Um retrato do artista quando jovem

Um retrato do artista quando jovem James Joyce




Resenhas - Retrato do Artista Quando Jovem


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3.0.3 11/03/2024

Stephen Dedalus e a fuga do labirinto
“A sua linguagem, tão familiar e tão estrangeira, será sempre para mim uma língua adquirida. Nem fiz nem aceitei as suas palavras. Minha voz segura-as entre talas. A minha alma gasta-se na sombra da sua linguagem.”

Um retrato do artista quando jovem (1916), de James Joyce (1882-1941), narra a perda de uma vocação sacerdotal e o alvorecer de um chamado artístico. Considerada uma obra quase autobiográfica, o livro capta a mente de Stephen Dedalus de forma eficaz, descrevendo a jornada de um artista através de seu eu. Nela, Dedalus tenta alcançar as coisas que mais importam, enquanto busca encontrar seu lugar no mundo. O romance acompanha Stephen Dedalus em seus anos de formação e aprendizado no final do século XIX na Irlanda. A narrativa nos brinda com cenas sobre a sua família – dividida entre o catolicismo ortodoxo e o movimento nacionalista irlandês –, sua criação no internato Clongowes Wood, a educação dada pelos jesuítas em Belvedere College, os anos na University College Dublin e, finalmente, sua decisão de se tornar um literato.

Percebemos que Dedalus é nitidamente um aluno distinto, altamente dotado de atributos intelectuais, com uma predisposição inata para a poesia e uma sensibilidade artística marcante, que é complementada por sua personalidade especial e nobre. Dedalus queria deixar a vida fluir através das fendas de sua mente para peneirar sentimentos, impulsos e significados, queria encontrar o que sua alma inquieta desejava: aquele fragmento primitivo de verdade. Mas o mundo se intrometeu em seus intentos e plantou nele sementes de dúvida.

A jornada de Dedalus não é nada fácil. Seus tormentos eram muitos: as compulsões da disciplina acadêmica, os atos de selvageria dos colegas que eram despreparados para lidar com uma opinião divergente, os castigos físicos, a miséria socioeconômica cada vez mais visível, a lavagem cerebral com água benta e o medo onipresente de cometer alguma heresia a cada pensamento ou ação. Dedalus fica perplexo com seus próprios desejos sexuais. Apesar de ser sensível, articulado e inteligente, o jovem enfrenta emoções intensas e conflitantes de luxúria, incerteza e insegurança. Em alguns momentos, ele se culpa por sua vida promíscua, pecaminosa e desenfreada. Dedalus se sente acuado, acha que Deus vai castigá-lo sem qualquer compaixão e se perde em sofrimentos. Os sermões do padre Arnall sobre a morte, o julgamento e o inferno são particularmente encantadores – até mesmo Dante não conseguiria ser tão preciso e sensorial em suas descrições de escuridão, chamas e estertores intermináveis que as almas condenadas devem suportar. Ao contrário de Dante, os sermões na obra são carregados de ironia e blasfêmia. Um retrato do artista quando jovem nos lança às profundezas do coração humano narrando os sentimentos conflitantes de Dedalus por meio do fluxo de consciência – técnica que nos faz habitar os campos consciente e subconsciente, proporcionando vislumbres das realidades objetivas e subjetivas. Essas explosões narrativas acontecem de múltiplas maneiras e com bastante ênfase: são imagens, sons, memórias, aromas e sensações táteis.

A escolha do sobrenome do protagonista está associada ao mito grego de Dédalo – artesão da cidade de Atenas responsável por construir o labirinto do Minotauro e o par de asas que deu para o seu filho Ícaro. Artista habilidoso, o Dédalo mítico acabou preso no labirinto que construiu para aprisionar o Minotauro. Assim como ele, o Dedalus joyciano também se vê preso em um labirinto construído por forças externas. Ele compreende que, ao trilhar os caminhos ditados por outros, nunca encontrará de fato uma saída ou experimentará a verdadeira realização. Ao longo da narrativa, Dedalus encontra falsas saídas do labirinto, mas nenhuma delas proporciona a fuga desejada. Assim, metaforicamente, Dedalus deseja construir um par de asas para transcender as adversidades, ultrapassar as fronteiras de Dublin e alcançar uma vida dedicada à arte.

A obra mistura várias referências literárias, filosóficas e teológicas ao cotidiano da vida irlandesa, com explosões poéticas. Ainda que Dedalus perca a fé, é evidente que sua visão sobre arte e literatura está impregnada de doutrina cristã. O livro é cheio de citações latinas, com ideias filosóficas que se referem à teologia medieval e à filosofia grega, como Tomás de Aquino, Agostinho, Aristóteles etc. Sobre isso, a obra demonstra grande erudição em relação à Poética de Aristóteles e à filosofia de Aquino, sobretudo no campo da estética. Em alguns trechos, quando trava diálogo com Estêvão e seu amigo Cranly, percebemos o domínio de Dedalus ao mencionar os atributos de beleza propostos por Aquino e ao dissertar sobre as formas dramática, épica e lírica. Sob todos esses discursos filosóficos que transbordam efusivamente, irrompe outra forma de estética, que é mais musical, sensual e rítmica.

Segundo a obra, a imagem estética dramática é a vida reprojetada na imaginação humana. O artista, na condição de Deus da criação, permanece invisível em sua obra, indiferente, refinado fora da existência. Dedalus postula que o desejo deve ser direcionado para o bem, sendo o verdadeiro e o belo os objetos de desejo mais duradouros. Embora reconheça que a beleza é subjetiva, Dedalus realça o conceito de beleza universal. Além disso, destaca o instante em que o sujeito compreende e aprecia as qualidades do objeto artístico, pois essa experiência proporciona um encantamento espiritual do coração. Dedalus conclui que a responsabilidade de um artista é distanciar-se de sua obra e agir indiferente a ela, permitindo-lhe existir de forma independente. Assim, obtemos a revelação do fluxo interno dos pensamentos, e o fluxo de consciência ditado por Joyce nos encanta e nos espanta. Quando lemos expressões, pensamentos, sensações, epifanias, é como se nós estivéssemos passando por aquilo, não os personagens.

Dedalus tentara erguer um quebra-mar contra a sórdida maré da vida para represar a recorrência estrondosa das ondas dentro de si. Inútil. Tanto de fora quanto de dentro, as águas atravessaram todas as barreiras e recomeçaram a se agitar ferozmente acima das ruínas. Durante a narrativa, acompanhamos uma personagem cuja garganta dói de tanta vontade de gritar – grito de falcão ou de águia –, de tanta vontade de libertar-se ao vento. Esse é o chamado à sua alma, não a voz desumana que o chamava ao altar, não a voz enfadonha do mundo dos deveres e do desespero. É um instante de fuga selvagem. E o grito que a sua garganta retinha fende a sua mente. A sua imagem passara para sempre em sua alma, e nenhuma palavra fora capaz de quebrar o sacro silêncio de seu êxtase. Os olhos chamaram Dedalus, e a sua alma se lançou ao chamado. Recebeu ali o anjo selvagem, um enviado para lhe abrir – num instante de êxtase – as portas de todos os caminhos do erro e da glória.

E Dedalus se rebelou e triunfou contra a embriaguez da doutrinação religiosa e contra aqueles que exigiam dele um fervor patriótico. A enxurrada implacável de catecismos que desdenhava das condições humanas não o lançou à culpa. Ele encontrou a sua santidade no amor, na beleza e na entrega silenciosa ao desejo mortal. O labirinto de iscas não conseguia mais estrangular sua ambição de escapar de seus estreitos limites. Assim, enquanto todos ao seu redor se ocupavam em buscar relevância ou prestígio social na vida, Dedalus permanecia imperturbável, pois agora aspirava ao cumprimento de um objetivo maior, tendo encontrado sua fé na legitimidade da arte e em seu poder de conferir sentido ao caos perpétuo da existência. Para recriar a vida a partir da vida – errando, caindo, triunfando e vivendo.

O apreço de Umberto Eco (1932-2016) pelas obras de James Joyce é digno de nota. Ambos receberam uma rigorosa educação católica, e, assim como as obras de Joyce, Eco enxertou em seus trabalhos diversas citações latinas e referências a padres da igreja. Em síntese, James Joyce, Umberto Eco, Jorge Luis Borges (1899-1986) e J. R. R. Tolkien (1892-1973) são alguns exemplos de autores contemporâneos com almas medievais.

Também podemos mencionar que Um retrato do artista quando jovem poderia ser lido como uma obra que segue na contramão de Confissões, de Santo Agostinho. Enquanto Agostinho expressa a sua gratidão a Deus por afastá-lo de sua juventude libidinosa e libertina e convertê-lo ao ascetismo e à religião, Joyce narra a juventude de Stephen Dedalus como um tempo de tormento moral, libertinagem esporádica, encontros românticos e breves vislumbres de alegria. Diferentemente de Agostinho, Dedalus, no final, resolve emergir sob a autoridade da igreja, desviar-se da sua família e da pátria e fugir em direção ao silêncio e ao exílio.

Cabe salientar que esse é um dos livros mais compreensíveis de James Joyce, pois, em vez de usar o fluxo de consciência ou o monólogo interior de forma desenfreada, ele opta por um estilo indireto livre, por diálogos perfeitamente construídos, por uma narração clássica em terceira pessoa e por um final com algumas datas anotadas em um diário escrito por Dedalus. Com doses poéticas de alto calibre e com a assinatura inconfundível de Joyce, Um retrato do artista quando jovem é um excelente livro. Com o passar do tempo e da leitura, Joyce se torna um escritor realmente interessante. A sua maestria literária e a sua genialidade narrativa o transformam em um artista completo.

“Vou te dizer o que farei e o que não farei. Não servirei aquilo em que não acredito mais, chame-se isso o meu lar, a minha pátria, ou a minha igreja: e vou tentar exprimir-me por algum modo de vida ou de arte tão livremente quanto possa, e de modo tão completo quanto possa, empregando para a minha defesa apenas as armas que eu me permito usar: silêncio, exílio e sutileza.”

“Fizeste que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me apavora. Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma.”
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Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018

Romance De Formação
James Joyce é um escritor genial, porém difícil. Mais citado do que lido, infelizmente, são poucos que se atrevem a conhecer sua obra. De fato, "Finnigans Wake", apesar de ser um marco da literatura experimental, beira o incompreensível, mas existem outras opções mais acessíveis que permitem descobrir que esse beberrão irlandês também é engraçado, zombeteiro , safado e, sobretudo, humano.

Um bom exemplo é seu primeiro romance: Um Retrato de um Artista Quando Jovem. Nele, suas experiências literárias começavam a ganhar forma, portanto, são mais digeríveis. Porém, não desanime, se mesmo assim não entender uma ou outro trecho durante a leitura, siga em frente, pois você terá bons motivos para rir e se emocionar.

Dividido em cinco capítulos e com fortes traços autobiográficos, o romance apresenta passo a passo o amadurecimento intelectual e artístico de Stephen Dedalus desde muito pequeno até a mocidade e, curiosamente, começa com uma estrutura que faz lembrar um conto infantil:

"Era uma vez e uma vez muito boa mesmo uma vaquinha-mu que vinha andando pela estrada e a vaquinha-mu que vinha andando pela estrada encontrou um garotinho engrachadinho chamado bebê tico-taco."

Para quem quiser entender a trajetória da personagem, basta decifrar seu nome. "St. Stephen" foi o primeiro mártir cristão e Dédalo projetou e construiu o labirinto do Minotauro, contudo, após se desentender com o Rei Minos, acabou preso na sua própria invenção e para escapar, precisou fazer asas com cera e penas.

Pois essa também é a história de um menino católico, cheio de culpas e arrependimentos, criado para ser jesuíta e que ousou alçar vôo, traçando seu destino. Tornou-se um artista herético e libertário, capaz de muito jovem conceber uma teoria estética que nada mais é do que os fundamentos da obra de Joyce.

"... Você me perguntou o que eu farei e o que eu não farei. Eu lhe direi o que farei e o que não farei. Não servirei àquilo em que não acredito mais, quer isso se chame minha família, minha terra natal ou minha Igreja; e procurarei me expressar por meio de uma certa forma de vida ou de arte tão livremente quanto possa e tão totalmente quanto possa, usando em minha defesa as únicas armas que me permito usar: o silêncio, o exílio e a astúcia."


Nota: Stephen reaparece em "Ulisses", o próximo romance do autor.
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Luiz Souza 07/08/2023

Romance de formação
Essa foi a primeira obra que li de James Joyce um escritor de mão cheia mas que é preciso ter paciência para ler sua obra e tentar entender o que se passa na história.

O livro se trata de um dos principais romances de formação da literatura universal, no livro vamos entrar no universo de Stephen Dedalus que começa desde a infância até a fase adulta.

Ele vai para um internato religioso e já aí começa a relação do personagem ligada a religião e aos costumes cristãos de uma maneira até bem exagerada e quase fanática por sinal.

O livro tem várias passagens de fluxo de consciência uma narrativa um pouco difícil as vezes de entender o que se passa pois mistura passado e presente num parágrafo só.

No final Stephen deixa a religiosidade de lado e vira intelectual.
Vemos ele em outra obra o famoso Ulysses dizem que é um livro bem difícil kkkk.

Até a próxima leitura.
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Michela Wakami 11/02/2024

Bom
O início do livro me agradou bastante, depois a leitura passou a ser maçante pela escrita e também pela história em si, que me agradou em partes.

Embora muitos defendam que essa história tenha sido baseado na vida do próprio autor, que seja até uma autobiografia, nessa edição da editora autêntica, temos nas notas o tradutor Tomaz Tadeu, não acreditando nessa hipótese.

Eu particularmente acho que seja sim, se não uma autobiografia, pelo menos uma história baseada na vida dele.

O Retrato do Artista quando jovem, vem antes de Ulisses, o personagem principal desse livro, vai retornar em Ulisses, não como personagem principal, mas até aonde pesquisei ele terá uma presença importante por lá.
Por isso é recomendável lê-lo antes de Ulisses.

Aqui o personagem é um artista em formação, que sente ter que romper com a religião, com seu país e até mesmo com a sua família para poder ser livre e só assim alcançar seu sonho de ser um artista completo.

Recomendo um vídeo no YouTube, aonde o professor José Monir Nasser, explica de uma forma maravilhosa o livro.
O vídeo contém a leitura do resumo do livro e explicações sobre cada parte importante de cada capítulo.
O final da narração do último capítulo tem uma explicação do professor, que sanará todas as suas dúvidas.

https://youtube.com/watch?v=T0mRI1wn2Zk&si=Bu6Nmt5BmtmOq94W
Luiz Souza 11/02/2024minha estante
Ulysses também é do mesmo jeito ele começa com um texto fácil de entender aí conforme vai passando fica bem difícil kk


Michela Wakami 11/02/2024minha estante
Luiz, eu pretendo ler Ulisses, mas confesso que com receios.?


AndrAa58 11/02/2024minha estante
Bela resenha, amiga ?


Michela Wakami 11/02/2024minha estante
Obrigada, amiga.?




Li 07/02/2011

Enfado
Histórias que não me fazem pensar, não me interessam muito. Ainda me envergonho de abandonar grandes literaturas, principalmente quando eu mesma as envolvo em magnitude quase divina. Contudo, ando fazendo isso quando o sumo se esvai antes do bolo formado na boca. Ou quando este fica repugnante ou insosso antes disso. Não atribuo a culpa se é que existem culpados ao livro. É meu momento atual ou simples gosto. O que não pude mais suportar nesta história são os extensivos sermões religiosos, enfadonhos até a mortificação. Um dia retorno.
Cardoso 15/03/2014minha estante
O capítulo das três missas tirou-me todas as vontades de seguir com a leitura, e, veja bem, estava regozijado com as transições narrativas e agilidade de Joyce -- bastante surpreendido, na verdade, já que esperava uma leitura enfadonha (tal como foi, infelizmente, essa passagem de bastante potencial, de qualquer maneira).


Igor296 16/03/2023minha estante
perfeito! tenho sentido a mesma coisa acerca desta leitura e hoje em dia abandono sem receio




Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018

Romance de Formação
James Joyce é um escritor genial, porém difícil. Mais citado do que lido, infelizmente, são poucos que se atrevem a conhecer sua obra. De fato, "Finnigans Wake", apesar de ser um marco da literatura experimental, beira o incompreensível, mas existem outras opções mais acessíveis que permitem descobrir que esse beberrão irlandês também é engraçado, zombeteiro , safado e, sobretudo, humano.

Um bom exemplo é seu primeiro romance: Um Retrato de um Artista Quando Jovem. Nele, suas experiências literárias começavam a ganhar forma, portanto, são mais digeríveis. Porém, não desanime, se mesmo assim não entender uma ou outro trecho durante a leitura, siga em frente, pois você terá bons motivos para rir e se emocionar.

Dividido em cinco capítulos e com fortes traços autobiográficos, o romance apresenta passo a passo o amadurecimento intelectual e artístico de Stephen Dedalus desde muito pequeno até a mocidade e, curiosamente, começa com uma estrutura que faz lembrar um conto infantil:

"Era uma vez e uma vez muito boa mesmo uma vaquinha-mu que vinha andando pela estrada e a vaquinha-mu que vinha andando pela estrada encontrou um garotinho engrachadinho chamado bebê tico-taco."

Para quem quiser entender a trajetória da personagem, basta decifrar seu nome. "St. Stephen" foi o primeiro mártir cristão e Dédalo projetou e construiu o labirinto do Minotauro, contudo, após se desentender com o Rei Minos, acabou preso na sua própria invenção e para escapar, precisou fazer asas com cera e penas.

Pois essa também é a história de um menino católico, cheio de culpas e arrependimentos, criado para ser jesuíta e que ousou alçar vôo, traçando seu destino. Tornou-se um artista herético e libertário, capaz de muito jovem conceber uma teoria estética que nada mais é do que os fundamentos da obra de Joyce.

"... Você me perguntou o que eu farei e o que eu não farei. Eu lhe direi o que farei e o que não farei. Não servirei àquilo em que não acredito mais, quer isso se chame minha família, minha terra natal ou minha Igreja; e procurarei me expressar por meio de uma certa forma de vida ou de arte tão livremente quanto possa e tão totalmente quanto possa, usando em minha defesa as únicas armas que me permito usar: o silêncio, o exílio e a astúcia."


Nota: Stephen reaparece em "Ulisses", o próximo romance do autor.
ThiagoFermorais 12/11/2018minha estante
To lendo e adorando !


Leila de Carvalho e Gonçalves 12/11/2018minha estante
Muito bom, nao é?




AndrAa58 26/08/2023

Uma jornada intrigante na formação de Stephen Dedalus.
"Retrato de um Artista Quando Jovem" é um romance de formação que nos conduz através da evolução de Stephen Dedalus, desde sua infância até a juventude, em uma jornada de autodescoberta e transformação. Joyce conduz o leitor a explorar não apenas a trajetória do protagonista, mas também a sua própria jornada pessoal de reflexão e aprendizado.

Este livro, porém, não é uma leitura fácil, exigindo dedicação e esforço por parte do leitor. Não é destinado a todos os gostos ou épocas. Para apreciá-lo plenamente, é necessário estar disposto a investir um esforço considerável, especialmente se você não estiver familiarizado com as referências literárias que estão por toda a obra, como mitologia, passagens bíblicas, doutrina católica e o contexto nacionalista irlandês, incluindo o conflito entre católicos e protestantes. Além disso, algumas das influências de autores como Shakespeare e conceitos filosóficos são incorporadas nas entrelinhas. O livro é repleto de referências que, embora ricas em significado, podem exigir consultas frequentes a notas e fontes adicionais.

Admito que, no início da leitura, me vi interrompendo com frequência para buscar esclarecimentos em notas e fontes externas. Quase me rendi e abandonei, mas estou grata por não ter desistido. Posso afirmar que o esforço investido compensou, e muito! Desde que você esteja disposto a enfrentar esse desafio, posso assegurar que valerá a pena.

O próprio nome da personagem principal, Stephen Dedalus, já prenuncia muito sobre a obra, suas questões centrais e abordagem. "Stephen" (ou "Estevão") foi o primeiro mártir cristão, e conforme Santo Agostinho afirmou, "Se Estêvão não orasse, não haveria São Paulo." Por outro lado, "Dedalus" (ou "Dédalo") faz referência ao artista e construtor da mitologia grega. Ele foi o pai de Ícaro e projetou o labirinto que aprisionou o Minotauro. Dédalo aconselhou Ariadne sobre como salvar Teseu, mas, como punição, foi aprisionado em seu próprio labirinto, juntamente com seu filho. Ele construiu asas de penas e cera para escapar, mas Ícaro não resistiu à tentação de voar alto demais, perdendo a vida.

Em "Retrato de um Artista Quando Jovem", acompanhamos a jornada de Stephen Dedalus, desde o descobrimento de sua identidade ("Quem eu sou") até a luta para se libertar do labirinto de influências e imposições que moldaram sua visão de mundo. Desde as expectativas familiares até a pressão da educação cristã e do contexto político e social, o leitor testemunha cada fase da sua transformação.

James Joyce cria um cenário que conecta o leitor profundamente a Stephen. Ele utiliza o fluxo de consciência para alternar entre diferentes momentos da vida de Stephen, adicionando um discurso indireto livre para destacar suas reflexões internas. Às vezes, a narração assume uma perspectiva distanciada, permitindo ao leitor julgar Stephen, mas então se aproxima, defendendo suas perspectivas. Essa abordagem singular permite que o leitor não apenas analise Stephen, mas também se identifique com suas lutas, experiências e desafios. À medida que nos aprofundamos em seus pensamentos e sentimentos, a empatia se torna uma ferramenta poderosa, nos lembrando da importância de compreender as perspectivas alheias antes de emitir julgamentos.

"Retrato de um Artista Quando Jovem" não é apenas uma leitura; é uma jornada pela psique humana, pela busca de identidade e pelo embate com as pressões externas. É um mergulho no processo complexo de amadurecimento e autoconhecimento, uma experiência que nos desafia a refletir sobre nossas próprias transformações. À medida que acompanhamos Stephen Dedalus, somos confrontados com as complexidades da nossa própria formação, nos convidando a questionar, a aprender e a crescer.
Emerson Meira 26/08/2023minha estante
Que resenha gostosa! Deu mais vontade de ler agora Andréa ?


AndrAa58 26/08/2023minha estante
Obrigada. Fico feliz. Acho que você vai gostar.


Yohanzinho 26/08/2023minha estante
Nossa, você escreve muito bem. Parabéns. Me deu até vontade de ler também kakakakka


AndrAa58 27/08/2023minha estante
Obrigada Yohanzinho. Espero que goste tanto ou mais que eu ?




Nicolas388 06/08/2023

"A vergonha ergueu-se do seu coração ferido e penetrou todo o seu ser."
"Retrato do artista quando jovem" é um ótimo exemplo de Bildungsroman, ou romance de formação, onde a história acompanha o desenvolvimento físico, emocional e intelectual de um personagem. Neste livro, essa jornada ganha uma camada a mais: a jornada espiritual do protagonista, além de muitos elementos autobiográficos da própria vida de Joyce.

Conhecemos, dessa forma, Stephen Dedalus, que no começo do romance possui cerca de três anos de idade. Nessa primeira fase, as linhas da história parecem mais fragmentárias, focando em percepções sensoriais e em conversas que, às vezes, o personagem ainda não é capaz de entender totalmente. Há também eventos que o marcarão profundamente no futuro ? como sempre temos traumas de infância.

Já na adolescência, teremos as descobertas sexuais de Stephen e de como elas lhe levarão ao medo da punição de Deus pelo seu pecado, transformando-o num neurótico pelo perdão divino para, logo em seguida, tornar-se um ateu. Sinceramente, é uma parte deliciosa de acompanhar. A linguagem de Joyce é riquíssima! Há certos trechos onde foi impossível para mim não ler em voz alta, saboreando palavra por palavra.

É, essencialmente, a história da formação de um artista. Podemos ver ao longo de sua vida que ele sempre cultivou um lado independente e um instinto artístico nato. Para seguir esse caminho, deve romper com sua família, religião e seu país. No fim, o personagem confirma seu destino e diz estar preparado para seguir essa via, solitariamente:

"Não servirei àquilo que não acredito mais, chame-se isso o meu lar, a minha pátria, ou a minha igreja [...] Fizeste que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me apavora. Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma."
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Brito 20/03/2021

James Joyce- Retrato do artista quando jovem
Um livro que retrata a infância, a adolescência e a juventude do jovem Stephen Dedalus. Vai até ao momento da sua partida da Irlanda que representa simbolicamente a sua entrada na vida adulta, a assunção da sua identidade, o corte com as dependências familiares, sociais e culturais, a vivência da sua feroz independência e, presume-se, o início da sua luta pela construção de uma obra literária.
Dá uma visão da Irlanda, das lutas com a Inglaterra, do crescimento do jovem Stephen Dedalus, um alter ego do autor, do colégio, do tipo de educação, das amizades, da passagem da infância para a juventude e da juventude para a idade adulta, os diferentes sentimentos, atitudes e comportamentos. Tem rituais de passagem extraordinários, a boémia na adolescência, o sentimento de culpa, o modo como vê o pecado e a fé, a piedade que o leva a pensar tornar-se sacerdote e, por fim, a sua forma de ser jovem adulto, independente do país, da Igreja, de Deus, dos pais.
É uma obra plural, densa, no entanto, a cor que mais me sugere é uma estranha tonalidade cinzenta, baça, como se toda essa riqueza de escrita se voltasse para dentro, fosse uma espécie de escrita egocêntrica, uma árvores com muitos ramos todos voltados para dentro. Um livro difícil, mas um grande livro.

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Bruno Marcolino 17/08/2020

Um retrato do artista quando jovem
No livro acompanhamos parte da infância e juventude do jovem Stephen Dedalus; o seu desenvolvimento intelectual e artístico.

Não foi uma leitura fácil, sem dúvidas, a forma como o Joyce estrutura a narrativa e a escrita dificultou um pouco no início, mas depois percebi que é isso que, dentre outras coisas, dá ao livro o prestígio que tem. Nas notas ao final do livro fala que ele brinca com a mudança da terceira pessoa para a primeira, quando o narrador dá ao protagonista sua "vez" de falar. Dá para se perder muitas vezes por conta disso; muitas vezes me peguei percebendo essa mudança depois de ela ter acontecido à muitas paginas atrás. Mas dá para se acostumar e acabei achando meio que "divertido".

Religiosidade, fé, pecado, inferno, são temas presentes por todo o livro. Na verdade entram no cerne da história, pois essas coisas moldam a vida do Stephen. É o fio que guia a narrativa na evolução artística do protagonista. E o acompanhar dessa evolução/criação do ser artista eu achei fenomenal. Há passagens onde acompanhamos a criação de um poema, todo o extase, todo o sentimento necessário é passado para quem lê, achei isso incrível.

O livro não recebeu 5 estrelas por conta de duas coisas que acho é atribuído mais à mim e a minha experiência com a leitura do que culpa da obra: 1) o capítulo central foi bastante complicado de se passar, não por conta da escrita, mas porque ficava dando rodeios no mesmo tema, e foram rodeios extensos. Isso quebrou bastante meu ritmo de leitura, que graças foi retomado nos capítulos posteriores. Mas entendo que esse capítulo ser colocado ali e ele existir é completamente plausível para a história; 2) esse ponto é somente "culpa" minha, é um livro que eu tenho certeza que não apreendi tudo que ele tinha a me oferecer, com certeza revisitarei a obra. Acho que me falta mais experiência e estudo. E aqui um trecho do livro que resume bem minha situação "Disse que tenho uma mente estranha e que lia demais. Não é verdade. Leio pouco e entendo menos".

Olhando para toda a "jornada" da leitura, das coisas que senti lendo, da obra como um todo, foi um belo livro de se ler. Recomendo fortemente.
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isabelle. 23/01/2021

a nossa alma contrai-se ante aquilo que teme e responde ao estímulo daquilo que deseja por uma ação puramente reflexa do sistema nervoso.
arthur966 23/01/2021minha estante
faltou uma estrela v*gabunda


isabelle. 24/01/2021minha estante
opa caiu aqui nem reparei




Francisco240 19/01/2023

Uma divertida crítica e um punhado de blasfêmias
Você me perguntou o que eu faria e o que eu não faria. Eu vou te dizer o que eu vou fazer e o que eu não vou fazer. Eu não vou servir àquilo em que não acredito mais,83 possa essa coisa se dizer minha casa, minha pátria ou minha Igreja: e eu vou tentar me expressar em algum modo de vida ou de arte com a liberdade que eu conseguir e com a plenitude que eu conseguir, usando em minha defesa as únicas armas que eu me permito usar ? silêncio, exílio e astúcia.
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Tomás Quirino 26/01/2010

O enredo de "Retrato do artista quando jovem" é bom, mas não promete nada de espetacular. O que torna este livro um clássico da literatura mundial é a forma como James Joyce conta a história, única e magistral. Ao contar a história de Stephen Dedalus, seu alter ego, Joyce nos introduz a uma viagem por entre os conflitos de um futuro artista em sua infância, adolescência e juventude, passando por temas como a política, a religião, a sexualidade e a cultura. Alguns desses conflitos são: a dúvida de um adolescente em relação aos dogmas católicos, as discordâncias familiares e a busca de um jovem por uma filosofia própria. Tudo isto é narrado ao mesmo tempo em que é traçado um perfil físico e psicológico do protagonista. É uma leitura um pouco complicada e que exige certo esforço, mas vale a pena ir até o final, é um livro enriquecedor.
Wertigo 25/08/2012minha estante
Ia fazer um comentário, mas este se encaixa no que eu queria dizer. Em especial é um deleite para quem teve na sua infância uma formação religiosa que se propague até hoje em seu jeito de ser. Promete e trás boas emoções neste caso.


Flavio A. Costa 20/04/2013minha estante
Exatamente isso!




Elane.Medeiross 07/02/2021

Enfadonho
O livro tem temas interessantes, a relação entre religião e culpa, a pessagem da vida da infância até a vida adulta, no entanto, a forma como o autor escolheu para escrever, torna o texto muitas vezes irritante, cansativo, e o fato de ter poucos acontecimento no enredo deixa o leitor cansado ds escrita.
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Luiz.Fernando 06/07/2021

Romance de formação
Acompanhamos Stephen desde a infância até ao início da vida adulta.

O contexto aqui é a Irlanda do fim do século XIX e início do século XX. O Nacionalismo irlandês e a religião católica estão bastante presentes.

Não vou me delongar, já basta o ensaio argumentativo que tenho que fazer para a faculdade...

Enfim, um livro que deve ser lido com calma. Não é um percurso de todo agradável, mas tem muito valor.
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