Marcus Reis 20/08/2021
Recomendação inusitada
"Para alguns escritores sexo é, obviamente, a trágico-comédia. Não escrevo sobre ele como instrumento de uma obsessão. Escrevo sobre ele como uma peça de teatro engraçada na qual você tem que chorar, um pouco, entre um ato e outro. Boccaccio escreveu muito melhor sobre ele. Ele tinha a distância e o estilo. Eu ainda estou próximo demais do alvo para produzir o efeito de graça total. Se você não leu Boccaccio, leia. Pode começar com o Decamerão."
Foi através dessa recomendação de Bukowski que cheguei até o Decamerão. Fiquei curioso para saber sobre essa forma graciosa a qual o velho se referia quando falou sobre o escritor italiano.
No livro ele conta sobre como um grupo de 10 jovens, em meio as vicissitudes causadas pela peste negra na Itália, acabaram por se abrigar em um castelo nas redondezas da cidade de Florença, e lá passaram 10 dias, dentre outras atividades, a novelar uns para os outros, inclusive por isso o nome do livro (a palavra Decamerão é formada por dois vocábulos gregos:Deca = dez e imera = jornadas).
As histórias narradas variam de romances, tragédias, anedotas, contos heroicos até mesmo piadas, sempre com muitas referências e menções a cultura europeia, sobretudo italiana. Me chamou muita atenção no livro as diversas críticas mordazes ao comportamento da igreja e dos entes religiosos, o que está presente em diversas narrativas.
Porém, apesar do Decamerão ser uma obra clássica, não acho que seja aquele tipo de livro que podemos chamar de 'atemporal'. Talvez para quem tem um conhecimento sobre a cultura e a história italiana, ler o Decamerão seja uma experiência diferente, uma vez que, como falei anteriormente, o autor faz diversas referências e menções que envolvem famílias, pessoas, locais, eventos e outras coisas que se passaram naquela região. No meu caso, porém, onde o meu conhecimento sobre cultura italiana se limita a pizza e a máfia, mesmo com as notas feitas pela equipe de tradução, muitas referências feitas pelo autor passaram simplesmente despercebidas ou foram ignoradas.
Por fim, o velho Buk não poderia estar mais certo, há uma graciosidade e grandiosidade na escrita de Boccaccio, sobretudo na forma como ele descreve sobre o amor, sexo, paixões, desejos, romances.... talvez, de fato, ele estivesse mesmo a distância certa de tudo isso.