Cabul no Inverno

Cabul no Inverno Ann Jones




Resenhas - Cabul no Inverno


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Antonio Luiz 23/03/2010

Burca, passado e futuro
O Afeganistão é tema de pelo menos dez livros editados no Brasil em 2007, metade dos quais relatos de mulheres do Ocidente com algo a dizer sobre a vida debaixo das burcas. Destes, "Cabul no Inverno", da jornalista e ativista estadunidense Ann Jones, merece atenção especial, pois vai muito além da justa indignação com o Talibã e o patriarcalismo afegão.

Ann Jones trabalhou como voluntária de 2002 a 2005, a tentar colaborar no reerguimento do país com aulas de inglês para professores e professoras do ensino médio e ajuda humanitária a viúvas e presidiárias – muitas delas acusadas apenas de terem fugido de casa, ou seja, da violência doméstica.

Desse compromisso prolongado, saiu uma visão ponderada e aguda, capaz de ver mais do que a permanência da “Idade Média” nessas burcas de poliéster azul, importado da Coréia do Sul. Vai além da mera indignação com o fundamentalismo para buscar as raízes do fracasso da “reconstrução” orquestrada pelos EUA e do ressurgimento desses valores arcaicos.

Nos anos 80, as mulheres de Cabul tinham amplo acesso ao trabalho e a educação e podiam usar minissaias. Como se sabe, estadunidenses, com ajuda de fundamentalistas sauditas, financiaram os guerrilheiros mujahidin para expulsar o governo pró-soviético, em boa parte por meio de militares paquistaneses que, além de embolsar parte dos recursos e incentivar as rivalidades entre as facções, favoreceram os mais conservadores.

Expulsos os russos, Washington suspendeu toda a ajuda econômica e humanitária e deixou as milícias se digladiarem até a vitória dos ultra-fanáticos do Talibã, do qual os EUA esperavam um governo de “lei e ordem” que permitisse à Unocal contornar o Irã com um oleoduto do Cáspio ao Paquistão.

Não é preciso lembrar as conseqüências. Mais útil é ver com os olhos de Ann Jones os novos erros, cometidos pelos EUA depois de setembro de 2001. O país foi abandonado a mujahidins e traficantes de ópio, em relação aos quais muitos afegãos haviam julgado o Talibã um mal menor, as promessas de desenvolvimento foram esquecidas e Washington partiu para uma nova cruzada em Bagdá. A escassa ajuda, lenta e ineficaz, foi embolsada por consultorias e empreiteiras privadas, alheias à realidade local.

Milhões de livros didáticos, trazidos de avião da Indonésia, onde foram impressos a alto custo, mostraram-se ilegíveis e inúteis: páginas de obras diferentes foram embaralhadas pela Creative Associates ou pelas gráficas à qual ela encomendou o serviço, que não conheciam as línguas do Afeganistão. A Universidade de Nebraska, à qual foram encomendados oito milhões de livros didáticos, empurrou uma reimpressão de textos escritos com patrocínio da CIA para as madrassas dos mujahidins, que exaltam a jihad e o martírio em nome de Alá e formulam problemas de matemática com números de soviéticos mortos.

Ao longo de seus anos em Cabul, a autora viu os afegãos cada vez mais nostálgicos: os soldados soviéticos não eram tão arrogantes, nem os empurravam para cá e para lá. Davam bons empregos, alimentos, assistência médica e educação. Convidavam alunos e professores para estudar na União Soviética.

Já a promessa dos EUA aos melhores alunos de Ann Jones, de uma bolsa de graduação, acabou em fiasco. O prometido curso intensivo de inglês não saiu. A empreiteira encarregada da colocação não encontrou faculdades dispostas a aceitá-los. Os estudantes se candidataram no segundo ano, mas chegaram ao fim do curso esperando a hora da partida, enquanto as moças tentavam driblar as pressões para se casarem e desistirem dos estudos.

Quase todos os alunos foram desqualificados por seu inglês insuficiente, apesar de promessas verbais de que isso não os prejudicaria. A única a se qualificar foi retirada do avião ao se descobrir que estava grávida. “Pensou que conseguiria um passaporte de graça para a cidadania americana” – disse o funcionário da embaixada dos EUA à autora – “essa foi a primeira coisa que eu aprendi aqui: eles vão sempre se aproveitar da gente. Depois de tudo que fizemos por eles.”

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Renata Almeida 01/10/2021

"Cabul, e suas vítimas."
Ann Jones, jornalista e escritora, viaja para o Afeganistão para ser voluntária na ajuda humanitária às mulheres de Cabul e encontra uma realidade devastadora: relatos de mulheres que sofreram abusos, violências, sendo subjugadas, tratadas como mercadorias e forçadas a se casar, e o destino de vida ou morte depende inteiramente dos homens da família, que frequentemente seguem os costumes de uma forma distorcida em benefício próprio.
Um país destruído, uma realidade que o Ocidente desconhece, pela qual, infelizmente, a vítima é sempre culpada, histórias narradas em detalhes sobre a vida em Cabul.
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:: Sofia 29/05/2020

Ajuda humanitária internacional: nua e crua
Eu comprei Cabul no Inverno num sebo, em 2016, porque me interessava muito pelo cenário internacional, enquanto sentia que conhecia só a superfície do real Afeganistão. Aquele da mídia ocidental, dos EUA. Também, comprei porque o livro estava barato, uma pechincha de 10 reais. Posterguei, posterguei... comecei a ler as primeiras 2 páginas uma quinzena de vezes, mas não chamavam minha atenção. Algum romance adolescente ocupava minha sede de livros (não que isso seja errado, viu? Enxergo hoje que, mesmo que forçasse a leitura na época {16 anos}, não teria maturidade para armazenar tanta tristeza, tanta resignação, tanta esperança... e olha que o livro conta do início do milênio!).
Em 2020, finalmente, comecei a lê-lo a valer. Me encantei. A cada página que lia, durante todo o livro, me impressionava com o quanto aprendi. Tem muita coisa nele que necessita ser de conhecimento geral.
O livro gira em torno da pergunta: como ajudar um povo totalmente desestruturado? Ann Jones responde: "não é do jeito que se tem feito". A má gestão de recursos públicos de países solidários, de doações e de boas intenções se transformam em zero proveito. O povo afegão precisa de atenção, mas não da atenção midiática, que foca as câmeras na ocupação militar ou na contratação de milhares de funcionários que ganham mais em um dia que o afegão médio ganha em um mês. O país precisa do básico. As famílias precisam de cobertores, de comida, de acesso à educação, do fim à violência estrutural contra a mulher. Precisam que as ajudem a construir a base do país, para toda a população; não precisam que se construam instalações de ponta para estrangeiros.
A narração, então, foca nas precariedades da ajuda internacional, do investimento fantasma, da violência nas ruas, nas prisões e nas escolas. Em como o Afeganistão tem sede por se desenvolver, mas sua população diverge muito no caminho que deve ser seguido. Após guerras ideológicas, guerras econômicas e guerras militares (EUA, URSS, França, Inglaterra, Talibã...) os cidadãos estão desorientados e com medo. Ao mesmo tempo, se enchem de esperança com promessas estrangeiras e são deixados na mão... A autora menciona, principalmente, seu desapontamento com os Estados Unidos, seu país natal, que mexeu toda sua propaganda política em torno de ajuda humanitária ao Afeganistão. De humanitária não tem nada.
Apesar da vontade de ler o livro numa só sentada, recomendo que não faça isso. Esse é um livro para ser digerido lentamente: é denso, com informações precisas de diferentes naturezas (especificam empresas, governos, políticos, terroristas, ONGs, dinheiro...); essas informações são acompanhadas de um aperto no coração, que torna o texto de difícil digestão; além disso, elas são relativas a culturas totalmente diferentes das nossas: a afegã e a da movimentação de grandes quantias de dinheiro.
tayna.hiroko 14/06/2020minha estante
Sua resenha sobre esse livro é muito boa! Valeuuu




Pequeno 04/04/2021

"Há dias em que acreditamos que é possível, há dias que não"
Resenha do livro Cabul no Inverno

Cabul no inverno (2006) é um livro difícil de ler, pois possui relatos bem "fortes e pesados". Nele, a premiada jornalista e ativista americana dos direitos da mulher, Ann Jones, narra de forma cortante, porém necessária, como se encontra a cidade de Cabul, após os bombardeios dos EUA ao Afeganistão.

O livro é dividido em três partes: Nas Ruas, Nas Prisões e Nas Escolas. Na primeira parte, Jones narra o cotidiano da cidade, das mulheres no Afeganistão e conta a história da cidade. Na segunda parte (para mim, a mais difícil de ler), a jornalista adentra os presídios femininos de Cabul e traz a tona de forma crua a realidade das mulheres nas prisões, e fora dos muros das cadeias também. Na última parte do livro, Ann Jones relata a seus leitores como está a educação no Afeganistão, mostra as dificuldades que as mulheres enfrentam nas escolas e universidades e como outros países aproveitam da situação da educação no Afeganistão, para lucrarem por meio de "ajuda externa" ao Afeganistão.

Precisei parar a leitura muitas vezes para absorver os relatos. Cabul no Inverno é um livro "pesado", porém, considero uma leitura bastante necessária. Meu único arrependimento em relação ao livro, foi ter demorado tanto para começar a lê-lo.

Recomendo muito o livro e a autora.

Ann Jones nasceu em Wisconsin, EUA, em 03 de Setembro de 1937. É jornalista e ativista dos direitos da mulher. Autora dos livros: Mulheres Que Matam, Cabul No Inverno, Procurando Lovedu, Na Próxima Vez Que Ela Estiver Morta e Quando O Amor Der Errado. Recebeu o prêmio: Bolsa Guggenheim Para Artes Criativas.
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tayna.hiroko 17/07/2020

Ler Cabul no inverno foi extremamente difícil. Eu lia, me revoltava, parava, digeria e retornava ao ciclo. Foi uma leitura de muitas paradas.
A realidade que ele traz é muito desconhecida, pouco falada, por isso achei o livro NECESSÁRIO.
A autora conseguiu fazer um trabalho muito especial, não nos poupando daquilo que precisava ser cru para ser entendido.
Doeu, não foi prazeroso, mas valeu a pena.
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Valeska 10/03/2018

" Os afegãos têm um ditado: 'Qatra qatra darya mesha'. Gota a gota se faz um rio. Há dias em que você acredita nisso. Há dias em que não. Até que chega um dia em que você olha para o rio e vê em que direção ele está correndo."
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Kaduzette 01/03/2017

Que sofrimento, quis histórias.
Vai tomar no cu, leiam esse livro e se revoltem, tenho certeza que o Oriente Médio é o inferno na terra, eu achava que era o Brasil, mas isso aqui é brincadeira perto do Oriente Médio, a Sharia é a coisa mais inútil da face da terra, e da poder a um velho qualquer de bairro ou vilarejo decidir sobre a vida das pessoas como se fosse um juiz ou um promotor, o Islã tem de ser combatido, as mulheres afegães não tem vida, digitem mulheres afegães ae, elas sofrem mais do que qualquer outra coisa nesse mundo, espero que Deus ou qualquer outra coisa que exista espiritualmente, guie e proteja vocês e que o fim dos muçulmanos está próximo. Deus, salve essas mulheres.
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Stefan 17/04/2020

O que o fanatismo pode preencher em almas vazias
Comprei esse livro em uma sebo, a alguns anos atrás, e li bem depois, sem saber direito o que esperar.
Abrindo um parenteses na resenha, certa vez em uma conversa com amigos, me perguntaram o que eu subtrairia do mundo, o que eu tiraria do planeta, assim como num passe de mágica; eu pensei um pouco e me lembrei desse livro e então respondi - o FANATISMO.
Esse livro deveria ser leitura obrigatória em muitos lugares, onde as pessoas acreditam que sua corrente ideológica, seja politica, religiosa, futebolística... é melhor que de outra pessoa, pois onde existe um vácuo de razão, de bom senso, de amor, carinho, etc... algumas pessoas preenchem facilmente com ódio, desrespeito, crueldade, através de fanatismos.
Eu não vou criticar a religião Islâmica, pois quem erra são alguns dos seus seguidores, que distorcem, manipulam e não atualizam seus fundamentos, tornando uma religião tão odiada e temida pelo mundo afora.
Achei uma leitura fácil, porém pesada, que traz a luz um sofrimento medieval que ocorre naquela região do mundo.
Obs: Penso que organizações dos direitos das mulheres deveriam avaliar melhor suas prioridades e ir em defesa das mulheres que vivem sob o peso de serem consideradas cabras, podendo a qualquer momento, sofrerem apedrejamentos e estupros.
O fanatismo (não importa qual) é um mal a ser combatido, com razão, respeito e humanidade.
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Katia 15/03/2013

Muito bom! A autora retrata com muita propriedade o tempo em que viveu am Cabul deixando a quem ler a oportunidade de refletir a respeito dessa guerra e seus efeitos para a população afegã. Recomendo!
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Leticia Guimaro 28/08/2013

Uma historia emocionante, contada de forma unica e desconcertante, capaz de nos fazer refletir sobre uma cultura complicada, cheia de falhas, principalmente em relação as mulheres, mas tambem nos fazendo pensar que sim há uma luz no fim do túnel. Talvez.
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Vi 12/05/2011

Depois de cessado os bombardeios no Afeganistão, a premiada jornalista e ativista dos direitos da mulher, Ann Jones, partiu para uma cidade destruída esperando levar ajuda a um lugar onde os EUA, seu país, só haviam levado destruição. O resultado é um relato cortante de uma cidade lutando para erguer-se das ruínas. Em 'Cabul no inverno', a escritora Ann Jones relata situações estarrecedoras por ela testemunhadas durante o período no qual trabalhou como agente humanitária em Cabul. A autora adentra uma ampla comunidade de mulheres forçadas a viver à margem da sociedade e, assim, descreve a chocante realidade vivida pelas mulheres afegãs - viúvas de guerra, meninas-noivas fugitivas, prostitutas humilhadas, esposas desprezadas, vítimas de estupro.
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Driely Meira 09/05/2013

Cabul no inverno
Esse livro mostra a verdade por trás de tudo, mostra a realidade da vida num dos países mais violentos do mundo todo, esse livro mostra como é o Afeganistão, lugar onde vivia a Al-Qaeda, onde vivia Osama Bin Laden.
A autora fala especificamente de uma cidade chamada Cabul, mas ela também fala do país todo.
Lá o ar é muito poluído, tão poluído que os pulmões começam a doer, e respirar fica muito difícil.
Lá os homens são prioridades, mulheres não podem sair de casa durante uma guerra sem estar acompanhada por um homem. Mulheres são presas sem nem ter cometido um crime. Essa sim é uma vida dura.
Aqui no Brasil, no passado, as mulheres lutaram por direitos iguais, mas lá, elas nem sonham em fazer isso, pois acham que merecem ser tratadas dessa forma.
Quando lia esse livro, ficava pensando “Nossa, mas porque elas não fazem isso... Nossa, mas porque lá tudo é assim?” Mas lembrei, que nem tudo é tão fácil. As mulheres não têm poder suficiente para conseguir igualdade social... E apesar desse lugar ficar lá do outro lado do mundo, fiquei até com raiva disso tudo.
A autora também conta sobre governadores e políticos antigos do país, guerras e conflitos, e principalmente, na época em que ela viajou para lá, dos bombardeios do EUA... Tudo bem que os Estados Unidos queria ajudar e tudo mais, mas não é isso o que parece. Porque, tudo bem, tem muita gente se matando lá e tudo o mais, só que bombardeando não vai ajudar, só vai piorar, porque mais pessoas vão morrer... A autora visitou prisões femininas, onde mulheres que eram maltratadas por seus maridos fugiram de casa, e foram presas por ter escapado... What?!...Se fosse aqui no Brasil, o marido talvez já estivesse preso...Mas, fazer o que né?
Quando se pensa em Afeganistão, Paquistão, Cazaquistão ( tudo com tão) Iraque, e tal, as pessoas, na maioria das vezes, imaginam crianças, jovens e adultos segurando metralhadoras e atirando em tudo o que se vê pela frente, mas não é bem assim,Apesar de ser uma Zona de guerra, esses lugares também tem, de uma forma diferente, uma beleza inigualável...Como essa paisagem aqui :
Esse é um livro bem interessante, mas chegou uma hora, ele se tornou muito cansativo, e eu acabei deixando ele de lado para ler outro livro, e isso raramente acontece. Mas apesar disso tudo o livro é bom.
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Paulo.Eduardo 24/10/2015

Grande história, ótima autora
Excelente livro, Ann jones sem deixar de lado suas características de jornalista com um texto claro e objetivo nos apresenta com riqueza de detalhes e uma informalidade chocante o cotidiano não só do Afeganistão , mas principalmente das mulheres daquele país que bem antes de americanos e soviéticos sofriam com as invasões e com os conflito internos que criaram uma marca indelével na mente dessas pessoas por gerações.
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