Primeira poesia

Primeira poesia Jorge Luis Borges




Resenhas - Primeira Poesia


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Arsenio Meira 29/08/2014

"O poente que não cicatriza/Ainda fere a tarde"

Revistos pelo seu autor em 1969, o conjunto dos poemas de Jorge Luis Borges reunido nas obras "O Fervor de Buenos Aires", "Lua Defronte" e "Caderno San Martin", escritos na sua juventude (década de 20), foram republicados em 2008 pela Companhia das Letras, sob o justo título "Primeira Poesia", ensejando ao leitor um primeiro contato com o mítico contista, poeta e ensaísta argentino.

Imagino o quão benéfica foi a revisão acima citada. Esperava encontrar um Borges ainda incipiente, indeciso ou vacilante. Neste exemplar, pondero que o autor de "Ficções" conseguiu eliminar algumas marcas da inocência e do excesso de convicções próprios da juventude. Também pudera: ele teve a humildade de ir em frente (após aproximadamente 40 anos) para revisar os poemas, confrontá-los, pensá-los. E deste esforço concentrado, eis que Borges legou-nos um primado de perfeição estética e lírica, comum a todos os grandes poetas.

Os poemas do genial escritor argentino, mormente depois de minuciosamente depurados, isto é, devidamente limados nos seus excessos ou extravagâncias formais, libertados de tudo o que é supérfluo e afastados na medida correta os inconvenientes da sobrecarga de sentimentalismo, não desonram, contudo, o seu autor e revelam até, no seu melhor, a originalidade, o lirismo, o prazer do exercício intelectual, a sabedoria, a serenidade ou a plasticidade da sua escrita, e ainda um par de outras características modernistas do autor, facilmente reconhecíveis no período áureo da sua criatividade e maturidade estética cuja estrutura metafísica convoca para o seu universo literário alguns dos grandes temas universais.

Deixo, como exemplo, o poema Afterglow, traduzido pela poeta Josely Vianna Baptista.

"Afterglow

O ocaso é sempre comovente
Por mais pobre ou berrante que seja,
Porém mais comovente ainda
É o fulgor desesperado e final
Que enferruja a planície
Quando o último sol mergulhou.
É doloroso manter essa luz tensa e diversa,
Essa alucinação que impõe ao espaço
O medo unânime da sombra
E cessa de repente
Quando notamos sua falsidade,
Como cessam os sonhos
Quando sabemos que sonhamos"




Renata CCS 29/08/2014minha estante
Só por ter me permitido ler a sua resenha, Arsenio, o livro já foi para a minha estante!


Arsenio Meira 29/08/2014minha estante
Minha amiga, vale a pena! E a resenha é que teve a honra de ser lida por você. E o mais o importante: ter impulsionado a leitura que está porvir. Abraços do amigo
Arsenio




Maiara.Alves 11/11/2021

Este foi o meu primeiro contato com o Borges e saio dessa leitura completamente embasbacada e apaixonada.
Esse livro conta com os seus três primeiros livros de poesia.
Escrita polida e clássica. Um dos mais extraordinários escritores que o mundo conheceu.
Quero ler absolutamente tudo o que Borges escreveu.
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Samantha 12/05/2021

"Repeti antigos caminhos / Como se resgatasse um verso esquecido"
Decidi ler esse livro pois estava com saudade de poesia e porque estou numa missão de ler mais autores latino-americanos. Para minha agradável surpresa, encontrei em "Primeira Poesia" versos nostálgicos e cheios de sentimentos que me conquistaram de cara e me apresentaram a escrita de Borges.

"Esta cidade que pensei ser meu passado
é meu futuro, meu presente;
os anos que passei na Europa são ilusórios
eu sempre estive (e estarei) em Buenos Aires."

Os poemas desse livro tratam da cidade, mas não a cidade como ela costuma ser apresentada e vista, não o centro onde tudo acontece, onde a vida é agitada, onde nada nunca para e uma multidão de pessoas apressadas anda de um lado para o outro. Os poemas falam da vida parada de bairro, das ruas residenciais esquecidas, da monotonia e calma que a cidade também possui. Fala das lembranças que ficam conforme crescemos, os lugares que nos marcaram na infância e que não são importantes para mais ninguém além de nós mesmos, fala de lar, de deixar o lar fisicamente mas saber que sempre pertencerá a ele.

"Não as ávidas ruas,
Incômodas de gente e de bulício,
Mas as ruas indolentes de bairro,
Quase invisíveis de tão usuais."

A paisagem retratada é a de Buenos Aires, os sentimentos são de um argentino, que também conta nos versos um pouco da história de se país, mas nas páginas desses poemas vi meu próprio bairro e me identifiquei com os sentimentos que o autor passou.

"Sou o único espectador desta rua,
Se a deixasse de ver, ela morreria."

Memória, sol, sombra, madeira e elementos da natureza, são itens recorrentes na aconchegante escrita de Borges, que nos faz visitar sua casa enquanto refletimos sobre nossas próprias vidas.

"Não tenho mais teus arredores minha pátria,
mas ainda guardo tuas estrelas."
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Antonio.Junior 26/06/2020

Primeiras Poesias
Esse livro contém os três primeiros livros de poesias de Jorge Luis Borges publicados entre 1925 e 1929. São poesias que falam da cidade de Buenos Aires e dos seus bairros, mostrando o apego do poeta pelos locais de sua juventude.
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@mirmcastro 01/04/2020

Jorge e a poesia
Adorei a poesia de Jorge Luis Borges! O argentino é minucioso, descritivo e mítico ao mesmo tempo.
Minha mente era transportada para os lugares e situações poetizadas!
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Nádia C. 12/02/2016

Favoritos
Quase juízo final

Meu errante não fazer nada vive e se solta pela variedade da noite.
A noite é uma festa longa e solitária.
Em meu coração secreto eu me justifico e celebro:
Testemunhei o mundo; confessei a estranheza do mundo.
Cantei o eterno: a clara lua volvedora e as faces que o amor enseja.
Comemorei com versos a cidade que me cerca
e os arrabaldes que se apartam.
Disse assombro onde outros dizem apenas hábito.
Diante da canção dos tíbios, acendi minha voz em poentes.
Exaltei e cantei os antepassados de meu sangue e os antepassados de meus sonhos.
Fui e sou.
Travei com palavras firmes meu sentimento que pode ter
se dissipado em ternura.
A lembrança de uma antiga vileza volta a meu coração.
Como o cavalo morto que a maré inflige à praia, volta a meu coração.
Ainda estão a meu lado, no entanto, as ruas e a lua.
A água continua sendo doce em minha boca e as estrofes não me negam sua graça.
Sinto o pavor da beleza; quem se atreverá a condenar-me se esta grande lua de minha solidão me perdoa?
//
LOUVAÇÃO DA QUIETUDE
Escrituras de luz investem na sombra, mais prodigiosas
que meteoros.
A alta cidade incognoscível avança sobre o campo.
Certo de minha vida e de minha morte, fito os ambiciosos
e tento entendê-los.
Seu dia é ávido como o laço no ar.
Sua noite é trégua da ira no ferro, prestes a atacar.
Falam de humanidade.
Minha humanidade está em sentir que somos vozes
de uma mesma penúria.
Falam de pátria.
Minha pátria é um lamento de guitarra, alguns retratos
e uma velha espada,
a desvelada prece dos salgueiros nos fins de tarde.
O tempo está vivendo-me.
Mais silencioso que minha sombra, cruzo o tropel de sua
exaltada cobiça.
Eles são imprescindíveis, únicos, merecedores da manhã.
Meu nome é alguém e qualquer um.
Passo devagar, como quem vem de tão longe que não
espera chegar.
//
AUSÊNCIA
Eu haverei de erguer a vasta vida
que ainda é o teu espelho:
cada manhã hei-de reconstruí-la.

Desde que te afastaste,
quantos lugares se tornam vãos
e sem sentido, iguais
a luzes acesas de dia.

Tardes que te abrigaram a imagem,
música em que sempre me esperavas,
palavras desse tempo,
terei de as destruir com as minhas mãos.

Em que ribanceira esconderei a alma
pra que não veja a tua ausência,
que como um sol terrível, sem ocaso,
brilha definitiva e sem piedade?

A tua ausência cerca-me
como a corda à garganta.
O mar ao que se afunda
//
DESPEDIDA
Hão-de erguer-se entre o meu amor e eu
trezentas noites quais trezentos muros
e o mar será magia entre nós dois.

Apenas haverá recordações.
Oh tardes merecidas pela pena,
noites esperançadas ao olhar-te,
campos do meu caminho, firmamento
que vejo e vou perdendo…
Definitiva como um mármore,
a tua ausência irá entristecer as tardes.
//
FIM DE ANO


Nem o pormenor simbólico
de substituir um dois por um três
nem essa vã metáfora
que convoca um lapso que morre e outro que surge,
nem o cumprimento de um processo astronómico
atordoam ou minam
o planalto desta noite
e obrigam-nos a esperar
as doze irreparáveis badaladas.
A causa verdadeira
é a suspeita geral e confusa
do enigma do Tempo;
é o assombro em face do milagre
de que apesar de todos os acasos,
de que apesar de sermos
as gotas do rio de Heraclito,
perdure em nós alguma coisa:
imóvel,
alguma coisa que não encontrou o que procurava.
//
SÃO JOÃO
[...]
E toda a santa noite a solidão rezando
o seu terço de estrelas espalhadas.
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Alina Maria 13/01/2023

"Tu
que ontem eras só toda a beleza
és também todo o amor, agora."

É o primeiro livro de Jorge Luis Borges que eu li, tamanha sensibilidade do autor.
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