Maria7598 24/07/2023Muito Emocionante e ReflexivoFui levada do começo ao fim pela vã esperança de que achassem a mãe, e no caminho me comovi com todo o descaso que ela sofreu e que fê-la sumir.
É uma leitura muito reflexiva. Park Sonyo é o epítome das mães que vivem em prol dos filhos, das mulheres-fortalezas que se doam até o último momento e não necessariamente recebem esse cuidado de volta. É mãe de cinco filhos muito diferentes entre si, o que facilita que o leitor se identifique com pelo menos algum deles e suas atitudes de descuido. Ela é um espelho tanto para os filhos, que não a conhecem além da superfície, quanto para quem lê, que pode se ver refletido em momentos da narrativa. Sonyo exporá seus podres, se os tiver, ao refletir nossas próprias mães e o apagamento pelo qual elas também passaram e ainda passam.
Nesse cenário, o desaparecimento de Sonyo fica ainda mais trágico, já que todos os erros cometidos não podem ser desfeitos ou sequer atenuados por um pedido de desculpas ou por ações reparadoras pelo resto da vida dela. Park Sonyo morreu, sabe-se lá como, e não há marca mais profunda e dolorosa do quanto todos a ignoravam do que a forma que isso aconteceu, desde o marido que nunca a esperava e por isso a perdeu na estação, à falta de uma carona para recebê-los e à reação tardia dos filhos quando souberam do seu sumiço.
Dói também perceber que, embora a configuração social e cultural forçassem Sonyo a aceitar o papel que lhe era imposto, ela não deixava de ser consciente da dificuldade de carregar todo o peso de ser o porto-seguro de todos ao seu redor. Isso fica claro nos pensamentos, já no pós-mortem, que ela tem sobre o amigo do qual ninguém sabia, para o qual ela só aparecia quando tinha problemas, traçando um paralelo com a relação dela entre os filhos, o marido, e a cunhada.
Além disso, temos vislumbres de momentos em que ela reclamava, embora a queixa sempre viesse atrelada a uma aceitação passiva da sua função de apoio constante, sem que ela tivesse no quê se apoiar senão na esperança de que todo aquele esforço, um dia, daria resultado. O sucesso futuro dos filhos (principalmente o mais velho) era o seu alento e propósito de onde ela tirava forças. Enquanto leitores, também somos os únicos a partilhar da visão dela sobre o mundo, o que é mais um traço do quão neglicenciada ela fora pelas pessoas com as quais conviveu a vida inteira.
Por fim, o livro tem um desfecho que pode ser reconfortante ou não, dependendo da sua crença. Senti muito pela mãe que, não tendo sido cuidada durante a vida, só poderia agora ser cuidada após a morte. Sendo ateia, esse rogo não adianta, e entendi que, se ainda há tempo, devemos cuidar das pessoas que nos têm amor agora, em vida. Tudo além dela é incerto. De toda forma, e seja qual for a sua crença, o final foi tão emocionante quanto o resto do livro, e definitivamente vale a leitura.