José Carlos 06/01/2018A ausência de sentido no COSMOS de Witold Gombrowicz"Swój do swego po swoje": "cada um busca o que é seu à sua maneira".
Entre tantas paisagens, objetos, animais, pessoas, falas, jeitos, talvez esse ditado polonês, repetido em diversas situações pelas bocas dos personagens, consiga sintetizar o sentido de "Cosmos".
Publicado em 1965, o último livro de Gombrowicz possui uma linguagem experimental que, genialmente, consegue envolver o leitor nas tensões do personagem principal como se suas fossem (e talvez sejam).
Witold narra em primeira pessoa sua confusa trajetória em torno do bizarro enforcamento de um pardal. A partir desse evento insignificante e absurdo, o protagonista começa a investigar o sentido daquele assassinato, que, coincidentemente (?), se somará a outras situações não menos esdrúxulas.
A insignificância desse acontecimento desperta o desbravador em Witold. O desbravador de ninharias, de coisas miúdas, que ao primeiro contato parecem não importar, mas que com o tempo se revelam essenciais.
Essenciais como um gesto de mão, um toque. Um diálogo ausente de palavras, prenhe de sentidos, mas quais? Para Witold, os gestos escondem, sinalizam algo. Mas o quê? Não há respostas. Ainda assim, para ele, interpretá-los (os gestos) é tarefa urgente, feita quase que inconscientemente.
E, quanto mais se emaranha na busca de sentido, mais sem sentido as coisas se tornam.
A infrutífera atividade de entender os fatos, como, por exemplo, o anseio por descobrir a razão daquele pardal ter sido pendurado, que está pendendo e pendente de sentido, envolve Witold em um cosmos, não mais micro, em eterna expansão.
"Cada um busca o que é seu à sua maneira". E Witold segue com sua perene busca. Ainda que a cada encontro, a cada aproximação daquilo que seria uma espécie de revelação, ele se afaste, como Tântalo.
De tal procura uma ínfima e frágil ilação: a constante busca de sentido não faz sentido.
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