Resenhas - As Coisas

Laura K. 24/11/2016

RESENHA DE LIVRO #03 | AS COISAS: UMA HISTÓRIA DOS ANOS SESSENTA - GEORGES PEREC
(...) Aparentemente, vivem felizes pagando aluguel de um diminuto apartamento, tal como a grande parte dos/as jovens com sua idade nos bairros parisienses. Embora amem e valorizem “as pequenas coisas” e a simplicidade do cotidiano, com certo desânimo, não conseguem fugir dos anseios inebriantes sobre o que a riqueza e as grandes marcas da moda poderiam lhes proporcionar de conforto e boa aparência em frente aos seus pares.

Fica nítida, nesse contexto, a forte associação da felicidade à localização da residência e, em especial, às coisas que conseguem adquirir durante sua existência. A maneira como pensam, suas atitudes e decisões giram em torno do que deveriam possuir para vestir e amariam ter para decorar o lar. Suas vidas parecem não fazer sentido, a não ser quando obtém o que lhes custam muitas cifras.

Não à toa, após uma rápida e repentina mudança para Sfax/Tunísia, diante da "ausência de qualquer coisa, daquela vacuidade fundamental, daquela zona neutra, daquela tábua rasa, tinham a impressão de se purificar, de redescobrir uma simplicidade maior, uma verdadeira modéstia" (PEREC, 2012, p. 101), a vida do casal passa a ser como "um hábito demasiado longo, como um tédio quase sereno, uma vida sem nada" (PEREC, 2012, p. 102).

De certa forma, sem muita paixão, consegui me identificar bastante com os questionamentos do casal, talvez pela idade, por dificuldades financeiras ou desilusões com as expectativas para o futuro. Enfim, a semelhança com a sociedade de consumo moderna faz da leitura de “As Coisas: uma História Anos Sessenta”, publicada pela Editora Companhia das Letras, um tanto quanto espantosa e inquietante, mas intrigante e adorável.

site: http://afetodireito.blogspot.com.br/2016/11/resenha-de-livro-03-as-coisas-uma.html

Silvana (@delivroemlivro) 25/11/2012

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Tks!

Aguinaldo 02/05/2012

as coisas
Primeiro livro publicado de Georges Perec, "As coisas" não é interessante como "Vida: modo de usar", nem tem as curiosidades linguísticas caras ao OuLiPo, como "A disparition" ou "Les revenentes", mas é o tipo de narrativa que vale o tempo de um sujeito. É um livro pequeno, pouco mais de cem páginas, que lembra o "Bouvard e Pécuchet", de Flaubert, mas que não disfarça uma leitura marxista da história, algo esquemática demais para o meu gosto. Perec descreve uma sociedade de consumo ainda incipiente, mas que já no tempo da narrativa, início dos anos 1960, domina as ações, projetos e desejos de um jovem casal. Jérôme e Sylvie abandonam os estudos universitários e passam a trabalhar no ramo da publicidade, com pesquisas de opinião. Flertam com uma vida pequeno-burguesa, alternando períodos de ganhos financeiros expressivos e aborrecimentos; viagens caras e gasto de tempo ou dinheiro com futilidades; preocupações com o futuro e sonhos imbecis (que só completos idiotas, mas felizes, sabem ter). Perec parece antecipar o mundo em que vivemos, onde dificilmente um sujeito escapa da sedução do consumismo e das aparências. Não há surpresas no desfecho da história de Jérôme e Sylvie. Após uma temporada difícil nas colônias africanas eles voltam à França e ao conforto material que só o mundo do dinheiro sabe oferecer. Perec (que era um sujeito muito bem humorado e irônico) iria se divertir á beça neste adorável mundo novo em que vivemos, onde a estupidez é mesmo uma poderosa moeda de troca. [início 20/04/2012 - fim 24/04/2012]
"As coisas: uma história dos anos sessenta", Georges Perec, tradução de Rosa Freire d'Aguiar, São Paulo: Companhia das Letras , 1a. edição (2012), brochura 14x21 cm, 116 págs. ISBN: 978-85-359-2021-5 [edição original: Les Choses: Une histoire des années soixante (Paris: Éditions René Julliard) 1965]