Resenhas - Contos Cotidianos

TSBovaris 09/02/2012

Alguém chega e diz que devo grafar na embalagem da colcha a cor do produto e este nome além de refletir o conteúdo deve ser original e comercialmente vantajoso. Isso não parece ser uma missão difícil, mas dentro da caixa tenho uma colcha de retalhos multicolorida. Bem, a coisa começa a complicar.

Edgar Allan Poe criticou Nathaniel Hawthorne pela escolha do nome de uma de suas obras, mas Poe nada entendia de colcha de retalhos e do duro trabalho de sua escolha por um organizador de contos.

“Contos Cotidianos”, tá, então vejamos alguns dos temas abordados: cativeiro doméstico e assassinato, um esquiador alemão, uma jovem jogada ao mar e um homicídio, a violenta morte de um líder comunitário dissolvido em material tóxico... serão estas histórias cotidianas para a maioria de nós, ou só temos notícias destes fenômenos pelos jornais?

Sérgio Prado, o organizador da obra, busca justificar a injustificável escolha do título da obra: “Este espaço não tem dono. Aqui não existem amarras da ética, dogmas ou qualquer outro empecilho que possa, desrespeitosamente, atrever-se a impor censura. (...) A liberdade e a clareza de déias neste livro não serão como animais selvagens que necessitam ser domados...”

A capa trás uma imagem de uma rua européia em seu cotidiano, o que nada tem haver com os temas citados acima, e tão pouco com os demais do livro que se passam em um ambiente e um clima totalmente diverso do sugerido pela capa. A única ligação que existe é com o título do livro.

Não me lembro de ter lido nenhuma coletânea que tenha sido perfeita do começo ao fim e esta obra da Editora Regência não fugiu a regra: são quarenta e um contos de trinta e quatro autores, que variam em qualidade e estilo.

A leitura é rápida e a grande maioria dos textos é agradável, e o fato de não versarem todos fatos cotidianos não empobrece o resultado, pelo contrário, dançando de um lado para o outro a leitura surpreende a cada mudança de autor e estilo.

Destaco aqui:
- Reflexões Filosóficas Sobre a Morte na Fila do Correio, de Judith Nogueira;
- Um conto de Natal, de Marcelo Marques Flôres Acosta;
- Devaneios da Realidade, de Rafael Sales,
- O Presente de Aniversário, de Marcos T. Nogueira
- Aquele Amor, de Ana Felix Fernandes; e
- Misteriosa Presença, de Sérgio Augusto Alonso Ballaminut.

Este livro me enganou diversas vezes, ou melhor: este livro desnudou meu próprio preconceito. Durante vários textos formava a imagem do personagem e no decorrer da leitura me surpreendia ao ter que rever a figura por mim criada: não era um homem e sim uma mulher a protagonista. Foram tantas as vezes que me questiono se isso não ocorria antigamente por que os autores sempre informavam com antecedência quando uma personagem feminina entrava em cena ou se que foi o comportamento da mulher que deixou de ser tão distinto do masculino?

@apilhadathay 22/01/2012

Resenha Contos Cotidianos
"Este espaço não tem dono. Aqui não existem amarras da ética, religião, dogmas ou qualquer outro empecilho que possa, desrespeitosamente, atrever-se a impor censura. A liberdade e a clareza de ideias neste livro não serão como animais selvagens que necessitem ser domados, tampouco devam ser ventos a girarem moinhos. Então, que destas ideias não se faça proveito, deixando-as correrem livremente, soprarem sem direção certa, tendo na liberdade o único propósito. Refiro-me à liberdade de criação. Estas linhas também são minhas, digo, não vêm com a agonia dos dias atribulados, embora falem sobre o cotidiano... Vêm como uma psicografia ditado por ele, quando consigo escapar das voltas do relógio e das exigências diárias, que roubam a criatividade e o tempo. Quando escrevemos, tornamo-nos livres ou indiferente às comparações, avaliações ou julgamentos a que somos submetidos e aos quais nos submetemos constantemente... Perdemos a casca; criamos um espelho para ver o que não se enxerga na repetição dos dias. Olhemos o cotidiano e, com criatividade narremos o que nossa observação e imaginação permita ampliar, modificar ou apenas uma prática rotineira, inserida na dureza do que parece imutável. Mergulhemos no cotidiano; escapemos também, nem que para isto tenhamos que mergulhar em águas, quase sempre turbulentas."

Sergio Prado, organizador



CONTOS COTIDIANOS, da Editora Regência, é uma coletânea de 41 contos, organizada com esmero por Sergio Prado e lançada em Março de 2011. Recebi o livro em parceria com o meu amigo Rafael Sales, que tem participação no livro e adorei poder resenhá-lo. A linda imagem de capa é de Antonio Nogueira e a diagramação interna ficou simples, mas muito confortável à leitura.

Aliás, esta é uma das antologias que mais me deixou confortável ao ler. Revisado impecavelmente e reunindo tantas histórias relevantes e verossímeis, o livro impressiona, surpreende, choca e nos faz parar para avaliar os detalhes mágicos do dia-a-dia, nem sempre captados pela correria do cotidiano.

Temos encontros com estranhos em estações de trem, problemas familiares, percepção de caráter, casos polêmicos, morte, infância, trabalho, sexo, rotina e muitos temas que estão estampados no nosso dia, em casa e nas ruas. É uma coletânea de contos urbanos que usa a matéria-prima da vida em suas linhas, trazendo lições e arrebatando-nos do ciclo vicioso que se tornou nossa rotina, com os hábitos que dificilmente conseguimos abandonar - porque mal temos tempo para reavaliar nossos hábitos.

Li-o em dois dias e recomendo a todos os que precisam de férias, não só do corpo, mas na alma; para quem procura uma leitura leve e honesta sobre a vida e o que ela tem de mais simples: o ser humano enquanto caminha no mundo.

Infelizmente, não posso listar todos aqui, porque são mais de 40! Mas enumero abaixo os meus contos favoritos, pelo enredo em si/pela forma como foram contadas as histórias:
Misteriosa Presença
Amizade
Ausência
Devaneio da Realidade
Reflexões filosóficas sore a morte na fila do Correio

E os contos que considerei mais chocantes foram:
Presente de Aniversário (incrível)
O meu deus grego (surpreendente)


Confiram a resenha completa no CANTO E CONTO:
http://canto-e-conto.blogspot.com/2012/01/resenha-contos-cotidianos-org-sergio.html