spoiler visualizarFábio FK 11/03/2014
As chagas da guerra
Dentre todas as qualidades do livro, a que mais impressiona, em minha opinião, é a forma como o autor faz com que o leitor mergulhe implacavelmente nos horrores da guerra. Através da crueza dos relatos, vivemos com intensidade as emoções dos personagens, soldados americanos em ação em uma remota ilha japonesa, durante a Segunda Guerra Mundial: suas angústias e medos mais profundos. As agruras experimentadas pelos soldados, que vão do tédio completo à exaustão física, passando por conflitos internos e abalos psicológicos, são descritas com detalhismo febril.
Não há qualquer resquício de heroísmo: cada um dos soldados, até mesmo os supostamente mais durões, passará por momentos de pavor e dúvida. Nesse quadro de desespero, até mesmo o zumbido de um inseto, durante uma patrulha no meio da selva, adquire a mesma gravidade de uma bala disparada pelo inimigo.
Na variada galeria de personagens, a figura mais marcante talvez seja a dos sargento Croft, que, de maneira sinistra, se compraz com os aspectos mais sombrios da guerra. Sua obsessão em transpor a montanha mais alta da ilha, em uma missão sem o menor sentido, o levará a manipular as circunstâncias, arrastando seu pelotão a uma empreitada que mais se assemelha a um pesadelo. As consequências serão trágicas.
Norman Mailer, em seu primeiro romance, revela as marcas da guerra nos corações e mentes dos homens, um processo cruel do qual não se pode sair impune.