47 contos

47 contos Juan Carlos Onetti




Resenhas - 47 contos de Juan Carlos Onetti


3 encontrados | exibindo 1 a 3


Anica 14/07/2011

47 Contos de Juan Carlos Onetti
Costumo (tentar) fugir da armadilha de me sustentar na biografia de um autor quando vou opinar sobre um livro. É um terreno perigoso, porque por mais que pareça óbvio que a vida de um escritor se reflete naquilo que ele cria, ainda assim não dá para esquecer os versos de Pessoa sobre o poeta ser um fingidor. De qualquer maneira, como não se surpreender com a coletânea 47 Contos de Juan Carlos Onetti, considerando aspectos de sua vida? A começar para aqueles que acreditam que educação formal está diretamente relacionada com material de qualidade: Onetti abandonou os estudos no segundo grau. E aparentemente isso não fez falta alguma em sua vida.

Ganhador do Prêmio Cervantes e indicado ao Nobel de Literatura, esse uruguaio foi de tudo: de porteiro a vendedor. Em 1930 (então com 21 anos) começou a publicar contos enquanto vivia em Buenos Aires. Os três primeiros contos da coletânea (Avenida de Mayo-Diagonal Norte-Avenida Mayo, O obstáculo, O possível Baldi) são desta fase e mostram já alguns dos elementos que se repetirão em outros textos no livro, como a melancólia noção de que se quer algo mais da própria vida, que se sonha com algo diferente do que se vive. Dessa fase o melhor é O possível Baldini, que reflete muito bem essa questão, quando um sujeito começa a contar para uma moça tudo o que nunca fora.

Há sutilezas no texto de Onetti, o fantástico, o onírico, a graça ou mesmo a tristeza não são tão óbvias e escancaradas. São pequenos recortes de vidas de personagens, muitos passados na cidade Santa María, mas a realidade é que todas poderiam se passar em qualquer lugar, porque Onetti retrata o humano com todas as suas cores. Os contos cujas datas são posteriores ao seu retorno para Montevidéu (em 1939) deixam isso bem claro, como no ótimo O álbum, ou ainda no genial Jacob e o outro.

Falando assim das datas de publicação dos contos, outro aspecto biográfico faz com que os textos brilhem ainda mais. Se considerar que o tempo de publicação varia de 1933 até 1993 (alguns dos inéditos não tem referência de quando foram escritos), um ano antes do falecimento do escritor, é de se admirar como ele consegue ao longo dos anos se reinventar sem deixar de seguir seu próprio estilo. Mais ainda, impressiona como mesmo os mais antigos possam ser lidos como uma obra atualíssima, que poderia ter sido escrita por alguém hoje mesmo, quase 80 anos depois. Viver assim ao tempo é para poucos, e Onetti o faz muito bem.

É interessante observar também que o autor na virada da década de 80 começa a escrever contos mais curtos, e ao mesmo tempo continuam fortes, impactantes, como em O Gato (que mostra muito bem o senso de humor sutil de Onetti), como também no excelente A árvore, provavelmente meu favorito de toda a coletânea. Mais um reflexo biográfico, a tortura da ditadura vivida pelo escritor ganha aqui toda uma delicadeza que somada à brevidade e a força do que diz, de certa forma faz lembrar as tiras do cartunista argentino Liniers.

Trata-se realmente de uma ótima coletânea, que mostra muito da obra do autor e vem como convite para conhecer mais sobre ele, e consequentemente mais da história de seu país de origem muito embora seus textos pertençam a qualquer lugar. Fica a curiosidade agora para conferir os romances do autor, que aparentemente tem tudo para ser tão encantador quanto nos textos mais curtos.
Daniel Rocha 13/09/2014minha estante
Bonita resenha, e gostei de saber mais sobre a história dele. Eu só li A Vida Breve (muito bom) e tenho aqui o Junta-cadáveres, mas ainda não deu tempo de ler..:( Parabéns pelo texto. Abraços.




Ramon 15/02/2010

O Possível Baldi-Conto contido em 47 contos
Sinopse:
Advogado bem sucedido na vida financeira e sentimental,
ainda que desiludido com o mundo, encontra, ao atravessar
uma avenida movimentada, uma misteriosa mulher que
lhe agradece por tê-la ajudado a se livrar de uma
indesejável companhia e lhe pede para contar-lhe
a história de sua vida. O advogado, vendo neste pedi-
do uma válvula de escape para o tédio de sua existência,
cria autobiografias imaginárias em que ele se vê,
dentre outros papéis e personificações, como um impiedoso
caçador de negros na África.


Crítica:
Quando se fala em realismo mágico latino americano,
Gabriel Garcia Marquez, Mario Vargas Llosa e
mais recentemente Isabel Allende são os
nomes que, talvez, primeiro nos pululam à mente.
Com certo esforço, puxando um pouco mais pela
memória, poderíamos citar o Alejo Carpentier,
Manuel Escorza e Juan Rulfo.
O uruguaio Juan Carlos Onetti, ainda que tenha re-
cebido o prestigioso prêmio Cervantes em 1980, não
é um nome frequentemente citado dentre os pratican-
tes desta corrente literária e, ainda que seja
idolatrado por figurinhas carimbadas como Júlio
Cortazar (que o considerava o maior romancista la-
tino americano), e tenha se tornado verdadeiro objeto de culto
entre os conoissieurs de plantão, permanece um escritor
CRIMINALMENTE obscuro, um típico writer's writer.
Parte desta relativa obscuridade se deve ao fato de que
a aplicação do termo realismo mágico para sua obra
se revela inadequada, insuficiente e injusta. Na lite-
ratura do Onetti não encontraremos paisagens selváticas
tropicais, enredos intrincados e atmosfera mágica. Nela
veremos (anti) heróis, fumantes inveterados, que, não
importando condição financeira e status social, carregam
nas costas todo o absurdo e tédio da existência como
um fardo que mesmo depois da morte os assombrarão
pela eternidade. Para eles as fantasias, lorotas, ilusões,
auto-engano e até as "autobiografias imaginárias" lhes
servem como um antídoto de curta duração para os
o pesado fardo da existência, e algumas vezes do deses-
pero absoluto e suicídio.
Praticante do que me convencionou a definir como uma espécie
de existencialismo-introspectivo-onírico-poético-melancólico,
Onetti embala suas fábulas de ilusão e auto-engano em prosa
sinuosa impecável, de uma precisão, beleza plástica, intensidade
poética e finura psicológica digna dos maiores mestres.
A literatura de Onetti jamais se esgota na primeira leitura e após o
término de O Possível Baldi fico com a sensação de ter desco-
berto um autor, muito, muito especial.

Cotação: ***** de *****
Desativado por enquanto 01/11/2017minha estante
Ok, mas Mario Vargas Llosa tb não tem nada de "realismo mágico". Acredito que vc tenha citado ele sem querer. Não tem nada perto dessas coisas citadas: paisagens selváticas
tropicais, enredos intrincados e atmosfera mágica. O Llosa tá mais pra ficção bem tradicional, vezes romance histórico e vezes ensaísta.




3 encontrados | exibindo 1 a 3


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR