Alessandro232 22/06/2013
Um livro interessante, mas que poderia ser melhor
Haruki Murakami é um escritor cult, e, pode ser definido como pós-moderno. Suas narrativas propõem a mistura de diferentes gêneros e são recheadas de referencias à cultura pop e a obras literárias clássicas. "1Q84" é seu livro mais ambicioso:é constituído uma única narrativa dividida em três tomos, somando mais de 1.000 páginas. Embora o autor escreva bem e crie uma trama envolvente, ela não está isenta de alguns problemas. A primeira parte do romance é bem interessante, principalmente, pelo modo como o autor apresenta seus protagonistas: Anaomame é uma assassina profissional que parece ter saído de um filme de Tarantino e Tengo é um solitário, que busca solucionar mistérios sobre seu passado. Além deles, também se destaca Eri Fukada, uma adolescente que apesar de disléxica, consegue escreve uma narrativa fantástica, que, após ser revisada, se torna um best-seller, criando assim um interessante diálogo entre a obra em si e a criação literária. No entanto, a partir do segundo tomo, no momento em que se sobrepõe uma realidade alternativa, que embora seja parecida com a nossa, ocorrem eventos extraordinários, a trama vai ficando cada vez mais inverossímil e cheia de buracos. Por mais que se esforce, o autor não consegue torná-la totalmente convincente. Faltou ao escritor explorar melhor, com mais detalhes, o aspecto irreal de 1Q84. Tudo é polarizado, e os protagonistas tendem ao maniqueísmo. No entanto, o pior é que certos mistérios envolvendo a configuração fantástica de 1Q84 ficam insolúveis, até mesmo, no desfecho do livro, apesar dele ser bastante, e, talvez desnecessariamente longo. Assim, o romance se resume somente uma história de amor ingênua, um pouco "açucarada",com toques fantásticos que são usados como meros artifícios pelo autor para prender a atenção do leitor.
É uma pena porque em muitos momentos, Murakami se revela um ficcionista muito inventivo, embora essa inventividade neste romance não se concretize de modo satisfatório e nos deixa um pouco frustados no fim da leitura, quando somos literalmente expulsos por ele do mundo fantástico de 1Q84.