A Máquina Diferencial

A Máquina Diferencial William Gibson
Bruce Sterling
Bruce Sterling




Resenhas - A Máquina Diferencial


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Bruno Falabella 08/02/2024

Clássico do Steampunk, mas...
O livro, escrito no início dos anos 90, é considerado um dos precursores, portanto um clássico, do steampunk, que é um subgênero da ficção científica, uma variante do "cyberpunk".
Ambientado na Inglaterra vitoriana, mistura personagens reais com ficcionais.
A questão é que é bem entediante. Leitura arrastada.
Leia mais no meu blog:

site: https://bchfalabella.blogspot.com/2024/02/acabei-de-ler.html
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Letícia.Werner 22/09/2018

A fantástica história alternativa da computação.
“Sua atenção está fixada no céu, na silhueta de imensa e fascinante graça – o metal, que no intervalo de tempo da vida dela, aprendera a voar sozinho. À frente desse esplendor, aeroplanos minúsculos não tripulados mergulham e sibilam contra o horizonte vermelho ao fundo. Como estorninhos, pensa Sybil.”

E assim somos introduzidos a um mundo em que a computação surgiu um século mais cedo.

Escrito a quatro mãos por William Gibson e Bruce Sterling, A Máquina Diferencial pode ser considerado o precursor do steampunk atual, até por ser o título que nomeou o estilo.

A premissa retrofuturista retrata uma Inglaterra em meados do séc. XIX. Nela, figuras históricas importantes, que realmente criaram as bases conceituais para a programação, como Charles Babbage e Ada Byron, conseguem dar um salto anacrônico e produzir os primeiros computadores mecânicos. Estes computadores são apresentados como peças massivas, de capacidades similares aos primeiros computadores desenvolvidos pela IBM, mas movidos por motores à vapor.

O livro explora como seria o cotidiano desta época era junto dos computadores, e que funções as máquinas levariam dentro da sociedade. Como motor central, uma conspiração que envolve uma caixa de cartões perfurados, múltiplas figuras históricas e fictícias, e acontecimentos que realmente se passaram na era.

O desenrolar da trama é bastante demorado, com os autores focando nos cenários e aspectos sociais do mundo retratado. Alguns temas são as lutas entre classes, assim como o conflito da tradição com o progresso, e o aumento da poluição, já bastante grave na versão real da época. Esta visão enriquece muito o ambiente do livro, mas tenho que admitir ter ficado surpresa quando, de repente, me encontrei no clímax da história.

Ainda assim, é incrível como certos avanços anacrônicos são apresentados no livro, que reforçam o salto tecnológico acontecido naquela sociedade, a qual já passava pela revolução industrial. Eles vêm para o bem e para o mal, melhorando vidas e deixando problemas mais evidentes. Um bom exemplo seria o registro civil usado na história: um cartão perfurado com números para a identidade do cidadão, que pode ser usado para buscar, nos computadores oficiais, todas as informações que o governo tem sobre determinada pessoa. Sistema bastante prático, mas manipulável.

Há dois protagonistas, apresentando cada qual sua visão. Sybil Gerard inicia o livro e traz o conflito de classe e o cotidiano dos menos avantajados. Ela e seu caso, Michael Radley, são jovens de classe baixa que procuram algum meio de se saírem melhor na vida. Sybil protagoniza o primeiro capítulo e faz pequenas aparições durante o resto da história.

O restante é protagonizado pelo dr. Edward Mallory, paleontólogo que, em sua última expedição, encontrou a ossada de brontossauro mais completa descoberta até então. Com ele vemos como uma vida mais abastada se daria naquela realidade.

“Do lado de fora do Palácio de Paleontologia, o céu de Londres era uma cobertura de neblina amarela pairando sobre a cidade em sombrio esplendor, tal tempestuosa água-viva gelatinosa.”

Uma curiosidade é a forma que os capítulos são abertos e adendos feitos pelo narrador os sobre as situações vividas. Trata-se de uma análise mecanizada de algo que já passou, como de alguém que tem acesso à muita informação sobre o acontecimento, mas não estava presente. Parte dessa sensação é causada pela forma que o livro foi redigido.

Lançado no início dos anos 90, ambos os autores ainda se acostumavam e experimentavam programas de edição de texto, assim como a usar a própria internet como referência bibliográfica.

Outro ponto interessante é que eles não se reuniam para editar o texto. Cada um escrevia a sua parte, e então a enviava para o outro em disquetes, por correio.

William Gibson e Bruce Sterling foram precursores do movimento cyberpunk, ramo da ficção científica focado nos avanços da cibernética e da computação, assim como na subversão da ordem social. Quando perguntados que gênero “A Máquina Diferencial” se encaixaria, eles o chamaram de steampunk (vapor-punk), termo já usado para outras obras dos cyberpunkers que se situavam na era vitoriana. Neste verbete acabaram se encaixando múltiplas obras que vieram após a “Máquina”, assim como muitas anteriores a ela. Se caracterizam como ficções ambientadas em sociedades similares às encontradas do meio do séc. XIX até início do séc. XX, com o uso de máquinas à vapor e tecnologias mais avançadas do que a época permitia. Diferente da maioria dos ramos da ficção científica, que falam sobre o que talvez será, steampunk cogita sobre o que não foi.

Por fim, “A Máquina Diferencial” é uma excelente leitura para qualquer um que tenha interesse em história, computação e steampunk. É lento, mas agradável, e em muitos aspectos lembra o gênero da ficção original dos autores.

A versão que li foi a bela segunda edição da Editora Aleph, de 2015, que contém vários extras interessantes. A editora é especializada em livros de ficção científica clássicos, e vale a pena conferir.

site: https://momentodeficcao.wordpress.com
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Gárgula 12/07/2017

A máquina diferencial é um saco!
Enfadonho demais e não consegue prender o leitor de maneira alguma. Não indico.
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Cris 31/01/2017

Literatura Marginal

Com o passar dos anos, a literatura steampunk vem gradualmente se esvaziando e se banalizando até se tornar, atualmente, um mero pretexto para a criação de fiapos de roteiros para games e RPGS de quinta categoria sobre robôs no Império Romano, no Egito Antigo, e sei lá que outras bobagens mais, criadas para entreterem a nerds conservadores e de imaginação pudica. O problema, creio eu, é que a maioria desses novos "fãs" de ficção científica se esqueceram do significado da palavra "punk" neste subgênero da sci-fi que quer dizer caos, violência, revolta, subversão...Enfim, além de qualquer rótulo de gênero a que possa vir a pertencer, o steampunk (assim como seu irmão cyberpunk) é, acima de tudo, literatura brutal, indigesta e provocativa.
E "A Máquina Diferencial", escrita pelos profetas do apocalipse digital William Gibson e Bruce Sterling, é uma das melhores portas de entrada para este, frequentemente, infantilizado ramo da ficção científica hardcore.
Ambientado na Inglaterra do Século XIX, "Difference Engine", que devido a complexidade de sua trama e a gigantesca pesquisa histórica que os autores devem ter realizado levou sete anos para ser redigido, vai muito além do chavão "robôs e alta tecnologia no passado" pelo qual o steampunk ficou estigmatizado. "A Máquina Diferencial" é uma complicada, confusa, noir e perturbadora crônica sobre a truculência e a sordidez urbana, sobre a corrupção política e a decadência social de ontem, hoje, e, provavelmente, do amanhã. "A Máquina Diferencial" é literatura das ruas, marginal, bukowskiana, overdose de sexo, drogas e violência. E que, apesar de abordar tanto o lado benéfico, quanto podre, que o advento da I.A. um século adiantado traria para nossa sociedade, está muito mais para "Cidade de Deus" de Paulo Lins e as obras de Ferréz do que para Júlio Verne e H.G. Wells.
Pois, como disse um dos autores de "Difference Engine", Bruce Sterling, em uma entrevista certa vez: "Saia da frente de seu computador e vá dar uma voltinha na favela. Depois pergunte-se: eu estou fazendo algo para mudar esta situação"?


Gustavo 08/05/2017minha estante
Rapaz, que Review em. Não li ainda, mas curti muito a comparação com Lins e Ferrez




Marcos 14/10/2016

A Revolução Industrial mudou o mundo para algo completamente diferente do que conhecíamos antes. Estamos na Inglaterra vitoriana, num período da história em que a ciência promove mudanças radicais nos ciclos da sociedade da época. O dito Partido Radical encontra-se em seu momento de maior ascensão. Um cientista desenvolveu uma máquina que pretende introduzir o mundo numa era da informação, um século antes de isso realmente acontecer e elevar o país para o topo do mundo.

Como seria o mundo se a Inglaterra fosse o país mais rico e influente? E um governo governado apenas por máquinas, sem decisão de humanos envolvidos?

Esse livro é tido como uma das obras mais importantes do gênero steampunk. O plot original do livro, a criação da "supermáquina" ou da máquina diferencial, aconteceu de fato na realidade. Charles Babbage (1791-1871), cientista e engenheiro, realmente criou uma espécie de "computador programável", mas não com intenções políticas, e sim para auxiliar na astronomia e em cálculos matemáticos.

Eu tenho uma relação de amor e ódio com o steampunk. Alguns livros que já li do gênero adorei, enquanto outros se tornaram leituras arrastadas e cansativas. No caso desse livro, fico no meio termo. Algumas partes foram de leitura muito ágil, enquanto outras demoraram a passar. Definitivamente não é um livro para ser lido rapidamente ou para descansar a mente. O texto exige um grau maior de depreensão e um grau maior de esforço do leitor em alguns momentos.


No geral é um bom livro de ficção científica e um bom representante do steampunk. Recomendo a quem gosta do gênero, mas reiterando que não é uma leitura para ser feita rapidamente.

site: http://www.capaetitulo.com.br/2016/10/resenha-maquina-diferencial-de-william.html
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Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 05/09/2016

JÁ LI
William Gibson e Bruce Sterling são ícones absolutos da ficção-científica. Gibson escreveu "A trilogia Sprawn", obra imprescindível para quem gosta do gênero. Sterling é reconhecido pelos contos steampunk. Portanto, quando vi que eles tinham escrito este livro - A Máquina Diferencial - juntos, quase surtei de emoção.


O livro, na realidade, é uma extrapolação, pois tanto Charles Babbage - uma das personagens do livro - quanto esta Máquina Diferencial realmente existiram. A Máquina foi construída por Babbage em 1822 (vide foto) com o objetivo de calcular mecanicamente polinômios, usados para cálculos de engenharia, astronomia, navegação, ciência, etc.

O livro, escrito em 1990, tem uma sinopse parecida à história real. Em uma Londres vitoriana steampunk, Charles Babbage construiu a Máquina Diferencial, uma supermáquina capaz de fazer cálculos avançadíssimos e, com eles, manter a Inglaterra na supremacia do mundo. Quando Babbage percebe que já conseguiu se estabelecer na aristocracria por causa da importância da sua invenção, ele decide elevá-la a um novo patamar, criando uma camada de Análise nesta Máquina, que permitirá que muitas decisões de Estado sejam feitas de forma automática e mecânica, sem passar pelo crivo dos homens.
A estória segue o curso das ações de três personagens: Sybil Gerard, cortesã e filha de um líder revolucionário; Edward Mallory, paleontólogo e explorador; e Laurence Oliphant, espião inglês a serviço do governo britânico.

Ao longo do enredo, surgem diversas intrigas que visam destruir esta supremacia da Inglaterra e, consequentemente, a Máquina Diferencial, o que confere ao livro, predominantemente, um tom político. O livro também explora as consequências do avanço tecnológico para a sociedade e para o Governo, demonstrando as implicações das tais Análises da Máquina. O cenário econômico e político mundial do livro torna-se uma ficção especulativa que responde à pergunta: "E se a Inglaterra fosse o país dominante do planeta?". Com isso, países como EUA e China são representados como fragmentados e pouco poderosos, a alimentação e cultura mundiais são baseadas nos costumes ingleses, e assim por diante.

Porém, todavida, contudo... não gostei do livro. Terminei a leitura porque queria saber onde a estória iria chegar e, embora o final seja surpreendente, não me cativou. Gibson e Sterling juntos conferiram uma narrativa arrastada e demorada, com alguns trechos incompreensíveis e, na minha opinião, era fácil notar quando um e outro haviam escrito os seus respectivos trechos, pois a narrativa não ficou homogênea. Esperava mais da junção de dois cérebros tão geniais.

site: http://perplexidadesilencio.blogspot.com.br/2016/02/ja-li-11-william-gibson-bruce-sterling.html
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Luiz Otávio 10/03/2016

Introdução perfeita ao steampunk
Primeiramente, não se deixa enganar: Não é um livro linear, que vai discutir uma trama corrente cheia de reviravoltas e emocionante... não. É um livro que está dedicado a criar um mundo, um passado que nunca existiu. Mas é contado com tantos detalhes, que você realmente acredita que aquilo é real, de alguma forma. E nesse quesito, sem sombra de dúvidas é um livro espetacular. É descrito minunciosamente roupas, equipamentos, pessoas, dialetos e arquitetura que nunca existiram de fato misturado com diversas outras que existiram (incluindo uma infinita gama de personagens reais). O trabalho de Gibson e Sterling é bonito de se ver.

Mas o porém é muito grande. Se o leitor não for familiarizado com a história inglesa (e um pouquinho da americana também), pode encontrar alguma dificuldade de leitura em determinados pontos. Mesmo com o (extremamente útil) glossário e guia de personagens, logo no final da edição (que aliás, recomendo ler ANTES e DURANTE a leitura do livro) é bem possível que certos pontos fiquem monótonos ou desinteressantes.

A história em si é bem legal, meio simples até. Acompanhando três personagens diferentes ao longo do livro (mas o paleontologista Edward "Leviathan" Mallory em sua grande maioria), você descobre tramas políticas e conspirações contra o poder, radicais X liberais e todo um contexto sindical do período. É realmente muito interessante. Mas sim, se você não tiver preparado, vai ter sono em alguns pontos.

Se vale a leitura? É um clássico da ficção científica, é uma das principais obras do steampunk, apesar de tudo tem um embasamento histórico muito grande e é uma referência para a literatura, então se você se interessa por qualquer um desses assuntos, é literatura obrigatória. Se não for seu caso, cuidado, sério.
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Davenir - Diário de Anarres 25/02/2016

Ao contrário de muitas obras do Steampunk, esta faz jus ao punk.
A Máquina Diferencial (William Gibson e Bruce Sterling) é uma obra de referência do subgênero Steampunk, por toda a estética descrita no livro que é argumentada por uma Ucronia (ou História alternativa). Tal premissa (o "e se" da história) é a de que a Máquina diferencial, de Lorde Babbage, foi concluída e implementada pelo governo britânico culminando numa versão mais acentuada da Revolução Industrial que estudamos na escola. Temos uma grande quantidade dos desdobramentos sociais, políticos, tecnológicos e estéticos, deste mundo envoltos em mistérios intrincados com a tecnologia de computadores.

A História: Acompanhamos três personagens principais: Sybil Gerard, uma prostituta filha de um revolucionário ludita traído encontra Mick Radley auxiliar de um político Texano que deseja dar um golpe de estado no Texas; Edward Mallory, paleontologista famoso que retorna a Londres depois de uma expedição bem sucedida, onde descobre o brontossauro; e Laurence Oliphant, um jornalista misterioso que junta algumas partes do misterioso quebra-cabeça em relação dos cartões perfurados pertencentes a Lady Ada Byron. O mistério envolve inclusive a identidade do narrador onisciente do livro.

Fazendo jus ao punk, do Steampunk: O mundo criado por William Gibson e Bruce Sterling, é grande parte do atrativo da obra. Uma mundo movido a tecnologia de vapor e engrenagens mecânicas á partir da Inglaterra, deu muita margem a interpretações glamourosas e luxuosas da estética steampunk. Mas não se engane, é um mundo tão sujo e cheio de personagens marginais como o cyberpunk. Um mundo movido também a carvão que deixa a acidade tão poluída e nublada da fumaça das fábricas como as grandes cidades da China de hoje. Os personagens reclamam da poeira por muito mais tempo que comentam vestuários luxuosos. A Máquina Diferencial faz jus tanto ao vapor quanto ao punk que compõe o subgênero que lhe é atribuído.

O que ajuda e o que pode atrapalhar nesta jornada: Um aspecto que se tornou marca das obras Steampunk é que suas edições primam pela estética. Não refiro-me apenas a capas bonitas, mas a busca por um linguajar da época, mapas, informações adicionais como glossários de termos e personagens, tanto os históricos como os criados para a obra. Isso com certeza ajuda o leitor a imergir neste mundo alavancado pela dupla Gibson e Sterling. Contudo, o leitor pode encontrar dificuldades na leitura caso não conheça um pouco do contexto da Revolução Industrial.
Um dos requisitos para curtir uma história alternativa é conhecer um pouco da história, digamos, "oficial" para poder viajar nos cenários que nunca se concretizaram e poder surpreender-se com eles, por exemplo nos Estados Unidos que se despedaçaram politicamente frente ao poderio do império britânico, que por sua vez é motivador da presença do General Sam Houston na primeira parte da história. O fato do final não fornecer explicação para todos os mistérios da trama também pode decepcionar o leitor. Mesmo aqueles momentos explicados, não o são de modo explicito. Finalmente, apesar do livro não ser imenso é bastante complexo e exige do leitor um fôlego maior para apreciá-lo.

site: http://www.wilburdcontos.blogspot.com.br/2015/12/resenha-maquina-diferencial-william.html
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Rodrigo 02/12/2015

Pretérito Imperfeito
Os autores ambientam a estória do livro numa Londres do século XIX que poderia muito bem ter existido. Muitos do personagens são figuras históricas e as máquinas a vapor tomam ares de computadores… está pronta a receita dessa narrativa que nos faz pensar "e se isso tivesse realmente acontecido dessa forma, como estaríamos hoje?". Não deixe de ler o posfácio, pois ele traz muitos elementos que elucidam e juntas as peças faltantes para você entender o quebra-cabeças.
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Weber 30/07/2013

Um mundo fascinante e um MacGuffin
Acompanhamos três personagens ao longo do livro sendo que cada parte é focada em um personagem (a do Dr. Mallory de longe a melhor e a mais longa). A divisão me incomodou um pouco pois os personagens desaparecem abruptamente. Mesmo que o "final" destes personagens seja narrado, fiquei curioso para saber como algumas situações mais imediatas, embora inconsequentes para a narrativa, seriam resolvidas na vida destes personagens. O universo criado pelos autores é bem interessante e gostei do fato de os autores permearem o pano de fundo de seu universo tanto com teorias científicas que hoje sabemos (ou achamos) verdadeiras como teorias que já foram descartadas. Isto dá a sensação de uma sociedade ainda em desenvolvimento e não simplesmente uma transformação de nossa sociedade atual em um ambiente cyberpunk. Este cuidado também está evidenciado nos costumes da época. O pano de fundo político e social são fascinantes. Sendo assim, pela segunda vez em um livro do William Gibson achei que a jornada foi mais importante do que o destino final. E acho que isso se evidencia pelo uso de um dos artifícios preferidos do Mestre Hitchcock: o MacGuffin. Se foi intencional eu não sei, mas ao final do livro a existência do MacGuffin está clara quando nos damos conta que o que parecia ter importância não era tão importante... pelo menos para nós leitores.
Por fim, não deixem de ler o posfácio que traz uma revelação sobre a estória que eu não pude perceber e dá enfoque completamente diferente ao livro.
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Renan Barcelos 07/06/2012

Um romance histórico de um passado que nunca existiu
Willian Gibson e Bruce Sterling são conhecidos principalmente pelo mérito de definir o que seria o cyberpunk na literatura, com trabalhos como Neuromancer e a antologia Mirrorshades, no entanto, A Máquina Diferencial(Editora Aleph;2012; R$ 55,00; 456) não leva o leitor até um futuro distópico. O livro, escrito simultaneamente pelos dois autores durante o período de sete anos, trás à tona uma era vitoriana onde vapor e computadores fazem parte do cotidiano. Além de serem os precursores do cyberpunk, os dois autores acabaram escrevendo uma das maiores referências do Steampunk.

No universo de A Máquina Diferencial, a ciência evoluiu de forma muito mais acelerada que a versão histórica da era Vitoriana. Conseguindo finalizar o projeto nomeia o livro, o matemático Charles Babbage acaba trazendo uma série de mudanças não só para a ciência como para o mundo.


Adquirindo cada vez mais influencia devido às conseqüências da revolução industrial e da Máquina e conseguindo frustrar o golpe de estado realizado pelo Duque de Wellington, Lorde Byron e o Partido Radical – os rads – conseguem chegar ao poder. Logo a influencia da Inglaterra começa a aumentar, os portos do Japão são abertos pelos ingleses e os estados unidos se dividem e enfraquecem antes mesmo de haver uma guerra de secessão. A velha aristocracia inglesa perde seus direitos hereditários e uma meritocracia científica, sob o olhar do primeiro ministro, Byron, domina o panorama político.

Com o tempo, carruagens a vapor trafegam por Londres, inúmeras máquinas são automatizadas por programação usando cartões perfurados, cinétropos – cinemas feitos com a tecnologia da Máquina – atingem a grande população e uma vasta rede de quilômetros de engrenagem processa as informações da maioria das agencias inglesas.

Em meio à isso, Sybil Gerard, uma prostituta, filha de um finado líder ludita, se vê em meio à politicagens que envolvem Sam Houston, Presidente da República do Texas que fora deportado. Edward Mallory, paleontólogo que descobriu o Brontossauro enquanto lutava com índios e texanos, vê sua carreia em ascensão ser ameaçada por um criminoso. E Oliphant, um jornalista, diplomata e espião, tenta juntar as peças que consegue encontrar. Histórias que à primeira vista parecem desconexas, mas onde uma série de curiosos cartões de clacking – ferramentas usadas para programação da Máquina –, um bandido texano e a própria Rainha das Máquinas, Ada Byron parecem sempre estar envolvidos em uma conspiração que ameaça todo o Partido Radical.

O livro tem uma história cativante, que prende a atenção do leitor e mais do que cumpre seu papel. No entanto, esta longe de ser um dos únicos atrativos. A Era Vitoriana re-inventada por Gibson e Sterling é uma maravilha a parte. É possível ver todo espírito vitoriano numa Inglaterra que nunca existiu, com suas mudanças que começam à partir da criação da Máquina e pouco antes do golpe de estado de Wellington, que nunca existiu.

Personagens históricos e fictícios (estes, bem poucos na verdade), se misturam na Londres que nunca existiu. Cada qual vivendo vidas alteradas pela tecnologia e mudanças culturais. Benjamin Disraeli, que nesta época deveria ser o primeiro ministro ao invés de Lorde Byron, não passa de um jornalista e escritor um pouco mau afamado em seus círculos. Nem mesmo The Two Nations, romance escrito pelo Disraeli histórico, escapa das mudanças, pois Sybil, a prostituta que figura entre os personagens principais, na obra original se casaria com Charles Egremont, homem que no steampunk destruiu sua vida.

É notável ver toda a comunidade científica desvelada pelo olhar de Edward Mallory. A salada de referencias históricas afetadas pelo surgimento da Máquina é um dos pontos mais bem construídos do livro, as discussões científicas que o paleontólogo fictício mostra a situação da ciência na sociedade tecnocrática e em como um homem que nunca existiu interagia com personalidades históricas. Em especial, as passagens onde se discute o Catastrofismo e sobre a natureza dos dinossauros mostram muito bem a cultura científica que se formou na Inglaterra (embora muitos leitores possam preferir momentos como quando Mallory, seus irmãos e o policial Fraser vão à caça do “líder” da nova revolução ludita, o capitão Swing).

Em a Máquina Diferencial, Willian Gibson e Bruce Sterling mostram que escrever em pareceria, embora traga o dobro do trabalho, como eles mesmos dizem, podem trazer uma obra memorável. Todos os sete anos de pesquisa e escrita parecem ter valido a pena, pois realmente construíram um romance histórico de um passado que nunca existiu, as referências a mais de trinta personalidades que realmente existiram em nossa histórica mostram o quão bem arranjado foi o romance. O palavreado e a postura dos personagens também foram de muita eficácia, pois remetem muito bem o sabor da Era Vitoriana.

A edição brasileira da Editora Aleph, apesar de carregar um atraso de mais de vinte anos – a obra foi lançada em 1990 – é de altíssima qualidade. As paginas são melhores que a maioria das publicações brasileiras, fisicamente o livro é de altíssima qualidade. A tradução, feita por Ludimila Hashimoto, é muito esmerada, conseguindo passar muito bem o clima e o palavreado de uma época antiga. No fim do livro, glossários com termos da época e breve histórico das várias personalidades históricas situam qualquer leitor. Um posfácio escrito pelos autores para a edição comemorativa de vinte anos e um mapa completam o volume.

A máquina diferencial é um prato cheio não só para os amantes do steampunk, mas também para aqueles que gostam da era vitoriana. Toda a arrogância burguesa, os cavalheiros, as damas, o palavreado rebuscado, espartilhos, cartolas e anáguas, bem como o panorama de uma Londres tão semelhante – mas ainda assim tão diferente – podem ser encontrados. Cultura, política e ciência especuladas, bem como máquinas a vapor e o punk em forma de revolta social são coisas que um leitor pode ter certeza de que irá encontrar.

Para mais resenhas, contos, e etcs https://eoutroscenarios.wordpress.com/
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Antonio Luiz 29/02/2012

O pai dos steampunks
"The Difference Engine" (A Máquina Diferencial), de 1990, foi a primeira grande obra da ficção steampunk. Neste romance, Gibson e Sterling imaginaram uma história alternativa do século XIX.

O pivô da mudança é Charles Babbage, matemático e inventor que, na vida real, a partir dos anos 1820 tentou construir a verdadeira “máquina diferencial”, uma complexa calculadora mecânica, programável como um computador e dotada de impressora. Babbage nunca conseguiu os recursos de que precisava para transformar seus desenhos em realidade, mas em 1989, uma equipe do Museu de Ciência de Londres montou sua máquina e mostrou que ela funcionava perfeitamente. O que, naturalmente, sugere a pergunta: o que teria acontecido se Babbage tivesse concretizado seu sonho e os computadores começassem a mudar a tecnologia e a sociedade mais de um século antes de terem aparecido na história real?

No mundo imaginado por Gibson e Sterling, a aceleração da mudança tecnológica que resulta da combinação da máquina a vapor com a máquina diferencial teria resultado em uma revolução comandada por Lorde Byron e na instauração de um regime tecnocrático liderado por cientistas, industriais e sindicatos operários.

Essa revolução concretiza e inverte ironicamente "Sybil, ou as Duas Nações", romance sobre conflito e conciliação de classes que foi escrito, na história real, por Benjamin Disraeli, mais tarde primeiro-ministro favorito da rainha Vitória e um de seus lordes. No mundo alternativo, Disraeli não passou de escritor popular, enquanto George Byron, na vida real um grande poeta do romantismo inglês, torna-se líder político e o chefe do governo britânico.

No romance de Disraeli, reformas políticas traziam a paz social, simbolizada pelo casamento da jovem operária Sybil, filha de um agitador trabalhista, com o aristocrata Charles Egremont. Na releitura mais realista de Gibson e Sterling, Sybil é seduzida e abandonada por Egremont e torna-se uma prostituta.

Enquanto isso, devido a seu desenvolvimento tecnológico acelerado, o Império Britânico torna-se muito mais poderoso e incentiva a guerra civil dos EUA e sua fragmentação, enquanto o uso das máquinas de Babbage se generaliza a ponto de que cavalheiros vitorianos fazem compras com cartões de crédito, artistas projetam animações pixeladas nas telas de teatros e os governos de Lord Byron e Napoleão III podem registrar e controlar seus cidadãos por meio de cartões perfurados processados por máquinas imensas.

O lado distópico vem à tona com o “Fedor”, um episódio de inversão térmica e insuportável poluição em Londres. A cidade é parcialmente evacuada e cai em um estado caótico, durante o qual grupos revolucionários tentam tomar o poder, emulando a Comuna socialista e feminista que o Karl Marx dessa realidade alternativa liderava em Manhattan. Mesmo assim, os protagonistas comportam-se com a dignidade e a arrogância esperada de heróis vitorianos, convictos da superioridade de sua classe, sua nação, sua raça e seu sexo.

A ousadia de Gibson e Sterling - os dois maiores astros da ficção cyberpunk - de antecipar para o século XIX os perigos e possibilidades da cibernética consolidou o apelido steampunk. Por analogia, especulações sobre desenvolvimentos alternativos da história e sociedade em outras etapas da tecnologia e da história têm recebido alcunhas semelhantes, embora igualmente nada tenham a ver com o movimento punk: clockpunk, dieselpunk etc.
Paulo Gomes 29/02/2012minha estante
Excelente sinopse, muito informativa!


figuinho 17/04/2014minha estante
Bacana seu texto, serviu para ilustrar e somar a experiência do livro. Confesso que por vezes considerei arrastada a leitura, no entanto em outros momentos me encantava com as descrições e com minha imaginação voando! Olha, até o momento não entendi o que eram os furta-foguistas, tentei procurar na internet, mas não encontrei nada.




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