Marcus.Vinicius 28/07/2021
A face jornalística de Gabo
Esse é o primeiro livro jornalístico que leio do grande Gabriel García Marquez, e a experiência não poderia ser melhor.
Quando ainda era um jovem repórter do jornal "El Espectador", nos idos de 1955, Gabo foi incumbido de entrevistar e publicar a história de Luís Alexandre Velasco, marinheiro do destróier colombiano "Caldas" que, por conta de um acidente, foi lançado ao mar com mais 7 tripulantes. Velasco foi o único sobrevivente, e ficou à deriva por 10 dias no mar caribenho até chegar à costa colombiana já semimorto, castigado pela fome e a sede.
Durante 20 encontros de 6 horas diárias, o sobrevivente narrou todas as suas agruras, desde o dia que o destróier zarpou da cidade americana de Mobile, até sua volta triunfal como mártir ao país natal.
Gostei demais do relato, tendo me conectado fortemente com Velasco, imaginando todo seu sofrimento e solidão dentro de uma balsa de salvação na imensidão do mar, privado de água, comida, sendo castigado pelo sol do dia e o frio da noite, lidando com os fantasmas de seus companheiros náufragos que não sobreviveram, e com a companhia dos pontuais tubarões, que todos os dias às 17 horas subiam a superfície para espreitar o infortunado personagem.
E, o que deixa a obra mais interessante ainda, é que se tornou instrumento de uma denúncia: diferente da narrativa oficial de que os marinheiros teriam naufragado por conta de uma tempestade que atingiu o navio, em verdade, o destróier colombiano sofreu um acidente por estar carregado com mercadorias contrabandeadas dos EUA, tais como eletrodomésticos, o que era, por óbvio, proibido. A ditadura que governava a Colômbia na época sofreu um duro golpe, o que acabou por desmistificar a lenda do marujo sobrevivente, que foi do céu ao inferno, e por render a Gabo um exílio.
Obra curta, leve, muito bem escrita. Como tudo de García Marquez, é um livro excelente!