Victor 23/04/2012Resenha: Além do DesertoFatum é um mundo iluminado por dois sóis com seres e entidades fantásticos. Porém, seus astros e o brilhantismo de seus habitantes não são capazes de deter as terríveis sombras que surgem com o cair do anoitecer. As chamadas Erínias são fadas que sucumbiram às trevas e acabaram sedentas por sangue e morte. Cobertas de ódio, elas obscurecem todos os reinos ao longo de deserto, não dando nenhuma esperança aos bravos guerreiros que ainda tentam proteger seu povo por trás dos muros – cobertos por cristais de fogo, um material especial que se assemelha à luz do dia, a única coisa de detêm as criaturas.
Mas parece que o destino decidiu dar uma chance àquele mundo devastado. Uma caravana vaga pelas escaldantes areias seguindo o propósito de seu até então líder, o guerreiro Mikail, que busca cumprir o último pedido de seu tio; Oberon, um felino sarcástico muito fiel ao rapaz e, por fim, Thera, uma jovem misteriosa que busca sua família e tem muito a esconder. Ao encontrarem o que procuravam, uma nova missão se revela para os três: acompanhar os fadas Lumi e Nadar numa expedição para reunirem as dádivas dos Devas ( as entidades de Fatum que decidiram se revelar somente na presença de Thera, membra do grupo que menos deseja estar ali e menos se importa com a salvação de todos ). Juntos, eles enfrentarão desafios e desavenças visando conseguir fazer o que ninguém jamais imaginou realizar.
O enredo de Além do Deserto é bem interessante e instigante. A aventura dos personagens do grupo prende o leitor ao longo de todas as dificuldades que eles tem de enfrentar e mostra uma mitologia diferente, por mais que não tão bem desenvolvida. Na verdade, o grande problema do livro é exatamente esse, o fato de certas coisas não serem tão bem desenvolvidas. A história cativa o leitor facilmente, bem como falei, mas o que te compra no romance inteiro é somente o enredo. Por mais que os personagens sejam interessantes, eles não são tão bem tratados e descritos. Sabemos sobre suas atitudes, mas eles não tem um quê psicológico, uma profundidade. Acaba que conhecemos várias pessoas sem nos identificarmos ou nos emocionarmos com nenhuma delas. Como comentei sobre a mitologia: Fatum é cheia de reinos, tanto de pessoas normais como de divindades, criaturas fantásticas e diversas outras coisas. Por mais que tudo criado seja interessante, a autora não desenvolve muitas lendas e um quê de mistério ao redor desses seres, enfim, não dá um toque especial às criaturas e lugares fantásticos. Certas coisas aparecem simplesmente por aparecer. Há uma parte na qual o nome de uma entidade é pronunciado e a mesma simplesmente brota ao lado da caravana. O místico e todo aquele ar de inalcançável e secreto que as lendas possuem não está presente na mitologia do livro. E isso faz bastante falta, além de não valorizar tudo que foi imaginado pela autora.
Pequenos círculos concêntricos se formam na superfície do lado. Chuva. Uma chuva rara, fina e pegajosa, indício da poluição também ali, em um oásis. A água escorre por entre seus dedos, por suas mãos unidas em forma de concha. Era refrescante. Depois de tanto tempo andando pelas areias quentes, somente respirando seu tom amarelo e seco, a água era uma benção. Nem ao menos se importava em molhar sua roupa , ajoelhado na beira do lago, pela água que brotava do chão e por aquela que começava a se desprender das nuvens. – Página 11
Outra questão é a narrativa. A autora escreve bem. Eu sei disso não só por diversas partes do romance, mas também por um texto escrito por ela, o qual tive oportunidade de ler. Enquanto nos deparamos, em algumas partes, com descrições ricas e bem construídas, em outros momentos há uma narração pobre, com repetição de palavras e uma descrição que se limita a contar os que está sendo feito pelos personagens. Isso incomoda e diminui o valor do texto, que tem muito potencial por estar sendo produzido pela Érica.
O brasão dourado e azul do Grande Reino brilhava em cima da terra negra do Reino das Fadas. Mikail colocou-se por último em cima da sepultura improvisada de seu tio. [...] Mikail não conseguia disfarçar sua tristeza. Com asco e aflição, Mikail havia aberto um buraco raso na terra e colocou o corpo do tio ali. [...]
Mikail não havia ainda trocado uma palavra sequer com Thera. Havia, sim, visto-a conversar com uma senhora que logo depois desapareceu em uma nuvem de areia. Mas ainda não havia conseguido falar. Limitou-se a olhar para Thera com espanto e abaixar seus olhos. Não queria que Thera o visse chorar. [...]
- Página 47
Além do deserto na verdade trata-se do primeiro volume de uma série em produção. Se os aspectos fracos forem bem tratados e aprimorados, teremos sequências maravilhosas. Acredito no potencial da história e de sua autora.
Resenha publicada no Blog das Resenhas ( http://mestredasresenhas.wordpress.com/2012/04/23/resenha-alem-do-deserto/)