Tami 27/06/2012Resenha publicada em: http://gavetaabandonada.blogspot.com.br/2012/06/resenha-um-dia-depois-do-outro.htmlQuando pedi o livro pela parceria com a editora, imaginava um livro que me faria derramar lágrimas, envolvendo de forma romântica uma história triste de perda ou algo do gênero. Me surpreendi quando vi que o livro não seria assim.
"O truque, quando se procura um dente perdido na borra do café, é não se deixar iludir pelas bolotas. A única maneira de ter certeza é desmanchando cada bolota entre o polegar e o indicador, o que deixa as mãos imundas. Esta manhã Ginny e eu caçamos, durante uns vinte minutos, na lixeira da cozinha, o dente superior esquerdo frontal da nossa neta de sete anos, Jessica." (pág. 7, parte do primeiro parágrafo)
Roger conta como a sua vida e a de sua família se modificou após a morte de sua filha Amy. Para começar, ele se muda junto com a mulher (Ginny) para a casa de Harris, seu genro, para ajudar a cuidar dos seus três netos: Jessica, de sete anos, Sammy, de cinco, e James, de um ano e oito meses. A narrativa não é contada de forma romanceada, mas em formato de pequenas histórias/crônicas sobre coisas em geral que aconteciam em alguns dias da família.
"- Boppo! - diz Sammy prestes a me apresentar ao colega que apareceu para brincar com ele. - Este é o Cameron! Ele é chinês! Ele come insetos!Cameron sorri e assente com a cabeça.- E abelhas! - acrescenta Sammy. - Primeiro ele mata, depois come!"
Acompanhamos algumas situações sensíveis enquanto vemos o amadurecimento e compreensão de todos sobre o que aconteceu. A história não segue uma linha única, intercalando momentos do passado (com Amy ainda viva, as vezes até histórias dela quando criança) e fatos do presente. Porém o livro realmente se foca mais no pós, retratando como as pessoas lidaram com essa situação.
As narrativas da relação com o autor com os netos são, em grande parte, engraçadas. Nada mais são do que histórias de crianças, que a gente pode facilmente relacionar ou enxergar alguma conhecida nossa fazendo as mesmas coisas, e é isso que torna elas cômicas. Ao mesmo tempo o livro traz partes muito sensíveis, mostrando como as crianças sentem falta da mãe e o choque que sua morte trouxe para elas.
As partes em que Amy aparece ou é citada são as mais tristes. Gostaria que tivesse um pouco mais sobre ela no livro. Sei que o foco do autor foi o depois, mas confesso que a história sobre a pessoa que morreu (nesse e em qualquer outro livro) sempre me emociona mais.
É um livro fácil de ler, rápido e de linguagem tranquila. Não tem grandes lições, suspenses ou um final impactante, apenas mostra a vida como ela é. Como não tem uma narrativa linear, podemos passar algum tempo sem ler e voltar a ele sem problema - ótimo para ter na bolsa e ler naqueles momentos de espera.
Recomendo: para quem gosta desse estilo de narrativa, quer uma leitura tranquila, e gostou de livros como "A lição final".
"Desejei para ela o prazer de uma conversa espirituosa com um estranho e momentos de alegria incontrolável. Desejei-lhe uma vida num lugar onde fosse possível ver uma nesga de céu. O ensaio termina com a promessa de jamais deixá-la afastar-se de mim." (pág. 66)