:: Sofia 29/05/2020Ajuda humanitária internacional: nua e crua Eu comprei Cabul no Inverno num sebo, em 2016, porque me interessava muito pelo cenário internacional, enquanto sentia que conhecia só a superfície do real Afeganistão. Aquele da mídia ocidental, dos EUA. Também, comprei porque o livro estava barato, uma pechincha de 10 reais. Posterguei, posterguei... comecei a ler as primeiras 2 páginas uma quinzena de vezes, mas não chamavam minha atenção. Algum romance adolescente ocupava minha sede de livros (não que isso seja errado, viu? Enxergo hoje que, mesmo que forçasse a leitura na época {16 anos}, não teria maturidade para armazenar tanta tristeza, tanta resignação, tanta esperança... e olha que o livro conta do início do milênio!).
Em 2020, finalmente, comecei a lê-lo a valer. Me encantei. A cada página que lia, durante todo o livro, me impressionava com o quanto aprendi. Tem muita coisa nele que necessita ser de conhecimento geral.
O livro gira em torno da pergunta: como ajudar um povo totalmente desestruturado? Ann Jones responde: "não é do jeito que se tem feito". A má gestão de recursos públicos de países solidários, de doações e de boas intenções se transformam em zero proveito. O povo afegão precisa de atenção, mas não da atenção midiática, que foca as câmeras na ocupação militar ou na contratação de milhares de funcionários que ganham mais em um dia que o afegão médio ganha em um mês. O país precisa do básico. As famílias precisam de cobertores, de comida, de acesso à educação, do fim à violência estrutural contra a mulher. Precisam que as ajudem a construir a base do país, para toda a população; não precisam que se construam instalações de ponta para estrangeiros.
A narração, então, foca nas precariedades da ajuda internacional, do investimento fantasma, da violência nas ruas, nas prisões e nas escolas. Em como o Afeganistão tem sede por se desenvolver, mas sua população diverge muito no caminho que deve ser seguido. Após guerras ideológicas, guerras econômicas e guerras militares (EUA, URSS, França, Inglaterra, Talibã...) os cidadãos estão desorientados e com medo. Ao mesmo tempo, se enchem de esperança com promessas estrangeiras e são deixados na mão... A autora menciona, principalmente, seu desapontamento com os Estados Unidos, seu país natal, que mexeu toda sua propaganda política em torno de ajuda humanitária ao Afeganistão. De humanitária não tem nada.
Apesar da vontade de ler o livro numa só sentada, recomendo que não faça isso. Esse é um livro para ser digerido lentamente: é denso, com informações precisas de diferentes naturezas (especificam empresas, governos, políticos, terroristas, ONGs, dinheiro...); essas informações são acompanhadas de um aperto no coração, que torna o texto de difícil digestão; além disso, elas são relativas a culturas totalmente diferentes das nossas: a afegã e a da movimentação de grandes quantias de dinheiro.