro todo
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Bruna522 31/03/2024

Não foi pra mim
Meu primeiro livro do autor. Queria muito ter gostado, mas foi uma leitura muito entediante pra mim e pensei em abandonar várias vezes. Parece que o livro sai do nada e chega a lugar nenhum.

Isso tudo porque esse ainda é um dos mais fáceis de James Joyce. Não sei se um dia voltarei a ler algo dele, embora tenha muita curiosidade.
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3.0.3 11/03/2024

Stephen Dedalus e a fuga do labirinto
“A sua linguagem, tão familiar e tão estrangeira, será sempre para mim uma língua adquirida. Nem fiz nem aceitei as suas palavras. Minha voz segura-as entre talas. A minha alma gasta-se na sombra da sua linguagem.”

Um retrato do artista quando jovem (1916), de James Joyce (1882-1941), narra a perda de uma vocação sacerdotal e o alvorecer de um chamado artístico. Considerada uma obra quase autobiográfica, o livro capta a mente de Stephen Dedalus de forma eficaz, descrevendo a jornada de um artista através de seu eu. Nela, Dedalus tenta alcançar as coisas que mais importam, enquanto busca encontrar seu lugar no mundo. O romance acompanha Stephen Dedalus em seus anos de formação e aprendizado no final do século XIX na Irlanda. A narrativa nos brinda com cenas sobre a sua família – dividida entre o catolicismo ortodoxo e o movimento nacionalista irlandês –, sua criação no internato Clongowes Wood, a educação dada pelos jesuítas em Belvedere College, os anos na University College Dublin e, finalmente, sua decisão de se tornar um literato.

Percebemos que Dedalus é nitidamente um aluno distinto, altamente dotado de atributos intelectuais, com uma predisposição inata para a poesia e uma sensibilidade artística marcante, que é complementada por sua personalidade especial e nobre. Dedalus queria deixar a vida fluir através das fendas de sua mente para peneirar sentimentos, impulsos e significados, queria encontrar o que sua alma inquieta desejava: aquele fragmento primitivo de verdade. Mas o mundo se intrometeu em seus intentos e plantou nele sementes de dúvida.

A jornada de Dedalus não é nada fácil. Seus tormentos eram muitos: as compulsões da disciplina acadêmica, os atos de selvageria dos colegas que eram despreparados para lidar com uma opinião divergente, os castigos físicos, a miséria socioeconômica cada vez mais visível, a lavagem cerebral com água benta e o medo onipresente de cometer alguma heresia a cada pensamento ou ação. Dedalus fica perplexo com seus próprios desejos sexuais. Apesar de ser sensível, articulado e inteligente, o jovem enfrenta emoções intensas e conflitantes de luxúria, incerteza e insegurança. Em alguns momentos, ele se culpa por sua vida promíscua, pecaminosa e desenfreada. Dedalus se sente acuado, acha que Deus vai castigá-lo sem qualquer compaixão e se perde em sofrimentos. Os sermões do padre Arnall sobre a morte, o julgamento e o inferno são particularmente encantadores – até mesmo Dante não conseguiria ser tão preciso e sensorial em suas descrições de escuridão, chamas e estertores intermináveis que as almas condenadas devem suportar. Ao contrário de Dante, os sermões na obra são carregados de ironia e blasfêmia. Um retrato do artista quando jovem nos lança às profundezas do coração humano narrando os sentimentos conflitantes de Dedalus por meio do fluxo de consciência – técnica que nos faz habitar os campos consciente e subconsciente, proporcionando vislumbres das realidades objetivas e subjetivas. Essas explosões narrativas acontecem de múltiplas maneiras e com bastante ênfase: são imagens, sons, memórias, aromas e sensações táteis.

A escolha do sobrenome do protagonista está associada ao mito grego de Dédalo – artesão da cidade de Atenas responsável por construir o labirinto do Minotauro e o par de asas que deu para o seu filho Ícaro. Artista habilidoso, o Dédalo mítico acabou preso no labirinto que construiu para aprisionar o Minotauro. Assim como ele, o Dedalus joyciano também se vê preso em um labirinto construído por forças externas. Ele compreende que, ao trilhar os caminhos ditados por outros, nunca encontrará de fato uma saída ou experimentará a verdadeira realização. Ao longo da narrativa, Dedalus encontra falsas saídas do labirinto, mas nenhuma delas proporciona a fuga desejada. Assim, metaforicamente, Dedalus deseja construir um par de asas para transcender as adversidades, ultrapassar as fronteiras de Dublin e alcançar uma vida dedicada à arte.

A obra mistura várias referências literárias, filosóficas e teológicas ao cotidiano da vida irlandesa, com explosões poéticas. Ainda que Dedalus perca a fé, é evidente que sua visão sobre arte e literatura está impregnada de doutrina cristã. O livro é cheio de citações latinas, com ideias filosóficas que se referem à teologia medieval e à filosofia grega, como Tomás de Aquino, Agostinho, Aristóteles etc. Sobre isso, a obra demonstra grande erudição em relação à Poética de Aristóteles e à filosofia de Aquino, sobretudo no campo da estética. Em alguns trechos, quando trava diálogo com Estêvão e seu amigo Cranly, percebemos o domínio de Dedalus ao mencionar os atributos de beleza propostos por Aquino e ao dissertar sobre as formas dramática, épica e lírica. Sob todos esses discursos filosóficos que transbordam efusivamente, irrompe outra forma de estética, que é mais musical, sensual e rítmica.

Segundo a obra, a imagem estética dramática é a vida reprojetada na imaginação humana. O artista, na condição de Deus da criação, permanece invisível em sua obra, indiferente, refinado fora da existência. Dedalus postula que o desejo deve ser direcionado para o bem, sendo o verdadeiro e o belo os objetos de desejo mais duradouros. Embora reconheça que a beleza é subjetiva, Dedalus realça o conceito de beleza universal. Além disso, destaca o instante em que o sujeito compreende e aprecia as qualidades do objeto artístico, pois essa experiência proporciona um encantamento espiritual do coração. Dedalus conclui que a responsabilidade de um artista é distanciar-se de sua obra e agir indiferente a ela, permitindo-lhe existir de forma independente. Assim, obtemos a revelação do fluxo interno dos pensamentos, e o fluxo de consciência ditado por Joyce nos encanta e nos espanta. Quando lemos expressões, pensamentos, sensações, epifanias, é como se nós estivéssemos passando por aquilo, não os personagens.

Dedalus tentara erguer um quebra-mar contra a sórdida maré da vida para represar a recorrência estrondosa das ondas dentro de si. Inútil. Tanto de fora quanto de dentro, as águas atravessaram todas as barreiras e recomeçaram a se agitar ferozmente acima das ruínas. Durante a narrativa, acompanhamos uma personagem cuja garganta dói de tanta vontade de gritar – grito de falcão ou de águia –, de tanta vontade de libertar-se ao vento. Esse é o chamado à sua alma, não a voz desumana que o chamava ao altar, não a voz enfadonha do mundo dos deveres e do desespero. É um instante de fuga selvagem. E o grito que a sua garganta retinha fende a sua mente. A sua imagem passara para sempre em sua alma, e nenhuma palavra fora capaz de quebrar o sacro silêncio de seu êxtase. Os olhos chamaram Dedalus, e a sua alma se lançou ao chamado. Recebeu ali o anjo selvagem, um enviado para lhe abrir – num instante de êxtase – as portas de todos os caminhos do erro e da glória.

E Dedalus se rebelou e triunfou contra a embriaguez da doutrinação religiosa e contra aqueles que exigiam dele um fervor patriótico. A enxurrada implacável de catecismos que desdenhava das condições humanas não o lançou à culpa. Ele encontrou a sua santidade no amor, na beleza e na entrega silenciosa ao desejo mortal. O labirinto de iscas não conseguia mais estrangular sua ambição de escapar de seus estreitos limites. Assim, enquanto todos ao seu redor se ocupavam em buscar relevância ou prestígio social na vida, Dedalus permanecia imperturbável, pois agora aspirava ao cumprimento de um objetivo maior, tendo encontrado sua fé na legitimidade da arte e em seu poder de conferir sentido ao caos perpétuo da existência. Para recriar a vida a partir da vida – errando, caindo, triunfando e vivendo.

O apreço de Umberto Eco (1932-2016) pelas obras de James Joyce é digno de nota. Ambos receberam uma rigorosa educação católica, e, assim como as obras de Joyce, Eco enxertou em seus trabalhos diversas citações latinas e referências a padres da igreja. Em síntese, James Joyce, Umberto Eco, Jorge Luis Borges (1899-1986) e J. R. R. Tolkien (1892-1973) são alguns exemplos de autores contemporâneos com almas medievais.

Também podemos mencionar que Um retrato do artista quando jovem poderia ser lido como uma obra que segue na contramão de Confissões, de Santo Agostinho. Enquanto Agostinho expressa a sua gratidão a Deus por afastá-lo de sua juventude libidinosa e libertina e convertê-lo ao ascetismo e à religião, Joyce narra a juventude de Stephen Dedalus como um tempo de tormento moral, libertinagem esporádica, encontros românticos e breves vislumbres de alegria. Diferentemente de Agostinho, Dedalus, no final, resolve emergir sob a autoridade da igreja, desviar-se da sua família e da pátria e fugir em direção ao silêncio e ao exílio.

Cabe salientar que esse é um dos livros mais compreensíveis de James Joyce, pois, em vez de usar o fluxo de consciência ou o monólogo interior de forma desenfreada, ele opta por um estilo indireto livre, por diálogos perfeitamente construídos, por uma narração clássica em terceira pessoa e por um final com algumas datas anotadas em um diário escrito por Dedalus. Com doses poéticas de alto calibre e com a assinatura inconfundível de Joyce, Um retrato do artista quando jovem é um excelente livro. Com o passar do tempo e da leitura, Joyce se torna um escritor realmente interessante. A sua maestria literária e a sua genialidade narrativa o transformam em um artista completo.

“Vou te dizer o que farei e o que não farei. Não servirei aquilo em que não acredito mais, chame-se isso o meu lar, a minha pátria, ou a minha igreja: e vou tentar exprimir-me por algum modo de vida ou de arte tão livremente quanto possa, e de modo tão completo quanto possa, empregando para a minha defesa apenas as armas que eu me permito usar: silêncio, exílio e sutileza.”

“Fizeste que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me apavora. Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma.”
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Mylena.Esteves 06/03/2024

Autobiográfico
Romance de formação e autobiografico com Stephen Dedalus, alter ego de James Joyce. Acompanhando o livro, a gente percebe que ele sempre foi diferente, de difícil adaptação social e que foi se tornando uma pessoa extremamente solitária. Ele cresceu em uma Irlanda no auge do catolicismo e frequentou escolas católicas super rígidas e, nessa mesma época, ele viu a família perdendo status social e financeiro.
Cada vez mais solitário, ele renegou a Irlanda, se afastou da família, da religião e decidiu voar para a liberdade e abraçar a arte para tentar se encontrar.
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Michela Wakami 11/02/2024

Bom
O início do livro me agradou bastante, depois a leitura passou a ser maçante pela escrita e também pela história em si, que me agradou em partes.

Embora muitos defendam que essa história tenha sido baseado na vida do próprio autor, que seja até uma autobiografia, nessa edição da editora autêntica, temos nas notas o tradutor Tomaz Tadeu, não acreditando nessa hipótese.

Eu particularmente acho que seja sim, se não uma autobiografia, pelo menos uma história baseada na vida dele.

O Retrato do Artista quando jovem, vem antes de Ulisses, o personagem principal desse livro, vai retornar em Ulisses, não como personagem principal, mas até aonde pesquisei ele terá uma presença importante por lá.
Por isso é recomendável lê-lo antes de Ulisses.

Aqui o personagem é um artista em formação, que sente ter que romper com a religião, com seu país e até mesmo com a sua família para poder ser livre e só assim alcançar seu sonho de ser um artista completo.

Recomendo um vídeo no YouTube, aonde o professor José Monir Nasser, explica de uma forma maravilhosa o livro.
O vídeo contém a leitura do resumo do livro e explicações sobre cada parte importante de cada capítulo.
O final da narração do último capítulo tem uma explicação do professor, que sanará todas as suas dúvidas.

https://youtube.com/watch?v=T0mRI1wn2Zk&si=Bu6Nmt5BmtmOq94W
Luiz Souza 11/02/2024minha estante
Ulysses também é do mesmo jeito ele começa com um texto fácil de entender aí conforme vai passando fica bem difícil kk


Michela Wakami 11/02/2024minha estante
Luiz, eu pretendo ler Ulisses, mas confesso que com receios.?


AndrAa58 11/02/2024minha estante
Bela resenha, amiga ?


Michela Wakami 11/02/2024minha estante
Obrigada, amiga.?




Izabella.Edite 30/12/2023

Um retrato de artista quando jovem
Eu não entendi quase nada desse livro ,a escrita do james joyce e muito difícil de entender eu não vou ler um livro dele tão cedo .
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Daiane698 04/10/2023

Uma boa porta de entrada para conhecer Joyce
Um retrato do artista quando jovem, é um romance de formação, ambientado na Irlanda, onde conhecemos Stephen Dedalus, também alter ego do autor, James Joyce.
A obra tem pequenos dados autobiográficos que impõem uma riqueza imensa de aprofundamento do personagem. Stephen, é um homem atormentado pelos seus ideais, que fogem do padrão de sua época: patriotismo, religião, família; essas convenções não fazem sentido em sua vida, e o mesmo passa a acreditar somente na arte, no que o mantém elevado. Temos aqui um prenúncio de Ulysses, e mais metáforas do homem exilado, aquele que busca sua liberdade e quer viver o que acredita. Um baita romance, e diria uma boa porta de entrada para quem quer conhecer Joyce.
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AndrAa58 26/08/2023

Uma jornada intrigante na formação de Stephen Dedalus.
"Retrato de um Artista Quando Jovem" é um romance de formação que nos conduz através da evolução de Stephen Dedalus, desde sua infância até a juventude, em uma jornada de autodescoberta e transformação. Joyce conduz o leitor a explorar não apenas a trajetória do protagonista, mas também a sua própria jornada pessoal de reflexão e aprendizado.

Este livro, porém, não é uma leitura fácil, exigindo dedicação e esforço por parte do leitor. Não é destinado a todos os gostos ou épocas. Para apreciá-lo plenamente, é necessário estar disposto a investir um esforço considerável, especialmente se você não estiver familiarizado com as referências literárias que estão por toda a obra, como mitologia, passagens bíblicas, doutrina católica e o contexto nacionalista irlandês, incluindo o conflito entre católicos e protestantes. Além disso, algumas das influências de autores como Shakespeare e conceitos filosóficos são incorporadas nas entrelinhas. O livro é repleto de referências que, embora ricas em significado, podem exigir consultas frequentes a notas e fontes adicionais.

Admito que, no início da leitura, me vi interrompendo com frequência para buscar esclarecimentos em notas e fontes externas. Quase me rendi e abandonei, mas estou grata por não ter desistido. Posso afirmar que o esforço investido compensou, e muito! Desde que você esteja disposto a enfrentar esse desafio, posso assegurar que valerá a pena.

O próprio nome da personagem principal, Stephen Dedalus, já prenuncia muito sobre a obra, suas questões centrais e abordagem. "Stephen" (ou "Estevão") foi o primeiro mártir cristão, e conforme Santo Agostinho afirmou, "Se Estêvão não orasse, não haveria São Paulo." Por outro lado, "Dedalus" (ou "Dédalo") faz referência ao artista e construtor da mitologia grega. Ele foi o pai de Ícaro e projetou o labirinto que aprisionou o Minotauro. Dédalo aconselhou Ariadne sobre como salvar Teseu, mas, como punição, foi aprisionado em seu próprio labirinto, juntamente com seu filho. Ele construiu asas de penas e cera para escapar, mas Ícaro não resistiu à tentação de voar alto demais, perdendo a vida.

Em "Retrato de um Artista Quando Jovem", acompanhamos a jornada de Stephen Dedalus, desde o descobrimento de sua identidade ("Quem eu sou") até a luta para se libertar do labirinto de influências e imposições que moldaram sua visão de mundo. Desde as expectativas familiares até a pressão da educação cristã e do contexto político e social, o leitor testemunha cada fase da sua transformação.

James Joyce cria um cenário que conecta o leitor profundamente a Stephen. Ele utiliza o fluxo de consciência para alternar entre diferentes momentos da vida de Stephen, adicionando um discurso indireto livre para destacar suas reflexões internas. Às vezes, a narração assume uma perspectiva distanciada, permitindo ao leitor julgar Stephen, mas então se aproxima, defendendo suas perspectivas. Essa abordagem singular permite que o leitor não apenas analise Stephen, mas também se identifique com suas lutas, experiências e desafios. À medida que nos aprofundamos em seus pensamentos e sentimentos, a empatia se torna uma ferramenta poderosa, nos lembrando da importância de compreender as perspectivas alheias antes de emitir julgamentos.

"Retrato de um Artista Quando Jovem" não é apenas uma leitura; é uma jornada pela psique humana, pela busca de identidade e pelo embate com as pressões externas. É um mergulho no processo complexo de amadurecimento e autoconhecimento, uma experiência que nos desafia a refletir sobre nossas próprias transformações. À medida que acompanhamos Stephen Dedalus, somos confrontados com as complexidades da nossa própria formação, nos convidando a questionar, a aprender e a crescer.
Emerson Meira 26/08/2023minha estante
Que resenha gostosa! Deu mais vontade de ler agora Andréa ?


AndrAa58 26/08/2023minha estante
Obrigada. Fico feliz. Acho que você vai gostar.


Yohanzinho 26/08/2023minha estante
Nossa, você escreve muito bem. Parabéns. Me deu até vontade de ler também kakakakka


AndrAa58 27/08/2023minha estante
Obrigada Yohanzinho. Espero que goste tanto ou mais que eu ?




Luiz Souza 07/08/2023

Romance de formação
Essa foi a primeira obra que li de James Joyce um escritor de mão cheia mas que é preciso ter paciência para ler sua obra e tentar entender o que se passa na história.

O livro se trata de um dos principais romances de formação da literatura universal, no livro vamos entrar no universo de Stephen Dedalus que começa desde a infância até a fase adulta.

Ele vai para um internato religioso e já aí começa a relação do personagem ligada a religião e aos costumes cristãos de uma maneira até bem exagerada e quase fanática por sinal.

O livro tem várias passagens de fluxo de consciência uma narrativa um pouco difícil as vezes de entender o que se passa pois mistura passado e presente num parágrafo só.

No final Stephen deixa a religiosidade de lado e vira intelectual.
Vemos ele em outra obra o famoso Ulysses dizem que é um livro bem difícil kkkk.

Até a próxima leitura.
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Nicolas523 06/08/2023

"A vergonha ergueu-se do seu coração ferido e penetrou todo o seu ser."
"Retrato do artista quando jovem" é um ótimo exemplo de Bildungsroman, ou romance de formação, onde a história acompanha o desenvolvimento físico, emocional e intelectual de um personagem. Neste livro, essa jornada ganha uma camada a mais: a jornada espiritual do protagonista, além de muitos elementos autobiográficos da própria vida de Joyce.

Conhecemos, dessa forma, Stephen Dedalus, que no começo do romance possui cerca de três anos de idade. Nessa primeira fase, as linhas da história parecem mais fragmentárias, focando em percepções sensoriais e em conversas que, às vezes, o personagem ainda não é capaz de entender totalmente. Há também eventos que o marcarão profundamente no futuro ? como sempre temos traumas de infância.

Já na adolescência, teremos as descobertas sexuais de Stephen e de como elas lhe levarão ao medo da punição de Deus pelo seu pecado, transformando-o num neurótico pelo perdão divino para, logo em seguida, tornar-se um ateu. Sinceramente, é uma parte deliciosa de acompanhar. A linguagem de Joyce é riquíssima! Há certos trechos onde foi impossível para mim não ler em voz alta, saboreando palavra por palavra.

É, essencialmente, a história da formação de um artista. Podemos ver ao longo de sua vida que ele sempre cultivou um lado independente e um instinto artístico nato. Para seguir esse caminho, deve romper com sua família, religião e seu país. No fim, o personagem confirma seu destino e diz estar preparado para seguir essa via, solitariamente:

"Não servirei àquilo que não acredito mais, chame-se isso o meu lar, a minha pátria, ou a minha igreja [...] Fizeste que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me apavora. Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma."
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Bruna Peixoto 26/07/2023

A leitura foi bem arrastada. Não consegui me interessar muito pela história. O personagem divaga tanto que eu acabo me perdendo na leitura e pensando em outras coisas ao invés da leitura em si.
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