Resenhas - Os Nus e Os Mortos

jota 10/09/2012

O melhor de Mailer
Li pouca coisa de Norman Mailer - O Evangelho Segundo o Filho, e antes Os Machões Não Dançam. Gostei bastante de ambos. Mas acho que nenhum dos dois supera Os Nus e os Mortos, o livro que vai ficar definitivamente associado ao autor, possivelmente por ser um tanto autobiográfico, pela crueza da narrativa e por marcar sua estreia, aos 25 anos, como romancista. Melhor, como grande romancista, pois há quem compare Os Nus e os Mortos à obra-prima de Tolstoi, Guerra e Paz. Preciso escrever mais? Claro que não!

Fábio FK 11/03/2014

As chagas da guerra
Dentre todas as qualidades do livro, a que mais impressiona, em minha opinião, é a forma como o autor faz com que o leitor mergulhe implacavelmente nos horrores da guerra. Através da crueza dos relatos, vivemos com intensidade as emoções dos personagens, soldados americanos em ação em uma remota ilha japonesa, durante a Segunda Guerra Mundial: suas angústias e medos mais profundos. As agruras experimentadas pelos soldados, que vão do tédio completo à exaustão física, passando por conflitos internos e abalos psicológicos, são descritas com detalhismo febril.
Não há qualquer resquício de heroísmo: cada um dos soldados, até mesmo os supostamente mais durões, passará por momentos de pavor e dúvida. Nesse quadro de desespero, até mesmo o zumbido de um inseto, durante uma patrulha no meio da selva, adquire a mesma gravidade de uma bala disparada pelo inimigo.
Na variada galeria de personagens, a figura mais marcante talvez seja a dos sargento Croft, que, de maneira sinistra, se compraz com os aspectos mais sombrios da guerra. Sua obsessão em transpor a montanha mais alta da ilha, em uma missão sem o menor sentido, o levará a manipular as circunstâncias, arrastando seu pelotão a uma empreitada que mais se assemelha a um pesadelo. As consequências serão trágicas.
Norman Mailer, em seu primeiro romance, revela as marcas da guerra nos corações e mentes dos homens, um processo cruel do qual não se pode sair impune.

Yussif 16/05/2012

Romance baseado na própria experiência de serviço militar de Mailer, nas Filipinas, durante a II Guerra Mundial. Um retrato graficamente profundo e perturbador da situação do homem comum quando em combate.

Gustavo.Casaes 19/04/2023

A sobriedade de Norman Mailer
Norman Mailer tem uma capacidade honrosa de escrever fatos com uma objetividade invejável. Todos os personagens são profundos e os vilões são reais o suficientes para transpor ainda mais raiva sobre eles do que os classicos personagens gays e maldosas da Disney. Existe poucos personagens que passam impunem a realidade cruel e sóbria de Mailer, sendo que os mais prodigiosos dos seus protagonistas, um jovem praça com futuro acadêmico promissor inserido num contexto retrógodo da aristocracia americana da época, é morto sem ao menos ganhar o mérito de uma narrativa. Norman Mailer se mostra dispoto a colocar suas histórias e personagens em situações irreversivéis e completamente desgatantes apenas para ver o ponto de quebra de cada um deles. E a pior parte é que isso não acontecem. Cada um deles é mutilados e mutilados até chegar o ponto de deixarem suas histórias e personalidades para trás se tornando apenas um montante de carne e nervos deslacerados pela crueldade e injustiça da vida.