A tentação do impossível

A tentação do impossível Mario Vargas Llosa




Resenhas - A Tentação do Impossível


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Victoria (Vic) 11/01/2022

Livro interessante para me aprofundar nos conhecimentos de Victor Hugo e Os Miseráveis.

?Não há como demonstrar que Os miseráveis tenha feito a humanidade avançar um milímetro na direção desse reino de justiça, liberdade e paz rumo ao qual, segundo a visão utópica de Victor Hugo, se encaminha a humanidade. Mas não há a menor dúvida, tampouco, de que Os miseráveis é uma das obras na história da literatura que mais fizeram homens e mulheres de todas as línguas e culturas desejar um mundo mais justo, mais racional e mais belo do que aquele em que viviam. A menor das conclusões a extrair disso é que, se a história humana avança, e a palavra progresso tem sentido, e a civilização não é um mero simulacro retórico e sim uma realidade que está fazendo a barbárie retroceder, algo do ímpeto que possibilitou tudo isso deve ter vindo?e continua a vir?da nostalgia e do entusiasmo contagiados nos leitores pelas gestas de Jean Valjean e monsenhor Bienvenu, de Fantine e Cosette, de Marius e Javert e de todos os que os seguem na sua viagem em busca do impossível.?
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Jardim de histórias 05/06/2023

Um documento essencial de apoio!!!!
Um estudo profundo sobre a alma de Victor Hugo presente em Os Miseráveis e seu efeito coletivo. Um olhar sensível destrinchando todo o contexto, seja na causa ou no efeito, não só nos leitores, como de forma histórica, nos personagens que vivem no nosso imaginário que existem graças a narrativa envolvente. A história de Victor Hugo é tão incrivelmente envolvente, que nos conduz a uma conexão histórica, nos jogando a profundas reflexões, sejam sociais, culturais, políticas e morais. 
Este é um verdadeiro convite a um debate histórico, em formato de livro, é um presente a todos que encaram o romance os miseráveis, de forma inesquecível. Trazendo o perfil dos icônicos personagens deste clássico, essencial para os amantes da literatura. 
Para quem, assim como eu, se conectou com os miseráveis, terão o mesmo prazer em se aprofundarem na história, através deste documento na forma de livro de apoio "A tentação do impossível" de Mario Vargas Llosa. Imprescindível aos fãs. 
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Erica 01/08/2020

O poder de se desejar o impossível
A obra é muito esclarecedora para quem leu Os Miseráveis, de Victor Hugo. Llosa analisa os personagens e as passagens principais do romance, inclusive as famosas digressões de Hugo.
O último capítulo vale o livro inteiro, pois discorre sobre a importância das obras ficcionais na realidade dos leitores.

"As ficções existem por isso e para isso. Porque só temos uma vida, e os nossos desejos e fantasias nos exigem ter mil."
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Maria 04/07/2020

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"Não há como demonstrar que Os Miseráveis tenha feito a humanidade avançar um milímetro na direção desse reino de justiça, liberdade e paz rumo ao qual, segundo a visão utópica de Victor Hugo, se encaminha a humanidade. Mas não há a menor dúvida, tampouco, de que Os Miseráveis é uma das obras na história da literatura que mais fizeram homens e mulheres de todas as línguas e culturas desejar um mundo mais justo, mais racional e mais belo do que aquele em que viviam. A menor das conclusões a extrair disso é que, se a história humana avança, e a palavra progresso tem sentido, e a civilização não é um mero simulacro retórico e sim uma realidade que está fazendo a barbárie retroceder, algo do ímpeto que possibilitou tudo isso deve ter vindo- e continua a vir- da nostalgia e do entusiasmo contagiados nos leitores pelas gestas de Jean Valjean e monsenhor Bienvenu, de Fantine e Cosette, de Marius e Javert e de todos os que seguem na sua viagem em busca do impossível. "

E assim Mario Vargas Llosa conclui esse instigante ensaio, fruto de um curso ministrado na Universidade de Oxford, em 2004.
Transcrevi o final por, evidentemente, fazer coro às palavras do autor. Embora a leitura tenha se tornado um pouco cansativa em alguns momentos e, devo admitir, algumas reflexões do autor acerca da obra do Hugo fossem incompatíveis com as minhas próprias reflexões/observações, ler Llosa é sempre um prazer. E este breve ensaio despertou-me fortemente o desejo de reler aquele que está entre os livros que mais "amo".Se a Igreja católica o considerou tão nocivo a ponto de incluí-lo no Índex; se os críticos conservadores o consideraram tão perigoso devido ao seu altíssimo conteúdo utópico; se há toda uma ideia da grandeza divina permeando o romance, eu, mesmo sendo uma "materialista", só posso dizer que, ainda hoje, sou profundamente tocada pelo impossível materializado em tal obra do Hugo.

E, sim, Javert, é mais fácil ser bom do que ser justo.
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@cinthia.lereplanejar 17/08/2020

Refletir sobre a vida do autor e sobre a ficção
Que livro interessante!
Os miseráveis é como se passasse os sentimentos do escritor sobre a sociedade sofrida. Haveria justiça realmente? As pessoas era defendidas independente de sua classe social ou sexo? E lembramos do ocorrido com Fatine quando foi presa... E Jean Valjean? Pro causa de um pão passar tantos anos na prisão? E as crianças? O pequeno Gavroche e seus irmãos?
O livro era como uma denúncia! E isso impactou muito!
Quando lê A tentação do impossível, a vontade é pegar a obra de Victor Hugo e reler. Maravilhoso!
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Solange 17/05/2020

Não há como demonstrar que Os miseráveis tenha feito a humanidade avançar
um milímetro na direção desse reino de justiça, liberdade e paz rumo ao qual, segundo a
visão utópica de Victor Hugo, se encaminha a humanidade. Mas não há a menor dúvida,
tampouco, de que Os miseráveis é uma das obras na história da literatura que mais
fizeram homens e mulheres de todas as línguas e culturas desejar um mundo mais justo,
mais racional e mais belo do que aquele em que viviam
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Gláucia 15/08/2021

A Tentação do Impossível - Victor Hugo
Ensaio sobre a grande obra Os Miseráveis de Victor Hugo, a quem o autor se refere como o divino estenógrafo. À medida que aponta seus defeitos, especialmente as inúmeras e improváveis coincidências, enaltece sua grande habilidade de narrador, fazendo as correlações históricas nas quais a obra está inserida e o posicionamento do autor à época dos acontecimentos.
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Sparr 13/08/2020

Sobre Realizar o que ninguém mais pôde
A quem, como eu, está com a leitura de Os Miseráveis em andamento, ou tem por necessidade e/ou curiosidade saber detalhes, ter novas perspectivas, entender fundo histórico que deu pano ao enredo, quem gosta de se debruçar sobre pesquisas, quem gosta de visão panorâmica, quem ama a escrita do senhor Victor Hugo... Enfim. Hehehehe
Esse material de apoio é muito rico. Llosa já entra no ensaio deixando claro que Os Miseráveis não foi elaborado como um romance de aventuras, mas como uma obra com diversos sentimentos religiosos e políticos. Ele prova que em muitos momentos não é possível separar a pessoa que narra, da pessoa que escreve. Que nem sempre os fatos apresentados aconteceram como estava ali descrito, alguns foram muito diferentes e contados de maneira quase apaixonada pro Victor para engrandecer aquele fato. Llosa diz que o narrador gosta tanto de si mesmo e quer contar a história dando a ideia de nada mudar, que o leitor às vezes nem se apercebe que, as digressões são palco puro e simples dessa figura que se intitula o "Nós" de Os Miseráveis. Esse ensaio prova que Victor Hugo era genial, mas acima de tudo, humano. Quem puder adquirir o material para acrescer a leitura e incursão em Os Miseráveis, jamais sairá arrependido.
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EduardoCDias 15/02/2024

Apoio à Os Miseráveis
Para quem está lendo, leu ou vai ler Os Miseráveis esse livro, com vários artigos sobre o romance, é de muita ajuda. Sem contar que é escrito por outro grande escritor.
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Clóvis Marcelo 30/01/2015

Um ensaio desenvolvido a partir de um curso ministrado por Vargas Llosa na Universidade de Oxford, em abril e maio de 2004. O autor faz uma análise da criação, da estrutura e dos elementos que envolveram a composição de 'Os Miseráveis', de Victor Hugo.

***

Um ensaio, uma resenha estendida, uma maneira de criticar, deixando claro que o material é de qualidade. Essa é a proposta de A Tentação do Impossível. Maria Vargas Llosa recorre a diversas fontes e sobre diferentes perspectivas para olhar o que estava além daquilo que Os miseráveis realmente queria dizer. Uma espécie de “leitura obrigatória” a todos que leem esse clássico da literatura francesa, é uma forma de complemento e comunhão das ideias vividas com o livro principal.

Comenta sobre a vida e obra de Victor Hugo, questiona a presença de um narrador onisciente e de confiança duvidosa, demonstra as ratoeiras-imãs como Llosa denomina a série de encontro entre os personagens-chave (Pensionato Gorbeau, Barricada Chanvrerie e os Esgotos de Paris) e esclarece o poder das coincidências.

Um livro para responder perguntas e se fazer questionar, indicado aos que se apaixonaram pelas aventuras de Jean Valjean e monsenhor Bienvenu, de Fantine e Cosette, de Marius e Javert e de todos os que os seguem na sua viagem em busca do impossível. Afinal...

“Um romance é uma tentativa de recriação e de exorcismo para aquele que o escreve e, frequentemente, para aquele que o lê.”

EDIÇÃO

Impecável. Com notas de referência em cada capítulo, diagramação bem espaçada e qualidade no texto (contando com dois tradutores e mais três na revisão), um livro que vale a pena ter na estante!

POR QUE “A TENTAÇÃO DO IMPOSSÍVEL”?

Porque, segundo Llosa, “tudo é impossível nas aspirações de Os miseráveis, e a primeira dessas impossibilidades é o desaparecimento de todas as nossas misérias”. E ainda, não há a menor dúvida, tampouco, de que “Os miseráveis é uma das obras na história da literatura que mais fizeram homens e mulheres de todas as línguas e culturas desejar um mundo mais justo, mais racional e mais belo do que aquele em que viviam”.

QUOTES / CITAÇÕES

“Os miseráveis é uma ficção, não um livro de História; nele, os fatos históricos são pretextos que um criador utiliza para forjar uma realidade diferente e para falar das questões que o obcecam e que o fizeram, às vezes consciente, às vezes inconscientemente, dar-lhes uma forma narrativa.”

“Hugo realizou uma coisa mais atrevida do que pretendia: não um retrato fidedigno, mas uma recriação da vida tão infiel quanto persuasiva, não uma reprodução do real, mas uma transgressão da realidade que por seu poder de convicção nos é imposta como verdadeira, não a vida, mas a ilusão perturbadora que é um romance consumado, a mentira radical que é a verdade da literatura quando atinge certos cumes e graças à qual a vida verdadeira se torna mais compreensível e mais ambígua, às vezes mais suportável, outras vezes mais insuportável.”

“As ficções existem por isso e para isso. Porque só temos uma vida, e os nossos desejos e fantasias nos exigem ter mil. Porque o abismo entre o que somos e o que gostaríamos de ser precisava ser preenchido de alguma maneira. Para isto nasceram as ficções: para que, dessa maneira vicária, provisória, precária e, ao mesmo tempo, apaixonada e fascinante, como é a vida a que elas nos transportam, possamos incorporar o impossível ao possível e nossa existência seja ao mesmo tempo realidade e irrealidade, história e fábula, vida concreta e aventura maravilhosa.”


site: http://defrentecomoslivros.blogspot.com/2015/01/resenha-a-tentacao-do-impossivel-mario-vargas-llosa.html
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Stefânea 29/01/2022

Talvez tenha sido um momento errado
O livro é excelente e na verdade vai muito além do simples ser um livro sobre outro. O autor vai realmente a fundo nós sentimentos, tocando em diversos pontos da biografia de Victor Hugo para entender na real o que o levou a escrever Os Miseráveis do jeito que conhecemos hoje.

Como peguei esse livro de imediato após terminar o calhamaço, senti que o contato com a teoria não foi tão legal pois estava meio cansada da história em si.

Foi meu primeiro contato com Vargas Llosa e curti bastante, espero ter uma boa experiência com sei lado ficcional também
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William 25/12/2013

Uma ótima interpretação sobre o romance de Victor Hugo e uma leitura deliciosa. Li em um dia, em aproximadamente cinco horas.
Os primeiros capítulos são divertidos e dinâmicos, mas tive a impressão de que parte da animação e da originalidade do começo da análise se perdeu, mas o tom mais comedido do desenvolvimento do livro não o denigre de forma alguma.
Os capítulos que tratam de Victor Hugo, sua vida, suas metas e recursos literárias e suas filosofias [os primeiros e últimos capítulos] são muito bons, mas a parte do meio da obra, que se dedica aos personagens e cenários do romance não parecem dizer muito além do óbvio.
Para quem gosta de Victor Hugo e suas obras, "A Tentação do Impossível" fornece uma análise bem interessante. Recomendado. Se pesquisar bem, é fácil encontrar esse livro por preços baixíssimos em promoções e/ou sebos.
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Natalie Lagedo 23/03/2017

A Tentação do Impossível, ensaio escrito por Mario Vargas Llosa para ser apresentado em Oxford, é uma conversa descontraída com alguém que leu Os Miseráveis, gostou muito e quer repartir a boa experiência com outras pessoas. O autor diz que foi a partir desse romance monumental que a sua vida de leitor teve início. Na solidão do colégio interno que frequentava quando jovem em Lima aquele foi seu principal companheiro.

Abundam biografias sobre Victor Hugo e estudos sobre seus escritos. Precoce, publicou o primeiro poema aos quinze anos. Escreveu também peças teatrais, artigos para jornais e vários romances. Casou virgem aos vinte anos e cultivou durante a juventude uma castidade impecável. Depois da maturidade teve uma amante fixa, que o acompanhava nas viagens e tinha residência constituída por ele, além de muitas outras eventuais, entre damas e criadas.

Não foi só o comportamento sexual e amoroso que mudou ao longo da vida desse curioso autor, o posicionamento político também sofreu alterações. Inicialmente monarquista, depois passou a bonapartista, posteriormente ficou ao lado da Restauração e, por fim, foi republicano e democrata convicto. Tudo isso refletiu em Os Miseráveis, que foi reescrito duas vezes antes do lançamento em 1862. Na primeira vez o texto era enxuto e curto, contando apenas a trajetória de Jean Valjean, sem os meandros que conhecemos. A edição definitiva foi feita quando V. H. estava exilado e já possuía todos os ideais republicanos delineados. Isso fez com que muitos personagens, como Mario e o Senhor Gillenormand tivessem traços e opiniões diferentes.

No entanto, uma coisa sempre foi constante em sua vida: o desprezo pela pena de morte. A biografia póstuma ditada por sua esposa atribui esse fato às experiências difíceis que ele teve com a guilhotina e a forca durante a infância, em passagens pela Itália e Espanha, como também pela condenação de seu padrinho à morte, visto ser considerado traidor da pátria.

A editora belga que primeiro publicou Os Miseráveis ficou assustada com o tamanho do livro (isso por que o enorme Prefácio Filosófico não foi incluído, pois estava inconcluso). Quis suprimir as digressões filosóficas, a o que Victor Hugo recusou de pronto, afirmando que fazer isso iria eliminar o drama profundo, o mundo completo almejado com a obra.

Neste ensaio, Llosa, mais do que falar do processo criativo de Os Miseráveis e da biografia de V. H., fala da magnitude deste livro que foi um sucesso em sua publicação, tanto para o bem quanto para o mal. A crítica foi bem diversificada. Enquanto a maioria viu beleza técnica, temas bem entrelaçados e sentiu empatia pelos personagens, outros o taxaram de subversivo e imoral. Inclusive foi censurado em alguns países.

Les Misérables é um romance escrito nos moldes clássicos. O que faz Llosa chegar a essa conclusão é o narrador, eixo de toda a trama. Chamado pelo ensaísta de "divino estenógrafo", Victor Hugo participa efetivamente da história como expectador ocular dos fatos ou como deus, ditando o que deve ser ou não mostrado ao leitor, passeando livremente pelo texto. No romance moderno é diferente, a intenção é que o narrador fique embutido.

A Tentação do Impossível é extremamente indicado para quem conhece Os Miseráveis e quer conhecer outros pontos de vista. Tem uma linguagem simples e traz muitas curiosidades sobre o mundo de Victor Hugo.
DIRCE 23/03/2017minha estante
Como sempre uma excelente resenha.


Natalie Lagedo 23/03/2017minha estante
Obrigada!


Márcio_MX 23/03/2017minha estante
Fiquei até na dúvida se já não começo Os Miseráveis ainda esse ano!


Natalie Lagedo 23/03/2017minha estante
Márcio, Os Miseráveis é uma grande empreitada. Em alguns trechos que podem levar capítulos inteiros nada acontece fora do narrador. Pra mim isso foi incrível, mas é bom que você saiba isso antes de começar pra já ir se preparando, caso não goste do estilo. No entanto, há partes em que muitas coisas acontecem rapidamente. Eu achei o ritmo muito bom.


Márcio_MX 23/03/2017minha estante
Tenho preferências por calhamaços, rs.
Essa troca de ritmo parece ainda mais interessante. Obrigado pela dica.


Natalie Lagedo 24/03/2017minha estante
;)




Eduardo 06/02/2018

A tentação do infinito
Impossível. É assim que Mario Vargas Llosa define a suposta paixão imposta aos leitores de Os Miseráveis, de Victor Hugo. Essa paixão nada mais é que uma admiração quase quimérica pelo fim de todas as misérias humanas. No entanto, lembremos que há uma idealização, não uma imposição, e muito menos uma visão utópica por parte de Hugo. Por se tratar de um livro com essências fortemente políticas atreladas a um ideal revolucionário, Os Miseráveis foi fortemente criticado na época de seu lançamento. Isso é importante saber, já que a questão aqui é um pouco mais profunda do que simplesmente uma "tentação por aquilo que nunca se conquistará".
A Tentação do Impossível é uma análise não só de Os Miseráveis, mas também da vida de seu autor. Llosa analisou todos os pormenores da vida de Victor Hugo e os fatores que o levaram a criar um "mundo dentro de outro mundo". Apesar de boa parte das análises ser basicamente o conjunto de impressões que a maioria dos leitores conseguiria identificar sem nem mesmo analisar a obra de forma crítica, Llosa expôs alguns pontos e coincidências que, juntos, nos levam a pensar de uma forma um pouco mais desconfiada sobre a obra. Não que suas análises sejam uma impactante surpresa, mas são suficientes para questionarmos o que Victor Hugo realmente queria escrever.
Em primeiro lugar, Llosa apelida o narrador de "divino estenógrafo". Acho que não há definição mais completa do que essa. O narrador faz praticamente o papel de Deus no romance. A ele cabe a interferência nas ações e as explicações das mesmas, mas de uma forma autoritária, impondo uma verdade que penetrará na cabeça do leitor sem que ele perceba. À essa característica somam-se os relatos autobiográficos que muitas vezes recheiam as digressões de Os Miseráveis. Essa ligação nos faria pensar, imediatamente, que esse narrador onisciente é o próprio Victor Hugo. Acontece que Victor Hugo também está inserido em outro personagem, cuja trajetória de pensamentos e mudanças políticas é idêntica à do autor. Está aí um dos motivos pelos quais o estudo que Llosa fez sobre a vida do autor francês é de extrema importância para compreender o quanto dele há nessa obra.
O personagem atrelado a Victor Hugo dentro de Os Miseráveis (que não posso revelar por motivos óbvios) é, coincidentemente, um dos personagens que mais fogem ao gênero "monstruoso" que Llosa utilizou para definir as "extremidades" impostas às criações de Hugo. Eis uma das razões pelas quais o crítico comparou Victor Hugo com um de seus personagens. Entretanto, a visão de Llosa sobre essa característica me pareceu um pouco negativa, o que me faz discordar desse pensamento. Um ex-forçado com uma força descomunal e um policial agarrado desumanamente ao seu dever lhe parecem quase atrocidades. Será mesmo que Victor Hugo não tinha um propósito bastante definido ao criá-los dessa maneira? Estamos diante de suas representações fantásticas: a massa dos miseráveis e toda a sua força (muitas vezes oculta) e a limitação criada pela própria humanidade que nos faz menos humanos. Não entremos em um debate filosófico ou antropológico, mas esses "monstros pontilhosos" não são de todo inverossímeis.
Outra característica bastante notável que Llosa apresentou foram as coincidências. Os Miseráveis é um livro repleto delas e esse é um assunto que muito me interessa, porque ele é um dos pilares que faz uma obra parecer apenas remendo de seu início ou um conjunto de genialidades de seu autor. Victor Hugo, a meu ver, optou pelo segundo. No entanto, Llosa parece duvidar um pouco disso em alguns pontos. Certamente concordo que há coincidências em demasia, mas não me lembro de nenhuma delas ser um remendo ou propósito para servir de causa ou consequência a algo sem causa ou consequência; na verdade achei todas bastante verossímeis, principalmente quando estão atreladas à essência da obra, e não apenas a um pedaço do enredo ou a um personagem corriqueiro. Não há ponto sem nó em Os Miseráveis.
Puxando a corda das coincidências encontraremos, aliás, três nós bastante importantes, aos quais Llosa dá o nome de "ratoeiras". Nelas, mais do que em qualquer outro lugar, o divino estenógrafo age com maestria. Esse foi um dos pontos que me pegaram de surpresa. O crítico aponta a existência de três lugares-chave onde os grandes personagens se encontram e tornam a se encontrar em momentos decisivos da trama. Esses locais são protagonistas das reviravoltas mais marcantes. Eu até os havia considerado uma coincidência, mas não havia reparado em seus propósitos, como Llosa fez tão magistralmente.
Por fim, o assunto que dá título ao livro: a tentação do impossível. Llosa usa uma passagem de Alphonse de Lamartine que caracteriza bem sua crítica: "A mais homicida e mais terrível das paixões que se pode infundir às massas é a paixão do impossível". Bem, até onde vai o impossível? O que pode e o que não pode ser impossível neste momento da história da humanidade? Quem é que nos diz? Victor Hugo, de modo até despretensioso, parece suscitar na cabeça do leitor algumas ideias revolucionárias, em especial a possibilidade do fim de todas as misérias humanas. Segundo ele, a educação é uma luz capaz de extinguir a escuridão em que está imersa essa massa a qual Lamartine faz referência. Llosa critica essa espécie de tentação, mas deixa transparecer alguns pontos importantes.
A partir de certo ponto de vista essa visão é verdadeira, e nisso concordo (em partes) com o crítico. A possibilidade de uma sociedade mais justa sempre existiu e sempre existirá, mas ela nunca será justa o suficiente. Se é permitida uma comparação, lembremo-nos da célebre frase de George Orwell: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros". A questão é que Os Miseráveis pôde ter contribuído para uma tentação entusiástica de mudança, mas não seria capaz de atuar como um catalisador. No entanto, e se assim fosse? O que chamamos de progresso só o é porque, no decorrer de nossa história, alguém tentou transpor a barreira do que antes parecia impossível. Não se pode viver para sempre, mas se pode viver muito. Lembremo-nos disso.
O problema é achar que Victor Hugo inseriu essa espécie de tentação como uma vontade quimérica. Não o encarei dessa maneira e não acho que tenha sido esse o propósito da obra. Se houvesse uma vontade mágica e transformadora, algo surreal e avassalador, até concordaria com Llosa, mas Os Miseráveis é apenas uma obra que debate as misérias humanas, suas causas, consequências e a luta por um mundo menos injusto, e não a erradicação imediata de todas as injustiças, porque isso sim é impossível. Não estamos diante de um catalisador revolucionário, apenas de uma obra literária que partilha de ideais políticos, religiosos e filosóficos sobre a condição humana.
Os Miseráveis é uma obra tão magistral e bem elaborada que faz com que seus leitores mergulhem em um mundo diferente, enxergando-o como o seu próprio mundo, mas também como um mundo ideal. Como eu havia dito antes, "um mundo dentro de outro mundo". O leitor não apenas vive uma história, mas sonha com ela e a idealiza minuto a minuto. Quanto a isso, Llosa afirma que a obra de Victor Hugo é uma espécie de "irrealização da realidade". Neste ponto eu discordo, mas discordo pela grandeza tentadora exagerada que o crítico impôs a Os Miseráveis e que não está necessariamente lá. Escrever sobre os problemas de uma sociedade, apontar suas causas e suas consequências e idealizar uma crítica válida até os dias atuais não é uma realidade manipulada, muito menos uma incitação ao improvável. Em Os Miseráveis estamos diante de um mundo real e, por isso, cruel. Almejar justiça não é tentar o impossível às massas. O próprio Victor Hugo define sua obra como um "ensaio sobre o infinito". Ele mesmo reconhece, com essa frase, que a miséria humana, em todos os seus significados, nunca será erradicada, e que todos os problemas e emoções ali citados nunca serão finitos. A tentação da mudança e do progresso, se vistos como passos pequenos (e não como saltos gigantescos, avassaladores e imediatos, como o Llosa parece ver), são a base para que o mundo evolua. Não estamos diante da tentação do impossível, mas sim da tentação do infinito.
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Dbarbosa 13/07/2020

A paixão do impossível
Para mim, este livro é leitura obrigatória para quem já leu Os Miseráveis e pretender saber o que um grande romancista como Llosa destaca de um grande romance. O texto é delicioso, flui como a água da chuva descendo uma ladeira, realça as entrelinhas, contextualiza os acontecimentos da realidade fictícia ( a do romance) com a real e termina nos dando uma belíssima descrição do papel da literatura ficcional. Esta edição é super confortável, com papel amarelado e de textura crespa e diagramação perfeita.
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