Milena 27/03/2023
"Mente para mim, mas mente a teu modo..."
Crime e Castigo foi escrito em uma época imersa no niilismo e no relativismo ético, características que Dostoiévski incorporou no jovem protagonista Raskólnikov, que enfrenta diversos conflitos internos no decorrer na obra.
O crime que intitula o livro ocorre quando Raskólnikov decide matar uma velha usurária que, para ele, não passa de uma pessoa vil e cruel que em nada acrescenta à sociedade. No entanto, quando o crime não ocorre como o planejado, o jovem passa a ser atormentado pela própria consciência, sendo tomado pela febre e agitações ?irracionais?.
O castigo é, portanto, a consequência de seu crime e começa ainda no início da obra, enquanto o jovem é assolado por opostos morais, nos quais ele sofre por seus atos, mas, simultaneamente, tenta se eximir da responsabilidade.
Raskólnikov é um personagem extremamente complexo e dualista, capaz de gerar no leitor um misto de sentimentos. Ele é detestável em diversos momentos e surpreendentemente gentil em outros, características que demonstram o domínio de Dostoiévski na escrita dessa obra. Além dele, outros personagens se destacam durante a leitura, como Sônia, Razumíkhin, Dúnia, Svidrigáilov e, em especial, Porfiry, com quem Raskólnikov troca diálogos marcantes e apreensivos.
Um dos grandes acertos, na minha opinião, é a escolha narrativa do autor. Como o romance conta com um narrador onisciente, o leitor tem a visão real dos fatos, uma vez que a história é contada de forma imparcial e, portanto, confiável. Desse modo, a leitura se desenvolve de modo muito aprofundado, já que conhecemos os personagens como realmente são e a ?desconfiança? que geralmente cerca um narrador em primeira pessoa não se faz necessária.
Dostoiévski criou em sua obra um retrato primoroso e atemporal sobre a consciência humana, os contrastes sociais e a figura do indivíduo criminoso. Um livro denso e absolutamente indispensável.