A Holdford 04/01/2015Um bom livro para passar o tempoArthur não é só o pai de Sherlock Holmes, ele escreveu muita coisa boa em estilos literários variados. Esse livro é uma coletânea de contos curtos, mas não são propriamente de terror, são de fatos inexplicáveis ou chocantes, isso sim.
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Neste livro, que eu possuo o PDF (que você consegue gratuito em muitos sites) existem 5 contos. Pela editora Ediouro, a coleção possui pelo menos 3 títulos que aparecem aqui em edições próprias, com uma capinha vermelha.
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Sendo assim, vou dar minhas impressões sobre cada um dos contos deste livro:
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1 - O Tiro Final (ótimo):
O conto que dá nome ao livro, me lembrou muitas histórias da autora Agatha Christie. Neste aqui, a narradora da história na verdade é uma mulher, um fato pouco usual para livros lançados naquela época, mas muito bem feito. Desde a primeira linha Charlottie (também chamada por Lottie) conta sobre a tragédia que a vinda de Octavius Caster trouxe a família de seu noivo, Charley. Octavius é estrangeiro, mas embora possua uma aparência assustadora, tem o dom da palavra e logo cativa a todos. A própria Lottie chega a sentir-se mau por sentir calafrios na presença dele, ainda mais quando descobre que ele a ama, mesmo ela estando noiva de Charley. O desenrolar da história é sensacional e totalmente de arrepiar.
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2 - O Pastor de Jackman's Gulch (começa parada, mas o final é ótima e até cômica):
Essa história começa meio paradinha, de certa forma, ela começa falando de um cara e depois você sente que o autor mudou totalmente de ideia, mas não quis jogar o que havia escrito fora e seguiu dali tranquilamente, mudando tudo ou quase... ele só muda o foco, já que a história começa falando da vida dos mineradores da pequena cidade de Jackman's Gulch. Homens do mato, sem instrução, que passam a vida atrás do ouro ou no bar arrumando confusão. Isso até a chegada de uma figurinha franzinha, que não sabe minerar de forma alguma e que decide ler a bíblia em meio ao bar cada vez que alguém começa uma briga. Outra historia com um desenrolar sensacional.
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3 - O Vexame de Los Amigos (boa, engraçada e super leve, mas acho que falta algo final)
Esse conto é meio futurista, digamos que podemos dizer que Arthur foi "quase" o criador da história de The Flash, quase... mas explico! A cidade de Los Amigos é quase que a Itu nossa (em analogia), pois tudo para os habitantes é o maior e melhor do mundo. Menos os fatos ruis, claro, a criminalidade lá é considerada a menor por seus moradores. Porém, eles ficam sabendo que uma cidade ao Leste eletrocutou um prisioneiro e o rapaz ficou se debatendo por um tempo até a morte. Mas os habitantes de Los Amigos então decidem que o melhor é aumentar a carga, e assim que tiverem chance vão mostrar para o mundo como é que se faz. Ducan Waren é um ladrão, assassino e cheio de atributos ruins (a apresentação dele na trama é algo bem cômico):
"Warner foi procurado pela lei, e por ninguém mais, durante muitos anos. Bandoleiro, assassino, assaltante de trens e salteador de estradas, ele era um homem situado fora dos limites da piedade humana. Ele bem merecia uma dezena de mortes, e o povo de Los Amigos lhe concedera o beneplácito de morrer apenas uma vez, porém com o mesmo espalhafato de dez. Ele próprio parecia não se considerar à altura da honraria, uma vez que realizou duas tentativas desesperadas de fuga."
E então, eles tentam fazer um "julgamento", para fazer as coisas como mandam o figurino, e montam uma equipe para decidir a intensidade do choque que o rapaz deverá receber para que ele sucumba de vez. Das quatro pessoas da equipe, 3 se acham os sábios supremos e decidem o que fazer, um quarto, um alemão, é o único contra e que quer o inverso, na verdade, ele (que é engenheiro) alega que o choque deveria ser menor para matar de vez, mas ninguém o ouve.... Os caras de Los Amigos são tão loucos, mas tão loucos, que eles vão eletrocutar o assassino na própria usina! A história é super curtinha, mas a escrita leve e descontraída compensa o final bem aberto dela.
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4 - O Médico Negro (boa, digna de mistérios Sherlockanos)
Bishop's Crossing um vilarejo ao sudoeste de Liverpool é o palco desse conto. O médico em questão não é negro na verdade, seu nome é Aloysius Lana e ele tem a pele mais bronzeada e cabelos e olhos negros (digamos que entre nós ele seria alguém bem comum, viu?) mais que os ingleses, por isso eles o apelidam de médico negro. Ele é uma figura que ganha seu espaço com sia simpatia e pelo seu bom trabalho como médico. As fofoqueiras da cidade até comentam muito sobre ele não ser casado e levantam mil hipóteses. Até que, um belo dia, ele e a senhorita Francis Morton, que vive apenas com o irmão, pois são órfãos, começam a namorar e tudo indica que vão casar. Isso até que, após uma carta, ele termina o romance abruptamente e aparece morto em sua casa. Tudo leva a crer que o culpado é o irmão de Francis, mas será? Esse é um bom exemplo de como Arthur tem que se virar nos 30 sem ter Sherlock Holmes como a figura que vai desvendar o mistério.
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5 - O Peitoral do Judeu (embora boa, eu achei que é a mais fraquinha):
O que dá nome ao conto é um dos artefatos de um Museu que passa as mãos de Ward Mortimer para tê-lo como curador, isso após o senhor que cuidava dele por anos pedir sua aposentadoria. O Professor Andreas até chega a ser a mais solicita das pessoas e explica a importância de cada peça ou sala para Ward antes de deixar a ele a missão de guardar a tudo, que ele por tanto tempo foi responsável. Ele, sua filha e o noivo dela se mudam para uma cidade distante. Mas Ward recebe uma carta de que o museu corre perigo.
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Em um total o livro é mesmo ótimo, para quem gosta de histórias de mistério, com uma pitada de terror, suspense e humor, certamente é uma ótima pedida.