Francine61 03/03/2024
Obrigada, Dostoiévski
?Mas não era da cabeça raspada e dos grilhões que se envergonhava: seu orgulho estava fortemente ferido; era de orgulho ferido que estava doente. Oh, como seria feliz se pudesse acusar-se a si próprio! Aí suportaria tudo, até a vergonha e a humilhação.?
O livro é como um cálice de vodka no estômago de um faminto. Que estrago que faz!
Raskólnikov dá uma de Jack Torrance, mas depois não aguenta o tranco e só o deus baco para socorrê-lo. Uma atmosfera febril o toma e ele sente-se vil, infame, sórdido, canalha e hirto o tempo todo. No entanto, não se equivoque, pois, os estados de delírio e semiconsciência não são, e nunca foram, sinônimos de culpa.
Mesmo assim, é facinho identificar-se com o bichinho sorumbático, pálido, alheio e medonho. Isso se deve ao fato de que a ação criminosa não tem autonomia. Há um ser humano, um criminoso, por trás dos crimes. Mas haja cabeça para o cinismo de morte! A banalização do crime aqui é bem complexa. Acabou aquela história do "errado" e "certo", vamos usar melhor as nossas cabeças.
Além disso, a contraditoriedade vertiginosa do cara acerca dos homens de carne e homens de bronze, homens ordinários e extraordinários é TERRÍVEL. Você fica pensando por horas e horas e dependendo da moleza, é capaz de se tornar um hipocondríaco delirante.
Estou ciente que o livro não é de terror, mas meus amigos, eu vi cada rosto deformado em desespero. Rostos inertes e desconhecidos, adentrarem o cubículo desesperador do jovem. ATÉ A ARQUITETURA DESSE LIVRO É INSANA! O que por escrito parecia uma gota, a minha imaginação transformou em oceano. Medonho!!! Vi fantasmas de olhos abertos, esquecidos pela eternidade! Enxerguei no sorriso sórdido e na tenção das cenas o sujo das paredes e a oleosidade das testas.
A parte que eles debatem sobre a possibilidade do crime ser um protesto contra a anormalidade do sistema social, fruto do meio, doença ou inato ao homem É ABSURDA!!!
Ródia e o seu catecismo sombrio que se tornara a fé e a lei dele. A FORMA COM QUE ELES FALAM DE RELIGIÃO NESSE LIVRO! O AMOR, A CONFUSÃO DE SENTIMENTOS, O ÓDIO RELUTANTE, A VOLÚPIA E O ORGULHO!!!
E o Razumíkhin é um gostoso do início ao fim! A Dúnia é gigante!