Moonshadow

Moonshadow J.M. DeMatteis



Resenhas - Moonshadow


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Ricardo.Borges 01/03/2021

Um conto de fadas para adultos
Foi esta maravilhosa obra que me me fez perceber que histórias em quadrinhos não precisam ser necessariamente de super heróis e que a arte não está só em museus e galerias...
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Marc 05/11/2012

Um conto de fadas para adultos
Moonshadow é mais um dos grandes quadrinhos dos anos 80. Esse, contrariamente a Sandman e Monstro do Pântano, não fez tanto sucesso. O que não deixa de ser estranho, porque a fórmula é bem parecida: uma realidade fantástica, milhares de referências à arte, literatura e cultura pop, de modo geral. Para completar, um ilustrador que deixa Dave McKean (o festejado “capista” de Sandman) no chinelo, Jon Mutt. Levando em conta que depois da trilogia O Senhor dos Anéis, apostar em fantasia é barbada, não consigo entender porque ainda não foi reeditado por aqui... E uma nova edição faz falta porque saiu há mais de 20 anos, e só encontramos as edições antigas em sebos. Era anunciado como um maravilhoso conto de fadas para adultos, numa época em que essa palavra poderia ser mal entendida, pois não havia ainda o selo Vertigo e quadrinhos mais elaborados, fora das gigantes Marvel e DC eram marginalizados como underground.

É uma história simples, na verdade. Moonshadow conta todas as suas aventuras, depois que envelheceu e se tornou avô. Mas essa aparente simplicidade esconde uma poderosa história, que podemos dizer moral, pois há a consciência de um aprendizado quando o último capítulo chega ao fim. J. M. De Matteis, o escritor, teve a difícil missão de falar de tudo na vida: violência, amor, saudade, sexo, guerra, cobiça, luxúria, e tudo mais que você se lembrar de colocar nessa lista. Por isso, muitas vezes, não há como não imaginar que apesar das mais de 400 páginas, seria necessário muito mais.

A representação de seu pai é curiosa: uma esfera de luz, insondável, que sempre aparece para provocar uma mudança drástica na vida de Moonshadow e lhe parece uma autoridade rigorosa. Nesse ponto, DeMatteis estava afinado com a psicanálise (sei que o leitor de quadrinhos de modo geral detesta esse tipo de análise, mas não posso deixar de mencionar), o pai é sempre distante, muitas vezes autoritário e incompreensível, enquanto a mãe é a primeira paixão do menino. E essa é a maneira que ele percebe e transmite as coisas...

Na ausência do pai, Moon acaba se aproximando de uma figura absolutamente bizarra. Melhor do que descrever com minhas palavras vou citar a apresentação de Ira feita por DeMatteis: “Ele era grosseiro, cínico, malicioso, mal-humorado, arrotava sem nenhuma vergonha, defecava onde queria e ofendia todo mundo. Resumindo: um egoísta peludo que só se importava em encher sua barriga e acariciar seus genitais. Não foi à toa que ele me conquistou”. E ele segue dizendo que a falta do pai foi determinante nessa escolha, que era necessária uma figura concreta e presente...

Sobre a guerra, mais precisamente sobre a Guerra Fria, que ainda existia quando a história foi escrita, a HQ dá um exemplo de como as coisas podem se resolver de um modo diferente e imprevisível. Mas não vou entregar o que acontece para poder deixar alguma curiosidade no futuro leitor.

Mesmo assim, por várias vezes eu deixei o encadernado de lado e fui fazer outras coisas. O ritmo é moroso e a ingenuidade do protagonista às vezes irrita bastante. Mas acredito que tudo isso tenha sido planejado, DeMatteis é capacitado demais para receber uma crítica como essa.

Mas o que faz dessa história uma das melhores dos anos 80 e de todos os tempos, então? A resposta para isso pode ser encontrada em alguns filmes, os road movies. A idéia desses filmes é que os personagens amadureçam imperceptivelmente ao longo de sua viagem e descubram que o fundamental não era o que buscaram todo o tempo (chegar o mais rápido possível a seu destino), mas o trajeto e as pessoas diferentes que os levaram a rever e modificar sua maneira de ser. Daí dizer que a história é moral, que pretende ensinar alguma coisa ao leitor. Sei que pode parecer meio chato, que não empolga à primeira vista, mas se tiver oportunidade de ler, não pense duas vezes. O tom meio ingênuo do protagonista é, na verdade, proposital para construir esse efeito no leitor. Afinal, para falar de morte, por exemplo, não é necessário um tom tão solene. É triste e bonito ao mesmo tempo, até quando as pessoas que nos cercam não são capazes de respeitar nossa dor.

No fim da leitura, pelo menos na primeira vez que li, fiquei meio sem saber o que pensar. E só depois de um tempo que percebemos que a grande idéia da HQ estava ali o tempo todo. “Um segredo que todos já sabem”, como o próprio Moon diz. Mas que não aparece escrita vez nenhuma, mesmo que as belas ilustrações finais de Jon Muth cumpram bem o papel de indicar o que se quer dizer. Moonshadow é certamente umas das melhores histórias em quadrinhos de todos os tempos, mas parece que cada vez mais o que ela diz vai ficando antigo e perdendo o sentido. Nada mais anacrônico do que o subtítulo de “conto de fadas para adultos”,porque nos faz pensar num tipo de leitura que se fazia antigamente apenas para crianças e que perde espaço na vida adulta e séria de todos nós.

No entanto, acredito que só temos a ganhar se pararmos algumas horas para ler essa bela história.
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