Lili Machado 28/09/2011Não é sempre que um thriller oferece elementos como conselhos para uma necrópsia perfeita, ou sobre o uso de aranhas numa tortura sadomasoquista.Tendo dado voz à Dra. Kay Scarpetta em vários livros anteriores, a escritora reserva, neste, para a personagem, um lugar profissional e impessoal, como legista independente na Academia Forense da Florida.
Sua sobrinha problemática, Lucy Farinelli, está mais atrapalhada do que nunca e guarda um segredo complicado. A Academia Forense da Florida, onde eventos e roubos estranhos vem acontecendo, é sua criação, para poder atuar como uma agente independente, lidando com seus conflitos pessoais.
O detetive Pete Marino está agressivo como sempre, mais gordo, fumante e bêbado do que nunca, mas é mantido a rédeas curtas, por Scarpetta.
Benton Wesley, o namorado de Kay, cujo estudo sobre modelos de cérebros de assassinos seriais, dá o nome ao livro, lida com personalidades doentias. Uma série de mortes e desaparecimentos traz à tona, o nome de Basil Jenrette, um assassino serial que se torna objeto de estudos de Benton.
Os personagens deste thriller, intencionalmente ou não, são apresentados como tão emocionalmente perturbados quanto os vilões homicidas. Além disso, há muita ironia sobre as séries de televisão onde proliferam analistas psicológicos.
Predador é a prova, mais uma vez, que Patricia Cornwell possui uma habilidade extraordinária de entreter e prender a atenção de seus leitores. Os vilões apresentados por ela são, quase sempre, os personagens mais interessantes das estórias. As conexões vão tecendo uma teia que se aprofunda no trabalho forense.
Essa é a fórmula de sucesso de Patricia Cornwell, mas... fico esperando pelos trechos em que ela descreve a casa e a cozinha de Scarpetta. Fico esperando pelo cheiro da comida que a legista cozinha, quando está muito nervosa, ou muito feliz, ou as duas coisas. Fico esperando a velha Lucy Farinelli, ainda policial e, ainda sem grana, porém, muito rica de ideologias e teimosias – sempre às voltas com seus casos amorosos – sem problemas por serem mulheres. Fico esperando para ter pena de Marino, novamente... se você não quer esperar, leia, novamente, os primeiros livros da série.