spoiler visualizarSara.Goncalves 23/12/2023
Um defeito de cor
"Quando abri os olhos, não percebi de imediato que eram a minha imagem e a da Esméria paradas na nossa frente. Eu já tinha me visto nas águas de rios e de lagos, mas nunca com tanta nitidez. Acho que para você, ser branco não era ter a pele clara, mas ter a alma má."
Descomplicadamente, Ana Maria Gonçalves trouxe-nos uma obra extremamente flexível (com inúmeras alusões históricas que enriquecem mais ainda sua obra, facilitando a compreensão com sua linguagem e notas do roda pé). A estória inicia-se em África, no entanto, passa boa parte no Brasil Colonial, que foi durante o século XIX. Kehinde, a protagonista, fora a narradora de toda a estória.
Durante a trajetória, a personagem passa pela sombria e massacrante era da escravidão. Foi sublime acompanhar Kehinde desde criança, retirada de sua terra, de suas origens, junto de sua irmã gêmea Taiwo, e sua avó. Seus anos sendo escravizada e passando por desventuras que nenhum ser humano deveria ter sofrido dilaceraram-me, e acompanhar a evolução de seus pensamentos, sua inteligência e força cada vez mais crescente me orgulhou.
A leitura dessa obra é imprescindível, a quantidade imensa de termos (ibêji, abiku, Cauri, Babatunde, pejada), de deuses (Olorum, Olodumaré, Ogum, Oxum, Exu...), tantas cidades (São Salvador, São Sebastião, São Luís, Vila Rica, Savalu, Lagos...) tantas religiões, e conceitos bem explicados pela personagem, que nos traz conhecimentos riquíssimos, agregando aprendizado, cultura, livrando-nos da ignorância. A autora discorreu muitíssimo bem sobre tudo, e, apesar do fim muito corrido, não decepcionei-me, pois, a personagem e sua evolução foram muito explícitos em termos de coragem, sapiência, força, dentre outras coisas.