otxjunior 25/08/2014Minha Prima Raquel, Daphne du MaurierÉ fácil reconhecer um livro de Daphne du Maurier logo nas primeiras linhas, mesmo se tenha apenas lido seu trabalho mais famoso, adaptado para o cinema por Alfred Hitchcock, Rebecca. De menor impacto se comparado a este, Minha Prima Raquel também mescla elementos de romance e suspense numa história de sombria atmosfera em que os estados de espírito dos personagens ganham reflexos no ambiente, área rural na costa oeste da Inglaterra. Parte da ação também se desenvolve em Florença, Itália. Embora "ação" talvez não seja o termo mais apropriado para descrever as atividades principais dos protagonistas, como trabalhos no jardim, passeios a cavalo e receber convidados para refeições, numa quase total ausência de conflitos reais.
A narrativa, em primeira pessoa, representa as memórias do órfão Philip Ashley de episódios que precederam seu aniversário de 25 anos, quando herdou a propriedade de seu benevolente primo e tutor, Ambrose. Numa viagem para a Itália, Ambrose conhece Raquel, casa-se e morre alguns meses depois. Cego por ciúmes e alimentado por suspeitas da repentina morte do primo, Philip escolhe odiar a prima Raquel antes mesmo de conhecê-la. Entretanto, encanta-se pela mulher sofisticada e misteriosa quando passam a conviver sobre o mesmo teto.
O narrador infelizmente não é minimamente interessante. Dono de uma ingenuidade forçada, justificada pela educação inglesa e estritamente masculina que recebeu, e de preconceitos que envolvem a malícia supostamente inerente à mulher latina, ou qualquer outra mulher aliás, Philip se mostra insensato durante todo o livro. Nunca pondera sobre a situação, variando de ódio absoluto a amor incondicional sua percepção sobre Raquel. Esta parece que a autora não chegou a uma conclusão de quem realmente seria, e portanto não podemos dizer que a conhecemos melhor no desfecho do livro do que no começo. Ainda ficou a impressão de que o material seria mais condizente com a estrutura de um conto.
Como o enredo é encerrado com a sentença que o abre, peço licença para aqui reproduzir o mesmo efeito, dessa vez com conotação negativa: É fácil reconhecer um livro de Daphne du Maurier...